Planos para cometer suicídio - parte 2

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Angela a narrar

Ri-me levemente ao ver a reação dele.

- Não te rias! - Disse, mais alto do que o necessário. Dava para perceber que estava irritado, mas fizesse eu o que fizesse, não conseguia parar de rir.

- Vá lá, Justin, não é nada de mais. - Disse, descontraidamente, sentando-me na minha cama.

Ele suspirou em desespero.

- Claro que é! - Ergueu as mãos acima da cabeça. - O suborno é pouco ético e um crime grave.

Ergui uma sobrancelha, olhando-o ironicamente.

- A sério? - Perguntei; a ironia era bem evidente no meu tom de voz. Vi-o assentir rapidamente, como se a resposta fosse óbvia. - Quantos médicos é que já foram subornados para darem prioridade a alguém num tratamento qualquer?

- Bem... - Parou, pensativo, quando viu que eu o olhava ironicamente, mantendo uma sobrancelha erguida e cruzando os braços à frente do peito. - Eu não sei, mas não devem ser assim tantos.

Ri-me baixinho e baixei a cabeça, abanando a mesma, sem conseguir acreditar na ingenuidade dele.

- Ah, Justin... tão querido, tão inocente e tão ingénuo... - Os seus lábios separaram-se quando ele abriu a boca na forma de um pequeno e perfeito circulo, indignado com o que eu lhe tinha dito. - Desculpa, mas é verdade. Eu vejo isso acontecer todos os dias com os meus próprios olhos; aliás, houve uma vez que o próprio Dr. Watson disse à minha mãe que me tirava daqui se ela se atrasasse mais um dia que fosse a pagar a mensalidade. - Ele olhou-me, arregalando os olhos, mostrando-me que o tinha apanhado de surpresa. - Pessoalmente, eu ficava-lhe agradecida, mas a minha mãe... já é outra história... Isto para te mostrar que o mundo não é como tu o vês.

Ele ficou em silêncio por momentos, os seus lindos olhos castanhos com tons de avelã fixavam os meus, prendendo-me a atenção e mantendo-me completamente hipnotizada, enquanto, presumo eu, pensava num plano. Dei por mim a admirar aquele rosto de anjo, gravando na minha mente a maneira delicada como as suas pestanas negras se prolongavam das suas pálpebras e se ondulavam nas pontas, a forma tensa, mas sexy, que ele contraía o maxilar enquanto pensava, o ritmo rápido e irregular que o seu peito subia e descia, o que me dava ainda mais vontade de sair desta incubadora e abraçá-lo, dar-lhe uma sensação de segurança e conforto, dizer-lhe que íamos conseguir e que ia ficar tudo bem.

- Os teus pais têm dinheiro?- Disse ele de repente, despertando-me dos meus desvaneios.

O seu tom de voz inundado de curiosidade e altruísmo fez-me soltar uma gargalhada baixa.

- Graças a Deus, dinheiro não é problema. - Vi-o sorrir maliciosamente, o que me fez perceber imediatamente que ele tinha pensado em algo. - O que tens em mente?

Justin a Narrar

Depois de pensar bem no que ela tinha dito, até fazia algum sentido. Os meus pais têm dinheiro, os pais dela também, então a mim dinheiro é coisa que não me falta. Se trabalharmos todos juntos e se planearmos isto bem, talvez resulte mesmo.

- Estava a pensar no que tinhas dito... - Ela olhou-me confusa, o que me fez sorrir. - Sobre não trabalharmos sozinhos nisto... - Ela assentiu em compreensão e manteve-se em silêncio, dando-me a deixa para continuar. - Podemos pedir ajuda aos nossos pais... Os meus pais já concordaram em ajudar-me a ajudar-te... - Parei um bocado, assentindo, depois, em concordância com as minhas próprias palavras. - Quanto aos teus pais, não sei, mas tenho a certeza que fariam qualquer coisa para te ver feliz. - Vi-a assentir freneticamente, o que confirmou a minha afirmação. - Quanto a mim, estou disposto a tudo.

Ela sorriu e começou aos pulinhos por todo o compartimento em que se encontrava. Fiquei contente ao vê-la assim, pelo menos um de nós está feliz com tudo isto. Quando a vejo assim, quase me esqueço que estou a um passo de perder a miúda que amei como se fosse minha filha e que estou a tentar matar a rapariga que queria amar e estimar como minha.


ParaísoWhere stories live. Discover now