Sinto meu celular vibrar no bolso do jaleco. Olho o número e sinto uma palpitação. Peço licença, atendo o celular no corredor.
- Oi Bia! Está tudo bem?
Escuto a voz suave de Bianca, a babá da minha filha.
- É a Alice, a senhora pediu para telefonar se o problema fosse sério. Ela está com febre de novo, já dei remédio e...
Desligo o telefone, saio correndo do hospital sentindo meu coração apertado. Dirijo meu carro sem me preocupar com os sinais vermelhos. Quando chego ao meu apartamento o meu coração desaba ao ver meu anjo.
Alice corre na direção, abrindo os bracinhos rechonchudos em busca de um abraço, eu a aperto e sinto seu cheiro doce que sempre me acalma. Toco sua testa que está muito quente. Ela está com o rosto corado. Seus olhos entre o verde e o azul brilham, os cabelos dourados caem em suaves cachinhos em seus ombros.
Ela não se parece muito comigo, lembra de muitas maneiras o pai, que eu decidi deletar da minha vida há muito tempo.
Eu troco sua roupa rapidamente, pego-a no colo para levar ao hospital, aos três anos ela se parece com uma boneca. Respiro profundamente tentando remover a ideia que mais me assusta nos últimos dias. Mas a ideia insiste em me assombrar, a palavra se repete na minha cabeça, deixa-me zonza é apenas uma palavra que pode tirar tudo de mim:
- Câncer, câncer, câncer... Repito baixinho para mim mesma.
Uma semana depois estou prendendo a respiração enquanto aguardo o diagnóstico da minha filha, a oncologista infantil, me olha com benevolência e diz as piores palavras que eu poderia ouvir:
- Os exames confirmaram, ela tem leucemia.
Obrigo-me a respirar entro em estado de choque. A médica segura a minha mão. Eu digo fazendo um grande esforço para segurar minhas lágrimas:
- Ela vai precisar de transplante de medula óssea, não vai. Digo tentando recordar da época da faculdade, pois como psiquiatra me distanciei da área clínica.
- Receio que sim. A Alice é filha única?
Eu confirmo, sinto o chão desabar.