O sangue escarlate que mancho...

By Noona_hobi

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Amor, uma doce brisa que se aproxima sem pedir licença e ocupa lugares nunca antes imaginados. Jungkook e Tae... More

Você
Conhecendo os clãs
Suave como brincadeira de criança.
Através do viés de uma cria.
Estudando o inimigo.
Felicidade é purpúrea, cintilância e luz.
Há uma inocência na mentira...
A lua do caçador não brilhará.
Somos Lua também.
Restou apenas a besta.
O amor é o domínio
Um amor que contagia, um amor que faz os outros ao redor também quererem amar.
Aos que nos queimaram no passado: Hoje dançamos com o fogo.
Me leia ao contrário.
Por dentro era combustão, consumo.
E o fogo?
Era a energia.
Um momento de ousadia.
A resposta está nos olhos.
Fascículo.
A resposta sempre está neles.
O joio do trigo.
Amar é morrer.
Não germina se for perfeito.
Mergulhando fundo em milhões de quimeras.
A neve está em chamas.
O poder é ela.
Acho que estamos fazendo amor.
Como é calmo o coração de quem volta para casa
A vida se aprecia vivendo.
É a dose que diferencia o veneno do remédio.
Você, a alma e o coração.
Beleza, força e dor.
Poder e paz.
Uma beleza cortante de tão afiada
Ninguém vence uma luta só.

A vida é dançar conforme o caos.

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By Noona_hobi

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Ferramentas para manusear este capítulo:

Besta: São os impulsos e instintos internos que ameaçam transformar o vampiro em um monstro violento e descontrolado.

Clã Sombra: Analíticos, estrategistas, reservados, seu ponto fraco é a preguiça ().

Domínio: Uma área de influência particular de um vampiro (Reino).

Refúgio: A casa de um vampiro, onde ele encontra abrigo e proteção contra o sol.

Vitae: Sinônimo para sangue, seja humano ou vampiro.

Samhain: Vou explicar sobre nas notas finais, quero apenas registrar que o nome desse festival lê-se "sol-ein."

🌱 Não esqueçam de comentar bastante e deixar a estrelinha 👉👈💛

✨🍍✨
Boa leitura!!

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Confuso. Namjoon se sentia como se um turbilhão de acontecimentos tivessem passado por si em questão de segundos e de fato tinham sido, o papel que levava sua teoria dos Coiotes descansava em seu caderno das sombras, e enquanto caminhava até a sala privativa da coroa, seus passos ecoados eram a trilha sonora de sua confusão, afinal, ainda tinha que justificar seu torpor e para essa questão o cavalo que descansava em seu pescoço não havia lhe dado respostas.

A resposta era de Kim Namjoon.

— Príncipes. — O vampiro disse enquanto deixava um suave toque sobre a porta, anunciando sua entrada na sala real. E o que viu lhe deixou um pouco aliviado, mas também com pena, Gi Chan parecia muito atarefado com uma pilha de papéis e Euisoo não estava diferente do marido.

"Se estão ocupados, não terão tempo para questionamentos."

O vampiro Sombra assim pensou, ou tentou se convencer, mas para alguém que conhece bem o Jeon Beladona, sua aspiração estava sendo um tanto ingênua. Nada passava por aquele vampiro sem que ele soubesse e debatesse sobre.

Um escolhido.

— Ah! Quem bom que chegou, eu queria mesmo te ver. — O vampiro Beladona sorriu daquele jeito misterioso e frio, quase como se estivesse em uma linha tênue entre quebrar ou se unificar ali em sua frente.

— Olá Namjoon. — Euisoo cumprimentou-o com aquele sorriso jocoso nos lábios, quase inquisidor, combinando muito bem com o do marido, eram pares que se encaixavam. — Hoje temos muito trabalho meu amigo.

— Estou vendo...por que uma pilha tão grande de papéis? Vocês não são do tipo desorganizados, ainda mais nas finanças. — O vampiro questionou já ocupando o seu lugar na mesa junto aos príncipes.

— Você definitivamente me conhece, sabe que odeio desorganização, mas houve um atraso na entrega dos lucros das fazendas, nos enviaram agora e estamos conferindo para garantir que não houve qualquer superfaturação, sinto que é preciso visitar a região para garantir uma segurança maior, não tenho um bom pressentimento sobre esse atraso.

O Beladona disse enquanto suspendia os óculos sobre o nariz bem delineado, revelando seu ar atento e calculista, sabia que parte desse sentimento de insegurança era por causa da presença Mallus em seu domínio, mas como evitar? O gosto amargo já o preenchia sem esperar um só segundo.

Por inteiro.

— É uma boa ideia, sem falar na imagem que passarão, façam uma viagem em família, mesmo que Jungkook não seja apresentado oficialmente como o herdeiro, vai ser bom pra ele se habituar, afinal, essa será a rotina dele no futuro.— O Sombra sorriu gentil, do mesmo tipo que deixava seu semblante suave e acolhedor, e os príncipes perceberam que apesar de toda a inconstância nos tempos recentes, se tivessem aquele homem ao seu lado tudo ia bem, era ele também um escolhido de Cosmos.

— E como foi com as crias? Tudo certo na tal festa? Jungkook esteve ansioso por esse momento durante a semana toda, foi impossível não rir do jeitinho dele. — GiChan questionou sorrindo bobo de amores pelo filho precioso que Cosmos lhe dera, ia aproveitar o momento para dar uma pausa no trabalho e também respirar e reconectar sua atenção, foco sempre foi o melhor caminho.

Sempre foi.

— Nem me fale, Jungkook não parou um segundo sequer de judiar dos lábios dele, já avisaram que aquilo vai dar trabalho quando as presas despertarem? — Todos na sala riram lembrando da imagem de Jeon mais novo e sua mania de morder os lábios sempre que a ansiedade o cercava, não havia algo que ele fizesse em que sua graciosidade não eclodisse, era precioso mesmo nos pequenos trejeitos e defeitos.

Um belo vampiro.

— Mas pelo o que me disseram à festa foi muito divertida, tá certo que no nosso tempo eram festivais ao invés de festas escolares, mais divertidas até, eu arrisco dizer, mas os tempos mudam. Para o próximo ano vamos pensar em um evento que relembre os anos velhos? — Namjoon disse enquanto analisava os papéis e as contagens, de forma rápida e parcial, a princípio os números estavam bem reais, ainda precisavam ver sobre gastos, mas a situação não demonstrava perigo, apesar de concordar com uma futura mudança na gestão das fazendas.

Renovo.

— Definitivamente esse evento eu vou querer celebrar, apesar de que se eu me deixar levar por suas sugestões, todo dia será uma festa diferente. — GiChan sorriu, a verdade é que apesar do semblante sério, Namjoon era alegre, tinha luz e gostava de irradia-lá, fosse em uma boa roda de música e vinho ou em uma boa disputa mano a mano. Não importava a situação, ele sempre mostraria sua faceta dominante e perfeita.

Ele carregava o mundo nas mãos.

— Sou partidor que o "não tão simples" fato de viver pra mim já é motivo suficiente para celebrar, qual seria a graça de viver sem agradecer o ar que nos cerca? Tudo vem de ser grato pelo o temos e o que nos pertencerá.

— És um exibido isso sim. Mas admito minha afeição pelo seu jeito sem travas. — Euisoo constatou enquanto ria incrédulo da insolência do vampiro Sombra em sua frente.

— Olhe se aqui eu não tenho um admirador secreto, se não fosse acorrentado eu lhe dava uma chance de estar com o exibido aqui por alguns minutos, ein?!— Namjoon passou umas das mãos com unhas pintadas de preto sobre a sobrancelha, jogando parte de seu charme dominante no ato, enquanto ouvia Euisoo gargalhar pelo atrevimento e Gichan tossir pelo rumo nada convencional da conversa.

— Namjoon?? Deixe meu marido longe de seus flertes baratos. — O Beladona se impôs na sala antes que perdesse um conselheiro e o marido, é o que dizem afinal, "Onde se ganha o pão, não se come a carne".

— Se garanta príncipe! Sua sorte é que Euisoo é tonto de amor por você, assim como você é por ele, e que ele não faz meu tipo, do contrário não garanto que o Ahadi seria seu. — Namjoon continuo com os gracejos enquanto os Jeon's gargalhavam sem igual, estar entre amigos verdadeiros era como um pássaro que desejou voar, mas nunca se esqueceu de casa, daquele lugar seguro em que se pode repousar sem travas, gentilezas ou honras, a virtude de se amar como irmãos.

[...]

Pesado. Tudo era como se o mundo estivesse em seu peso total, seja por sobre seus braços, suas pálpebras. O peso de respirar que ela conhecia tão bem lhe castigava como um cilício diário, tudo era sobre sentir afinal.

Suas pestanas finalmente se movimentaram e então aos poucos ela pode ver em sua frente, sentado sobre a poltrona o belo vampiro dormindo se encontrava, os fios castanhos descansavam sobre a testa bem demarcada, o maxilar firme e o nariz saliente, Hoseok sempre foi tão belo, Taeshin se permitiu admirar.

O coração errava batidas e em si uma angústia lhe cercava até sufocar, como podia ser egoísta a ponto de destruir uma linda vida como a de Hoseok? Ele não merecia aquilo, não merecia viver uma vida de mentiras e desastres, ah, ela se sentia assim, um grande imã de tragédias, e aquele vampiro a aceitava com todos os defeitos? Com todos os problemas? Ela não merecia tanta benevolência.

