Capítulo XXXIV - Pesadelo

393 65 1
                                    

A escuridão se propagava por aquele ambiente e o ar era meio pesado. A altura era suficiente para que os sobreviventes pudessem ficar em pé, tendo que se abaixar apenas em alguns locais. Quem quer dos presos que haviam construído aquele túnel, teriam uma boa fuga da prisão.

Hudson pegou seu celular do bolso e deslizou seu dedo pela tela, destravando a tela de bloqueio. Dentre os adolescentes, ele era um dos únicos que ainda tinha o aparelho em mãos. O garoto ativou a lanterna de seu celular, mas suspirou e disse:

— Está 40% de bateria. Não vai durar muito tempo.

Pelo menos, tinham uma luz para guiá-los no caminho. O túnel parecia ser reto e nenhum deles conseguia enxergar seu fim. Portanto, continuaram a caminhar, visto que tinham uma longa jornada pela frente já não podia mais voltar a trás, pois a prisão estava infestada por todos os cantos com as criaturas.

[•••]

Durante todo o percurso, ninguém tocou puxar assunto. Não queriam quebrar o silêncio relaxante que havia se estabelecido ali, nem queriam interromper o momento de luto de Gabriel e Rodrigo, que nem sequer direcionavam olhar à alguém. Pai e filho fitavam o chão ao mesmo tempo em que caminhavam, como se estivessem com pensamentos distantes.

— Merda, descarregou. — Hudson não se conteve e reclamou quando seu celular desligou, dissipando a única fonte de luz que tinham.

Continuaram a andar, mesmo com o ambiente escuro. Mas não demorou muito tempo e começaram a avistar uma luz no fim daquele túnel. Estava fraca, mas pelo menos significava que conseguiriam sair daquele local fechado. Não tinham certeza se era a saída, mas deduziam que era.

Alissa, na frente da fila indiana que fora formada, começou a apressar seus passos, uma vez que a luz ficava mais forte. Ao sair por completo do túnel, cobriu seus olhos com a palma das mãos, pois sua visão doia, devido à luminosidade e ao longo tempo que passara naquele túnel escuro.

— Finalmente! — Thiago comemorou ao sair e se jogou no chão, julgando-se quase morto de tão cansado por causa de tanto tempo que ficara caminhando.

Estavam numa floresta, com árvores grandes e algumas plantas de menor porte e arbustos no chão. A vegetação ali era bem densa, o que dificultaria um pouco a locomoção. O Sol, com seus raios já ficando fracos, se punha lentamente. Ficar desprotegido naquele lugar não poderia ser uma boa ideia.

— Temos que arranjar um lugar para dormirmos. — Gabriel, para a surpresa de todos, disse algo. Com um semblante triste e uma voz com menor vigor, mas pelo menos voltara com um pouco de sua essência de liderança. — Pelo menos essa noite. — completou olhando para o céu e o vendo o azul se misturar com um tom alaranjado.

— Podemos dormir nas árvores. — Liv sugeriu.

— Não dá. — Filipe disse sentindo até calafrios no corpo em imaginar subindo aquelas grandes plantas.

— Qual é, você precisa perder esse medo! — Alissa falou. — E se tivesse numa situação difícil, você preferia morrer do que subir numa árvore?

— Tem razão. — o adolescente concordou. — Preciso vencer isso.

Os sobreviventes olharam para cima. Algumas árvores eram tão altas que não era possível enxergar seu fim, já outras eles tinham sua visão bloqueada por galhos e folhas bem grandes que impediam que muitos raios de sol chegassem até a terra.

Os adolescentes subiram cada um em uma árvore. Apoiaram-se em galhos grossos e puxaram alguns cipós de coloração esverdeada. Amarraram-os na cintura para que não tivessem o perigo de despencar da altura e começara a dormir. Zumbis não sabem escalar. Pelo menos era isso que pensavam até cochilarem enquanto o céu ficava mais escuro.

[•••]

A cena terrível repetia-se várias vezes na mente de Filipe. O grito de sua avó era como um áudio com reprodução infinita que perpetuava por sua cabeça, causando até eco. A cena da criatura amordaçando a carne da mulher era uma espécie de GIF amedrontador.

As imagens não eram tão claras, apenas borrões e vagas lembranças. Mas a que mais lhe era insuportável de aguentar era quando seu corpo despencava de um prédio de 15 andares. E tudo se repetia infinitamente.

Enquanto dormia, o rosto do adolescente ficava pálido e seu rosto transpirava como se tivesse corrido por umas meia hora. Sua cabeça, apoiada desconfortavelmente no tronco da árvore, estava inquieta, remexendo-se o tempo todo. Por mais que estivesse dormindo, sua expressão facial poderia facilmente demonstrar medo e pavor.

Durante esse tempo, vários mortos vivos começavam a sair do túnel por onde os sobreviventes fugiram. Eles não haviam percebido que as criaturas os viram escapando, e mesmo não tendo raciocínio, continuaram procurando, até que encontrassem o subterrâneo por acaso, por ondo começaram a vagar.

Pouco a pouco, mais zumbis conseguiam sair daquele túnel sem que os adolescentes percebessem. O pior é que quando os sobreviventes saíram, não se afastaram do local pois não sentiram necessidade. Pensavam que os mortos-vivos não teriam capacidade para atravessarem o subterrâneo.

Voltando para Filipe, o garoto não conseguia mais suportar seu próprio sonho. As imagens começaram a se repetir rápido, mais rápido, e mais rápido, até que o adolescente despertou brutalmente soltando um grito e despencando da árvore. Por sorte, havia conseguido agarrar-se ao cipó, que deixou o corpo do garoto balançando ao ar livre um pouco. Mas os mortos-vivos o ouviram e se juntaram embaixo de Filipe.

O ramo verde não aguentaria todo o peso do moreno e logo se rasgaria no meio, deixando que o adolescente vire refeição daqueles zumbis.

Epidemia Zumbi - SobreviventesWhere stories live. Discover now