Apartamento 316

بواسطة yoonie001

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[breve hiatus] "Há algo dentro do apartamento 316 que desperta meu lado curioso. Aquele homem bonito, encolhi... المزيد

𝙿𝚛𝚘𝚕𝚘𝚐𝚞𝚎
𝙾𝚗𝚎
𝚃𝚠𝚘
𝚃𝚑𝚛𝚎𝚎
𝙵𝚘𝚞𝚛
𝙵𝚒𝚟𝚎
𝚂𝚒𝚡
𝚂𝚎𝚟𝚎𝚗
𝙴𝚒𝚐𝚑𝚝
𝙽𝚒𝚗𝚎
𝚃𝚎𝚗
𝙴𝚕𝚎𝚟𝚎𝚗
𝚃𝚠𝚎𝚕𝚟𝚎
𝚃𝚑𝚒𝚛𝚝𝚎𝚎𝚗
𝙵𝚘𝚞𝚛𝚝𝚎𝚎𝚗
𝙵𝚒𝚏𝚝𝚎𝚎𝚗
𝚂𝚎𝚟𝚎𝚗𝚝𝚎𝚎𝚗
𝙴𝚒𝚐𝚑𝚝𝚎𝚎𝚗
𝙽𝚒𝚗𝚎𝚝𝚎𝚎𝚗
𝚃𝚠𝚎𝚗𝚝𝚢
𝚃𝚠𝚎𝚗𝚝𝚢 𝙾𝚗𝚎

𝚂𝚒𝚡𝚝𝚎𝚎𝚗

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بواسطة yoonie001

Taehyung

O dia de domingo amanheceu radioso. O calor que o sol emanava passava pelas janelas escancaradas, aquecendo gradativamente, o quarto. Os raios de luz intensa bateram em meu rosto, me obrigando a acordar e apreciar a bela vista que era Jungkook dormindo. Constatei que sua boca estava entreaberta, suspiros saiam da mesma e ele estava com o rosto próximo do meu. Sua mão passava por debaixo do meu corpo e me puxava para si, ao mesmo tempo em que eu tentava me desenvencilhar do seu aperto quentinho.

Suas pálpebras permaneciam fechadas enquanto eu levava meus dígitos até suas sobrancelhas bem desenhadas, acariciando aquela área e rapidamente descendo por sua pele macia, parando na minúscula cicatriz. A olhei, era incrível como a mesma era tão pequena que passaria despercebida por qualquer pessoa que não prestasse atenção ou que não olhasse duas vezes para o moreno.

Selei seu rosto com um beijo casto no local onde a mesma descansava, não tirando minha mãos de seu rosto e sentindo o rapaz ao meu lado se remexer. Em questão de minutos, o mesmo abriu os olhos, habituando seus globos oculares à quantidade de iluminação natural que estávamos recebendo. Já eu, esfregava meu polegar em sua bochecha corada, transmitindo um carinho gostoso à sua derme. — Bom dia, Jeonggukie!

— Bom dia, bebê. — assim como a minha, sua voz estava grave e rouca, o que me fez sorrir. Ele fechou novamente suas pálpebras, coçando os olhinhos, repleto de sono e manha. — Dormiu bem?

Eu olhei ao nosso redor, vendo como a cama estava desarrumada, não só porque dormimos ali, mas também pelos acontecimentos da noite anterior. Me lembrava de cada pequeno detalhe, nossos corpos juntos, seus toques quentes e beijos abofados me trouxeram uma felicidade extrema. Ao final da cama, no chão, estavam também nossos roupões, esquecidos. Sentia a minha pele nua roçar nos lençóis de seda suaves, a quentura do seu corpo junto ao meu me enviou boas energias e eu o abracei, o trazendo para mais perto.

— Sim, e você? — questionei, o rapaz não demorou a levar seus braços para minha cintura e, novamente, me apertar contra si, retribuindo o contacto que eu iniciei.

— Com você abraçado a mim? Não sei como poderia dormir mal. — eu sorri, podia sentir seu hálito quente bater no meu rosto e, com certeza, me habituaria a esta vida sem qualquer problema. — Pena que temos que ir embora em pouco tempo, temos um avião para apanhar.

