Negócio Fechado

By _Nix81

56K 6.1K 3.7K

[Reta Final | Em Revisão] Não estava nos planos de Henrique repetir o último ano do ensino médio, mas, quando... More

Em Breve
Notas Iniciais
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Catorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete: Parte I
Capítulo Dezessete: Parte II
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois: Parte I
Capítulo Trinta e Dois: Parte II
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Trinta e Cinco
Capítulo Trinta e Seis
Capítulo Trinta e Sete
Capítulo Trinta e Oito
Capítulo Trinta e Nove

Capítulo Um

4.3K 365 241
By _Nix81

Henrique tentava se concentrar nas palavras que saltavam para fora da boca da gerente, mas a tarefa era dificultada pelo timbre de voz agudo da mulher e a inclinação do garoto a distrair-se com qualquer coisa que parecesse mais interessante que o que estava à sua frente.

Depois de um longo monólogo sobre os dias em que ele ia trabalhar, quanto ia receber e a importância de ter ética em seu trabalho, ela finalizou dizendo que deixaria uma funcionária experiente o conduzir e explicar como as coisas funcionavam.

— Você entendeu tudo, não é?

— Entendi — Afirmou balançando a cabeça freneticamente, esforçando-se ao máximo em passar um pouco de veracidade a suas palavras. Porém, o olhar cortante da mulher o fez imaginar que ela sabia que ele não estava prestando atenção.

Quando ela começou a abrir caminho pelo pequeno corredor, foi rápido em tentar alcançá-la.

Trabalhar no cinema da cidade não estava em seus planos, assim como repetir o último ano do ensino médio também não. Mas Henrique estava começando a descobrir que forças maiores agiam sobre sua vida e que ele não podia fazer nada a respeito.

— Eu entendo que isso possa ser difícil para você — Começou a falar, tentando não demonstrar o tom de deboche em sua voz, mas falhando quase que instantaneamente. — A família Montenegro geralmente é a que é servida e não a que serve.

Naquele momento, o garoto sentiu vontade de mandá-la ir a merda e parar de intrometer-se em sua vida, mas tinha quase certeza que aquela não era a atitude mais recomendada em seu primeiro dia de trabalho e que se fizesse aquilo, corria um grande risco de ser demitido antes mesmo de conseguir falar bom dia. Então, limitou-se a responder:

— Não se preocupe, eu vou me adaptar.

Eles pararam em frente a uma grande porta branca e antes que ela a abrisse, o encarou com uma expressão presunçosa.

— Ah, é claro que você vai conseguir se adaptar — Afirmou, com sua fala assemelhando-se mais a uma ordem. — Não pense que por ser filho do prefeito vai ter privilégios por aqui — E abriu a porta, impedindo que ele lhe desse uma resposta a altura. — Ayla.

Henrique observou a garota, que estava pendurando um cartaz na parede, levantar o olhar ao escutar a voz da mulher.

— Sim, senhorita Fátima — Caminhou rapidamente em direção aos dois.

Logo de cara Henrique pôde notar que tudo na garota gritava politicamente correto, seus óculos de grau estavam bem posicionados em seu rosto, bem como seu cabelo estava amarrado em um perfeito rabo de cavalo.

— Esse é o Henrique. O novo funcionário de quem eu havia falado — Fátima proferiu tudo de forma entediante. O garoto parecia não ter deixado uma boa impressão na mulher e ele não fazia a mínima ideia do porquê daquilo ter acontecido. — Apresente o cinema para ele e o ajude a se encaixar em uma função.

— Claro, não se preocupe — Disse Ayla de imediato. A gerente acenou com a cabeça e virou-se para ir embora, balançando com desdém seus longos cabelos loiros. Para Henrique, seu andar quase que dizia de forma sutil que era ela quem mandava naquele cinema, mesmo que não fosse, de fato, uma verdade.

Quando ela finalmente se foi, relaxou seu corpo, olhando para sua futura colega de trabalho, que escrevia algo em um bloco de notas.

— Você trabalha aqui há muito tempo? — Perguntou, apoiando-se na parede de tom azulado. Ayla levantou o rosto, soltando um pequeno pigarro antes de começar a falar.

— Desde o começo do ano passado — Afirmou o olhando de cima para baixo e Henrique levantou a sobrancelha direita para a ação da garota. Suas roupas desleixadas em geral não conseguiam transmitir seu comprometimento com as coisas. Amaldiçoou-se por não ter vestido uma blusa social para a ocasião. Em vez disso, usava uma camisa preta surrada com a logo dos Beatles. — Deixa eu adivinhar, esse é o primeiro emprego da sua vida?

Henrique desencostou-se da parede e adotou um postura ereta, tentando transmitir um ar de seriedade, talvez? As pessoas tendiam a pensar que ele não poderia ser levado a sério.

— Sim, esse é o meu primeiro emprego. Mas por que a pergunta?

