Capítulo XXXII - O Tempo Vai Embora Lentamente

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Embora "Hung up" seja uma música agradável, ela tocava num volume tão alto que, de início, deixava os adolescentes meio atordoados ao acordarem, com algumas dores passageiras no ouvido.

Filipe foi o primeiro de todos a despertar. Ao olhar para a cela ao lado, seus olhos se arregalaram e seu rosto demonstrou uma expressão preocupada: Daniel e Rafael não estavam lá. Ou Filipe estava ficando louco, ou tivera dormido e se lembrava dos dois ainda presos.

O adolescente enfiou as mãos no bolso e não conseguiu achar as chaves. Ficou desesperado, e seu pavor aumentou ainda mais quando se aproximou das grades e descobriu que elas estavam trancadas.

- Desgraçados! - Filipe xingou.

Uma vaga lembrança invadiu sua mente. Quando iria colocar as chaves em seu bolso, na noite anterior, deixou-as cair antes de fazer a ação.

- Droga! - berrou. - Eu sou uma anta.

- Fomos traídos... - Liv resmungou com rosto desanimado olhando para Filipe, como se já estivesse acordada há muito tempo. - novamente. - completou. Já bastava Délia e agora vem esses dois presos.

- Levaram a chave da Hilux.
- Gabriel disse. Cada um dos sobreviventes estavam presos em celas diferentes. - Idiotas.

- Eu ainda vou me vingar. - Thiago falou com fúria na voz.

- Que porra de música alta é essa? - Hanna resmungou, despertando de seu sono e levantando-se da cama.

- Estamos presos. - Ana Clara respondeu. - Levaram tudo. Comidas, remédios, medicamentos.

- Quando pensávamos que tudo estava bem, fomos enganados. - Alissa disse. - Nunca estamos bons o suficiente para sobrevivermos.

- Espera... - Hanna falou. - Eu peguei a chave reserva! - a adolescente comemorou ao achar o objeto no bolso de seu short. Todos os sobreviventes soltaram gritos de felicidade.

Hanna destravou as grades de sua cela e, após estar livre, começou a libertar seus amigos também.

- Temos que dar um jeito de descobrir de onde essa música vem e desligar. - Rodrigo falou, reunindo-se com todos os outros. - Isso só vai atrair zumbis.

Os sobreviventes andaram até o corredor, atravessaram o mesmo e entraram na entrada da prisão.

- Como suspeitei. - Gabriel disse ao chegar. - Eles realmente levaram a Hilux. - lamentou-se.

Uma imensa quantidade de zumbis tentavam adentrar ao local para devorar os adolescentes, mas eram impedidos pelo portão de alta resistência. Porém se essa música continuassem, mais mortos-vivos seriam atraídos e o portão se tornaria uma barreira fácil de quebrar. Algumas das criaturas se amontoavam e tentavam ultrapassar pelo muro, mas seus corpos flácidos eram rasgados e dilacerados pelos arames da rede envolta do empilhado de tijolos.

Era bem contraditório, mas os sobreviventes estavam impossibilitados de saírem daquela prisão. E o pior de todos os problemas: não tinham comida, água e nem remédios caso ficassem doentes. Aqueles dois presos haviam ferrado com a vida dos adolescentes.

- Vamos dar uma olhada no refeitório. - Alissa disse. - Talvez encontremos comida e água.

Os adolescentes se dirigiram até o pátio e o atravessaram, para chegarem ao refeitório, onde os presos faziam suas refeições.

- Peguem só coisas que estão fechadas. - Ana Clara falou. - As que estão abertas podem estar contaminadas. - justificou e todos começaram a vasculhar os armários e a geladeira do local.

Não acharam muita coisa, apenas água e alimentos para dois dias, se economizassem. Banho e outras higienes pessoais não existiriam mais.

- Os desgraçados colocaram a música para tocar repetidamente. - Gabriel praguejou sentando-se numa mesa com uma bandeja com comida. Os outros fizeram o mesmo.

- A culpa foi minha. - Thiago lamentou. - Eu que tive a ideia de dormir primeiro. - disse e abaixou o olhar.

- Não. - Filipe negou. - A culpa foi minha, eu que deixei as chaves caírem. - rebateu.

- Todos nós erramos uma vez. - Liv tentou consolar o amigo.

- E por causa do erro dele - Gabriel apontou para Lipe. -, estamos presos aqui com nossas mortes encomendadas já! - esbravejou tanto que até assustaram alguns dos sobreviventes.

- Por favor, não vamos brigar agora! - Abby repreendeu, surpreendendo a todos com sua atitude. - Quando mais precisamos estar juntos e unidos como uma equipe, vocês começam a brigar. Temos que achar uma saída desse local e agir como um grupo, não como marginais.

Seu discurso pareceu ser bastante moral e convincente, pois Gabriel abaixou o olhar com o sermão e começou a comer. Logo, um silêncio se instaurou naquele refeitório enquanto os sobreviventes comiam, apreciando cada sabor do alimento.

A música ainda tocava e só pararia quando a bateria do rádio descarregasse. Até lá, ela ficaria se repetindo várias vezes. A batida já estava impregnada na cabeça dos adolescentes. Estava insuportável ficar ali. Teriam que descobrir de onde essa música vinha e como pará-la, além de procurar por uma saída daquela prisão. Não poderiam ficar ali por muito tempo, os recursos vitais se tornariam escassos.

A letra tinha algo em comum com a situação em que eles se encontravam. O tempo da sobrevivência daqueles adolescentes estavam contados e dava adeus lentamente. Era como uma bomba relógio e se não agissem rapidamente, todo o esforço anterior para sobreviverem iria por água à baixo.

Mas eles não desistirão, pois aprenderam uma lição muito importante no meio de tantos mortos-vivos: enquanto existir vida, persistir será a missão de maior valor.

Epidemia Zumbi - SobreviventesOnde histórias criam vida. Descubra agora