(N/A: Esse capítulo será narrado)
“Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.” — T. S. Eliot
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Após João sair da casa, ele havia ficado novamente de plantão escondido na floresta ao redor do castelo dos vampiros. Ele observou cada movimento que acontecia fora do castelo, alguns vampiros e lobisomens saíam e entravam apressadamente, porém nada de incomum havia acontecido naquela manhã.
Quando chegou a tarde, Lívia entrou no castelo, porém não antes de lhe dar uma piscadela rápida. Ao contrário de quando eles se encontraram de manhã na cozinha, agora Lívia estava com as roupas e cabelo arrumados, maquiagem feita e totalmente sóbria.
Assim que Lívia passou pelos portões do castelo ela foi recebida por Cauê, este que estava com um sorriso enorme nos lábios. Um vampiro se ofereceu para pendurar o seu sobretudo porém ela apenas acenou com a cabeça, recusando a oferta.
— Por que você está tão sorridente? — Lívia perguntou para Cauê.
Cauê gentilmente segura as suas mãos e sela os seus lábios contra elas brevemente, Lívia as puxa com uma careta de nojo e limpa as costas das suas mãos no seu sobretudo.
— Estou apenas feliz. — Ele disse ainda sorrindo.
— Sim, eu percebi isso. — Ela cruza os braços sob o peito. — Eu quero saber o porquê de você estar tão contente.
— Não é óbvio? — Ele perguntou e começou a caminhar. Lívia o segue. — O nosso plano está funcionando corretamente, isto é algo que deve ser comemorado.
— Não cante vitória antes da hora, Cauê. — Ela disse, ignorando o fato de que ela havia comemorado a noite e a madrugada inteira por causa daquele mesmo motivo. — Em uma corrida o vencedor não é aquele que fica em primeiro durante um longo curso da corrida, e sim aquele que passa a linha de chegada em primeiro.
— Você sempre foi tão estraga prazeres?
Cauê abre a porta do seu escritório para Lívia e ela passa por ela, logo em seguida Cauê faz o mesmo e fecha a porta.
— Eu não me autodenominaria de “estraga prazeres”, mas sim de realista. — Ela se senta em uma cadeira de frente para a mesa do escritório e de costas para a porta.
Cauê coloca um disco de vinil para tocar e depois vai até ela, ele oferece a sua mão para Lívia, a convidando para uma dança e depois de alguns segundos pensando se deveria ou não aceitar ela conecta a sua mão com a do vampiro.
Cauê sorri para ela e eles vão até o meio do escritório, eles se viram um para o outro e Cauê segura a cintura de Lívia firmemente e ao mesmo tempo gentilmente enquanto a sua mão direita segura a mão direita de Lívia. Lívia apoia a sua mão livre no ombro do vampiro e então eles começam a se mover para frente e para trás, para um lado e para o outro, rodopiando pelo espaço do nem tão grande escritório, seguindo o ritmo da música.
— Você dança muito bem. — Cauê comenta, o seu rosto a alguns centímetros do da bruxa.
— É isso que você chama de comemorar? — Lívia sorri de lado. — Dançar com estranhos?
— Você não é uma estranha para mim, você é minha aliada. — Segurando a mão direita da mulher, ele a gira no sentido horário até completar a volta. Enquanto isso, ele não para de dançar, seguindo normalmente os passos. Depois eles voltam para a posição inicial e se encaram enquanto movem os seus corpos. — Eu não vejo problemas em dançar com uma aliada para comemorar uma vitória.
— Eu sou sua aliada, porém ainda sou uma estranha. — Lívia inclina o tronco para trás enquanto Cauê se inclina sobre ela, os dois braços de Cauê envolvem as sua cintura enquanto os braços da bruxa envolvem os seus ombros, apoiando as mãos nas suas costas. — Apesar de eu ter te contado parte da minha história de vida. — Ela comenta.
Eles voltam novamente para a posição inicial e Cauê diz:
— Eu adoraria saber o restante da sua história de vida.
— Oh, confie em mim, é melhor que você não saiba. — Ela disse.
Lívia se lembra até hoje de quando o céu desabou sobre a cabeça de todos os seres na Terra. Literalmente.
Era um dia comum, Lívia havia acabado de acordar e estava tomando uma caneca de café quando de repente a terra inteira tremeu. Lívia correu para olhar pela a janela da sua cabana na floresta, supondo que aquilo fosse um simples terremoto, porém o que ela viu e descobriu mais tarde a surpreendeu.