— Não creio que esteja pronto para me despedir de Jeju. Esse lugar é, simplesmente... fabuloso. — olhei pela janela, abraçado ao mesmo, observando, de longe, as ondas azuladas formarem espuma quando batiam nas rochas duras ou na areia quente.

— Não se preocupa, eu trarei você aqui mais vezes, meu anjo.

O olhei, de forma incrédula. — Sério?

— Claro. Quando estiver de férias vou tentar dar um jeito de virmos cá.

Eu sorri, o abraçando ainda mais e afundando meu rosto em seu pescoço, aspirando seu aroma masculino e gostoso. — Obrigada! Eu te amo muito!

Pude senti-lo sorrir contra mim e, em segundos, sua voz foi ouvida. — Eu te ouvi ontem à noite, Tae. — meus olhos se esbugalharam e um calor invadiu minhas bochechas sem permissão, pensei que ele já estava dormindo ontem quando pronunciei aquelas palavras. — Eu sei que já disse, mas nunca me vou cansar de falar que te amo.

Eu sorri, mais uma vez, e tentei desviar o assunto. — Vou tomar bem, tudo bem? — ele assentiu e, antes que eu me levantasse, ele me puxou para si, depositando um beijo rápido em meus lábios, me fazendo o olhar, em uma falsa indignação.

— Você vai despido? Não quer levar sua vestimenta? — antes que eu pudesse dizer algo, ele mudou o rumo da conversa. O mais novo estava falando do roupão que descansava no piso envernizado. — Pode ir lá buscá-lo, eu já vi tudo ontem mesmo. — ele sorriu, de forma sacana, e logo escondi meu rosto por baixo dos lençóis finos.

— Não me deixa envergonhado, Kookie. — eu reclamei, manhoso. Senti o calor do seu corpo ir embora e, quando arranjei coragem para saber onde ele tinha ido, espreitei por cima dos lençóis. O mesmo estava vestindo seu roupão, sua nudez foi rapidamente recolhida e ele me estendeu a minha vestimenta, sorrindo carinhosamente.

— Aqui está, Tae. Agora já pode sair da cama, amor. Ah, e acho que você vai gostar de se ver ao espelho.

Ainda desconfiado, eu vesti minha roupa e, depois de retribuir seu sorriso, entrei no banheiro. Quando me vi livre do roupão vermelho, foi a vez de meu queixo cair. Eu possuía manchas vermelhas em minhas pele, mais concentradas a zona de meu pescoço e mamilos. Para além destas, a marca suave de suas mãos estava também em minhas coxas e cintura, me fazendo corar novamente. Como assim fora Jungkook que fizera isto?

— Jeon Jungkook, eu vou matar você! — reclamei, ouvindo a sua gargalhada do lado de fora do cômodo.

— Eu avisei, Hyung!

🥀

Quase uma semana havia se passado depois de voltarmos de nossa viagem. Durante esse tempo, eu já tinha ido ao estúdio para saber pormenores sobre a sessão de fotografias para o álbum que eu lançaria em pouco tempo e, para minha surpresa, essa tinha sido marcada para o dia seguinte.

Eu estava radiante, era demais para meu pequeno e fraco coração saber que, depois de anos, eu iria concretizar meu sonho e lançar uma criação só minha. Talvez até passassem minhas músicas nas rádios coreanas e, se algum dia eu tivesse sorte, poderia visitar programas de televisão e divulgar a minha arte para que pudesse alcançar mais pessoas e as tocar com as obras de minha autoria.

Jungkook tinha ido, recentemente, ao cabeleireiro, mudando o seu penteado — agora estava aparado e pintado — e, para minha surpresa, ele havia ficado ainda mais bonito. O mais novo fez questão de se deslocar comigo até ao local onde iriam ser tiradas as fotos, me apoiando em todo o processo e, quando um set de fotos era completado, nossos olhares se encontravam e ele sorria, sibilando um "Muito bem" silencioso. O mais novo era encantador e, se eu tinha duvidas acerca disso, todas elas desapareceram quando, depois de tirar as fotos, ele me abraçou por trás e depositou um beijo em minha nuca, dizendo que estava extremamente orgulhoso de mim.

