Capítulo XXXV – Um amor menor que dois
Ellsworth tinha os olhos salgados e murmurava em tom quase infantil:
__Eles fizeram mal para você? – Fechou seus olhos, acariciou seus cabelos ensanguentados – Conta pra mim, vai...
Continuou chorando, e sentia uma enorme compaixão por si mesmo:
__Você cresceu entre feras, desde cedo teve de lutar contra elas sozinho...
E indagava olhando para si próprio:
__Como puderam fazer mal para você?
Olhava para seu rosto sem vida e para os pedaços de seu cérebro jogados no chão em uma poça de sangue, enquanto prosseguia vidrado:
__Como alguém no mundo poderia se sentir digno de julgá-lo?
E emendava em tom de consolo:
__Eu estou aqui para protegê-lo, só eu entendo você, só você é digno de todo o meu amor... – E prosseguia sorrindo, acariciando com as mãos aquele cranio ensanguentado – Como eu te amo, eu sei que eu nunca te disse isso, mas...
E passou a contemplar a si próprio com desejo:
__Mesmo tão cansado, você é tão bonito...
Queria beijar a si mesmo, possuir-se, mas era tarde demais, estava morto, já frio e distante. Subitamente teve um novo acesso de raiva, soltou o seu corpo no chão, destruiu todos os objetos que encontrava na sala, queria aniquilar a NN, a Ajuda Mútua, o Congresso... Odiava todos e berrava:
__Por que eles fizeram isso com você?
Berrou até perder a voz e tornar-se demasiado exausto, estava sozinho e Ellsworth continuava estático, deitado de mau jeito. Foi até o quarto colocou um travesseiro sob a cabeça, embrulhou-se e beijou a própria face desejando boa noite. Depois olhou para uma parede espelhada e não reconheceu o próprio rosto. Segundos de vertigem e estranhamento se seguiram, já não era mais o grandioso Ellsworth que estava dormindo silenciosamente, educado tal como sempre fora, um príncipe polido, um Lord refinado que jamais roncava. Olhou novamente para o espelho, era o babaca do Thomas que retribuía o olhar, em um novo acesso de cólera esmurrou a parede de vidro e viu sua mão direita sangrar, adicionando manchas vermelhas e quentes em sua roupa já tinta de rubro.
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Amor maior que 2
Science Fiction"__Todos estão buscando escapar.... Ora se projetam no outro, ora se projetam no futuro. Sempre uma fuga do agora. O estrangeiro concordou admirado. Talvez Ellsworth, lendo seus pensamentos, realmente estivesse certo: conhecia pouco de Faina. Ela...