Faz-me tua esta noite

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Angela a narrar

Dei por mim de boca ainda aberta ao olhar tudo aquilo à minha volta, sentindo o nervosismo no olhar do Justin queimar o meu pescoço enquanto ele esperava por qualquer reação minha em resposta à surpresa que ele me tinha preparado e na qual tinha investido tanto tempo e empenho.

O oceano azul refletia as inúmeras estrelas que reluziam no céu noturno acima das nossas cabeças e estendia-se infinitamente para lá do horizonte. O ar em nosso redor tinha um agradável aroma a maresia e o silêncio da noite era preenchido pelo som das ondas revoltas que esmoreciam na areia.

Quanto ao meu palpite de estarmos na praia, não estava totalmente certo, uma vez que estávamos em cima de uma colina, cuja superfície era preenchida por relva, o que dava um ar mais romântico e reservado à paisagem. À minha frente, mais para a direita, estava uma espécie de telheiro, coberto por um comprido e vasto pano branco, semelhante a uma gigantesca cortina quadrada, cujas 4 pontas estavam amarradas com cordas de seda da mesma cor aos 4 pés que sustentavam o telheiro e desciam até ao chão. Debaixo do dito telheiro, estava uma pequena mesa redonda, coberta com uma toalha branca, pousada sobre um estrato de madeira pouco espesso coberto com pétalas de rosa brancas e vermelhas. Em cima da mesa, estavam dois pratos, cuidadosamente colocados em lados opostos, ao lado destes estavam os talheres e os guardanapos e à frente de cada um havia um par de copos de cristal. Ao lado da mesa, ligeiramente afastado para o canto, estava um carrinho branco e dourado com algumas garrafas de vinho e água, algumas malgas e redomas, que creio que continham o nosso jantar, e na prateleira de baixo haviam algumas sobremesas. Para melhorar o que já era perfeito, escondido a um canto, havia um colchão de casal coberto com lençóis de um tom rosa clarinho, cobertos também com pétalas de rosa vermelhas.

Todo o cenário era tão simples e tão pequeno e ainda assim não podia ser mais perfeito.

- Angie... - Chamou suavemente, colocando-se à minha frente e parecendo assustado com a minha expressão, fosse lá ela qual fosse. – Não... estás a respirar... - Salientou, ficando aliviado quando inspirei uma longa lufada de ar. – Então, o que achas?

Lembro-me de sentir a boca a abrir e a fechar, tentando gesticular qualquer coisa, mas não saiu nenhum som, não consegui dizer nada. Simplesmente fiquei ali, sem conseguir reagir, até que finalmente consegui dizer qualquer coisa.

- Oh meu Deus, Justin... - Murmurei. Eu sei que não é uma grande resposta mas eu estava em choque. Fui completamente apanhada de surpresa, não estava à espera de nada disto.

Ele riu-se baixinho e beijou-me a testa.

- Fica à vontade... Ainda tenho que ir buscar umas coisas ao carro mas eu volto já...

Assenti e deixei-o ir, dando alguns passos em frente até à beira daquele pequeno precipício de areia.

Olhei tudo o que estava à minha frente e em meu redor, mas o que mais me prendia, o que mais me chamava, era aquele oceano azul escuro, quase negro, sombrio e misterioso, e juro que não me consegui conter, por mais que tentasse.

Quase instintivamente, descalcei os sapatos e despi o casaco, sentindo uma presença ao meu lado no preciso momento em que ia descer a colina. Olhei para o lado e vi o Justin a desapertar a camisa e a despi-la logo depois, pousando-a cuidadosamente no chão.

Quando ia perguntar o que é que ele estava a fazer, fui surpreendida quando ele pousou um dedo nos meus lábios e, fazendo um gesto silencioso com a cabeça em direção ao mar, me pediu que o seguisse.

Sorri e assenti em resposta, deixando-me levar quando ele me pegou na mão e me puxou com ele em direção à praia propriamente dita.

Quando os meus pés descalços tocaram a areia fria, ele fez-nos parar e meteu-se à minha frente, abraçou-me pela cintura e beijou-me carinhosamente, fazendo-me sobressaltar quando levantou ligeiramente a minha camisola e encostou as pontas dos seus dedos quentes à pele fria da minha barriga, o que me fez instintivamente agarrar-lhe os pulsos.