E enquanto a Mallus o admirava, Hoseok deu um suspiro forte e assim despertou apressado, ao ver Taeshin lhe olhando seu coração acelerou descompassado e trôpego, o antídoto tinha funcionado?

— Taeshin! Você acordou, graças à mãe-terra você despertou, eu já estava entrando em desespero. — O vampiro se aproximou tocando a fronte da vampira para medir a temperatura, e ali no contato ele aproveitou para acariciar o fios sempre lisos e negros como aquela madrugada. A lua já havia ido embora e só as estrelas traziam luz naquele início de aurora. — Seu torpor durou mais tempo do que eu previ, precisei injetar o antídoto das flores em você, e ontem de noite lhe apliquei um soro para o despertar. Você dessa vez me preocupou.

— Não foi nada Hobi. — A Mallus sorriu de forma preguiçosa, tendo os olhos rasos d'água fonte da emoção, ali quase as palavras se diluíram. — Eu estou bem e muito obrigada, eu não tenho qualquer outra palavra pra te entregar do que o meu agradecimento, eu sinto que dessa vez a besta dormiu de fato, muito mais do que antes, estamos perto da cura Hobi. Eu sinto.— Taeshin fechou os olhos enquanto o vampiro Zira continuava com o acalentar em seus fios. Ambos fracos, partes quebradas e que se esforçavam para remediar o pecado que os seguia à todos os lugares.

— Eu também. Sinto que estamos perto. Quanto tempo ainda temos?— Hoseok questionou enquanto olhava diretamente para os olhos da Mallus, já havia se conformado que as previsões eram certas e reais, agora só teriam que seguir conforme a dança.

Mas a música em questão era tão destoada, desafinada e disforme...

— Quatro anos. Parece muito, mas é como um piscar de olhos, agora que a besta adormeceu, temos paz para continuar com os estudos. Temos que persistir, ainda tem passos desse feitiço que você não conhece ou domina, precisamos nos aperfeiçoar.— A mulher de traços joviais se levantou do sofá lentamente, sua cabeça ainda rodava, pouco habituada com o movimento, mas impeliu-se a levantar, cada segundo sem os sussurros da besta era um respirar no paraíso.

O paraíso é aqui.

Hoseok confirmou silenciosamente e com alegria, rumou para a cozinha, precisava preparar a refeição daquele fim de hora para os vampiros. E não demorou, logo os alimentos frescos estavam dispostos na mesa e ambos agradeceram ao universo pelos frutos da mãe Terra que os cercavam com abundância.

— Tome. Não é sangue Beladona, mas acredito que seja o suficiente para a besta.— O vampiro Zira estendeu para Taeshin um receptáculo de sangue humano, desses que eram distribuídos pela Coroa, após dias sem sangue, a desidratação em Taeshin poderia surgir e uma doença era o que menos precisavam naquele momento, era o caminho onde se bebe da vitae para sobreviver.

— Você não vai beber também? — A Mallus questionou solidária, não queria iniciar o ritual de bebida sem seu amigo, afinal, ele também desejaria a vitae humana, não é?

— Meu estoque de sangue já foi restabelecido.— Hoseok disse envergonhado, não sabia como contar que seus lábios foram marcados pela primeira vez por um sangue vampiro, era bom, muito bom, mas estranho também, afinal era o sangue manipulado de uma Mallus que havia banhado sua boca.

Confusão.

— Hobi, não fique assustado Hun?! Acredito que você me mordeu por necessidade, talvez eu tenha dado trabalho pra você, ou você só quis mesmo provar da minha vitae, não importa,— A mulher sorriu compadecida pelo medo presente nas iris do belo vampiro em sua frente.— te garanto, se você quisesse beber todo o meu sangue eu deixaria, talvez a única forma de te agradecer seja com a vida, e ainda não será o suficiente Hobi.

Hoseok sentiu o peito apertar em uma dor dilacerante, podia ver como ela estava fraca, não fisicamente, mas no espírito, e mesmo sem forças ela continuava, continuava sem pestanejar, o vampiro Zira estava sem falas, os olhos brilharam e o rio surgiu por eles.

Sentir.

— Por Cosmos! Taeshin não, não diga isso, vida é sagrada, não sou digno de sequer estar com você, eu te admiro tanto por ser quem és. Não me dê créditos de algo que não me pertence.— Ele esticou as mãos sobre a mesa e tocou a vampira. De dedos entrelaçados ele corria com sua voz doce, não deixaria aquela mulher por nada naquele mundo, Taeshin já era marca em sua vida.

— Eu não consigo me perdoar em ter te colocado nisso tudo, mas se a energia nos apresentou, ela deve de ter um motivo, Hobi. Ela deve de ter.

— E tem! Vamos descobrir, eu sinto que vamos. Agora beba logo o sangue, sei que você está sonolenta ainda, mas precisamos alinhar nossas ideias. Agora que a besta dormiu teremos paz e tempo, sem falar que refleti sobre alguns aspectos que passaram despercebidos, você acha que aguenta mais um pouco acordada?

— Estou nova em folha, não se preocupe com o tempo ou a minha resistência, estou fortalecida.— Ela sorriu contente, enquanto despertava seus caninos e atacava com sede o receptáculo de sangue, ah, como descrever a beleza do som do líquido carmesim descendo por sua garganta, trazendo vida, saciando a sede?

Hoseok via a cena maravilhado, ela bebia da vitae como uma cria recém desperta, como se fosse a primeira vez. Mesmo com os anos, Taeshin ainda que por debaixo de sua máscara de medo e aversão, deixava escapar sua áurea de juventude, era bela.

Após terminar de saciar a sede de meses, ela puxou os dentes com rapidez fazendo que um gota de sangue escorresse por seus lábios, a sujando como se estivesse comendo um molho de cordeiro, o sorriso e a boca manchada era uma imagem linda e infantil para o Zira, este que ria incrédulo das mil facetas da vampira.

Encantamento.

Depois de terminarem a refeição e arrumarem a mesa de jantar, eles partiram para o lado de fora da casa, nos fundos, um pequeno jardim com ervas medicinais e mágicas se hospedavam, fazendo daquele local o laboratório mais rico e poderoso que o Clã Zira poderia ter. Um laboratório à altura.

— Enquanto você dormia eu analisei nossas tentativas passadas, já tentamos tantas coisas, em muitas falhamos e os primeiros resultados vieram com a maceração de flores secas, quando a besta dormiu por meses. Tentamos o banho da mãe Lua sobre as flores e o antídoto, e nessa vez a besta dormiu por exatos dois anos, e não encontramos flores nesse intervalo. Já na segunda vez após os avanços, fizemos sem o banho da Lua, mas usamos mais mentalização, o antídoto e o elemento fogo, e você me garante que dessa vez ela dormiu, só precisamos saber por quanto tempo...confesso que você me parece bem mais estabilizada do que das outras vezes então tenho fé junto contigo, mas existe algo em que eu sinto que falhamos.

Hoseok dizia enquanto regava as ervas com cuidado e atenção, quando se conversa em meio às ervas, elas escutam e lhe enviam a energia do bom entendimento, e no fundo era o que precisavam naquele momento, de paz.

— O que?— A vampira questionou enquanto as pontas dos dedos saudavam com carinho os ramos floridos da erva doce, aquela que traz coragem e entusiasmo diante das adversidades, que transmite paz e harmonia, e que faz o magnetismo pessoal atrair coisas positivas e boas, o quão antagônico são a erva e a mulher que as toca?

— Palavras, direcionamentos e energia. Me dei conta de que tínhamos vontade, mas blasfemávamos contra as circunstâncias, contra os problemas e o mais importante, contra Cosmos. Mesmo que em pensamentos, ainda assim, não fomos humildes, agimos como se somente nossa magia fosse o suficiente pra salvar o mundo e não é assim Taeshin. — Hoseok sorriu doce enquanto aspirava o bom cheiro das ervas que perfumavam o ambiente, seu semblante era gentil e apaixonado, era como uma criança em sua primeira vez no bosque, não conseguiria dizer o porquê daquele amor pela natureza, como explicar que o contato da grama nos pés era como flutuar, como carinho de mãe valiosa, como amor de um pai dedicado, era como amor e amar, um abraço caloroso que nenhum ser vivente poderia imitar, só ela sabia a arte de acalentar sem invadir o espaço individual, e quando se percebe tudo é ela e dela, da deusa, da mãe natureza que o fez e o que receberá.

— Você está certo, sei que nossas circunstâncias são diferentes, cada um de nós fomos marcados por diferentes formas de cicatrizes, mas ainda estamos vivos, ainda podemos ser felizes, reconheço uma pequena parte do meu egoísmo, mas é complicado Hoseok, eu guardei tudo por muito tempo, praguejei reconheço, amaldiçoei a energia de Cosmos, e desejei que tudo ruísse junto comigo, mas não adiantou de muita coisa, eu reconheço que o que passou vai doer mas não me pertence mais, o presente é o domínio certo?!— A mulher respondeu enquanto encarava o céu cada vez mais perto de clarear, a brisa era fria, o cheiro de chuva gritava no horizonte a sua chegada. Água e espera, mudanças e transmutações, era a expectativa de se ter esperança.

