Capítulo XXXVI - Reflexões

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O barulho contínuo da fogo queimando os gravetos perpetuava e acendia uma clarão dentre a escuridão daquela floresta. No alto da colina, os adolescentes aqueciam-se ao redor de uma fogueira, enquanto que o silêncio e a calmaria lhes proporcionavam um momento de reflexão.

Um ambiente triste poderia ser interpretado nos semblantes emocionados de cada um deles. O apocalipse zumbi chegou de surpresa e isso não é novidade, uma vez que os sobreviventes tiveram pouquíssimos - se tiveram, eram curtos - momentos para compreender um pouco. A temporada na fazenda de Dante, servira como uma distração de que os mortos estavam dominando os vivos. Os sobreviventes refletiam sobre tudo. Pensavam em como esquecerem-se de imaginar que em cada um daqueles zumbis habitavam antes um humano, com sentimentos, por mais negativos que eles eram.

Todas as ações eram automáticas. Tentavam apenas sobreviverem, portanto arrancavam aquelas cabeças mortas com tanta brutalidade sem pensarem que ali estava o corpo de um "ex-humano". Mas talvez nesse novo mundo não exista piedade nem hesitação em matar. O jogo tinha dois lados: mortos-vivos e humanos, e apenas um deles venciam. Não há meio-termo. Deveriam se acostumar à essa nova era.

- Estou indo dormir. - Hanna avisou deitando-se um pouco perto da fogueira. Todos os sobreviventes estavam crentes de que os mortos-vivos não iriam ter capacidade de atravessar o rio. A correnteza, por mais que não fosse forte, não os permitiriam por serem fracos e desengonçados.

- Eu também vou. - Filipe e Gabriel disseram juntos, fazendo o mesmo que Hanna. Logo, todos os outros já estavam dormindo. Haviam deixado a fogueira acesa, assim não passariam fome.

Logo após atravessarem aquele rio, os adolescentes subiram a colina e, ao chegarem, decidiram que iriam caçar alguns animais e frutas selvagens não venenosas para comerem e se alimentarem. Mas a caçada não teve nenhum êxito, o que lhes deram uma noite de sono com a barriga roncando de fome.

[•••]

O dia mal havia amanhecido e devido ao sol forte no rosto, a maioria dos adolescentes já estavam acordados, com a barriga vazia e pedindo por alimentos.

- Precisamos procurar algo para comermos. - Liv falou, massageando a parte debaixo do tórax.

- Mas como vamos achar comida? - Filipe perguntou, encarando Liv, Alissa e Rodrigo à sua frente. Os quatro estavam reunidos perto de onde a fogueira havia sido ateada na noite passada.

- Sei lá, voltar à cidade. - Dri sugeriu meio desanimado.

- Estamos perdidos no meio do nada. Não sei pra onde fica Gramado, e acredito que ninguém aqui saiba. - Alissa rebateu.

- Hum... - Hanna pensou um pouco e adquiriu uma expressão pensativa. - Que tal fizermos um acampamento aqui? - deu outra sugestão. - É no topo da colina, afastado. - começou a dizer seus argumentos. - Duvido muito um cabeça verde tentar nos atacar.

- Não sei não. - Filipe parecia não gostar da ideia. - Acho melhor procurarmos comida. Depois deveríamos pensar nisso. - o adolescente contra argumentou.

- Claro que não. - Gabriel repreendeu confiante. - Um acampamento agora seria melhor.

- Do que adianta termos lar se não temos comida? - Liv perguntou, deixando Biel sem resposta. - Vamos caçar algo e não se fala mais nisso. - a cacheada disse mesmo sabendo que já tinha ganhado a discursão.

[•••]

Rodrigo havia tido a ideia de, com a única faca que possuíam, retirar alguns pedaços compridos do tronco das árvores, até que juntassem uma boa quantidade e formasse uma lança grossa e com várias pontas, unificadas com cipós. E assim, poderiam sair para caçar alguma coisa com uma arma.

O grupo havia se dividido: Filipe e Liv foram em direção ao sul, Gabriel e Rodrigo foram para o leste, Ana Clara e Hudson andaram pelo norte e Alissa e Thiago para o oeste. Rodrigo havia ficado para fazer os preparativos para que quando os outros voltassem da caçada, pudessem aprontar os alimentos.

Os recém-caçadores decidiram que caminhariam sempre em direção reta. Assim, quando fossem voltar ao ponto de encontro onde haviam acendido a primeira fogueira, só precisariam andar de volta em linha reta.

- E aí, o que conseguiram? - Rodrigo perguntou observando que a maioria dos adolescentes já começavam a chegar.

- Nada. - Gabriel respondeu. Assim como ele, Hanna, Filipe, Liv, Ana e Clara voltaram de mãos vazias.

Agora só restava esperar por Hudson e Ana Clara, que eram suas únicas esperanças. Os sobreviventes passaram a tarde inteira procurando por algum animal, mas parecia que todos tinham simplesmente evaporado e, portanto, não acharam nada. Essa maratona de caça gastou bastante energias, que sem nenhum alimento, não conseguiriam repô-las. A situação estava cada vez ficando mais feia. Teriam que tomar alguma providência rápida.

Não demorou tanto tempo, e logo Hudson e Ana Clara já haviam chegado... e também de mãos vazias e a última chance que tinham fora-se embora.

Rodrigo acendeu a fogueira quando percebeu que a noite já começava a surgir. Todos dormiram fazendo preces clamando para que conseguissem sobreviver. Pediam à qualquer Deus - se existisse um - com toda piedade para que pudessem sair dessa.

Mesmo assim, os sobreviventes não tinham mais aquela esperança no fundo do poço. Se esse tal Deus não teve misericórdia nem mesmo dos mortos-vivos, que dirá de meros adolescentes que tentam apenas sobreviverem.

Dormiram angustiados sem saberem o que aconteceria amanhã e com a premonição perturbada de que seria o último amanhã.

Epidemia Zumbi - SobreviventesWhere stories live. Discover now