O céu estava desabando, as construções do Olimpo estavam caindo em partes diferentes do planeta Terra, os jardins do céu agora estavam totalmente destruídos, espalhados pela terra do planeta dos mortais, todas as divindades que habitavam o Céu, incluindo os Deuses, estavam mortos, causando um desequilíbrio na atmosfera.
O espaço sideral era visível agora, porém não haviam mais planetas ou estrelas, os únicos que haviam restado eram a lua, o sol e a Terra. Alguns países se encontravam completamente destruídos, sendo dominados por hordas de lobisomens e das “abominações da natureza”: vampiros.
Os semi-deuses foram completamente extintos, não havia sobrado nem mesmo um semi-deus para contar a história do que havia acontecido com os seus iguais. Haviam teorias de que os lobisomens e vampiros se juntaram a Hades e Tânato para guerrear contra os Deuses, porém assim que eles atingiram o seu objetivo de matar todos os Deuses, os lobisomens e vampiros, utilizando a mesma arma com que eles assassinaram os Deuses, mataram Hades e Tânato.
A arma no entanto, é de origem desconhecida. Nenhum humano, bruxa, mago, ninfa, entre outros seres que não estavam presentes conseguiram descobrir qual arma foi utilizada. O que todos sabiam é que o mundo estava acabando e que os vampiros e lobisomens estavam bem no meio daquilo.
Mais tarde, após a extinção dos Deuses e a morte de Tânato, os vampiros e lobisomens guerrearam contra os semi-deuses também, vencendo a batalha. Depois eles tentaram guerrear contra os outros seres sobrenaturais, a sua sede de sangue era insaciável.
Eles começaram a recrutar bruxas para o seu exército, pois assim seriam mais fortes e venceriam a guerra, porém várias bruxas se recusaram, então eles mataram as bruxas mais fracas e puseram as mais fortes em cativeiro.
O que era o caso de Lívia.
Apesar de ter passado anos se escondendo, os vampiros e lobisomens a encontraram. Eles sabiam do seu enorme poder e por isso a trancafiaram em uma jaula, o plano era tornar Lívia escrava das suas vontades, e funcionou durante um certo período de tempo, até que Mara chegou e, sendo enfeitiçada por Lívia, a libertou.
Cauê a gira mais uma vez, Lívia rodopia enquanto segura firmemente a mão do sanguessuga. Lívia estica o seu braço e Cauê solta a sua mão, fazendo com que Lívia rodopie graciosamente e sozinha pelo cômodo. Ela finalmente para quando sente que estava começando a ficar tonta.
— Você pretende me contar algum dia, senhorita? — Ele perguntou e Lívia ri enquanto se vira para ele.
— “Senhorita?” Não é do seu feitio me chamar assim, Cauê. — Ela brinca. — Por que você está tão anormal hoje? — Lívia disse e logo em seguida se sentou sobre a mesa do escritório. — E talvez um dia eu te conte a minha história. — Ela cruza as pernas.
— Eu não posso mais ser educado? — Ele respondeu a pergunta de Lívia com outra pergunta.
— Como eu disse, não é do seu feitio. — Ele assente. — Você não está drogado, está?
— Eu pareço estar drogado? — Ele pergunta aborrecido.
— Apaixonado então?
— Por quem? Por você? — Ele zomba.
Lívia desce da mesa, pega um batom vermelho na sua bolsa e começa a passá-lo em seus lábios enquanto caminha na direção de Cauê.
— Eu sou muito sedutora. — Ela comenta com um sorriso libertino.
— E eu nunca duvidei disso. — Cauê cruza os braços enquanto os seus olhos se movem entre os lábios de Lívia e o batom os colorindo ainda mais.
— No entanto não se engane comigo, — Ela faz uma pausa para guardar o batom na bolsa. — eu não me sinto nem um pouco atraída por vampiros e o meu coração pertence a outra pessoa.
— Você não é do tipo preconceituosa, é? — Lívia levanta uma sobrancelha e ele explica: — Você não é daquele tipo de bruxas que dizem que elas são as “bênçãos da natureza” e que os vampiros são as “abominações da natureza”, certo?
— Eu sou, — Lívia disse francamente. — mas eu ainda estou aqui, me aliando aos vampiros. — Lívia começa a caminhar até a porta do escritório. — Meus ancestrais devem estar se revirando no túmulo. — Ela comenta alto e bom som e Cauê ri.
Lívia abre a porta do escritório e passa por ela, ela ficará até o anoitecer no castelo dos vampiros.