— Hey, Tae. — era noite de sábado. Eu chegara da sessão de terapia há pouco tempo e pedira a Jungkook se poderia cozinhar, visto que sentia falta de o fazer. Ele concordou e, enquanto eu preparava o jantar para ambos, o rapaz me chamou à atenção, se sentando em uma das cadeiras negras da mesa de jantar da cozinha e me olhando. — Não sei se você percebeu, mas eu tive uma conversa com a terapeuta, sabe?

Eu o olhei, é claro que tinha percebido. — Eu sei, eu estava lá quando ela te chamou para o gabinete dela. — não vou dizer que não sabia por qual razão era visto que, apesar de eu não me colocar à porta para escutar a conversa dos dois, eu tinha a consciência de que a sessão de hoje não correra tão bem, meu silêncio quando ela tocou em um ponto sensível para mim denunciara que eu não estava pronto para falar sobre o assunto. — E sobre o que falaram? — eu continuei cortando os legumes para o kimchi, enquanto sentia o seu olhar pesado sobre mim.

— Bem, ela me disse que a sessão de hoje tinha sido mais parada. — eu sabia que era verdade, mas tentei dar a impressão que nada ocorrera, encolhendo os ombros.

— Hm, deve ter sido impressão dela. Eu acho que correu tudo bem.

— Porque está me mentindo? — seu tom era acusatório e, em função disso, eu comecei a ficar nervoso. Sim, eu não devia estar mentindo, mas porque razão Lisa — como ela me pediu que a tratasse — quebrara a confidencialidade de médica-paciente? — Eu falei com ela, Taehyung, eu sei o que aconteceu.

— Bem, não deveria. Não é suposto ela contar o que se passa nas sessões, se chama privacidade e eu apenas me abro com ela por causa dessa razão! — eu já estava ficando exaltado também, não gostei da atitude da mulher e isso se refletia na forma como eu tratava a comida, agora aplicava raiva sobre a faca forte e cortante, o som da lâmina se chocando contra a tábua de madeira produzia um barulho alto e intenso. — Foi você que pediu que ela dissesse o que eu expresso lá dentro? — eu o olhei, apontando a faca na sua direção, meus olhos chispavam em uma mistura de raiva e aborrecimento.

—Claro que sim! — eu entreabri meus lábios, negando com a cabeça. Logo ele se apercebeu do que tinha dito e tentou argumentar. — Quer dizer, só quando...

— Você não tem esse direito, Jeon! — minha voz aumentou de tom, estava extremamente chocado com o facto de que Jungkook poderia saber certas coisas que eu havia dito lá dentro, e nada disso me ajudou em controlar a irritação que passava por cada nervo do meu corpo. Voltei minha atenção, novamente, para os legumes, metade já estava cortado e pronto para enlatar. — Que porcaria, porque você fez is- AH, merda!

Eu gritei, a ponta da faca afiada havia perfurado minha derme fina de forma grotesca e, agora, um filete de sangue escorria do meu dígito, me fazendo olhar para o corte de forma admirada. É certo que eu não era um mestre de cozinha, mas nunca tinha me acontecido de me cortar, queimar ou machucar de alguma forma enquanto — tentava — cozinhar.

— Meu Deus, Taehyung! — Jungkook tinha seus olhos esbugalhados enquanto vinha até mim, suas mãos tocaram meu dedo perfurado, o levantando, até que conseguisse fitar o corte fundo em meu dedo indicador. Algumas gotas encarnadas já pingavam e atingiam o chão, o pintando, e ele suspirou. — Vem, vamos até ao banheiro. O kit de primeiros socorros ainda está lá.

Eu assenti, envergonhado, minhas bochechas tomando a cor do líquido que saía do meu dedo durante o tempo em que era encaminhando até ao cômodo pelo mais novo. Talvez, eu não devesse ter começado uma discussão, talvez, ele apenas quisesse saber como eu estava e, simplesmente, estava preocupado com minha saúde e me acompanhar em meu progresso psicológico.

