Quando as luzes apagaram e o alarme de invasão disparou, eu soube que era minha última chance. Eu havia decorado a posição de cada pessoa que estava comigo dentro daquela sala, então não foi tão difícil conseguir acertar um chute em um dos guardas, para que ele me soltasse e fosse uma distração para os outros por conta do barulho que fez ao cair.
— ONDE ELA TÁ? — escutei Bruce gritar. Me posicionei trás do outro guarda, que tentava passar despercebido ficando imóvel, e o sufoquei com a corrente da minha algema.
— Eu sei que você tá gostando, tá até gemendo baixinho — sussurrei as mesmas palavras que ele havia me proferido em outro momento enquanto eu o sentia se debater contra mim, mas já era tarde demais. O oxigênio não passava mais pela sua traqueia.
Como eu já sabia que aconteceria, as luzes azuis de emergência entraram em ação em trinta segundos, sendo sustentadas pelo gerador que armazenava energia extra da Sede.
Quando tudo ficou claro, Bruce disparou em minha direção com a Presidente atrás de si, mas o guarda sem vida que eu mantinha na minha frente servia como um escudo humano. Rapidamente, peguei a arma do coldre preso no cadáver e comecei a atirar na direção deles também, mas só acertei o segundo guarda porque Bruce atirou na lâmpada em cima de mim e eu precisei abaixar o rosto para não ser atingida pelos cacos de vidro. Eles fugiram. Larguei o homem morto no chão e procurei em seu corpo as chaves da algema, me libertando do aperto metálico que fazia meus pulsos sangrarem.
— Com licença, eu vou precisar disso — eu peguei o cartão que me daria passagem livre por toda Sede e peguei a arma e o relógio do outro guarda que também estava morto.
Saí da sala de vidro, olhando para os lados pelo corredor. Ao que constava no relógio eu tinha trinta minutos para fazer toda a minha parte do plano para finalmente sair desse inferno. Sem mais tempo a perder, comecei a correr.
Cheguei na ala dos adolescentes dos bunkers e atravessei o refeitório que me parecia atípico por estar completamente vazio. No corredor dos quartos, avistei dois guardas. Me escondi atrás de uma pilastra e respirei fundo, esperando o momento certo. Minha cabeça doía como se alguém estivesse enfiando uma faca nela. Me concentrei nos passos que estavam cada vez mais perto e, quando ficaram perto demais, saí do meu esconderijo atirando. Pegos de surpresa, os guardas não tiveram tempo de reagir e caíram mortos com dois tiros na testa cada. Aquilo estava virando um banho de sangue rápido demais. Mas eu sabia que valia a pena, e tive ainda mais certeza quando passei a identificação do guarda na porta de número quatro zero zero dois. A mesma numeração do nosso bunker.
— Baker? — a voz de Carter preencheu meus ouvidos assim que vi todos eles juntos.
— Ninka! — Margot correu para me abraçar e todos os outros a imitaram, menos o Karl que preferiu se manter afastado.
— Ouvimos tiros, pensamos que alguma coisa tivesse dado errado — Victoria falou assim que nos separamos.
— Eu tive uns contratempos — olhei para fora do quarto onde, da porta, conseguíamos ver os pés de um dos guardas.
— Seu nariz tá sangrando, você tá bem? — Margot franziu a testa, preocupada.
Por instinto levei minha mão ao local e me dei conta que ela estava mesmo certa. Limpei o sangue com as costas da minha mão.
— Não é meu, relaxa — menti e forcei um sorriso. Desviei meu olhar para o Carter. — Precisamos sair daqui. Agora.
— Nossas coisas estão prontas — ele apontou para as mochilas escondidas embaixo da cama e cada um tratou de pegar.
— Ótimo. Já sabem o que fazer: vocês três vão atrás dos outros adolescentes e eu e o Carter vamos garantir da sala de segurança que vocês consigam sair daqui antes de tudo ir pelos ares — repassei o plano mais uma vez.
— Vocês conseguem dar conta disso tudo sozinhos? Podemos fazer mais pra ajudar — Victoria se prontificou. Ela parecia mudada, de um jeito bom. Mais determinada. E isso me deixou orgulhosa, não parecia a mesma menina que eu vi desmoronar quando perdeu a melhor amiga lá fora.
— Vocês ajudarão se tirarem os outros daqui. Não temos muito tempo. Vão! — Carter ordenou e eles não pensaram duas vezes antes de seguirem para fora dali. O moreno me encarou, avaliando meu corpo com os olhos. — Você não sabe mentir.
— Achou que eu ia chegar aqui sem nenhum arranhão depois de ter invadido o Distrito e ter acabado com a energia deles? — perguntei debochada, sabendo onde ele queria chegar com aquilo.
— Você não precisa ficar. Eu sou o único que sabe onde fica a sala de segurança e sei como fazer todos vocês saírem daqui vivos. — e lá estava, o comandante que botava todos os outros na frente do próprio bem estar.
— Você também sabe que a única chance de sair daqui vivo é se eu ficar e eu não vou te deixar sozinho. Você não é o capitão nessa operação, Carter. Então vamos juntos, ok? — O vi sorrir — O quê?
— Senti sua falta — confessou baixinho e algo dentro de mim esquentou, era como se eu voltasse a sentir algo além de ódio e vingança.
— Eu também — confessei no mesmo tom — Mas precisamos mesmo sair daqui — apontei com a cabeça para porta e ele assentiu, então saímos correndo.
(...)
Assim que chegamos em frente da sala de segurança, Carter me parou antes de eu passar o cartão para destravar a porta.