— Sabe Taeshin, feitiços e encantos são meios de atingir um objetivo através da energia canalizada, mas a pergunta que fica é "o que é energia?" É a luz, o calor, a vida por si só é energia e magia, ambas em sintonia com quem a produz e com o mundo em conjunto.— O vampiro Zira disse, enquanto com cuidado e zelo pediu em pensamentos licença à mãe-terra para capturar duas folhas de hortelã, era notório o seu respeito e cuidado, afinal, em cada ação com o que vem da deusa deve-se pedir licença para dela se utilizar, como um filho que honra os pais, aos vampiros daquele clã era de igual modo quando na natureza e em meio aos frutos dela.— Eu possuo a dupla linha de mercúrio, você já ouviu falar?— Hoseok questionou enquanto passava com cuidado uma das folhas de hortelã na fronte de Taeshin, evocando a energia de aconselhamento e paz para serem guiados nas decisões que ainda estariam por vir.— É uma linha que liga o dedo mínimo à fronteira da palma da mão, quem possui essa linha tem uma maior capacidade de concentração, de visualização e o mais importante, de intenção, indivíduos que detém a dupla linha de mercúrio são poderosos nas palavras, o que intencionarem em pedido o universo irá conspirar para atender. Talvez seja por isso que a energia nos uniu, mas como um dom ele também é um defeito, afinal a mínima coisa que eu desejar também será ouvida e por isso se eu estiver crivado de energia negativa, e minhas palavras forem assim regidas, os meus feitiços também serão como um pão que salgou demais, completamente sem utilidade.

— Compreendi, então antes de começamos nossos estudos e você os feitiços de teste, teremos que eliminar nossa energia negativa?— A Mallus questionou enquanto buscava a folha de hortelã nas mãos do vampiro Zira, para repetir nele o mesmo movimento feito outrora em si, e enquanto seus olhos vasculhavam a fronte do Jung, o vampiro analisava a marca da mordida no pescoço alheio, a marca parecia manchada demais, de uma forma que não é comum estar apenas com uma mordida, ele deveria cuidar daquilo antes do descanso iniciar.

— Exatamente. Primeiro vamos nos limpar individualmente, depois nosso refúgio e por fim faremos uma limpeza espiritual em conjunto com os cristais. Por hoje, tome um banho de lavanda para aliviar a tensão retida dos últimos dias e trazer mais equilíbrio nessa nova fase onde a besta adormeceu, não sabemos por quanto tempo, mas tenho certeza de que será o tempo certo do universo.

— Vai ser sim Hobi, o tempo certo do universo e das coisas prometidas nesta história serem concretizadas, a energia Cosmos há de se sair bem sucedida nessa empreitada audaciosa. — Ela divagou enquanto suspirava, novamente ela deveria ser forte, mas por quanto tempo? Quanto tempo mais, ela, um receptáculo de dor e sofrimento teria que aguentar? De onde provinha aquela força? Não haviam respostas, apenas a opção de seguir em frente, tendo novamente força para viver e sobreviver.

Quando as primeiras gotas da chuva se precipitaram no céu, ambos sorriram pelo toque suave dela em suas epidermes, e Hoseok se apressou em chamar a vampira para finalizarem a conversa dentro do refúgio-casa deles, mas a resposta que teve foi um tanto quanto inesperada.

— Você não vem também dançar na chuva?— Ela esticou a mão esperando uma resposta do vampiro Zira, alguns segundos passaram e só o barulho das gotas graúdas contra o telhado se podia ouvir. Então a resposta veio, o toque das mãos se fez e o sorriso dançou junto com eles.

A chuva caía como o maná que histórias distantes diziam ter um dia se precipitado, e de fato aqueles cristais líquidos eram vida, vida em abundância e por isso Taeshin e Hoseok abriam os braços e a receberam, com sorrisos e esperança.

Em alguns momentos de mãos dadas, em outros aos pulos pela terra molhada que exalava o seu aroma de vitalidade, eles agradeciam, dançavam e reverenciavam as deusas, e na alegria que recebiam, não haviam espaços para algo além da vontade de ser forte e feliz, afinal a vida é dançar conforme o caos.

No interior de cada coração encharcado pela dor, o questionamento que ecoava era:

"Será que alguém sabe que estamos todos ficando mais macios por dentro?

Podemos salvar o que é puro?"

[...]

Era uma manhã chuvosa quem dirigia a orquestra sinfônica naquele dia, a luz do sol preguiçosa se esgueirava pelos feixes das cortinas, e o barulhinho bom preenchia os ouvidos e pulverizava os sonhos, como um inibidor do despertar, à medida que a música da deusa ressoava, todos sentiam em sua epiderme a vida gerar, como uma música que provesse o existir e paz, isso, paz era o que reinava por ali naqueles tempos bons, tempos de outono, despedida do verão e preparação para o inverno.

Refletir.

Crias ressonavam baixinho, como se estivessem em perfeito dueto com a música imperiosa que soava lá fora. Estando os três juntos, adormecidos lado a lado depois de uma madrugada de aventuras, ali, nas sinapses, ainda vigorava a exata imagem do lago que encontraram no meio da escuridão, paraíso.

Quando o príncipe herdeiro tinha a ilustre visita de seus amigos, os criados sempre organizavam leitos fofos e macios no quarto do moreno, as crias ficavam hospedadas em camas improvisadas, mas igualmente macias e luxuosas, e assim que deixados a sós, Jungkook se juntava a eles no amontoado de lençóis e travesseiros, era fato que ficavam mais apertados com a terceira presença, mas dormir juntos era melhor, e lá estavam eles, embolados, sonolentos e preguiçosos.

Taehyung foi o primeiro a acordar naquela manhã úmida e alegre, assim que seus olhos se abriram ele pôde ver os feixes pequenos e delicados do sol tentando ultrapassar as cortinas grossas na janela, e o castanho sorriu apaixonado, a luz dourada do outono que ele tanto amava estava em plena aparição, as folhas com tons laranjas estavam em abundância e tudo era nostalgia.

Tudo era bom.

Assim Taehyung se sentiu quando olhou para o lado e pôde notar o biquinho apaixonante que Jimin fazia para dormir e a mania fofa que Jungkook tinha de adormecer com as mãos fechadinhas, tal qual um bebê.

"Preciosos".

Ele pensou. Pensou em como era tão bom viver, em ter amigos, em estar em sintonia com a deusa e em oração para com Cosmos, era como se aquele fosse o ápice do que seria ser feliz, do pico mais alto daquele existir, poderiam ser mais felizes do que já eram?

As perguntas eram como aquelas coceirinhas chatas em seu corpo sempre que suava, uma vez presentes não o largava fácil e ele até se acostumou com as segundas, agora, com as primeiras...tentava muito não ouvi-las, ignorar e agir como no exterior, como se tudo fosse brincadeira, uma eterna brincadeira.

Mas naquela manhã, as sinapses da noite anterior o perseguiam sem travas, assim que suspirava e fechava os olhos, lembrava de Jungkook e Yiso próximos demais no baile, ou então do beijo que a garota deixou nas bochechas de seu Kookie, era tão difícil entender que Jungkook tinha amigos ciumentos e que não gostavam nem um pouquinho daquela aproximação toda?!

— Aish...— Ele suspirou mais uma vez enquanto passava as mãos pelos fios castanhos, como forma de dispersar os fantasmas da noite anterior, mas como esconder sua revolta? Só ele e Jimin beijavam e tocavam em Jungkook, certeza que quando contasse ao loirinho sobre o ocorrido a reação seria igual à sua. Certeza.

A verdade é que Taehyung ainda sentia um gosto amargo sempre que imaginava Yiso se infiltrando em sua ligação com o moreninho, mas depois da conversa franca com Jimin, o Kim pôde compreender que nada era maior do que a amizade e o amor que sentiam, e mesmo que Yiso se tornasse amiga ou qualquer outro coisa do Jeon no futuro, não importava mesmo, Taehyung tinha certeza que nada romperia aquela ligação forte que tinha com Jungkook.

Nada.

O castanho se espreguiçou lentamente enquanto coçava a barriga jogando para fora de seu corpo qualquer resquício de energia ruim ou medo, aquele dia seria sua chance de ressignificar as lembranças da noite passada, o dia das bruxas ainda não havia acabado, e bom...as bruxas são amigas das crias.

Sem mais esperar, levantou-se e foi em direção ao banheiro, encheu a banheira com água quente e se permitiu relaxar, lavou os cabelos com o shampoo de Jungkook, também cantarolou músicas dos Elisios e sorriu ao notar como era peculiar o mundo no interior das bolhas de sabão. Tudo era tão extraordinário para aqueles olhos castanhos...

Quando ouviu Jimin bater na porta alegando que estava apertado para usar o banheiro, o Kim se apressou em tudo. Já dentro do quarto, secava seus cabelos despreocupado, arrumado sua bagunça de roupas na bolsa de pertences, pôde ouvir alguns grunidinhos, e ao se virar acabou por notar Jungkook se embolando mais e mais nos grossos lençóis, quase como um casulo para o segurar um pouquinho mais na cama.

E o Kim sorriu, sorriu porque mesmo com toda a sua determinação de acordar cedo, tomar banho e despertar sua preguicinha interior, ainda assim, seu corpo gritava para se juntar ao moreno no meio dos lençóis, e ele não se segurou. Caminhou até o leito de lençóis e se jogou na bagunça gostosa.