Não demorou até que o mesmo me sentasse na privada, vasculhando, apressadamente, o armário onde estava a caixinha branca com uma cruz vermelha. Ele desinfectou minha ferida, a passando por água e álcool — esse último que fez o mesmo arder como se me estivesse queimando — e, por último, colocou um penso do homem de ferro sobre o corte, que já não sangrava. Eu sorri com os desenhos na pequena faixa, eram um pequeno super herói, em boneco, esticando seu braço robôtico.

— Vá se sentar no sofá, eu já vou falar com você.

— Mas, o jantar, ele não está...

— Deixa o jantar para lá, ele pode ficar para depois. — acenei positivamente com a cabeça, não iria reclamar consigo depois do que acontecera. Arrastei meus pés até à mobília, bem no centro da sala grande, e fitei o chão, ouvindo o som da caixa sendo arrumada no seu devido sítio. Jungkook ainda se demorou, talvez estivesse limpando o chão, visto que, quando me atrevi a levantar minha cabeça, pude ver o mesmo com uma esfrega na mão.

Senti seu perfume intoxicante chegar até minhas narinas, poucos minutos depois, e o lugar ao meu lado afundou com seu peso, fazendo com que meus olhos fitassem todos os cantos do apartamento, exceto seus olhos perfurantes. Eu notei que o mesmo estava tenso; eu também estava, mas chegou a altura de me abrir com ele também.

— Taehyung, você está bem? — a sua voz foi ouvida pouco tempo depois, e eu me forcei a assentir, em um aceno de cabeça, tentando que o mesmo não ficasse preocupado. No entanto, percebi sua mão encontrar minha coxa, a alisando suavemente, em um carinho relaxante e apaixonado. Logo sua outra mão traçou um caminho para minha nuca, descansando ali. — Olhe para mim, amor.

Meu corpo estremeceu com o apelido extremamente carinhoso dado por ele. Todavia, nada disse, apenas me virei em sua direção, observando os traços bonitos em sua face, inclusive a pequena cicatriz que assentava em uma das suas bochechas cheias. O seu cabelo, recentemente cortado e com madeixas azuis — ele estava lindo, como em qualquer situação —, cobria toda a sua testa e quase que batia em seus olhos negros como a noite, esses que também me encaravam em curiosidade, procurando saber qual seria meu próximo passo.

— Me explique o que aconteceu na cozinha, por favor. — suspirei. Nem eu sabia o que se havia passado há alguns minutos atrás, eu estava de cabeça quente e não queria ter falado da forma que falei, mas agi de forma errada.

— Eu não sei, Jungkook, eu só... peço desculpa pela forma como falei para você. — desviei meu olhar para o tapete felpudo, meu pé direito mexia no mesmo, parecendo totalmente desinteressado no assunto. No entanto, ele segurou meu queixo e me forçou a o fitar, seus olhos me analisavam, pareciam percorrer todo o meu rosto — como eu fizera há pouco tempo.

— Me desculpe também, Taehyung. Como você disse, eu não tenho o direito de saber das suas conversas com a terapeuta. — eu sorri, ele parecia arrependido e sincero com as suas desculpas. — Mas saiba que essa foi a única vez que Lalisa me contou o que se passa lá dentro, eu lhe pedi que ela fizesse isso quando visse que você não estava à vontade com um assunto. Aliás, ela concordou porque pensou que você poderia falar comigo e me explicar o porquê de não lhe contar.

Eu o ouvia, atentamente, enquanto ele se explicava e justificava. Talvez eu tivesse sido um pouco bruto em nossa discussão, visto que parecia que ele estava se desculpando por ter matado alguém. Sem dizer mais nada, ele se levantou, se baixando e depositando um selar delicado em meus cabelos.

— Vou acabar o jantar, quando quiser vir, esteja à vontade.