- Justin... - Murmurei, nervosa pelo que ele iria fazer, fosse lá o que fosse, mas fui interrompida quando ele me beijou novamente.

- Confias em mim? – Sussurrou, ainda contra os meus lábios. Olhei-o nos olhos e assenti, engolindo em seco. – Então fecha os olhos e relaxa...

Vai-se lá saber porquê, mesmo que as palavas dele fossem apenas um pedido gentil, a minha cabeça interpretou-a como uma ordem a ser cumprida e assim que ele disse a última palavra, o meu corpo obedeceu-lhe instantaneamente.

Senti os meus músculos retesarem quando senti os seus lábios na pele do meu pescoço, acabando por voltar a relaxar ao ouvir palavrinhas de conforto da parte dele. Muito lentamente, a minha camisola de malha branca abandonou o meu corpo, o que deixou a minha pele pálida exposta à gelada brisa noturna, mas isso deixou de ser uma preocupação quando o corpo do Justin veio ao encontro do meu e os nossos lábios se uniram numa dança lenta e sincronizada, lutando pelo domínio.

Num instante, fiquei apenas com a roupa interior e senti os meus pés abandonarem o chão e um par de braços fortes em redor das minhas costas e pernas. Abri rapidamente os olhos e olhei-o quando me apercebi que nos estávamos a mover, sorrindo ao perceber para onde ele me levava.

Deitei a cabeça no seu ombro excelentemente bem esculpido e deixei-me estar quieta, soltando um guincho quando uma onda fria tocou a minha pele, fazendo-o rir-se.

- Isso já passa... - Murmurou, beijando-me a testa e ajoelhando-se até ficar com a água pelo peito, o que fez com que eu tivesse que quase trepar pelo corpo dele acima para fugir às ondas e manter, pelo menos, a cara à tona da água, aconchegando-me contra o corpo dele em busca de calor. – Angie...? – Murmurou o meu nome baixinho, pelo que tive que me esforçar para isolar a sua voz rouca do barulho ensurdecedor das ondas, parecendo extremamente pensativo. – Tens medo?

Olhei-o, agarrando-me a ele quando o senti recuar e sentar-se no chão, cruzando as pernas e sentando-me entre os seus joelhos.

- De morrer? – Perguntei apenas para confirmar, coisa que ele fez ao assentir lentamente. – Tenho. – Murmurei simplesmente, dando depois de ombros. Eu não sei o que me espera, não sei se há mais alguma coisa ou se acaba aqui, e isso assusta...

- Mas? – Incentivou, quase adivinhando o motivo pela qual as palavras me tinham morrido na boca.

Lambi os lábios, sentindo os dedos dele apertarem o meu queixo enquanto obrigavam o meu rosto a estar frente a frente com o dele.

- Mas eu não me arrependo... - Murmurei, juntando a minha testa à dele. – Seja o que for que estiver para vir, eu não me arrependo... e vou recebê-lo de braços abertos... ok? – Vi-o suspirar enquanto assentia e enrolava os braços em meu redor.

Sem dizer nem uma palavra de aviso, uniu os nossos lábios num beijo longo e apaixonado enquanto se levantava com a maior das facilidades e nos tirava daquele mar gelado, apanhando as nossas roupas pelo caminho enquanto nos levava para a tal tenda, ou telheiro, como queiram.

Chegando lá, pousou-me no colchão delicadamente e enrolou-me em todas aquelas mantas, voltando depois à mesa e trazendo uma coisa qualquer a fumegar, que suspeitei ser sopa, deitando-se depois ao meu lado.

- Toma, vai aquecer-te...

Sorri e levei aquela linda tigela de porcelana aos lábios, bebendo-a em goles pequenos, evitando queimar-me.

- Justin... - Murmurei baixinho quando lhe devolvi a tigela, sentindo o peito arder. – Faz-me tua esta noite... - Sussurrei, olhando-o nos olhos.


ParaísoWhere stories live. Discover now