— Jungkookie...afasta mais pra lá.— O castanho disse já sentindo o conforto que o aquecer dos lençóis causava na epiderme fria, e apesar de seus protestos, o moreninho apenas grunhia com nítida preguiça de fazer qualquer ação, que não fosse estender por mais alguns minutos sua soneca.

O Kim buscou pelo mesmo lençol que cobria o corpo do futuro príncipe para que o cobrisse também, passou sua perna sobre a cintura alheia e se agarrou a ele como um coala filhote sonolento, Jungkook tocou sua mão com posse o incitando a abraçá-lo melhor e ali ele se deixou levar, pelo cheirinho bom que emanava dos fios negros, pelo aquecer dos lençóis, a maciez da cama, o corpo foi aos poucos relaxando, a respiração se tornando uniforme, as cortinas dos olhos se fecharam lentamente e então ele adormeceu.

Sonhos...

Jimin não pôde segurar o sorriso ao sair do banheiro e ver seus amigos dormindo como se não houvesse amanhã, achou mais engraçado ainda, o fato de que no meio dos lençóis brancos, aqueles dois pareciam pequenos, como duas crias que brincaram tanto até o corpo apontar o limite, e ao encontrar apoio uma na outra se permitiram adormecer.

Crias...

Enquanto secava os cabelos imaginando qual tática usar para fazer os amigos acordarem de vez, o loirinho foi interrompido com um suave bater na porta que o tirou de seus devaneios.

— Com sua licença,— O empregado saldou o primogênito da casa dos Parks enquanto fazia uma singela reverência, mostrando seu respeito pelo sangue, enquanto o loiro repetia o ato, se demorando um pouco mais para evidenciar sua gratidão pelos anos-cosmos que aquele homem possuía.— Os príncipes já estão se preparando para a refeição do descanso e pediram a presença do futuro príncipe e dos amigos que aqui estão, posso falar com ele?

— Não!— Jimin gritou mas se conteve ao notar seu tom de voz denunciador.— É...quer dizer, não tem como o senhor falar com Jungkook porque ele está no banho.— Comentou enquanto penteava a franja com os dedos, tentando expressar seu melhor semblante despreocupado.— Nos atrasamos na hora de decidir quem ganharia as graças da mãe água primeiro, mas não se preocupe, logo estaremos na mesa à espera dos príncipes. Muito obrigado por avisar.— O Park sorriu quadrado e um pouco nervoso, logo acenando e fechando a porta do quarto com urgência.

Se dirigiu com rapidez até o leito em que os amigos descansavam e passou a bombardear-lós com almofadas e pequenos chutes, afinal não tinham muito tempo.

— Jungkook! 4 minutos para ir tomar banho e se vestir antes que nos atrasemos para a refeição, seus pais estão para se sentar à mesa.— Os gritos de urgência foram mais do que eficazes porque logo o moreno estava se desfazendo dos lençóis e correndo veloz para o banho, nessa altura de suas vidas sua velocidade e força já eram sobre-humanas e eram fortes armas para pequenos acidentes como aquele.

Taehyung e Jimin procuraram roupas mais apresentáveis no closet do moreno onde algumas peças ficavam guardadas para casos de urgência.

Em menos de 3 minutos Jungkook surgiu no cômodo com uma toalha na cintura e os fios molhados, o corpo magro e branco era como uma figurinha nova e inédita diante dos olhos curiosos de Taehyung, este que não pôde se dar conta de sua expressão óbvia e intensa.

— Hyungs! E-Eu gostaria de espaço para me trocar.— O futuro príncipe disse enquanto olhava para qualquer lugar que não fosse o rosto de seus amigos, ainda não tinha a facilidade de Jimin e Taehyung em se despir sem um forte teor de timidez e receio, e suas orelhas vermelhas eram o sinal claro disso.

— Óh! Claro Kookie.— Jimin respondeu, já saindo e puxando um Taehyung petrificado pelo braço. O loiro apenas riu porque ultimamente sua mente vinha criando peças interessantes e o Kim parecia agir de acordo com as mesmas, seria divertido se tudo continuasse assim.— Já pode limpar a baba Taetae.

— Do- Do que você tá falando? — Taehyung passou a mão no rosto tentando recobrar a consciência e se lembrar do que havia acontecido consigo e com seus olhos curiosos que olharam mais do que deveriam.

Hipnose.

— Da sua curiosidade no corpo alheio, eu sei, você queria confirmar se Jungkook já havia despertado músculos primeiro do que você, isso é comum não se assuste, isso de querer comparar seu corpo com o de outro alguém, mas não esquenta a cabeça com isso, uma hora vai surgir, nada de pressa.— Jimin foi caridoso na hora de abordar o assunto, sabia bem como Taehyung era com seus problemas, sempre os remoendo mentalmente e tentando achar um sentido para tudo, ou a velha tendência de se culpar sem ser ele o autor das ações, no fim o Park sabia que deveria ter paciência com eles, se sentia quase pai.

Sentindo.

[...]

— Que mesa linda, cheia de vida!— Gichan exclamou enquanto descia as escadas acompanhado de Euisoo, sempre sonhou com a casa cheia, miniaturas suas e do marido correndo pela casa e dando trabalho para ambos e para Namjoon, e apesar de Cosmos não o atender naquele pedido, ainda sim tinha seu sonho realizado porque Jungkook era o suficiente e os amigos de seu filho tornavam seu sonho físico, floreavam o castelo e os sorrisos de quem via o crescer de cada um.

— Papais!!— Jungkook se levantou da mesa com saudades, a rotina de cria o tirava bons momentos com a família e por isso o peito sempre gritava a vontade de estar com eles a todo momento.

Os príncipes abraçaram o já quase rapazinho, o encheram de beijos e nas gargalhadas juvenis o castelo sentiu paz, os sorrisos que ecoavam naqueles corredores traziam esperança e se perpetuavam nos tijolos, se guardando para quando não pudessem ser ouvidos.

— Pelo visto em cheguei na melhor hora.— Namjoon comentou enquanto surgia veloz na sala de jantar, aquele hábito de se anunciar nos ambientes como sombra, silencioso mas repleto de presença.

Cautela.

— Sim hyung.— Jungkook se jogou nos braços do vampiro Sombra com alegria. Então naquele dia toda a família estaria reunida? O coração não podia ficar mais feliz do que já estava, era o motivo de fechar os olhos e agradecer pelas pessoas preciosas que existiam em sua vida, o moreno podia sentir o coração arder em chamas, a chama da vida.

— Hey!— Namjoon disse enquanto se abaixava para fazer cócegas no seu ex-capitãozinho, agora Jungkook crescia em graciosidade e velocidade, tempo que corre cruel e algoz. Mas não importava, enquanto aquele moreninho genioso estivesse protegido e com um sorriso no rosto, Namjoon estaria feliz.

— E como foi a noite de aventuras? E o baile?— Euisoo questionou enquanto todos se sentavam à mesa, seus olhos capturando o sorriso travesso dos três meninos e esse ato para si foi o mais lindo daquele dia, seu Jungkook crescia em sabedoria, ao lado de meninos de moral e de princípios, era como viver um sonho.

— Ah! Foi muito divertido senhor príncipe, caçamos doces, dançamos no baile e também fizemos caça aos monstros.— O loirinho respondeu rápido e prestativo, amava e admirava a família de Jungkook, não tinham uma grandeza ilusória, eram como uma família comum e buscavam ser como uma, e todos sabiam que isso era para garantir a felicidade nos dias de crescimento do Jeon mais novo. As famílias mais próximas entendiam que o futuro príncipe precisava se acostumar com regras e ensinamentos, mas ao verem o príncipes se esforçando para tornar toda a transformação em um ato menos mecânico e cruel para o filho primogênito deles, então entendiam que de fato aquela família era abençoada por Cosmos.

— Sim! Eu e Jungkookie até encontramos uma sala de ossos antigos e uma outra sobre músicas de terror.— Taehyung sorriu animado por querer passar seu conhecimento e descobertas para todos, como uma joia que entregava em graça e agradecimento para a família abençoada que existia ali. Grato por terem trazido para esta terra Jeon Jungkook.

— Mas confesso que essa última era estranha.— Jungkook comentou com um sorriso de canto, enquanto servia um copo de leite para si.— tinha uma faixa de musicas que diziam ser "músicas de vampiros" e eu e Taehyung ouvimos por curiosidade, mas não parecia nem um pouco com as músicas que costumamos ouvir nas reuniões ou festejos.

— Isso acontece Gukk-ah!— Euisoo tocou os fios negros de seu filho com carinho enquanto o servia com uma generosa fatia bolo de frutas.— o imaginário dos humanos são peculiares, e muitos pitam criaturas do Halloween com um clima gótico, como criaturas das trevas. É até engraçado porque "trevas" sempre existiram na terra, seja em animais de pequeno porte ou grande. Cada um possui esse lado vampiro que os humanos destacam.

E todos na mesa sorriram, uns dos maiores divertimentos para os vampiros era tentar compreender os humanos, tão cheios de estereótipos e complicações, pareciam até confusos demais, talvez fosse por isso que eram tão peculiares e um ponto de estudo para todas as demais criaturas providas de Cosmos.

