SINA DEINERT
Tomei uma xícara de café e sai de casa. Wendy já tinha me dado uma cópia da chave, então eu não precisava mais tocar a campainha e esperar até que alguém atendesse, eu só entrava.
Como de costume, subi para o andar de cima e entrei no quarto de brinquedos, dessa vez as meninas estavam pintando um desenho deitadas no tapete do chão.
Cumprimentei elas e Nour
me entregou um desenho pra mim pintar, acabei aceitando e depois desses vieram mais outros. Acabamos ficando horas ali no chão apenas pintando alguns desenhos.
Mesmo elas dizendo que não estavam com fome, desci para a cozinha e peguei um pacote de biscoitos, entreguei pra as meninas e elas devoraram em questão de minutos.
Continuamos desenhando e pintando por mais algum tempo, mas logo elas disseram que estavam entediada, sugeri assistirmos um filme e elas aceitaram.
Descemos para o andar de baixo e elas se jogaram em um canto do sofá, coloquei um filme de princesa e elas começaram assistir em um silêncio profundo.
Escutei o barulho da porta se abrindo e vi Noah entrar.
- Noah vem assistir filme com gente - Sofya chamou.
- Filme de princesa Sofya? - Ela assentiu - Deixa eu adivinhar quem escolheu - Olhou pra mim - A própria princesa. - Revirei os olhos.
- Vem Noah, por favor - Ele bufou ao escutar aquele nome - Você nunca mais passou um tempo com suas irmãs, Noah - Dei ênfase no "Noah".
- Tá - Suspirou - Só vou tomar um banho primeiro, já venho. - Subiu para seu quarto.
Alguns minutos depois ele voltou para sala. Jacob estava somente com uma calça de moletom e sem camisa, seu cabelo estava molhado e tinha algum pingos de água caindo em seu peitoral, a barra da sua cueca Calvin Klein preta também estava aparecendo. Não pude evitar de olhar para seu tanquinho definido.
- Gosta do que vê? - Perguntou ao ver pra onde eu estava olhando e eu fiquei envergonhada, não respondi nada e ele apenas riu.
Achei que ele se sentaria na outra ponta do sofá, onde estavam as gêmeas, mas não, ele se sentou ao meu lado.
- Por que escolheu esse filme horrível? - Perguntou baixo para que somente eu escutasse.
- Porque eu gosto de princesas, Noah.
- Já disse pra não me chamar assim. - Foi grosso.
- Eu te imploro Noah, me explica o porquê disso tudo. - Implorei mesmo e ele me olhou com aqueles verdes intensos - Por que não gosta do teu próprio nome?
- Ainda não criamos essa intimidade toda princesa, não enche.
- Por favor Noah, eu preciso saber, não aguento mais esse mistério todo. - Ele apenas ignorou - Qual é? Eu estou tentando ser sua amiga Noah, colabora.
- Eu não tenho amigos, Sina Deinert. Eu não preciso disso.
- Todo mundo precisa de amigos.
- Eu não sou todo mundo. - Disse simples.
- Josh, Krys, Bailey e Lamar são o que seu então? Namoradinhos?
- Tá me estranhando Sina? - Fez uma careta - Eles são apenas colegas.
- Eu posso ser sua amiga - Disse o olhando - Eu quero ser sua amiga.
- Você não entende, princesa - Olhou para TV novamente - Eu não presto para ter amigos, todos dizem isso.
- Ninguém, além de você mesmo, pode determinar o seu valor.
- Inspiradora - Riu ironicamente.
- Só me conta a história por trás do Noah, por favor - Pedi novamente.
- Se eu contar você para de ser tão insuportável?
- Juro juradinho - Beijei os dedos cruzados.
- Você é tão criança.
- Conta logo!
- Todos me chamavam pelo meu apelido, Urrea, desde sempre e eu me acostumei com isso. - Começou - Até que nos meus treze anos eu conheci uma garota, ela era a única que me chamava de Noah. Ela foi minha primeira namoradinha, eu nunca cheguei a amar alguém de verdade, até porque Noah urrea nunca ama. - Revirei os olhos - Mas eu gostava dela, muito. Mas desde aquela época eu sou esse Noah urrea, galinha e pegador. Ela era ciumenta e não gostava que eu ficasse perto de outras garotas, porque sabia que eu tinha segundas intenções com todas. Um dia eu resolvi dar um selinho de criança em outra menina e ela viu. Dois dias depois apareceu morta, ela se enforcou em uma corda por minha causa, e ela tinha apenas treze anos.
Eu fiquei totalmente sem reação. Todo esse tempo eu julguei Jacob por ele ser frio e grosso com todos, sem ao menos saber o que se passou na vida dele.
Uma menina de só treze anos se matou por amar Urrea. E ele se sentia culpado por isso até hoje, e esse é o motivo dele ser fechado com todo mundo, talvez ele acha que para ele não pode existir mais amor.
- E é por isso que eu não gosto que você me chame de Noah, isso me faz lembrar dela, e por incrível que pareça, ela era muito parecida com você. - Sorriu.
- Eu sinto muito - Tentei abraça-lo, mas ele me empurrou de leve.
