Ser pai era tudo o que eu planejava alguns meses atrás e hoje eu entendo o porque desse desejo insano que me tomou.
Zoe é a bebê mais charmosa que já vi, calma e serena, não se parece em nada comigo e com sua mãe. Claro que apenas no gênio já que ela é igualzinho a minha tigresa mas ela tem meus olhos, que fique claro.
É louco pensar que ela, mesmo tendo apenas quatro meses, é exatamente como era a menininha do meu "sonho". Mas Zoe não é um sonho, ela é o pedacinho de luz que a vida me deu e foi ela que não me permitiu ficar na total escuridão.
Junto com sua mãe. Ah, a mãe da Zoe. Ela sim é uma mistura intensa de cores. Nunca é apenas claro ou escuro com a Lídia. Ela é como um arco íris intenso que me ilumina e me acende de forma que nunca ninguém o fez antes. Não é apenas prazer que sinto ao lado dela, é gratidão, paz, calmaria. Irônico pensar que a mesma mulher que não me dava um minuto de paz na roda de amigos é a mesma mulher que me causa calma hoje em dia.
Não sei se eu mudei, ou ela mudou ou foi apenas a vida que se desenrolou aos poucos mas sei que hoje não vejo minha vida sem essas duas mulheres nela.
O engraçado é que não planejamos nada disso. Nem estarmos noivos por contrato, nem que o tal contrato seria mais longo que o desejo inicial. Muito menos que nos apaixonaríamos ou que sentiríamos essa vontade louca de construir uma vida juntos. Nem a Zoe foi planejada, ela apenas decidiu viver e foi exatamente isso que aconteceu. E cá estamos nós dois, de mais dadas, em frente a um padre, com duas centenas de pessoas presenciando um dos meus dias mais felizes.
— Uma vez eu fui chamado de idiota por uma menina que nunca tinha visto na vida. - ela ri — Acho que eu a vi apenas naquele dia, a mais de seis anos atrás, no dia do casamento dos nossos dois melhores amigos. - ela afirma — Eu me apaixonei naquele instante pelo corpo dela mas ela me odiou tanto que simplesmente fingia que eu não existia.
— Me desculpe. - ela ri envergonhada e dou de ombros
— Eu me apaixonei pela sua mente pouco tempo depois. Ela estava tão profundamente fixada em minha mente que eu pensava nela a todo instante mas eu era burro demais e pensei que era apenas o sangue latino que chamava minha atenção. - ela bate na minha mão — Mas era os seus olhos que eu imaginava quando... Você sabe? - o tapa dessa vez é mais forte e ouço alguns risos pela igreja assim como algumas reclamações — O ponto é que eu te amei bem antes de perceber isso e eu isso tudo me faz saber que eu realmente sou o idiota que você tanto fala. - ela nega deixando uma lágrima escorrer pelo rosto — Eu fui a escolha mais idiota que você poderia fazer mas eu sou tão grato que você me escolheu naquela segunda feira louca, que eu iria pedir a minha melhor amiga para fazer algo que você me deu sem mesmo planejar, e eu nunca saberia te recompensar por isso. Mas eu vou tentar. - eu a faço uma promessa —Eu vou cuidar de você, te proteger, dar tudo o que você precisar. Vou segurar sua mão quando assistir filme de terror, vou te acompanhar em todas suas horas na academia e vou sempre te oferecer doces que você tanto ama. E eu prometo isso pela minha vida, que só é vida por sua causa. - ela chora silenciosamente com um pequeno sorriso no rosto e eu queria beijar ela agora mesmo mas ainda não é a hora certa
— Sua vez, Lídia. - o homem de meia idade e coberto por uma túnica branca diz e minha tigresa respira fundo, eu me estico para limpar sua lágrima e ela sorri em meio ao choro ficando ainda mais linda, se isso for possível
— Eu não planejei um discurso tão bom assim. - eu sorrio mas não sei se disse nada realmente bom, apenas falei que não sei viver sem ela — Mas eu confesso que sempre te chamei de idiota. - ela ri ainda limpando o rosto — Mas apenas porque você é realmente um idiota. - ela ri de novo e eu sorrio para ela — E eu amo você por ser esse idiota mas também por ser tão perfeito comigo e com Zoe. Eu amo você por sorrir desse jeito, por sempre ser um cavalheiro, por colocar minhas necessidades acima das suas e, mesmo que isso seja um pouco estúpido, eu amo, porque é quem você é. Você, Noah White, é o cretino perfeito. Perdão, padre. - ela olha rapidamente para o homem antes de voltar a me olhar — Você é bom, doce e me fez perceber que cometi um grande erro em te odiar sem te dar uma chance. Hoje poderíamos estar completando cinco anos juntos. Mas sou grata por todo o tempo que tivemos separados porque me fez ciente que não preciso de você para ser feliz mas eu escolho você para ser feliz comigo. - eu sorrio para seus lindos olhos — E é por isso que eu prometo te amar, cuidar de você, ser sua melhor amiga e sua tigresa para o resto de nossas vidas. Eu prometo rir das suas piadas sem graça, prometo ser sua médica mesmo quando você não precisa de uma e prometo sempre estar ao seu lado para ser quem você quer que eu seja. Eu te amo, idiota. - eu a puxo para mim
— Eu te amo, tigresa. - eu a beijo e em algum lugar bem distante ouço o padre nos declarar casados
Nos afastamos rindo e a Lídia limpa meus lábios. Tem aplausos, gritaria, ovações que eu não esperava mas acho divertido e melhora ainda mais quando percebo que já posso sair daqui e fazer o que planejei quando a vi entrando na igreja usando esse vestido.