— Imagine se alguém descobrisse que os vampiros na verdade são dóceis e inteligentes? — Taehyung comentou ainda achando engraçado a mania estranha dos humanos de subjugarem os de sua espécie, os príncipes eram tão educados, lindos e carinhosos, controlavam a besta inferior como ninguém, nunca no mundo que seu doce Jungkookie, mesmo que príncipe herdeiro, era das trevas como diziam, e o seu Jiminie? O único ponto com trevas em seu loiro favorito eram as orbes cor de ônix.

Humanos eram realmente engraçados e confusos.

— Definitivamente, surtariam.— Namjoon respondeu o castanho com seu famigerado sorriso de covinhas, estes que eram tão contrastantes com seus anéis de cruzes e caveiras, as unhas pintadas de preto e as roupas da mesma cor, era muito do que o príncipe Euisoo comentava, não tinham o porquê subjugar alguém, afinal dentro de cada um mora a luz e trevas, o bem e o mal, a dor e o amor, tudo era sobre o antagonismo, yin-yang, cabendo ao juízo do livro árbitro escolher o caminho, uma questão de escolha.— Onde vocês vão passar o sabbat de Samhain?

— Acho que em casa mesmo, não ouvi os meus senhores comentando sobre outros planos.— O primogênito dos Kim's disse ponderando sobre o assunto, tentando se lembrar se de fato seus pais haviam comentado sobre um novo local para festejarem e honrarem os antepassados.

— Depois da nossa última conferência, que tal pensarmos sobre uma reunião das três famílias? Seria divertido vivenciarmos a passagem do ano novo com os amigos e familiares.— Gichan sugeriu e nos olhos das crias um brilho intenso surgiu, juntar todos em volta da fogueira, tecer desejos e honrar os antepassados, seria de fato a premonição de dias melhores e muito mais felizes.

Os melhores dias...

— Ah, seria muito genial senhor príncipe.— Taehyung respondeu sorrindo de boca toda, qualquer motivo para estar aos lados dos amigos era precioso e importante para si.— Sem falar que com mais pessoas por perto vou ter ajuda na hora de tecer a corda da bruxa, nunca sei o que pedir.— E um biquinho de chateação ali surgiu, por ter poucas pessoas ao seu redor, o castanho não tinha muitas companhias na hora de fazer seus pedidos e desejos para o novo ano, suas ideias extinguiam-se como gota de chuva no deserto e a chateação o preenchia naqueles dias.

— Óh! Taehyung-ah não se preocupe, sei que é um momento repleto de energia e magia para nós, mas não se force à desejar algo, as palavras certas sempre surgirão.— O vampiro Beladona garantiu enquanto sorria divertido, sabia como a pressão sobre a juventude era veementemente, não importava se mil anos de lutas e avanços intelectuais tivessem passados, os que se dizem responsáveis sempre jogam seus fardos sobre quem não os pode carregar. Mas mudanças estavam surgindo tímidas e uma delas recaía sobre não obrigar desejos e vontades, era lema de sua espécie a liberdade de ser e fazer conforme a inclinação interior e assim seria em seu principado.

Eles fariam mudanças.

Os Jeon's.

[...]

Após a refeição animada e divertida, os adultos se encaminharam para a sala da coroa, últimos detalhes precisavam de alinhamentos e respostas, e por último, a proposta de Namjoon seria analisada e julgada procedente ou não.

— Agora que o trabalho terminou, podemos tratar de outros assuntos pendentes. Não é Euisoo?— Gichan disse enquanto se levantava de sua cadeira, saudando os vampiros de confiança que foram convocados para aquela reunião. Seus olhos percorreram toda a sala e repousaram sobre o vampiro Sombra, o encarando daquela forma misteriosa e sorridente, algo que querendo ou não era intimidador.

— Sim, temos que ajustar decisões e também necessitamos de respostas para algumas dúvidas.— Euisoo comentou enquanto guardava os últimos papéis de análise e juntando-se ao seu marido na saudação aos vampiros presentes.

— A energia de Cosmos que vive em nós, saúda os escolhidos por ele.— Todos os vampiros e vampiras presentes disseram em uníssono, enquanto reverenciavam os príncipes, dando glória e louvor à energia que protegia aqueles homens, esperança de Busan e da espécie.

— Que a energia de Cosmos estejam em seu interior meus irmãos.— Gichan sorriu alegre, mesmo com tantos problemas e receios, a energia do universo o presenteava com amigos, irmãos de espécie, companheiros e companheiras que confiava e que permitia estarem no mais íntimo de um vampiro, seu refúgio, sua casa.— Podemos nos sentar, hoje nossa ementa é curta, mas ainda sim requer cuidado e reflexões. Vamos para a primeira questão. Euisoo.

O príncipe Ahadi buscou o papel onde continha os assuntos, e dedilhando todos, buscou o primeiro da pequena lista.— Sabbat's individuais. Antes de passar a palavra, gostaríamos de expor aqui nossa opinião. Sabemos a importância de cada sabbat, mas defendemos que pelo menos enquanto estamos reforçando a segurança e nos adaptando às novas mudanças e novas realidades, que as celebrações aconteçam de forma individual entre as famílias, nossa proposta recai apenas sobre o sabbat de Samhain. Tem a palavra o representante da guarda real.

— Estamos de acordo com os príncipes, são mudanças sutis, mas que carecem de cuidado e aperfeiçoamento, sei como nosso povo admira a união e o estar junto, e também sei que não será um sacrifício grandioso se resguardar nesse fim de ano, logo a festa de preparação para Yule estará erguida e nesse dia poderemos dispor da liberdade que tanto zelamos e protegemos.— O vampiro responsável pela organização do exército se posicionou suave e suscito, não precisavam de meias palavras, quando a necessidade era clara e sedenta. Se preservar era o melhor caminho.

— De posse dos argumentos, todos estão de acordo? Se houver objeções o momento de debater é agora.— Gichan incitou enquanto arrumava os óculos sobre o nariz delineado, enquanto sua atenção estava nos documentos para confecção do decreto.

E na sala, a reunião seguiu seu curso, a calma na hora de debater era necessária, na vida nada acontece sem que efeitos da lei do retorno ressoassem, por isso o cuidado e atenção, a vida de muitos estavam nas mãos de poucos e se a responsabilidade por uma única vida, pesava como um mundo em seus ombros, qual seria o peso de milhares do existir em sua cota?

[...]

Depois da refeição os garotos retornaram para o quarto do príncipe herdeiro onde procuravam decidir qual atividade fazer, poderiam visitar novamente o lago, mas ficaram com medo de serem vistos por algum guarda, devido à conferência, o número de soldados no castelo fora duplicado e a facilidade de serem pegos saindo dos arredores parecia, de fato, evidente.

Foi então que Jungkook lembrou-se da promessa que tinha feito ao castanho na noite passada, "vamos colorir uma parede toda" e como água para sede, o moreno foi rápido em chamar os amigos a se precipitarem pelos corredores do castelo, em busca do que para os olhos das crias era a definição de sala mágica, repleta de tintas das mais variadas cores, todas feitas pelos Zira, que eram famosos na cidade pelas tintas naturais que produziam, eram como se tivessem chegado de fato ao final arco-íris.

— Podemos...pegar quantas tintas Gukkie?— Taehyung questionou embasbacado, em seus olhos as tintas explodiam em beleza, como se ele pudesse ouvir a voz delas, felizes por terem companhia depois de um tempo resguardadas na sala, alegres por serem novamente admiradas como mereciam.

Vaidosas.

— Quantas quisermos.— Sorriu cheio de si.— podemos levar folhas e alguns pincéis também, não faço ideia do que faremos na parede, mas tenho certeza que ficará genial.— O príncipe disse imitando os dizeres viciantes de Taehyung, este que usava tal palavra para designar qualquer coisa que fosse brilhantes aos olhos e à mente.

Crias...

—Então vamos nos apressar, já tenho o desenho perfeito em mente.— Jimin foi rápido em organizar quais tintas levar, bem como a quantidade de papéis e pincéis, enquanto os outros dois garotos o seguia e acatava às ordens do membro mais velho daquele trio, obedientes como nunca.

Não se demoraram muito no transporte de tudo, logo estavam do lado de fora do castelo, no jardim da macieira, o sol estava intenso, quente e devido à esse fato nenhum soldado perambulava por ali, facilitando qualquer travessura que aqueles três faziam sem perceber. Para aqueles olhos nada era proibido, tudo era relativo, e coisas geniais para as crias eram o caminho mais belo de se trilhar.

— Ah! Definitivamente esse deve ser o último sol antes de Samhain, logo o sol vai dormir de vez e a neve vai vir, é por isso que ele está tão brilhante hoje.— Taehyung comentou enquanto tentava erguer seu olhar para o grande astro no céu, as mãos em frente aos olhos montava uma pequena proteção, e apesar dos globos oculares doerem ele queria ver o sol pela última vez antes de sua morte, era tão estranho saber que o deus do fogo morria todos os anos e ressurgia de igual modo, mas era aquilo que ouvia sua mãe dizer a todo momento, era sobre renovo.

— Pare com isso!— Jimin desferiu um tapa leve sobre a cabeça do castanho, enquanto o repreendia fortemente pelo olhar.— O deus é belo mas também possui seu lado amargo, não prove demais da luz ou seus poucos miolos vão derreter.

— ni privi dimis da liz ou seus pouquis miilis vi derriti...— O castanho imitou de forma caricata o loiro, enquanto revirava os olhos com raiva pela reprovação, poxa, do que adiantava o deus Sol ser tão lindo e imperial se não podia ser admirado pelos seus súditos?