— Só tentando descobrir com quem eu tô lidando — Respondeu, passando depressa por ele. — Parece que vou ter muito trabalho pela frente — Resmungou, guardando o bloco de notas no bolso do colete de seu uniforme. — Vem, vou te explicar como tudo funciona.

Ele balançou a cabeça, confuso com o que a garota acabara de falar, mas resolvendo deixar aquilo de lado e segui-la de qualquer forma.

Imaginava o que seus amigos deviam estar fazendo naquele momento. Com certeza não era aprendendo sobre como um cinema funcionava.

Saber disso o desanimava um pouco, já que o que ele deveria estar fazendo era ingressando em uma universidade — ou seja lá o que a sociedade espera que os jovens façam quando completam 18 anos.

Mas ali estava ele, desvendando os mistérios da arte de fazer pipoca.

— Tirando os serviços gerais e a parte administrativa, há basicamente três funções aqui — Disse Ayla, iniciando sua explicação. — Resumindo, na bilheteria os ingressos são vendidos — Apontou para as três cabines vazias logo a frente dos dois. — Na bombonière, é feita a comida — Henrique balançou a cabeça, observando a pequena lanchonete atrás de si. — E temos o usher. A função que ele desempenha são várias, mas as principais são: recepcionar as pessoas e limpar as salas. Entendeu?

— Sim — Disse e não mentiu, pela primeira vez durante aquela tarde conseguiu assimilar alguma coisa sobre aquele lugar. A voz de Ayla era bem diferente da de Fátima, Henrique não conseguiu desgrudar os olhos da garota um segundo sequer enquanto ela falava.

Ele colocou as mãos dentro dos bolsos de sua calça jeans, observando-a pegar o bloco de notas mais uma vez.

— O que você tanto escreve, aí? — Questionou, sem pensar muito a respeito.

— Não acho que seja da sua conta — Proferiu sem tirar os olhos do pequeno caderno.

Ele levantou as mãos em rendição ao escutar a resposta ácida da garota e as levou ao peito esquerdo, fazendo rapidamente uma expressão de dor.

— Ai, essa doeu no fundo do meu coração — Disse, parecendo magoado.

Ayla o ignorou, guardou o bloco novamente em seu bolso e começou a andar em direção a bilheteria.

— Você não gostou de mim — Afirmou, chegando rapidamente ao seu lado. — O que foi que eu fiz?

Ela respirou fundo antes de encará-lo.

— Eu só imagino o que deve ter acontecido pro seu pai te obrigar a trabalhar aqui.

O que ela era? A por.ra de uma vidente? Estava absolutamente correta em sua suposição. Sérgio Montenegro, o prefeito de Vinberurbo, que coincidentemente também atendia pelo nome de pai de Henrique, quis dá uma lição ao filho após ter repetido de ano e o obrigou a arrumar um emprego.

Mas Ayla não precisava saber daquilo.

— O quê? Um jovem não pode conseguir seu ganha-pão de forma honesta?

Ela abriu um sorriso irônico.

— Um jovem comum sim, mas não Henrique Montenegro, que até outro dia parecia muito feliz em sair pela cidade esbanjando todo o seu dinheiro — proferiu, entrando em uma das cabines da bilheteria.

— As pessoas podem mudar — Contrapôs o garoto, observando-a do lado de fora.

Circunstâncias as fazem mudar — O corrigiu pegando alguns papéis que estavam em cima do pequeno balcão. — E eu tenho certeza que as suas não foram nada boas.

Aquilo ia ser bem mais difícil do que ele imaginava. Não podia trabalhar em um lugar onde ninguém ia com a sua cara.

— E isso importa? — Falou fazendo Ayla o fitar com seus olhos castanhos. — Nós dois estamos aqui pelo mesmo motivo: dinheiro. Então, que tal deixarmos as diferenças de lado e sermos bons colegas de trabalho? — Levantou a mão direita, oferecendo-a para a garota apertar.

Ayla cravou o olhar nela por alguns segundos, mas não fez nenhum movimento que demonstrasse que iria apertá-la. Ao contrário disso, mordeu os lábios e meneou a cabeça de forma negativa.

— Eu vou te falar o que vai acontecer — Iniciou e Henrique baixou sua mão. — Eu fico do meu lado e você fica do seu. Depois que eu te ajudar a se encaixar em uma função, vou te dirigir a palavra apenas quando necessário.

O garoto sentiu-se um verdadeiro idiota por ter acreditado, pelo menos por um momento, que Ayla era uma garota legal.

— Você é má — Baixou a cabeça, mas a levantou logo em seguida. — Sabe que isso é preconceito, né? Tá me julgando antes mesmo de me conhecer.

— Acho que eu consigo viver com essa culpa — Retrucou e saiu da cabine, parando em frente ao garoto. Henrique não podia negar que ela era bonita. Seu rosto perfeitamente simétrico e seus óculos retangulares eram o que fazia-lhe ter certeza disso. — Vai precisar acompanhar cada função por dois dias. Amanhã e quarta-feira você vai me ajudar na bilheteria pra entender como ela funciona.