Ele estava pronto para se afastar em direção ao cômodo, porém, eu fui mais rápido em segurar seu pulso, fazendo o mesmo me encarar, curioso e confuso por minhas ações. — Eu não quero que vá. Eu... eu quero...

— Você quer...? — questionou, me incitando a continuar minha frase.

— Eu quero contar a você o que eu não disse a Lalisa. — ele entreabriu seus lábios, seu queixo caiu e, apesar de ser um momento tenso, uma gargalhada saiu de minha garganta. Bati no estofado do sofá, ao meu lado, indicando para o mesmo se sentar e, para reforçar essa ideia, puxei seu pulso, até que o mesmo estivesse perto de mim. — Pouca gente sabe dessa história, só o Jimin e eu. Nem Yesung sabia, mas você é diferente dele, por isso, estou confiando em você. Promete que não irá contar a ninguém? — ele negou, veemente, e eu voltei a interrogar, precisava de confirmar que a história não sairia daqui. — Estou falando sério, posso confiar em você?

Ele cruzou os seus braços em frente do peito. — Alguma vez dei razões para não o fazer? — foi minha vez de negar. — Então, já tem minha resposta. Já sabe que pode falar comigo sobre qualquer assunto.

Eu me recordei da tarde no consultório de Lalisa, como nossa conversa estava fluindo tão bem até a mesma tocar no assunto família. Era difícil para mim me abrir sobre esse isso e, a partir desse momento, eu não disse mais uma palavra, apenas tentava mudar o tópico da conversa. No entanto, não era fácil, ela teimava em insistir sobre tal.

— Me diga, Taehyung. — começou a mulher, seu cabelo usualmente moreno alojava a cor loira, a fugir para um tom mais ruivo. — Como é a relação com seus pais?

Engoli em seco, aquela pergunta me pegou desprevenido, visto que nunca havíamos falado sobre esse tema e, sinceramente, era uma coisa que eu preferia deixar arrumada em um canto com o nome de "Conteúdo frágil".

— Boa, eu acho. Mas estávamos falando sobre outra coisa...

Ela pareceu notar que minha face ficou lívida depois de sua questão, então, se apressou a negar, como se dissesse que não voltaríamos a esse ponto. — Sim, mas esse assunto já está encerrado. Me fale sobre seus pais, por favor.

Depois disso, eu me recusei a responder a suas perguntas, vendo a mesma anotar qualquer coisa em seu precioso e indispensável caderninho, o que me fez enterrar no sofá confortável de seu consultório. Quando Jeon me veio buscar, ela pediu um pouco do seu tempo e eu sabia que ela lhe contaria a essência de nossa sessão, mas não planeava que tivesse sido o mais novo a pedir que ela o fizesse.

— Taehyung? — saí dos meus pensamento quando a voz de Jungkook me trouxe à tona, este que estalava os seus dedos à frente de meus olhos vidrados em um ponto qualquer do apartamento. — Está tudo bem?

— S-Sim...

— Sabe que não precisa de me contar caso não queira, certo? — eu assenti positivamente.

— Mas eu o quero fazer. — eu sabia que poderia recusar a oportunidade de falar. No entanto, eu estava falando com Jungkook, o homem que tem vindo a cuidar de mim tão bem, que me trata da melhor forma possível e por quem eu estou apaixonado. Eu deveria compartilhar meu passado, minhas mágoas e inseguranças com ele, visto que a confiança é o principal pilar para uma relação extraordinariamente saudável e duradoura — apesar do facto de que não éramos nada.

Suspirei, de forma lenta e profunda. Voltei a expirar e a inspirar, estava prestes a tocar em um item que exigia muito controle emocional de minha parte.

— Quando você quiser, amor.

Eu sorri, o apelido que ele usava fazia meu corpo tremer com ondas de euforia. Todavia, não podia adiar mais esse assunto. — Quando eu tinha dezoito anos e faltava pouco tempo para eu, finalmente, entrar na universidade, meu pai adoeceu gravemente. No início, eu e minha mãe pensávamos que era apenas um resfriado grave, no máximo, uma pneumonia, visto que meu pai trabalhava como entregador de encomendas e, muitas vezes, fazia as mesmas à noite, em plena madrugada de inverno.

