Todas as Coisas que Eu Não Od...

By emeemys

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[VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS 2021 na categoria YOUNG ADULT] Tem poucas coisas que Eva Aquário não odeia no mund... More

1 - não são nem sete da manhã
2 - pacto matemático inquebrável
3 - romances sáficos e onde habitam
4 - batatas gratinadas e azeitonas
5 - atração
6 - acordo de paz
7 - bobos idiotas
8 - sobrenomes de signo
9 - condomínio falsa escócia
10 - a nova cláusula
11 - vestidos cor de pêssego
12 - ótimos julgadores de caráter
13 - você gosta de azeitonas?
14 - lanchonete limonada
15 - malditos beijos de mina leão
16 - a toca da serpente
17 - quando plutão beija saturno
19 - sem acesso à internet
20 - talentos escondidos
21 - você sabe que eu gosto de garotas
22 - atos revolucionários
23 - ferrugem
24 - medidas drásticas
25 - estrelas cadentes
26 - perda total da dignidade
27 - a tradição do chocolate-quente
28 - você quer ir ao baile comigo?
29 - assassina de almôndegas
30 - você não é saturno
31 - todas as coisas que eu odeio em você
32 - trégua definitiva
33 - aquário-vinhedo
34 - mulheres poderosas usam terninho
35 - microfone aberto
36 - o alinhamento de saturno e júpiter
37 - pirulitos de coração
38 - o baile de formatura
39 - estrelas do rock
40 - garota de boafortuna
epílogo
bônus 1 - mina leão não beija garotas

18 - irmandade

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By emeemys

MINA LEÃO ME beijou. E eu beijei Mina Leão. Nós duas nos beijamos por sei lá quantos segundos, no Observatório, ontem à noite. Deitadas juntas, com nossas cabeças cobertas, enquanto chovia. Mina Leão me beijou, e eu deixei que ela fizesse isso.

Quando acordo, é essa a primeira coisa que me vem à cabeça. Surpreendentemente, não estou de ressaca, e talvez eu precise mesmo agradecer aos milhares de copos d'água que Mina me fez beber. Mas ainda assim, eu continuo deitada, sem coragem de mover a cabeça. Acho que vou ser atingida por uma baita de uma tontura se tentar me levantar, e sei que não será pela droga das sete taças de cerveja que bebi na noite anterior, e sim pelos acontecimentos posteriores que ainda estão me deixando zonza. Mais uma vez, sou obrigada a reclamar dos beijos de Mina Leão e todos os efeitos que eles têm sobre mim.

Já passa das dez quando tomo coragem para descer, encontrando mamãe e Tales de saída sei lá para onde. Bruno, ao que parece, não dormiu em casa, o que me deixa presa somente com Cass e Lola essa manhã. Não que eu esteja insinuando que preferia a companhia do meu irmãozinho, mas não é como se as meninas fossem melhores do que ele. Ainda assim, numa tentativa rara de tentar interagir com minhas meias-irmãs, eu arrasto os pés até o estúdio de arte no sótão.

É claro que essa casa tem um estúdio de arte. Fui lá apenas uma vez, quando me mostraram a casa, e depois não vi muitas razões para voltar. Acho que todas as telas e tintas no cômodo me deixaram um pouco intimidada, já que o máximo que sei desenhar são bonecos raquíticos de palitinho. Mas é óbvio que a primogênita dos Vinhedo é artista. Soube que herdou isso da mãe.

— Bom dia — resmungo com minha voz rouca matinal, abrindo a porta do estúdio e encontrando Cass usando um avental todo manchado de tinta.

Algumas coisas que sei sobre Cassandra Lis Vinhedo:

1) Ela está no terceiro período da faculdade de Artes Plásticas e constantemente visita museus e exposições de artes em cidades vizinhas, segundo a maioria das suas postagens no Instagram;

2) Pelo que eu sei, ela é popular pra caramba na cidade, e imagino que o seu sobrenome esteja inteiramente ligado a isso;

3) Por causa dessa popularidade toda, seu trabalho já é bem valorizado, e eu soube que ela pintou alguns murais em pontos famosos de Boafortuna. Tenho quase certeza de que a pintura abstrata no fim do corredor principal da minha escola é dela;

4) E, antes que eu me esqueça, Cass também beija garotas.