— Pronta, senhora White? - pergunto apenas para usar o novo sobrenome dela e ela ri
— Meu Deus, eu sou uma White agora! - eu afirmo e ela ri — E eu não poderia estar mais pronta, meu marido. - ah, como desejei ouvir essas palavras saindo pela boca dela
Eu a puxo para a saída, fazemos algumas paradas por conta das fotos mas logo estamos do lado de fora Igreja escolhida pela Lídia, assumo que gostei do lugar, ainda mais por ser apenas três quadras do Hotel Plaza, onde será a nossa festa.
Quinta Avenida ainda é a Quinta Avenida mesmo e tem mais movimento do que eu queria mas não deixo isso mudar meu humor. Eles estão apenas reposicionando a rodovia, logo estará livre para nós dois. Estou realizado por ter colocado um anel definitivo no dedo da Lídia junto ao do anel da minha avó.
Uma chuva de pétalas vermelhas e brancas caem sobre nós assim que saímos da Igreja, ver a felicidade estampada no rosto da minha esposa é algo que eu amo e por ela eu viveria jogando rosas sobre seu corpo se isso a fizer feliz.
— Feliz? - eu pergunto com ela em meus braços, prestes a beijá-la mais uma vez
— Como nunca! - ela sorri mais uma vez e, não resistindo, eu a beijo fazendo uma cena digna de um Oscar
Eu posso estar sendo um grande bobo como todos dizem mais eu sei bem o quanto esse momento foi esperado por mim e por ela. Enfrentamos muito para esse dia chegar e sabemos dar o devido valor a ele.
Me afasto dela e olho em volta da pequena multidão de amigos e familiares que celebram esse dia conosco mas meus olhos ficam fixos em uma pequena pessoa, com olhos tão brilhantes que iluminam todo o lugar mesmo sendo noite e eu amo tanto essa menina que meu peito chega a apertar de saudade dela.
Eu ando até minha sogra e a bebê, que está quieta brincando com seu chocalho, me olha e me reconhece porque se joga para mim e eu fico ainda mais apaixonado por ela do que eu já sou.
— Oi, meu amor. - eu aspiro o perfume delicado dela e ela ri — Papai está morrendo de saudades, sabia?
— Você viu ela ontem, Noah. - minha sogra ralha comigo como se não estivéssemos num dia tão importante e eu achando que era só me casar com a Lídia que ela pararia com isso, mas é bom que ela me trate como trata a Lídia, me sinto um pouco seu filho também
— Precisamos ir para a festa. - minha mãe diz aparecendo ao meu lado e eu sei que é porque ela morre de ciúmes da minha relação com minha sogra
— Claro. - eu sorrio para ela e deixo um beijo em sua testa — Eu te amo, mãe.
— Eu te amo mais, meu filho. - ela tem aquele sorriso de sempre, carinhoso e tão afável que sempre me deixou louco nela e eu me sinto, a cada segundo que passa, mais feliz
Eu beijo minha filha mais uma vez antes de entregá-la outra vez a minha sogra. Minha esposa - como é bom pensar nela desse jeito - também beija a nossa filha antes de me sorrir e oferecer sua mão para mim. É algo tão normal para nós dois que deveria não me emocionar mais mas eu amo saber que ela me quer ao seu lado e que é desse jeito que seguiremos nossa vida.
Ouço algumas buzinas e sei que chegou a hora de irmos. Lídia sorri para mim e eu a beijo antes de caminharmos para onde nossos carros estão estacionados.
— Tem certeza sobre isso? - ela me pergunta quando abro a porta do motorista para ela e eu afirmo — Eu não quero que pegue leve comigo.
— Apostando o que estou apostando? Jamais. - ela ri — Boa escolha de carro, aliás. - ela ri e se senta no banco de couro cromado do meu Koenigsegg One:1
Sim, essa tigresa escolheu o carro mais rápido que eu tenho, mas eu a deixei escolher primeiro e quem sou eu para negar algo a ela.