Ele assentiu, parecia realmente envolvido na história, como se a estivesse vivendo em carne, pele e osso.

— Os sintomas foram ficando pior, a sua tosse era acompanhada de sangue e ele tinha muitas dores em suas costas, mas pensamos que era normal, ele sempre fazia muito esforço com o corpo. E quando achávamos que não podia ficar pior, um dia acordamos e ele estava com o pescoço inchado e com dificuldades em respirar, então, a primeira coisa que fizemos foi o levar para o hospital mais próximo. Esse foi um dos piores dias da minha vida, Gukkie, eu e minha mãe passamos o dia e a noite no hospital, sempre que pedíamos informações a algum funcionário, eles sempre diziam que não sabiam de nada.

Eu senti uma lágrima correr por meu rosto, minha voz começava a ficar embargada e minha garganta ameaçava em se fechar, não me permitindo acabar minha história. Mas, desta vez, eu não iria ceder a minhas fraquezas. Funguei, me recompondo e continuando.

— Na manhã seguinte, um médico bastante novo veio a nosso encontro. Eu me lembro dele como se fosse hoje, seu nome era Park Chanyeol e, apesar de sua idade, ele parecia bastante experiente. O homem afirmou ter notícias para nós e, por sua cara, eu soube logo que não seriam as melhores. — eu tomei uma lufada de ar, tentando tomar coragem para acabar essa parte. — Eu nunca vi minha mãe tão mal, em dezassete anos eu não sabia que podia ver minha mãe cair no chão, não até saber que meu pai tinha câncer do pulmão e, ainda por cima, em um estado já bem avançado.

Eu pude observar sua reação de surpresa e tentei dar um sorriso, que saiu mais parecido a uma careta triste do que uma expressão reconfortante. Ele pegou em uma das minhas mãos e a apertou, tentando passar alguma força, para que eu soubesse que não estava sozinho ali. Ele se pronunciou, pela primeira vez. — Tae, se você quiser, não precisa continuar. Eu sei que deve ser difícil reviver isso tudo de novo...

— Eu prometi que iria contar tudo, e eu vou. — soei firme, mas, em meu interior, eu estava estilhaçando. — Nós o visitamos no quarto, e ele parecia bem estável. Por conta do soro, ele tinha ganho uma corzinha no rosto, mas naquele uniforme de paciente de hospital... eu percebi que ele estava tão, tão magro... — levei minha mão disponível até ao meu rosto, contar isso desgastava cada célula de meu corpo. — Nós ainda tentámos ser positivos, sabe? Perguntamos o que poderia ser feito, mas era tarde demais. O médico disse que o câncer já estava demasiado avançado, poderíamos sujeitar meu pai a quimioterapia, mas isso seria apenas forma de ele sofrer ainda mais.

Eu sentia algumas lágrimas molharem meu rosto, porém, era apenas um pormenor. Quando eu contara isto a Jimin, tive que parar várias vezes para conseguir respirar por entre a água salgada e os soluços intensos, tendo seu apoio, visto que o mesmo até chorou comigo.

— Eu e minha mãe permanecemos com meu pai até ao seu último suspiro, nos revezávamos e, quando um passava o dia com ele, o outro passava a noite. Eu não ligava muito a isso, às vezes ficava lá por dias seguidos, só observando seu rosto branco e seu peito subir e descer, sempre com o coração apertado e com medo de que ele partisse sem que eu desse conta. Era terrível, mas, pelo menos, eu tinha ele.

Jungkook pareceu confuso. — Ele... quem?

Sorri, melancólico. — Yesung.

— Vocês... já namoravam na época? — assenti.

