Capítulo XXXV - Cipós

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Os grunhidos e o grito de socorro de Filipe acordaram todos os outros sobreviventes que dormiam nos galhos das árvores. Pendurado pelo cipó, o adolescente tinha suas pernas livres ao ar, fazendo uma horda de zumbis tentar atacar-lhe.

Desesperado, Filipe olhou para cima. Seu pavor aumentou ainda mais ao observar que, pouco a pouco, o ramo verde rasgava-se no meio e o cronômetro para a queda do adolescente acelerava-se mais ainda. Os outros, já acordados e cientes do perigo que corriam, não sabiam o que fazer. Se descessem das árvores seriam devorados pelas criaturas antes mesmo de chegarem ao chão.

Desde o início do apocalipse, Gabriel sentiu-se mais protetor do que já era. Com tantas situações difíceis que já passaram, o garoto teve uma aproximação bem mais viva com seus amigos e ganhou uma missão de manter todos como sobreviventes até o final, por mais que esse final esteja bem longe.

Gabriel olhou para todos os lados, para certificar de que todos estavam bem. Avistou a situação de risco de Filipe e sentiu necessidade de ajudá-lo. Sua árvore em que descansava não estava tão longe e só foi preciso alguns pulos de galho em galho para chegar até o local. Biel abaixou-se e conseguiu agarrar a mão de Lipe no exato momento em que o cipó rasgou-se ao meio. O ramo verde despencou e caiu por cima dos zumbis.

- Obrigado! - o adolescente agradeceu após ter sido puxado por Gabriel.

- De nada.

- O que fazemos? - Alissa gritou. Sua voz saiu um pouco abafada por causa de tantos grunhidos e sons que aqueles zumbis emitiam.

- Corremos. - Gabriel devolveu o grito e começou a pular de galhos em galhos. A grande horda de zumbis ali formada na superfície, vendo a agitação nas árvores, soltaram grunhidos e gemidos e começaram a se remexer, vagando na direção que os sons lhe levavam.

Os outros sobreviventes também fizeram o mesmo que Gabriel. Não sabiam para onde corriam ou pulavam, mas tinham certeza que, seguindo um som de correnteza d'água, achariam alguma coisa. Seja uma cidade vizinha de Gramado ou um acampamento de sobreviventes. Torciam para que as criaturas não conseguissem acompanhá-los. Eram muitos barulhos que faziam ao se movimentarem, mas não estavam visíveis aos mortos-vivos pelo menos.

Depois de correrem e pularem bastante sobre os galhos, sempre com cuidado para não desequilibrarem e com pressa para despistarem os zumbis, os adolescentes chegaram numa parte daquela densa floresta que as árvores alcançavam um tamanho gigantesco, e por isso seus galhos se tornavam escassos e se situavam em maior quantidade no topo da planta. Em compensação, das ramificações da árvore, descia vários cipós verdes e alguns marrons, que de tantos que eram, formavam "cortinas" em frente aos sobreviventes.

- O que fazemos agora? - Liv perguntou mas foi respondida por Filipe, que surpreendeu a todos com sua atitude. O adolescente agarrou em um dos ramos verdes, pegou impulso e se jogou. Quando o cipó chegou à sua altura máxima, Lipe soltou-o e segurou-se em outro, repetindo isso várias e várias vezes.

- Uhu! Precisam experimentar isso! - o garoto gritou mas sua voz chegou baixa aos outros.

- Parece que ele perdeu o medo. - Abby exclamou e começou a fazer o mesmo que Filipe.

Hudson já se preparava para balançar entre os cipós, mas olhou para Ana Clara, que permanecia imóvel, sem nem ao menos piscar. Seja piscava era rápido demais.

- Você não vem? - ele perguntou e gesticulou apontando para o cipó.

- É muito arriscado. - Clara respondeu colocando as mãos na cintura. - Eu poderia quebrar um braço aí e até mesmo mor...

Hudson a interrompeu selando seus lábios com o dele e lhe abraçando. Unidos pelo abraço e pela vontade de nunca mais se separarem, o adolescente segurou-se.

- Vem comigo. - Hud sussurrou ao pé do ouvido de Ana Clara antes de se jogar junto com sua namorada. Nunca oficializaram o relacionamento, mas já consideravam-se namorados.

- Também está com medo? - Gabriel perguntou para Hanna com um sorriso malicioso.

- Qual é, eu sei me virar. - a garota lhe repreendeu.

Hanna, Gabriel, Alissa e Thiago fizeram o mesmo e se juntaram aos outros que, quase literalmente voavam, com apenas os ramos verdes como segurança, que se formos pensar com mais clareza, não eram tão seguros, mas que eram a única saída em que podiam usar, a não ser se quisessem ser devorados pelas criaturas.

O som de água ficava cada vez mais alto. As árvores acabavam onde um rio extenso (mas não tão largo) de águas cristalinas começava. Os sobreviventes jogaram-se nas águas de roupa e tudo com o impulso do cipós e começaram a bebê-la. Pela transparência parecia ser potável. A correnteza não estava tão forte, impedindo-os de serem levados. Aliás, aquela parte do rio havia formado-se uma espécie de bacia, onde a água mantinha-se quase sem corrente.

Os adolescentes despiram-se e ficaram apenas com suas roupas íntimas e começaram a se divertir naquele lago, sem saber das consequências e sem medo do que havia naquelas profundezas cristalinas. Além do mais se algo estivesse submerso ali estaria bem visível. Ou seja, não teriam nada para temer.

- Foi uma péssima escolha ter nos molhado e nossas roupas também. - Gabriel falou, chamando a atenção de todos que se divertiam como se um apocalipse não estivesse acontecendo. - Quando a noite chegar sentiremos bastante frio.

- Não tem problema. - Thiago respondeu. - Dá tempo de fazermos uma fogueira

- Estou morta de fome! - Liv disse algo que definiu o que cada um daqueles sobreviventes sentiam.

Eles, então, começaram a atravessar o rio até o outro lado para afastaram-se mais dos mortos vivos que fugiam. Aparentemente, as criaturas não haviam conseguido acompanhá-los, perdendo-se portanto na floresta. Mas os sobreviventes estavam errados. Não sabiam que os zumbis continuavam perseguindo-os ainda e só descobriram quando vários grunhidos e gemidos estranhos foram proferidos.

- Mudanças de plano. - Gabriel disse desviando a atenção de todos para os mortos-vivos do outro lado do rio. - Vamos para o alto daquela colina. Essas criaturas não conseguirão atravessar o rio. - ordenou olhando para o solo que começava-se a levantar, formando a colina. - Pelo menos... eu acho.

Epidemia Zumbi - SobreviventesWhere stories live. Discover now