— Boa sorte, então. - ela pisca para mim e eu fecho a porta para ela, caminho até a Bugatti e entro aquecendo o motor
Sim, porque nós dois vamos fazer uma pequena corrida até o Plaza Hotel. Tive que pedir muitos favores e cobrar tantos outros para que isso fosse possível mas faria tudo para saciar esse sonho dela. Ela aceitou se casar comigo para isso.
“— Qual carro você quer que o Jack dirija depois do nosso casamento? - ela me olha com a testa franzida — Para nos levar até o Plaza.
— Ah! - ela dá de ombros — Eu não sei, pode ser qualquer um, você tem tantas.
— Nós temos. - eu a corrijo e ela revira os olhos — Nós já conversamos sobre isso, Lídia, tudo que é meu será seu também.
— E eu já disse que não quero nada disso. - ela se afasta de mim e sinto falta dos seus braços sobre mim
— Lídia...
— Não, Noah! - ela me corta e eu respiro fundo porque sei que vamos repetir a mesma conversa de sempre — Já discutimos sobre isso uma vez e não quero ouvir o que ouvi antes. - eu tento me desculpar pela milionésima vez mas ela me corta de novo — Eu sei que já passou e eu te perdoei apenas não quero mais falar sobre esse assunto.
— E tem como resolver ele sem conversar sobre? - eu passo a mão pelo meu rosto e bufo — Vamos sortear para ver quem ganha essa discussão.
— Como o quê? Uma aposta? - eu reviro meus olhos e ela ri — É sério, seria algo engraçado. - eu a encaro sem acreditar
— Você está falando sério?
— Admita que será engraçado.
— Seria. - eu ainda não levo muita fé que ela está falando a verdade mas dou corda ao assunto — E como seria essa aposta? Vamos ver quem é melhor em fazer a Zoe dormir? - sim, eu uso isso e ela bufa mas é bom saber que minha menininha ama dormir no colo do papai aqui
— Não, idiota, tem que ser algo que não haja um melhor no assunto para poder ser justo.
— Então sem cozinhar, ser quente ou dirigir. - ela sorri — E, no que mesmo você é boa? - ela leva dois segundos para reagir, obviamente a reação dela é me bater e isso me diverte mesmo doendo muito
— Você é um idiota! - eu afirmo passando a mão sobre o local que ela bateu — Você realmente acha que faz essas coisas melhor do que eu?
— Não cozinhar e ser gostosa. - eu abaixo a alça do baby doll rosa e ela bate na minha mão
— Então eu não sei dirigir tão bem quanto você? - eu franzo a testa — É isso o que você está dizendo?
— Não, absolutamente não! - da onde ela tirou isso
— Eu sei dirigir desde os meus dezesseis anos, Noah, e eu posso dirigir melhor do que o Relâmpago McQueen e mais rápido do que o Lewis Hamilton.
— Mais rápido do que o Lewis? - eu não consigo controlar meu riso e ela volta a me bater — Para, tigresa, eu só achei engraçado!
— Pois essa será a nossa aposta! - ela bate mais forte e eu me encolho — Se você ganhar, o que não vai acontecer, eu aceito tudo que você quiser sem reclamar.
— E se você ganhar? - eu ainda tento amenizar a ardência do meu braço mas está difícil
— Você aceitará tudo o que eu quiser sem reclamações. - eu afirmo
— E onde seria essa corrida? Quando?
— No dia do nosso casamento. - eu a olho — Nossa, seria incrível se fosse da Igreja até o Plaza. Eu iria amar! - ela me olha com os olhos pidões brilhando e o que eu seria se não conseguisse isso para ela?”
Vejo todos os carros seguindo na nossa frente e eu pisco meus faróis para o policial que está nos ajudando e ele começa a assinalar o início da nossa pequena corrida. Apenas alguns quarteirões mas o suficiente para realizar essa aposta. O carro que minha esposa dirige para ao meu lado e ela faz sinal para que eu abaixe o vidro e assim eu faço.
— Nada de me deixar ganhar! - ela grita e eu posso ver uma confusão de pano branco cintilante por todo seu carro
— Eu assinei um contrato, lembra? - ela ri
— Sim. - ela ri — Lembro também que foi um contrato que nos trouxe aqui.
— Será que é por conta disse que sou tão apaixonado por contratos? - ela ri — Boa sorte, tigresa.
— Você que precisará de sorte, amor. - ela pisca para mim e a janela do seu carro sobe lentamente, eu acho engraçado todo esse charme dela mas perco o riso quando o silvo do apito me é ouvido e respiro fundo acelerando meu carro
— Vamos lá, belezinha, mostra que você realmente é um veneno*. - acelero mais uma vez e vejo a Crystal surgir ao lado do policial
Eu rio quando vejo ela segurando uma bandeira vermelha e imitar uma Grid Girl, não leva muito tempo para que o Antony apareça e a pegue no colo tirando-a dali. O policial não sabe muito bem como agir e apenas levanta a mão para iniciar a contagem.