Tá, isso não é novidade e eu sei que não deveria dar tanta importância pra algo tão nada a ver, mas desde que descobri esse fato irrelevante sobre minha irmãzinha, tudo parece fazer mais sentido. Ninguém com o dinheiro e estilo de Cassandra Vinhedo escolheria andar com as unhas constantemente curtas sem um bom motivo.

— E aí, maninha? Quer pintar comigo?

Faço uma careta.

— Não, valeu. Não sou muita boa com essas coisas.

Me acomodo em um poltrona ao lado de Lola, a caçula mais uma vez entretida com seu tablet. Finalmente ligo a tela do meu celular, conferindo se tem alguma notificação não lida de uma certa garota. Não que eu esteja esperando alguma coisa. Na verdade, eu até acho melhor que não tenha nada.

Entre mensagens de ontem da mamãe, algumas no grupo dos Matemagos e umas do Bruno no grupo dos Vinhedo, eu encontro uma mensagem solitária de Mina Leão. Desbloqueio o celular com meu coração começando a bater acelerado e a leio duas vezes:

acho que já pode riscar o item dois da lista de coisas a se fazer antes de virar uma garota de boafortuna ;)

Ah... OK, Mina, entendi. Não vamos falar sobre o beijo, não vamos falar sobre o que aconteceu no Observatório, não vamos falar sobre todo aquele papo sobre nos sentirmos grandes e pequenas. Certo. Entendi.

se me serve de consolo, pelo menos acordei sem ressaca, digito. muito obrigada por ter me feito beber tanta água, você salvou a minha vida.

eu disse que cuidaria de você :)

Mas que inferno. Droga, Mina Leão. Ainda que nada daquilo realmente importe, estou começando a sentir que certas coisas não deveriam ter acontecido. Porque, mesmo que eu não goste de você desse jeito, eu não posso desconsiderar o fato de que sim, você mexe comigo em alguns sentidos, e aquela porra de beijo me desconsertou mais do que eu gostaria de admitir. Ainda que jovens beijem o tempo todo. Ainda que eu estivesse um pouco bêbada. Ainda que eu não sinta nada por você. Que merda que merda que merda...

—... Que merda — sussurro, fazendo Lola me encarar com os olhinhos arregalados.

— Palavra feia, está devendo um real!

— O quê?

Cassandra ri, afastando dois passos para visualizar a tela que está pintando.

— O papai tem um pote de vidro na cozinha. A gente põe um real sempre que fala uma palavra feia — ela explica, sorrindo para mim. — Não preciso nem dizer que Bruno é o maior responsável por ele estar quase cheio.

— Prometo colocar uma moeda lá quando eu descer — resmungo, voltando o olhar para a tela do celular, tentando encontrar uma resposta para a última mensagem de Mina.

— Relaxa — diz Cass, voltando para perto da tela e manchando o pincel com tinta azul. — Você não sabia da regra. Só toma cuidado a partir de agora.

O aparelho vibra novamente na minha mão, e eu leio a notificação sem desbloqueá-lo. Mina encontrou um motivo para mandar outra mensagem antes que eu a respondesse.

mas me diz, você tá bem?

tirando a minha vontade extrema de morrer por ter passado vergonha, digito, eu tô ótima!

pelo menos é só uma morte moral, aquário, ela responde. você sai dessa.

— Sabia que você está na cadeira da mamãe?

Volto a encarar Lola, que largou o tablet no chão e agora se apoia com os cotovelos no braço da poltrona, seus olhos curiosos e suas bochechas gordas próximas demais de mim. Ela é uma cópia fiel da Cassandra, só menor e mais gorducha, e eu até a acharia uma fofa se não a conhecesse. Sem falar que os seus olhos escuros são iguais aos de Bruno, o que me tira um pouco do sério, ainda que não seja culpa dela.

Olho para Cass, tentando entender o que Lola quis dizer.

— Nossa mãe costumava ler nessa poltrona — ela explica, sem tirar a atenção da tela.

— Ah... — murmuro, sem jeito —... eu não sabia. Posso sair daqui se...

— Não, tá tudo bem. — Cassandra me interrompe, finalmente me encarando com um sorrisinho leve. — Não tem problema em ficar aí. Não é como se sentíssemos ciúmes de uma cadeira ou coisa parecida.