E foi embora. Sem dá tempo ao garoto de absorver tudo que ela havia falado. Henrique a observou distanciar-se gradativamente do local, seu andar era extremamente equilibrado, o que só combinava ainda mais com seu jeito certinho de ser.

Ele coçou a nuca pensando que poderia ter sido mil vezes pior. Pelo menos não foi dispensado, e isso já era muito de acordo com as suas expectativas.

Henrique tentava injetar um pouco de velocidade nos pedais de sua bicicleta recém-adquirida, mas tudo tornava-se mais difícil por ele ter andando poucas vezes em uma. Contudo, ele teria que acostumar-se de uma forma ou outra, pois seu pai demoraria um bom tempo até devolver-lhe sua moto.

Pois é, mais uma consequência por ter repetido de ano.

Enquanto a brisa batia forte contra seu rosto, ele pensou que teria sido melhor ter trazido seu casaco junto consigo. Pois Vinberurbo parecia ser a cidade do contra e havia isolado-se do resto do Brasil em um longo inverno que durava praticamente todo o ano.

Raios de sol? Raramente os via.

Felizmente seu sofrimento foi curto, pois não demorou a avistar sua casa no fim da rua. Freou a bicicleta bruscamente quando chegou em frente a grande edificação.

Tudo bem, casa não era exatamente o substantivo adequado para denominar o lugar onde morava. Mansão, talvez? Nem chegava perto de descrevê-la. Ele costumava chamá-la de "monumento com um número exageradamente grande de cômodos". E acredite, foi a melhor definição que conseguiu encontrar.

Empurrou a bicicleta encostando-a na parede da fachada de sua residência e puxou o molho de chaves para abrir a porta de madeira de dois metros de altura.

— Por que você não consegue ser um bom marido por pelo menos dois minutos?! — A voz alterada de sua mãe podia ser escutada por toda a sala e o eco que as paredes produziam faziam o garoto ter a sensação de estar assistindo a um show de heavy metal.

Lar doce lar!

— Eu não sou um bom marido? Você que só sabe reclamar de tudo — Replicou o homem furioso.

— Oi, família — Disse Henrique jogando as chaves em cima da mesinha do centro e interrompendo a aparente discussão entre seus pais.

Não era como se ele não estivesse acostumado com isso.

Quando a mulher o percebeu parado na sala, ajeitou seus curtos cabelos castanhos, suavizou sua expressão irada e adiantou-se em recepcioná-lo.

— Oi, meu filho — Deu um beijo em seu rosto e examinou todo o seu corpo. — Você está bem? Como foi no cinema?

— Por Deus, Helena — Declarou o homem aborrecido, afrouxando sua gravata e sentando-se no sofá. — Ele não é mais uma criança. Já tem 18 anos e não precisa ser paparicado toda hora por você.

Depois de retribuir o beijo de sua mãe, Henrique afastou-se dela e caminhou em direção ao homem de barba rala.

— Oi pra você também, pai. Fico feliz em saber que se importa com o meu bem estar — Disse com um pequeno sorriso no rosto.

— Olha só, eu tive um dia cansativo e não estou com paciência para suas ironias — Levantou-se e começou a subir as escadas, mas no meio do caminho parou e virou-se para Henrique. — Quanto ao emprego, é sua obrigação ter se saído bem, porque pelo menos nisso precisa ser bom, já é o ruim o bastante você ser um fracasso na escola.

Helena tomou a frente do garoto.

— Eu não admito que você fale assim com o nosso filho — Exclamou apontando para o marido enraivecida.

— Ah, faça-me o favor, não vai passar a mão na cabeça desse inconsequente — Respondeu voltando a direcionar-se para o andar de cima. Henrique aproveitou e permitiu-se desabar no sofá para assistir aquela cena rotineira confortavelmente. — Não me esperem para o jantar, estou sem fome.

E mais uma vez seu pai havia feito um show. Nada como um dia após o outro.

***
Oi, obrigada por ter lido até aqui.❤️
Se tiver gostado do capítulo, deixa o seu voto, ajuda bastante.

Até o próximo capítulo!

Continue Reading

You'll Also Like

117K 9.3K 42
• Livro I • Segundo livro já disponível: Colina do Sul. Chloe Lidell. Desde a barriga foi destinada a algo grande. Ao posto de princesa e logo depois...
30.9K 1.6K 30
Ísis uma garota de 17 anos se vê completamente perdida quando um trágico acidente a faz ir morar com seu tio, um homem que a mesma não vê a anos. Luc...
92.9K 6.6K 31
● ♦ PROIBIDO PARA MENORES DE 18 ANOS. CONTEÚDO MADURO. ♦ ● Alpha Academic é um dos melhores colégios preparatórios, e lá se concentra parte da elite...
24M 1.4M 75
Maya Ferreira mora na California e tem a vida simples de uma adolescente de 17 anos sem emoção nenhuma, até que uma fofoca que mais parecia irrelevan...