— Chega os dois!! Se continuarem assim eu não busco picolé pra gente.— Jungkook tentou pôr ordem no recinto e sabia que bastava um bater de asas de uma borboleta para que os dois mudassem da água para o vinho, fazendo o menor protagonizar os momentos onde ambos não se desgrudavam por nada.

— É brincadeira Kookiezinho, já estamos nos desculpando.— O Park e o Kim falaram em conjunto, enquanto se abraçavam desesperados, brigar com um amigo não é legal, e ter o adicional de ficar sem picolé em um dia abafado, aí sim que as coisas desandariam de vez. E para aqueles dois não era qualquer sacrifício estarem juntos, sentiam-se as vezes um indivíduo só, se encaixavam perfeitamente bem em tudo, eram o extremo da confusão e loucura e Jungkook para eles era o equilíbrio necessário, o epicentro dos polos, Jungkook era a cereja que tornava aquela vida doce e bela.

O trio perfeito.

— Acho bom mesmo. Enquanto vocês iniciam as pinturas, eu vou lá dentro buscar alguns picolés e uma garrafa de água pra gente. Eu tô de olhos nos dois.— Jungkook disse enquanto fazia um movimento com as mãos em frente aos olhos, sinalizando sua atenção nos ditos rapazes traquinas.

— Pode ir em paz meu velho amigo.— Taehyung gracejou enquanto se mantinha agarrado ao pescoço do loirinho que tinha as bochechas vermelhas, fruto do sol impiedoso e do sufocamento proveniente do abraço frenético do amigo. Não era só o mais velho, mas também o mais baixo do grupo. A vida, de fato, não justa.

— Já pode me soltar, do contrário seu pescoço será quebrado antes do Kookie voltar.— Jimin ditou enquanto empurrava um Kim manhoso para longe de si com um sorriso de amor. — Vamos iniciar logo o desenho Taetae, logo teremos que ir embora, Samhain está perto.

— Você está certo hyung.— O castanho disse já se precipitando à buscar os pincéis e o primeiro pote de tinta.— Temos que nos apressar, você acha que poderemos comemorar no castelo? Poxa, todos reunidos seria tão mágico e especial, não é fácil ser filho único...

— Não se preocupe Taehyung-ah, confesso que não sei como é a vida solitária de ser filho único, mas se não pudermos estar no castelo pedirei licença para os meus senhores para passar a passagem do ano com você. Você sabe, já sou crescido e meus pais estão ansiosos para conhecer qual é a minha classe, daí creditam a liberdade para que eu possa sentir aos poucos a sensação de ser por mim mesmo. — O Park sorriu bonito, daquele jeito contagiante e que fazia um brilho diferente lhe surgir através da epiderme, talvez fosse por esse efeito que os olhos se resguardavam em um formato adorável de arquinhos, o Kim desconfiava muito que a família dos Parks eram descendentes de fadas e elfos, era esse o traço místico que tornava Jimin único para Taehyung, o tornava o talismã que o castanho guardava no coração.

Admirador.

— Tsc...a linda liberdade que crias de 15 anos-cosmos possuem, enquanto isso eu e Kook temos que ser vigiados 24 horas por dia como crias prematuras.— Taehyung comentou já concentrado nos traços inicias do seu desenho, estes que inicialmente se tratavam de vários tipos de vegetação, mas pela mente estar crivada de pensamentos diversos, o produto final podia assim ser alterado e estava tudo bem, pelo menos ali um roteiro não era necessário, era o pedaço do mundo onde podiam soltar a guarda, podiam ser e agir livremente, como pássaros nos céu, como vida selvagem.

— Não exagere, vocês são vigiados porque só aprontam, você arquiteta e Kookie executa, não param um minuto, mas não é como se soldados vivessem na cola de vocês, temos até que muita liberdade, não funciona assim no mundo dos humanos e ouvi dizer que em domínios fora de Busan, existem lugares onde nem mesmo os vampiros completos possuem liberdade, a verdade é que moramos no paraíso Taetae.— Jimin divagou depois de se lembrar sobre a vez em que Taemin o segredara sobre o teor rigoroso de sua educação e a válvula de escape que a escola vinha se tornando para si. Ah como gostaria de trazê-lo para Busan também, bem perto de si, com aquele sorriso e olhos mistério que o deixava flutuando em paixão.— Mas me diz, aconteceu algo ontem com você e Jungkook? — O Park questionou enquanto balançava a cabeça para tentar espantar os devaneios de suas sinapses.— No fim do baile sua expressão não estava nada boa e na hora em que contei sobre meu primeiro contato com Taemin, senti algo pesado nas suas palavras, vocês brigaram de novo?

— Não foi uma briga, na verdade não tocamos no assunto, mas vou te contar e você vai me dar razão.— Taehyung disse enquanto movimentava o pincel com cuidado e devoção sobre a parede. Galhos secos de árvores com muitos anos-cosmos em evidência seria algo legal de se representar, tendo ele o adicional de não precisar encarar os olhos curiosos do Park. No fundo tinha certeza que seu motivo para estar chateado era compartilhado pelo amigo, contato demais com seu Jungkookie não deveria ser algo cedido aos demais. Definitivamente não.— A verdade é que eu e o Jeon não queríamos nos separar no baile, e a ideia pareceu menos positiva quando nos demos conta de que ficaríamos por muito tempo longe um do outro, não é como se um de nossos colegas humanos fossem fazer algo contra nós, mas o medo é evidente, foi mais ou menos como se nos sentíssemos...

— Expostos?— O loiro questionou enquanto escutava com atenção seu amigo, aproveitando para iniciar o esboço de seu desenho, asas, como as de anjos e aves bondosas que colorem o céu, anjos...

— Isso! Então o baile se tornou uma confusão silenciosa, Jungkook tentando me proteger pelo olhar e eu também, mas como você deve saber, Yiso não deu trégua pro pobrezinho do Kookie, e sempre que podia estava mais perto do que o recomendado sabe?! Aish! Aquilo me deu nos nervos hyung.

— Por Cosmos! Você jura que ele estava próxima de mais?

— Sim! Estava. Argh, e essa nem é a pior parte, dava pra ver de longe o desconforto do Kookiezinho, mas então o que não estava bom fez foi piorar hyung, na hora em que estávamos esperando o Namjoon-hyung e você sumiu com seu namorado.— O castanho acusou descontraído enquanto deixava um encostão suave nos braços do Park para provocá-lo.

— Eu já disse que ele não é meu namorado.— As bochechas e orelhas do Loiro se tornaram róseas como um pêssego doce e maduro, o sorriso frouxo nos lábios contrariavam as palavras que sua boca soltava, e bom, naquele momento ambos puderam perceber que essa não era um idea tão, tão distante assim.

— Uhum! Vou fingir que acredito, mas seguindo com a história, enquanto esperávamos, os pais da Yiso chegaram finalmente pra busca-la e não contente com todo o contato físico que ele teve durante a dança, na hora de se despedir ela ROBOU um beijo do nosso Jungkookie, manchando as bochechinhas macias dele com aquele batom nada legal dela.

— Por Flora! Eu não acredito que ela fez isso Tae.

— Fez! E ai, fico com raiva só de lembrar do sorriso forçado dela, deve ter dito só beterrabinhas pro Jungkookie.— Taehyung reafirmou enquanto batia o pé nervoso só de lembrar da situação, mais um pouco e seu desenho se tornaria arte abstrata de tanta força que impunha sobre o pincel.

— Espera! Mas o certo não é abobrinhas?— Jimin cortou o raciocínio do Kim a fim de entender o novo bordão do amigo, é certo que o Kim sempre foi muito curioso com palavras, se não sabia o significado, pesquisava lia centenas de livros até achar o que tanto ansiava, por isso não estranharia de fato se seu amigo estivesse a criar novas palavras.

— Na verdade eu analisei essa frase, e normalmente dizemos isso para algo com teor negativo, certo?! Mas acontece é que eu gosto de abobrinhas, então resolvi renovar o sentido da frase, e como não gosto de beterrabas, me pareceu conveniente usá-las como substitutas. Gostou hyung?!— Taehyung sorriu de bota toda, as bochechas marcadas desde muito pequeno já eram ingredientes essenciais para que o sorriso do castanho tomasse aquela forma peculiar, e agora que estava no início da adolescência isso era cada vez mais acentuado.

— Queria muito dizer que você tá errado, mas faz sentido.— Jimin disse enquanto devolvia o encostão outrora dado pelo Kim, logo se lembrando do assunto principal daquela conversa.— Mas vem cá, então quer dizer que aquela garota beijou o Kookiezinho?

— Beijou hyung, você acredita nisso? Que abuso de boa vontade...— O castanho voltou a chiar de raiva e o pé continuava a bater frenético no chão, apenas por lembrar da cena no baile, sua mente era torturadora e fazia com que o looping se apossasse daquele momento o perpetuando até a cabeça doer de tantos pensamentos e frustrações que por ali passava.

— Não é?! Mas com essa história toda Tae, eu acho que acabei de descobrir algo sobre Yiso e Jungkook.— O Park comentou enquanto se aproximava do Kim para lhe sussurrar a última parte de sua frase.