— E se tiver muitos deles? — me perguntou baixinho para que não fôssemos descobertos.
— Não tem — Eu respondi, porque já sabíamos disso. Na verdade, ele sabia disso. Carter havia feito uma varredura de toda Sede desde que bolamos o plano. Ele conhecia o lugar com a palma da mão. E era por isso que sabíamos que dentro daquela sala só ficavam dois ou três guardas por turnos. E foi o que eu lhe disse.
— Mas estamos no meio de uma guerra, podem ter reforçado a segurança — se preocupou.
— Tudo bem — parei de me curvar sobre a tranca da porta, ficando com a coluna ereta novamente — Qual é o seu plano B?
— Talvez demore mais, mas eu sei de tubulações que...— enquanto ele falava distraído olhando para o suposto tubo de ar por onde deveríamos entrar, eu passei o cartão na porta e, quando ela destrancou, entrei na sala.
Quando os dois guardas que estavam sentados se viraram para ver quem era, eu atirei no peito de cada um. Ouvi um disparo rouco no meu ouvido, me fazendo encolher os ombros com o susto. Atrás de mim estava Carter e ele havia atirado em um guarda que estava no meu ponto cego, na lateral da sala.
— Onde conseguiu a arma? — perguntei confusa e ele me olhou furioso.
— Com um dos caras que você deixou morto na porta do nosso quarto, mas isso não importa — ele balançou a cabeça e guardou o revólver – O que deu em você pra entrar desse jeito? Podia ter morrido!
— Mas não morri e estávamos ficando sem tempo — disse o óbvio e puxei o homem da cadeira, o jogando no chão, para que eu pudesse me sentar na frente do painel.
— Olha pra mim — ele pediu — Baker, olha pra mim — Carter girou a minha cadeira, me fazendo lhe encarar forçadamente. Ele apoiou a mão no encosto da cadeira, inclinando o corpo e o rosto na minha direção — O que aconteceu?
— Nada. Eu entrei, atirei e ia prosseguir com a missão se você não tentasse me parar a cada cinco segundos. — dei de ombros.
— Você sabe do que eu tô falando: eu quero saber o que aconteceu com você. Quando deixou esse lugar, você tava esperançosa. E agora você tá...— tentou encontrar a palavra.
— Quebrada — completei por ele.
— Diferente — me corrigiu.
— Você sabe o que aconteceu, Carter. Sabe que eu comi o pão que o diabo amassou por causa dessa gente. Então não vem com essa conversinha de que não me reconhece mais, porque se fosse a sua família que estivesse morta eu queria ver se você não estaria com sede de vingança! — O confrontei.
— Você não quer vingança, Baker. Você quer morrer. E quer queimar todo esse lugar junto com você. E eu percebi isso só nos cinco minutos que passamos juntos. Quanto tempo ele levou pra perceber? E se percebeu, por que não fez nada pra te ajudar? Que tipo de amor é esse que fica de braços cruzados te vendo morrer por dentro? — me confrontou de volta e eu acabei cedendo a provocação sobre o Aiken, me colocando de pé e quase que colando nossos corpos.
Eu sabia que Carter estava falando dele não por ciúmes, mas por preocupação. Quando éramos uma equipe, antes disso tudo, sempre cuidavamos um do outro. Não é atoa que Margot se preocupou no momento em que pôs seus olhos em mim. Carter achava que Aiken não fazia o mesmo por mim, mas ele fazia sim. A grande questão é que não existe ajuda pra quem não quer ser ajudado.
— Não se atreva a falar dele! Você não estava lá! E se quer tanto culpar alguém por eu estar na merda, então culpe a droga do seu pai! — lhe apontei o dedo e ele recuou um passo.
— Você não sabe se o meu pai tem alguma coisa a ver com isso — saiu na defensiva.
— É claro que eu sei! Até parece que todo o nosso Conselho iria conseguir sobreviver a um ataque do Distrito por pura sorte. Se eles não tivessem culpa e tivessem mesmo sobrevivido por conta própria, eles estariam vagando pelas ruas ou pela floresta. Mas nenhum vigia da Resistência ou guerreiro das Sete Tribos encontrou eles. E quer saber o porquê? Porque eles estão aqui. E você custa a querer acreditar nisso porque sabe que seu pai vendeu a nossa alma pra ter um pedaço desse inferno! — cuspi as verdades e ele se calou, sentindo o peso das minhas acusações.
Então eu senti uma tontura repentina me atingir e eu caí sentada na cadeira, fazendo Carter mudar todo seu rosto de raivoso para preocupado em questão de segundos.
— O que foi? Você tá bem? — colocou a mão na minha testa — Tá ardendo em febre.
Virei o meu rosto, me livrando do seu toque. Eu estava zonza, mas ele não precisava saber disso.
— Será que podemos voltar ao que deveríamos estar fazendo ou você ainda tem mais alguma coisa pra me acusar? — O olhei nos olhos e ele negou com a cabeça — Ótimo. — me virei para o painel de controle — Vamos acabar logo com isso.
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Eu vendo a Ninka e o Carter discutindo na primeira oportunidade que tiveram de ser ver depois de semanas:::
Tá, mas OQ FALAR DESSE FINAL QUE JA TA CHEGANDO E EU TO SOFRENDO???? nossa sério, tô com um gás pra escrever, mas tô com uma dó! Vou sentir muita falta dos meus recrutas. O final tá previsto pra ser dividido em 3 partes (VAO SER CAPITULOS ENORMES) + um extra q vai ser bem cena pós crédito.
Vocês perceberam que tem alguma coisa errada com um dos personagens? 🤫