Eu não sei muito sobre Virginia Vinhedo. A única informação que mamãe me deu foi que Tales era viúvo, e não é como se eu fosse pesquisar sobre sua finada esposa, porque, bem, até eu tenho limites. Mas, nas minhas noites de investigação sobre meu padrasto, eu descobri algumas coisas. Virgínia era pintora, tinha quarenta e um anos e morreu há quase três. Estava doente, mas eu não lembro do quê. Lola nem deve se lembrar dela, parando pra pensar.

— A Regina não é a nossa mãe, mas agora é como se fosse — conta a caçula, ainda pendurada no braço da poltrona. — Então é como se o papai também fosse o seu pai agora, não é, Eva?

Me forço a não me encolher na poltrona pra me afastar dessa menina. Pigarreio:

— É, acho que sim.

— A minha mãe de verdade virou uma estrela. O seu pai de verdade também?

Faço uma careta.

— Não.

Bem, teoricamente o meu pai tá morto pra mim, mas não acho que seja isso que Lola perguntou. E eu não gosto de falar sobre ele, sobre o homem que devo ter visto só umas cinco vezes durante minha vida inteira e que não quis me dar nem seu sobrenome. E não é como se eu sentisse falta dele também, porque isso nunca aconteceu.

— Então, onde está o seu pai? — Lola insiste, enrugando a testa.

— Não sei — respondo, o que até que é verdade.

— Lolô, chega de perguntas, tá? — pede Cassandra, a cabeça torta encarando sua pintura. A observo sorrir antes de chamar: — Ei, as duas, venham aqui.

Me ergo da poltrona e caminho ao lado de Lola até Cass, ela limpando as mãos sujas no avental manchado de tinta. Seus cabelos amarrados já têm cachos soltos, numa espécie de penteado bagunçado que a deixa naturalmente bonita. Nossa, as garotas de Boafortuna devem babar na minha irmã mais velha.

Droga. Foco, Aquário, foco.

— E então, o que acham? — ela pergunta, as mãos na cintura em uma espécie de pose de super-herói.

— Uau! — exclama Lola, chegando mais perto.

Como já disse, arte não é a minha praia, então mesmo se Cassandra desenhasse um boneco de palitinho — o dela com certeza melhor do que os meus —, eu já acharia bem impressionante. Mas, como Lola já assegurou, uau. É uma pintura de quatro mulheres dormindo lado a lado, seus traços delicados em tons pastéis. Minha meia-irmã é realmente talentosa, e percebo enquanto admiro a tela que até que sinto orgulho dela. Ainda que eu não saiba exatamente o que isso significa.

— Quem são suas musas? — pergunto, uma sobrancelha propositalmente arqueada. Que ela interprete como quiser.

Cassandra ri, umedecendo os lábios e cruzando os braços. Parece nervosa e ao mesmo tempo provocativa.

— Ninguém em específico. Acho que... — ela me encara —... mulheres bonitas me inspiram, sabe?

Assinto. Nossa, maninha, você nem imagina o quanto eu sei.

Antes que alguém diga mais alguma coisa, a porta do estúdio abre de supetão, assustando nós três. A cabeçona de Bruno aparece, uma careta estampando o rosto. Notavelmente desconfortável.

— É melhor vocês descerem, meninas — ele avisa, a mão esquerda coçando a nuca. — Papai e Gina estão nos convocando para uma reunião de família. E não é querendo assustar, mas eles parecem empolgados demais para o meu gosto.

NÃO CONSEGUI RESPONDER Mina, e eu encaro meu celular confiscado em cima da mesa de centro com o coração doendo. Mamãe nos tirou todas as abre aspas distrações fecha aspas, para que nós quatro prestemos toda a nossa atenção em Tales e ela, parados em pé no meio da enorme sala de visitas dos Vinhedo. Sentada no sofá, eu acabei espremida entre Bruno e Cassandra e, bem, não estou muito contente com isso.

— O pai de vocês e eu estamos planejando isso há algumas semanas — começa mamãe, encarando Tales com um sorriso empolgado que me faz desviar o olhar por um segundo. — Tínhamos marcado de começar a viagem ontem, mas como Eva e Bruno tinham compromisso, decidimos adiar todos os planos para hoje.