- Vamos esclarecer umas coisas entre a gente - Falou sério - Eu não preciso da sua pena e muito menos da sua amizade. E a coisa principal, sem abraços. Eu odeio isso. - Apenas assenti.
- Eu posso falar um trecho de um livro que eu li? - Perguntei pra ele - Se encaixa perfeitamente nessa situação.
- Eu já disse que você é chata pra caralho? - Perguntou e bufou - Fala logo.
- Mas é para prestar atenção Urrea!
- Tá... Fala logo. - Limpei a garganta.
- "Por mais que você tenha se entregado por inteiro e se achado em pedaços, por mais que você tenha chorado por horas até seus olhos incharem e o seu fôlego ir embora, por mais que a sua antiga paixão tenha sido complicada, você ainda está respirando. Sabe o que isso significa? Que o universo está te dando uma nova chance pra tentar de novo, pra sorrir de novo, pra demonstrar de novo e pra amar novamente. Você não precisa se culpar por não ter dado certo, apenas não era pra ser, aquilo não era amor. O amor é essencial e não deve ser comparado com algo dolorido, tenta de novo, faz de tudo, corre atrás, da o seu melhor enquanto há tempo. Você não sabe como será o amanhã, seria melhor lidar com a dor de não ter dado certo, ou com o peso de não ter tentado? Não se prive de ser feliz apenas siga o seu coração."
- Como você conseguiu decorar tudo isso? - Perguntou nem ligando para o que eu disse.
- Urrea! - O repreendi - Eu disse que era pra prestar atenção.
- Calma, eu prestei.
- Então fala alguma coisa sobre - Ele revirou os olhos.
- Sei que tudo pra você é contos de fada e finais felizes, mas pra mim não, pra mim não existe mais amor e nunca mais vai existir. Acho que minha alma é muito sombria para amar.
- O amor pode salvar até as almas mais sombrias, só basta acreditar nisso.
- Você tá parecendo Shakespeare - Disse e riu.
- E por a caso você sabe alguma coisa de literatura?
- Nada, só sei que ele é famoso.
- Sabe o que eu acho? - Não deixei ele responder - Que você devia parar de dormir com qualquer uma por aí. Eu acho que você devia tentar se apaixonar por uma pessoa só e descobrir que sim, o amor ainda existe pra você. Você devia ter um relacionamento com alguém.
- Não sei muito sobre relacionamentos, além do que deu errado.
- Me explica o que é amor pra você - Ajeitei a postura.
- Agora, não acredito no amor. Não sinto mais nada pelas pessoas. Senti que fiquei frio, como se o amor não existisse pra mim. Pra mim realidade e amor são contraditórios.
- Minha nova meta de vida e fazer você acreditar no amor de novo, e achar a pessoa certa pra você.
- Que bom que você sabe que nem todos os sonhos são possíveis de realizar. - Ele deu de ombros.
- Talvez tenha sido o destino sua mãe me contratar pra ser babá das gêmeas. Talvez eu possa mudar esse seu jeito chato de ser. - Disse e ele riu.
- Destino é para manés - Foi estúpido, como sempre - É só uma desculpa idiota para deixar as coisas acontecerem em vez de fazer com que elas aconteçam.
- Não tá errado.
- Ta, já chega. - Se levantou e deixou seu tanquinho a mostra de novo - Não conte sobre essa conversa com ninguém, finja que isso não aconteceu. E não foi só porquê eu conversei um pouco com você, que nós somos amigos, nós não somos.
- Sua mudança de personalidade me assusta - Me levantei também e vi que as gêmeas estavam dormindo no sofá - Me ajuda a levar elas pra cama?
- Claro - Pegou Nour no colo - Pega Sofya que é menor.
Peguei Sofya e nós levamos ela par cama juntos, cobri as duas com os seus cobertores e esperei na porta do quarto.
Urrea beijou as duas na bochecha e acariciou seus rostos, era lindo de se ver.
Aproveitei que ele estava distraído e recolhi uns brinquedos que estavam no chão, quando eu me virei ele estava observando minha bunda, de novo. Cruzei os braços.
- Eu disse que não seria a última vez. - Saiu do quarto e ficou no corredor, sai logo em seguida e fechei a porta do quarto.
- Você não presta, sabia? - Falei e ele riu.
- Você é até que bem bonita - Olhou meu corpo de cima a baixo, sem olhar para o meu rosto.
- Vou levar isso como elogio, e não como malícia.
- Ainda falta um tempinho pra minha mãe chegar, não quer dar uma passadinha no meu quarto rapidinho? - Perguntou e sorriu maliciosamente.
- Que nojo Urrea - Fiz uma careta - Boa noite, vou esperar da sala mesmo.
- Você que sabe - Abriu a porta do seu quarto - Boa noite princesa cor de rosa - Sorriu e fechou a porta.
Esse garoto me tirava do sério. Desci as escadas e esperei Wendy chegar, o que não demorou muito.
Fui em bora e antes de eu dormir, pensei em toda a conversa que tive com Urrea hoje e de como isso me tocou.
Acho que foi a primeira vez que eu realmente gostei de ficar ao seu lado.
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AGORA TA EXPLICADO POR NOAH E TÃO FECHADO!!
BJS BOA NOITE AMANHÃ TEM MAIS CAPÍTULO PARA VCS 🤧💖🦋