— Nós começamos a namorar aos meus dezassete, mas minha mãe nunca aprovou. Sempre disse que ele não era uma boa pessoa, nem sequer confiável. E olha, ela estava certa. — soltei uma gargalhada baixa, irónica e seca, odiava a sensação de morrer um bocadinho a cada vez que avançava e lhe contava os acontecimentos passados. — Ele sabia disso e, apesar de se ter tornado um filha da puta com o tempo, nessa época ele era carinhoso, me apoiava e tomava realmente conta de mim. Mas houve uma vez em que, quando ele me veio fazer companhia ao hospital, minha mãe entrou no quarto de rompante e nos viu juntos, ao lado de meu pai. — me arrepiei, eu me lembro desse dia, não pelas melhores razões. — Nós discutimos, muito, e ela me deu uma escolha.

Sua expressão ficou triste. — Ou você se separava do Yesung...

— ... ou eu teria que sair de casa. — completei sua frase, eu senti meu choro voltar com tudo e, dessa vez, eu não consegui me conter. — E no mesmo dia em que meu pai morreu... eu saí de casa. Levei todas as minhas coisas e fui para casa do Jimin, ele próprio disse que eu poderia fazer isso. Ela me viu sair de casa e se despediu de mim, eu sabia que ambos estávamos magoados, mas nenhum expressou isso. Minha mãe me disse que eu era livre de voltar para lá quando quisesse, desde que Yesung não estivesse atrelado a mim. E, se quer saber, eu não a culpo. Ela já tinha ciência que ele era má pessoa, porém, eu estava cego de amor e não consegui observar isso. Foi horrível, Jungkook, eu perdi meu pai e minha mãe em apenas um dia. E tudo por causa de uma história de amor falhada!

Eu não consegui conter mais meus soluços quando o mais novo me puxou para si, me pondo em seu colo e me abraçando, ele também tinha algumas lágrimas no canto dos olhos puxados. Odiava me sentir fraco dessa maneira, odiava ter que contar essa história novamente, contudo, eu confiava no mais novo, e o seu carinho comigo ainda me fez estar mais à vontade consigo. Meu peito balançava, eu sentia a sua respiração acelerada em meu ouvido enquanto abraçava seu pescoço, me sentindo seguro, e ele segurava minha cintura.

Ficamos alguns minutos naquela posição, esperando que o ambiente acalmasse. Eu sentia o mesmo afagar minhas costas e cabelos, enquanto eu apenas soltava pequenos suspiros, tentando que meu corpo se sossegasse e relaxasse. Quando isso aconteceu, ele separou nossos corpos, secando algum resquício de lágrimas que houvessem ficado em meu rosto. De seguida, ele beijou minhas bochechas, pálpebras, queixo, testa, nariz e, por fim, deixou um selinho ligeiro em meus lábios, acariciando minha derme no final de nosso contacto.

— Meu Deus, Taehyung, eu estou sem palavras para sua história... como você foi forte, Hyung! A cada dia que passa, tu me deixa sem fala. Fico tão feliz que você está melhor agora!

— Você não acha que eu fiz errado?

— Errado? — assenti, esperando que o mesmo dissesse algo. — Tae, você é a pessoa mais destemida que conheço! Você esteve ao lado do seu pai até ao final, e foi capaz de enfrentar sua mãe, apesar do ultimato que recebeu, você seguiu o que achava certo e, para isso, é preciso força de vontade.

— Mas minha decisão foi uma merda, minha relação com Yesung foi um extremo falhanço!

— Não, Taehyung. Nada do que fazemos é um falhanço só porque não foi conforme planejámos. Veja, todo o percurso que você teve até aqui, até este ponto de sua vida, fez você quem é. A morte do seu pai te deixou mais forte, assim como o relacionamento com... aquele crápula lá. — eu sorri, contido, Jeon conseguia melhorar minha disposição em questão de segundos. — Talvez, se nada disso tivesse acontecido, você não estaria em Seoul, ou sequer lançaria o seu álbum. Provavelmente, nem me teria conhecido. Tudo tem um propósito na vida.

— É verdade... às vezes me esqueço como você é inteligente. — eu sorri, mas parei no momento e que o vi me olhar, sério demais. — Jeon, você... está bem?

— Deus, eu não aguento esperar mais.

— Do que você está falando? — eu o olhava curioso. O que se passava?

— Kim Taehyung... você me daria a honra de ser seu namorado?

🥀

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