— A gente vai viajar, mamãe Gina? — pergunta Lola, sentada ao lado de Cass na ponta do sofá.

Minha mãe assente, e Tales dá um passo à frente como se fosse nos dirigir um discurso.

— Eu percebi que não visitamos a nossa casa de campo há uns bons dois anos, e eu acho que já está na hora de Regina e Eva a conhecerem.

— Terça-feira será feriado porque é aniversário da cidade — mamãe explica, agora com os olhos na gente —, e pelo que eu ouvi, as escolas vão ficar fechadas durante a segunda também. Então, acho que será uma boa oportunidade pra gente finalmente ter a nossa primeira viagem em família.

Cassandra, Bruno e eu permanecemos calados, todos de braços cruzados e sobrancelhas erguidas, sem saber muito bem como reagir. Não sei os motivos dos meus irmãos, mas eu sei que eu não quero ir. Nada contra a droga de casa de campo dos Vinhedo, mas não tô a fim de passar horas em um carro para, no fim, ficar em um lugar presa com todas essas pessoas. Sem falar que estou cansada. Passar a noite ontem na Toca da Serpente meio que não foi uma boa forma de renovar as energias.

— Pai, eu adoraria ir... — Cass é a primeira a se posicionar, inventando uma desculpa esfarrapada —... mas eu tô cheia de trabalhos da faculdade.

— É, eu também tenho uma prova de Matemática na quinta e preciso estudar — diz Bruno, dando de ombros.

— Nada te impede de levar seus livros, Cassandra — retruca Tales, lançando em seguida a atenção para o filho. — E eu aposto que a Eva não se importaria em te ajudar a estudar.

Porra, Bruno, parabéns.

— É claro que ela não se importa — mamãe logo responde, e eu reviro os olhos em resposta. Não é como se eu fosse dizer não para ela ou o Tales. Mas que merda. — Então tá perfeito! Vocês sobem, fazem as malas e saímos logo depois do almoço.

Lola é a única que corre para o andar de cima, e Cassandra, Bruno e eu permanecemos no sofá nos sentindo um bando de derrotados. Trocamos olhares de compaixão — o mais próximo no nível de cumplicidade entre irmãos que conseguimos atingir — e nos levantamos com um suspiro. Continuo com minha atenção no celular em cima da mesa de centro, minha tela acendendo vez ou outra, as notificações não lidas insistindo em serem notadas.

Inferno. Eu só queria poder respondê-la.

— Pode ao menos me devolver meu telefone? — pergunto à mamãe, mesmo já sabendo a sua resposta.

Ela ergue as sobrancelhas.

— Apronte as malas e terá o seu celular de volta. O mundo não vai acabar se largar dele por cinco minutos, minha filha — ela brinca, tocando o meu ombro antes de buscá-lo e guardá-lo no bolso da calça, e eu a assisto subir a escada junto a Tales, levando Mina e sua mensagem não respondida para longe de mim.

ME VOLUNTARIEI PARA ir sozinha no banco de trás da minivan, mas Bruno foi mais ágil e roubou o meu lugar. Ao menos consegui a janela, ainda que ela não tenha muito valor quando tem a droga de uma menina de quatro anos gritando do meu lado. Crianças pequenas não cochilam depois do almoço? Então por que Lola continua determinada a me encher a paciência durante toda a viagem?

Mesmo com meus fones, continuo ouvindo a algazarra no carro. Cassandra conversa com Tales e mamãe sobre a casa de campo, a qual eu não me importo mesmo em conhecer, e a caçula fala por cima de todas as vozes, exigindo alguma coisa que eu também não me interesso em saber o quê. O único calado é Bruno, também com seus fones e ocupando o banco que deveria ser meu. Me pergunto o que ele está escutando, mas aposto que nada tão bom quanto minha playlist sáfica incrível. Heterossexuais não conhecem música boa de verdade.

Encaro a tela do meu celular, a mensagem ainda não lida me assombrando na tela.

Respiro fundo. Nem foi uma mensagem tão importante assim, e eu só preciso respondê-la como quem não quer nada. Porque, bem, eu não quero, e não devia me importar tanto no fato de Mina não estar disposta a falar sobre aquilo. Na verdade, eu deveria agradecer por ela estar fazendo o que eu tinha que fazer desde o começo. Eu não gosto de Mina, não desse jeito. Esquecer sobre esse beijo é, além da melhor coisa a se fazer, extremamente necessário.