— Sobre Yiso e Jungkook?— Taehyung interrompeu sua pintura e voltou-se para o amigo em choque total, o que poderia ter entre eles dois?— Pois diga logo hyung.— Seu desespero era palpável e o Park teve que ser forte para não gargalhar antes do fim daquele plano.

— Eu não sei se você está preparado pra ouvir sabe, acho melhor não contar.— Jimin fez hora enquanto podia notar as bochechas do Kim cada fez mais murchas em frustração e seus olhos cada vez mais denunciantes de sua curiosidade.

— Mas você prometeu que não teríamos segredos, por que você está fazendo tudo ao contrário?— Seus olhos fitaram o chão cada vez mais chateado, estava por um fio de perder Jungkook e agora Jimin também, era como se a dor de cabeça tivesse aumentado em conjunto com o desespero de seu coração.

— E eu estou cumprindo com a minha promessa, já você eu não posso ter tanta certeza disso.— Jimin fingiu indiferença enquanto internamente seu coração apertava, louco para tirar a preocupação daqueles olhos.

— Hyung!! O que você está querendo dizer com isso?— Taehyung gritou em revolta com as mãos fechadas em punho, enquanto inconscientemente suas bochechas inflaram como se fossem balões vermelho, dado a coloração de sua pele, tanto pelo sol, quanto pelo confronto, ele não escondia segredos, escondia?

— Estou querendo dizer que você está com ciúmes do Jungkook.— Jimin imitou a mesma posição de revolta do amigo apenas para lhe provocar, a verdade é que entre os dois a competição para saber quem era o mestre na arte de debochar era desenfreada, no fim Taehyung sempre regredia na disputa para manter seu precioso hyung como líder daquele trio de crias arteiras e curiosas. Tudo era para o seu adorável Jiminie.

— O quê?! Eu nã...

— Vai mentir agora Kim Taehyung, você vá mentir pra mim?!— O Park suavizou sua expressão, sabia que apesar do confronto não estava sendo fácil para o castanho lidar com as novas mudanças internas, no final mesmo com sua vontade louca de proteger os amigos, aquela era uma descoberta e luta individual, não poderia agir ali.

— Eu só...— O Kim ficou em estado de choque, não mentiria para seu hyung, sabia que apesar de sua mãe destacar o veneno gradativo em que a ausência da verdade de um coração podia se tornar, ainda assim nos últimos meses muitas mentiras o cercava, mesmo internamente ele continuava a mentir para si mesmo, era o melhor caminho para lidar com o novo que ecoava dentro de si. Não era o momento.

— Está tudo bem Tae.— Jimin tocou nas mãos alheias, retirando o pincel dali e o depositando no suporte de tintas, queria espaço para abraçar o seu pequeno e assim ele o fez.— Não é um bicho de sete cabeças, na verdade ciúmes é normal, assim como um mau humor, mas é preciso ter controle disso, domine isso e quando chegar na nossa hora de dominar a besta tiraremos de letra. Dizem que é parecido com as emoções, e você não precisa definir nada agora, é normal sentir ciúmes assim.

Jimin fitava os olhos do castanho com carinho, não diria com todas as letras que tipo de ciúmes era aquele, com os poucos meses de análise pôde notar que as coisas com Taehyung era lenta e gradativa, como se ele degustasse as emoções e as consequências do que elas podem trazer, então o loiro respeitaria isso, era a individualidade de cada um ali.

— Obrigada Jiminie!— Taehyung sorriu bobo por estar recebendo todo o apoio de seu irmão de alma, e muito mais por não precisar justificar algo, no fim não conseguiria mesmo, tudo o que sabia fazer nos últimos meses era sentir, não podendo ter controle de suas ações ou palavras, estava tudo bem, o momento de refletir chegaria. Um dia sempre chega.

— Eu não acredito que vocês ficaram esse tempo todo de abraços sem nem iniciar os desenhos, desse jeito vamos terminar na hora em que a deusa lua acordar.— Jungkook surgiu no jardim com as mãos ocupadas por quatros picolés e uma garrafa de água.— Inclusive alguém me ajude aqui, está escorregando.

— Eu lhe ajudo meu pequeno gafanhoto.— Jimin foi veloz em buscar os picolés das mãos do moreno, logo oferecendo para que Taehyung pegasse um para si.

— Só tinha esses quatros picolés, pedi que alguém fosse comprar mais.— Jungkook disse enquanto deixava a pequena garrafa de água na grama, logo buscando um picolé nas mãos do Park para si.— O que estão desenhando?

— Eu vou fazer galhos de árvores com muitos anos-cosmos.— Taehyung respondeu enquanto se deliciava com o frescor que o picolé de morango lhe trazia naquela manhã quente e abafada.

— Eu vou fazer um grande par de asas para que a gente possa fingir que são nossas. E você? O que vai desenhar?

— Vou fazer os símbolos dos clãs pra decorar, e talvez um lago perto das asas e dos galhos, vou ser o equilíbrio entre vocês dois.— O futuro príncipe sorriu animado, franzindo o nariz e mostrando seus dentinhos avantajados que o deixavam ainda mais adorável que o normal.

— Uou! Jungkookie é tão poético, gosto assim.— Taehyung disse verdadeiramente impressionado enquanto Jimin o acompanhava nos gritos frenéticos de surpresa pelas palavras tão polidas e doces do moreno.

— Não sejam bobos.— Jungkook protestou enquanto olhava para a cerejeira como forma de esconder a sua timidez evidente.— Ah, antes que eu me esqueça, hyung, um dos empregados está te esperando na sala principal, acho que é uma aviso de seus pais.

— Nossa! Por que não vieram em pessoa falar? Será que aconteceu algo?— Jimin questionou enquanto fitava os amigos, estes que estavam tão confusos quanto o Park.— Eu vou lá, me esperem e não comam o quarto picolé sem mim, vamos dividir.

O loiro disse enquanto se apressava em ir até a sala principal. Taehyung e Jungkook decidiram ficar embaixo da macieira para o esperar enquanto terminavam seus respectivos picolés.

— Jungkookie...você se divertiu ontem?— Taehyung questionou enquanto fazia desenhos aleatórios no chão com a ajuda do palito que sobrou de seu picolé já consumido, em seu rosto um biquinho involuntário era perceptível e o moreno sentiu uma vontade enorme de perpetuar aquele momento, seu hyung era tão adorável.

Tão precioso aos seus olhos.

— Uhum! Principalmente quando fomos visitar o lago, acho que desbravar aquele refúgio com vocês foi uma memória muito importante e que vou guardar pra sempre.— O Jeon respondeu arrastado enquanto sorria como se aquela memória tivesse ocorrido há mil anos atrás.— Sem falar na deusa, ela estava tão linda hyung.— Jungkook respondeu enquanto involuntariamente seus olhos não conseguiram desviar do mar castanho que morava nos orbes do Kim, ali ele se afogou por eternos segundos, e ambos permaneceram assim, como se pudessem conversar apenas através do olhar e da confusão interna de cada um.

— Quero te dar uma coisa, na verdade dar um novo significado, você me permite?— O Kim questionou enquanto sorria traquina, aquele sorriso juvenil que deixava o coração do moreno aos tropeços. Por que ele precisava ser tão singular daquela maneira? Ah...ele...tão lindo desde sempre.

— Pode.— A resposta veio como a brisa fresca de outono, era aconchegante e ambos os corações ali sentiram o aquecer suave de tudo aquilo, que mexia e remexia no interior de cada um, era uma química estranha que os faziam borbulhar em uma substância ainda sem nome.

Não havia um nome?

— Ok! Então você precisa fechar os olhos. Só abra quando eu mandar.— Taehyung disse enquanto deixava o palito sobre o chão, já se levantando para ficar ao lado direito do moreno, o vento soou tão ansioso quanto o interior das crias naquele momento, o som das folhas no chão, como torcida para aquele momento, elas chiavam animadas, porque a natureza sempre nos observa e as primeiras descobertas sempre são como sagrado para a deusa, é essa a prova viva de que seus filhos estão crescendo.

O tempo que passa.

— Ok! Quando eu dizer "já" você pode abrir os olhos.— Taehyung respirou fundo, tomando impulso para se manter focado naquele momento, o corpo e a mente gritavam para que ele continuasse, que desvendasse aquele pulsar e aquela energia que o fazia confusão e sentimentos. Permanecer.— JÁ!

E com a palavra dita Taehyung segurou no queixo do moreno trazendo a bochecha esquerda de Jungkook para perto de si e com um biquinho fofo ele deixou uma bitoquinha estalada no mesmo lugar onde Yiso, na noite anterior, se arriscou a beijar.

O Jeon simplesmente petrificou, um sorriso bobo lhe adornou a face e a perna direita começou a se movimentar frenética, como para que a adrenalina e a felicidade daquele momento fossem liberadas aos poucos, porque se ele soltasse de uma vez como uma ventania forte, quais seriam os efeitos? Ele precisava segurar.

— Jungkookie. Oii? Tem alguém aí?— Taehyung disse enquanto passava suas mãos em frente ao campo de visão do Jeon, depois de seu pequeno ato o garoto apenas ficou sorrindo, olhando distante, será que tinha feito algo de errado? Ah se sua mãe descobrisse o que ele tinha feito, nunca mais sairia de casa.

— Po-Por que?