Cinco.
Meu coração acelera e faço o mesmo com o carro.
Quatro.
Olho rapidamente para a Lídia e ela está tão concentrada que me forço a fazer o mesmo.
Três.
Eu realmente quero ganhar essa corrida? Quer dizer, ela já é dono de tudo que tenho desde que assinou os papéis na igreja.
Dois.
Sim, eu fiz questão de acrescentar isso nos papéis do casamento.
Um.
O policial atira para cima e solto meu pé do freio permintindo que o carro avance.
Não preciso ganhar para que ela tenha direitos que ela já tem quando aceitou se casar comigo. Todo mundo sabe que ela é uma White agora e, se acontecesse algo ruim comigo, meu pai não a impediria de usufruir dos meus bens, mesmo meu pai sendo tão chato. Essa corrida só é prazerosa porque ela está animada com ela e por isso me envolvo na corrida. Minha vontade é de deixar ela vencer mas me comprometi a correr de verdade e assim o faço.
É bonito ver minha tigresa tão focada na direção, acelerando e fazendo o carro rugir. Não é mais que dois minutos para estarmos na frente do Plaza, eu não consigo esconder meu sorriso quando ela percebe que, por um milésimo, eu ganho dela.
Ela demora a sair do carro e eu fico a sua espera em frente ao carro. Ela está frustrada e eu quase me culpo por ter ganhado mas eu me prometi a correr de verdade e assim eu o fiz.
— Foi o vestido. - é a primeira coisa que ela diz quando abre a porta do carro — Eu deveria ter pensado sobre isso antes mas olha o tamanho desse vestido e olha o tamanho do carro! - eu a ajudo a descer do carro e ela cruza os braços. Ela está mais baixa que eu, possivelmente retirou o salto alto, e abraçar ela é ainda mais delicioso
— Eu sei, amor. - eu beijo sua testa e a abraço apertado — Você vai ganhar da próxima vez. Tenho certeza.
— Quando será? - eu rio e me afasto para olhar seus olhos
— Eu já disse que te amo hoje? - ela sorri
— Não o suficiente. - eu a beijo de novo
— Deixa para mais tarde, casal! - a voz do Ethan nos faz rir e olho para o loiro — Tem gente querendo comer desesperadamente aqui! - eu rio e me afasto apenas para segurar a mão dela
É uma festa de arromba, digna dos meus velhos tempos, mas só me interessa estar ao lado das mulheres da minha vida. Obviamente passo um tempo com minha família, meu pai está bem mais sociável que antes mas ainda faz do meu casamento um momento para falar sobre política. Ainda mais quando o Albert Labarra está presente. Mas é um bom momento estar todos juntos, celebrando o amor que sentimos.
— Eu te odeio! - eu franzo a testa e olho em volta procurando a voz mas não acho
— Sentimento mútuo! - Ivy, eu conheço essa voz!
Eu paro de andar em direção a mesa e volto para procurar ela. Entro pelo corredor e sigo até o final e acho duas pessoas discutindo aos berros e limpo minha garganta para chamar atenção deles mas não funciona.
— Podem discutir depois? - os dois param de discutir e me olham — Eu realmente gostaria disso. - ambos engolem em seco e eu respiro fundo — Você já comeu alguma coisa? - pergunto para a Ivy e ela afirma cruzando os braços
— Sim, mas eu queria comer um pedaço de doce e não deixaram. - ela encara o Ethan e eu bufo
— Coma o que você quiser, está bem? Você está saudável e não precisa se preocupar.
— O médico disse que ela precisa se cuidar mas ela apenas abusa! - eu deixo os dois falando sozinhos e volto para minhas meninas
— Onde você estava? - Lídia me pergunta quando me sento ao seu lado
— Ivy e Ethan. - ela respira fundo e entende o que quero dizer
— Eu ainda acho que esses dois estão escondendo algo. - eu não falo nada porque sei que ela está certíssima
— Feliz? - pergunto a ela e Zoe gargalha em seu colo
— Completamente. - o sorriso dela é tão lindo que não faço nada além de ficar a encarando — O que foi?
— Apenas... - eu dou de ombros — Eu amo você, nossa vida, nossa filha, nossa casa e tudo que vamos construir juntos.
— Eu também. - ela ri — Mas eu quero deixar claro que você ganhou roubando. - eu não reclamo, apenas deixo ela falando e falando e fico apenas olhando para ela grato por tudo que ela fez por mim e por nós
Nosso Contrato valeu apena.