Enfim abro a caixa de mensagens, lendo a última que recebi mais uma vez:

pelo menos é só uma morte moral, aquário. você sai dessa.

espero que você esteja certa, a respondo. porque talvez um dia eu queira voltar à pista de dança da toca e não sei se vou conseguir se não "sair dessa".

hahaha por favor saia!, ela digita. vou ficar muito triste se eu nunca mais te ver dançar :(

Mas que droga, Mina Leão!

Me encolho no banco, mais uma vez sem saber o que responder. A música termina e outra começa, a paisagem passa rápido e a gritaria continua e merda. Seria muito mais fácil se ela só falasse alguma coisa, se a gente pudesse encerrar esse assunto de uma vez por todas, ainda que ele não signifique nada. Foi só um beijo de festa, entre duas garotas ainda um pouco bêbadas e emotivas por causa de um papo profundo e sem sentido. A coisa mais normal do mundo, não é? Acontece o tempo todo. Então por que a gente não só conversa sobre isso?

tá bem, prometo tentar. por você.

Não, eu não estou flertando. E espero que Mina saiba disso.

Saímos de Boafortuna faz um tempo, e já passamos por mais duas cidades pequenas dirigindo pela BR. Agora estamos em uma estrada secundária e sem casas ou pessoas à vista, então imagino que não estamos muito longe da droga da casa de campo. E confesso que estou me sentindo um pouco mal por decretar o meu ódio a ela antes mesmo de chegar lá, mas não consigo evitar. Era o pior fim de semana para uma viagem em família, e vou reclamar disso — pelo menos para mim mesma — pelo resto da viagem.

ótimo, porque eu não aceito ter te mostrado o observatório se for pra você ter pisado lá uma única vez, aquário.

Tá bem. Calma. Mina está falando do Observatório, então as chances de surgir uma conversa sobre o beijo são altas. Ou pelo menos maiores do que antes. Estou calma, não estou nervosa a ponto de a gritaria no carro ter desaparecido dos meus ouvidos porque tudo o que escuto é o meu coração batendo descontrolado. Estou calma. Juro.

droga, digito. talvez você tenha acabado de me convencer, mina leão.

Assisto Tales fazer mais uma curva, uma estrada de terra se estendendo à nossa frente. A minivan balança demais para o meu gosto, a pista desnivelada me impossibilitando focar inteiramente na conversa. Eu até desligo a música, tirando os meus fones e deixando que as vozes no carro voltem a me perturbar. Estou começando a ficar enjoada.

Mina envia um emoji de uma carinha com óculos escuros, mas logo volta a digitar, enviando outra mensagem logo depois.

aliás, aquário, sobre o observatório...

Engulo em seco. Estou calma estou calma estou calma.

Mina Leão está digitando...

Digitando...

Digitando...

E então para. Nenhuma mensagem enviada, nenhum emoji ridículo, nada. Até o online desapareceu abaixo do seu contato.

Finalmente o carro para, todos saindo depressa como se suas vidas dependessem disso. Lola corre em direção a casa enorme que nos recebe, Cassandra vai atrás da irmã e Tales e mamãe se encarregam de retirar todas as malas do carro. Eu continuo parada ao lado da minivan, segurando o meu celular com as duas mãos, a testa franzida e os lábios cerrados.

— Algum problema, irmãzinha?

Bruno aparece ao meu lado, apoiando o cotovelo no meu ombro enquanto eu permaneço encarando a minha tela, a caixa de mensagens de Mina ainda aberta.

— Por favor — murmuro, lançando um olhar para meu irmão cheio de súplica —, me diga que aqui tem internet, Bruno.

Ele faz uma careta, balançando a cabeça em negação antes de se afastar e correr em direção a casa.

Encaro a tela do celular. Logo acima do contato de Mina, ao lado das horas e da porcentagem de bateria: as barrinhas da torre sumiram. Estou sem internet e a vontade de vomitar volta com tudo. Mina Leão me mandou uma mensagem sobre o beijo e eu tenho certeza disso. Mas eu não a recebi.

Puta que pariu. Como vou sobreviver até terça-feira sem saber o que ela me disse?

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