— Yiso te beijou ontem, exatamente na bochecha esquerda, apesar dela ser sua amiga eu não gostei disso, eu e Jimin somos seus amigos há muito mais tempo, nós deveríamos ser os primeiros a beijar suas bochechas. Mas confesso que não deveria ter feito assim, sem pedir sua permissão, se você não gostou me des-

— Eu amei! Foi o beijinho mais lindo e precioso que já recebi de alguém sem ser meus pais, acho só que...você usou força demais, da próxima vez...— O moreninho continuava a olhar para o horizonte, sorrindo bobo, encantado, incapaz de encarar o mar castanho que Taehyung trazia em seus olhos mistério e feitiço.— da próxima vez me beije de forma lenta e delicada.

Dessa vez foi o Kim quem congelou no lugar, Jungkook estava ali lhe dizendo que seu beijo tinha sido o mais lindo e precioso, ninguém no mundo exceto os príncipes e agora o castanho tinham gerado essa sensação no moreno, e ele queria uma próxima vez? Por Athena, o que eram aquelas labaredas ansiosas aflorando em seu estômago e se precipitando em seu rosto e corpo todo? O que seria?

— Certo...— O Kim respondeu baixinho, como brisa de verão, ah, o outono podia estar em presença naquele dia, mas em seu interior o verão era jocoso e dominante, derretendo inseguranças, esquentando o medo e aquecendo a epiderme, era verão nos 4 cantos daquela cria geniosa, mas não era sempre assim? Um é verão e o outro é inverno? O evidente antagonismo de Cosmos.

— Nesse caso...— Jungkook buscou coragem do além, buscou energia da terra que o sustentava para prosseguir na audácia do momento, porque a química do contato em si ainda estava reverberando, e os efeitos ainda estavam sendo produzindos e abraçados, ainda era tempo de tentar e experimentar.— Eu quero te abraçar assim como Amber fez.

E ele encarou, se permitiu desaguar no mar daqueles orbes castanhos que o engolia e o chamava como o canto mitológico das sereias, e como os pescadores tolos ele se permitiu ser levado, ser entregue e consumido.

Taehyung não o respondeu com palavras, naquele momento ali elas eram inexistentes, e apenas o acenar doce e contido seguido de seu sorriso adorável foram a prova de seu consentimento, Jungkook nunca se aproximaria se a ele não fosse dado esse poder, afinal a magia de um corpo não poderia ser maculada com tamanho desrespeito, até nesses pequenos detalhes o futuro príncipe era cuidadoso e atento, energia é da deusa e do deus e como presente fora dado às criaturas, cabendo a todos o respeito e a glória honrada.

Reféns da deusa.

Jungkook sorriu contido enquanto se posicionava na frente dele, aquele que ganhou repentinamente a predileção de seus olhos e de outros que o medo e insegurança não permitiam ver, ainda. Taehyung sentiu uma felicidade gigante, aquele dia parecia até uma dimensão paralela, talvez um presente pela lua? Aquela que morava junto com suas amigas no olhar contido do futuro príncipe em sua frente, era brilhante.

E aquilo que era guardado, pôde então se colidir, eram os corações despreparados retumbando no peito, e no abraço tudo se tornou maresia calma e mansa. Jungkook tomou o Kim em seus braços, e Taehyung se agarrou a ele com zelo e carinho, e então ambos flutuaram. Tudo se tornou quietude e o vento era o único som.

Ambos aproximaram seus rostos do pescoço alheio, procurando a fonte daquele aroma tão bom e reconfortante, Taehyung sentia um perfume doce emanar daquele afeto, era como se estivesse chegado em casa após muito tempo de viagem, como se naquele momento estivesse encontrado um lugar para viver e povoar, um refúgio.

Tudo o que restou foi um chamado silencioso, mas nenhum deles puderam ouvir, todos os sentidos estavam voltados para um único momento e ser. Foi ali o primeiro contato.

Ao se separem não tiveram tempo de sentir timidez, o quarto picolé estava derretendo e ambos o olharam com vontades reprimidas, o que Jimin faria no lugar deles?

O pensamento foi o mesmo.

Logo eles estavam descascando o picolé e o dividindo, em alguns momentos Jungkook provava de um lado e Taehyung simultaneamente do outro, rostos extremamente próximos, mas nenhum deles se importaram, era o doce bom povoado o paladar, a alegria do afeto trocado e a solidez daquela amizade, tudo estava como deveria estar.

— Yah! Seus filhotes de Khain! Estão comendo o quarto picolé sem mim.— Jimin gritou enquanto apontava para os culpados daquele crime hediondo, pegos em flagrante, eles não poderiam fazer muita coisa a não ser aceitar o veredito daquele juiz impiedoso de fio claros como as flores do jardim da macieira.

Tudo isso aconteceu naquela manhã de outubro, foi ali, no jardim da macieira.


💮
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Vocabulário:

Linha de mercúrio: É uma linha que liga a extremidade da mão até o dedo mínimo, pode ser uma linha pequena também, é a linha referente a acentuação do intelecto, e também ligada à intuição. (Me digam se vcs têm🤭)

Dança na chuva: Como vcs sabem, todo elemento da natureza é manifestação da deusa, se perceberem, mesmo tendo a consciência da magia que esse fenômeno traz, Hoseok quis se proteger, negar a magia enviada (bem parecido com os humanos que são um tipo de espécie que cortou os laços com a natureza), mas esse fato não foi porque ele renega a chuva, e sim um claro sinal de que a visão turva dos obstáculos existentes estão tendo efeitos sobre ele, mas nada que um dos banhos mágicos não possa resolver. No fim meu coração fica apertado pela situação onde esses dois se encontram, mas torço pra tudo dar certo.
Saindo um pouco da história, gostaria de perguntar, qual foi a última vez que vc tomou banho de chuva? Eu (Noon) realmente acredito na magia da chuva e usei parte de uma experiência minha nessa cena do Hobi com a Taeshin, ai eu realmente queria ser capaz de descrever como foi lindo o meu banho na chuva🎊, então quando vc tiver uma oportunidade, tome banho na segunda chuva 🌧 que lhe surgir (visto que a primeira contém os gases e sujeiras da atmosfera que podem lhe causar danos e resfriados) a lição e simbolismo dessa chuva para Taeshin e Hobi é: Não existe algo mais satisfatório do que lavar a alma. Deixar a água cair para levar tudo que não te pertence mais. Renovo de energias.

Caderno das sombras: Pode ser chamado de Livro das Sombras também, é como um diário dos bruxos(ou vampiros hihi) Nele, você anota tudo o que é relacionado às suas práticas mágicas e o que aprendeu, apesar da facilidade e conexão com a magia ser algo predominante do clã Zira, todos os demais podem ter seu livro de magias e aprendizado(como tbm praticar) e o do Nam não difere muito desse ponto. Ele costuma guardar suas teorias e planos iniciais nesse livro. 🤔

Sabbat de Samhain: Bom, como eu disse no início, lê-se (sol-ein) e é a festa da morte do deus Sol(31/10) e também a festa que inspirou grandes manifestações culturais do nosso atual calendário, como o Halloween e o dia de todos os Santos, isso porque nas três festas se tem a crença da volta dos mortos para visitar a terra ou na busca de orações, lembrando que esse sabbat é celebrado pelos povos celtas, pagãos e neopagãos há cerca de 2.000 anos A.C. E não é uma coincidência ser uma festa que inspirou outras recentes, na idade média, em uma Europa fortemente celta e pagã, a igreja teve muita dificuldade para converter essas pessoas, então mesmo com os avisos de que adorar deuses da natureza era demoníaco, eles não conseguiram romper uma tradição tão enraizada como a daqueles povos, então a opção que tiveram foi a de anexar as celebrações celtas nas manifestações religiosas cristãs lhe dando um novo visual e santificação e aos pagãos restou apenas a demonização.
Samhain significa fim de verão e deriva de duas palavras "samh",verão, e "fuin", fim. Marca o encerramento do ano velho e o começo do ano novo e tbm onde se inicia o inverno, uma das duas estações do ano dos celtas, nesse momento a ideia que se tem é que o sol morre(se recolhe) para refletir e tbm se renovar, nascendo novamente (Natal) resta agora os humanos descobrirem onde mora o sol que se recolhe e se renova (joguei e saí correndo🤭) o que vocês precisam ter em mente é que nesse ritual será lembrado os antepassados dos vampirinhos, tbm será um momento de reflexão pelo ano que passou e de muita alegria, música e comida boa. (Aguardem por esse belo momento.)

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✨Hey my little pineapples 🍍 ✨

Como vcs estão?? O capítulo foi muito grande? 
E O QUE DIZER DOS TAEKOOK MDS UM DIA ESSAS CRIAS ME MATAM DO CORAÇÃO.

Esse beijinho foi a coisa mais fofinha que eu pude ver e juro que estou boiolando muito, e vcs? O que acharam?

Quem achou lindo o Hobi e a Taeshin dançando na chuva?🥺 Tbm estou de olho nos príncipes 🤔 não sei não ein...

Enfim! Quero agradecer quem está me acompanhando nessa história, juro, os comentários e o carinho com minha bbzinha está me deixando tão feliz. E eu sinto que todos os personagens se alegram também, principalmente um específico que ainda não apareceu mas está louco pra receber amor e mimos de vcs ^^

Fique bem, sinta a energia nesses dias de vida e 💛.

✨✨Com brilhinhos de amor e magia, Noona✨✨

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