SIXTY NINE | YOU'RE NOT ALONE

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Olga estava certa, como sempre.

O dia amanheceu agitado, e digo isso porque fui acordada por dois brutamontes que nem esperaram eu me arrumar e praticamente me carregaram nos braços até a tenda da chefe deles, que me aguardava deitada em repouso (como eu deveria estar!).

— Bom dia pra você também — resmunguei debochada enquanto sentava em uma poltrona, recoberta pela pele de algum animal, que havia sido posicionada especialmente para mim.

— Perdoe os meus modos, mas, se certa escrava não tivesse me deixado debilitada, seria eu quem iria até os seus aposentos e não o contrário — Wakanda respondeu no mesmo tom de deboche.

Arqueei uma sobrancelha.

— Primeiro, eu não sou mais sua escrava — pontuei com o dedo indicador levantado — e, segundo, não tenho culpa se sou melhor do que você dentro da arena — me glorifiquei, fazendo a mulher rir.

Sorri também, repousando minhas costas no encosto da poltrona.

Wakanda estava bem mais ferrada do que eu, e digo isso porque sua pele negra estava pálida e o seu rosto carregava uma expressão abatida. Seus ombros enfaixados não me permitiam analisar os seus ferimentos, mas, pela forma como ela fazia pequenas expressões de dor só em falar, eu concluí que deveria estar tão horrível quanto aparentava estar.

— O que você quer, Filha de Adão? — Ela perguntou sobre o nosso acordo dentro da arena enquanto uma serva a servia um copo de alguma coisa.

— Quero que os seus homens lutem a minha luta — eu disse e ela semicerrou os olhos.

— A sua fuga custou metade de minha aldeia, não creio que tenho homens o suficiente para seja lá qual for a sua luta — recusou a minha "oferta".

A sua serva veio até mim e me serviu um copo da mesma bebida.

— Wakanda, eu não sou a idiota que você pensa que eu sou — comecei e cheirei a bebida que me fez fazer uma careta pelo odor forte de álcool — Eu passei tempo o suficiente aqui dentro para aprender sobre você e o seu povo, e é por isso que eu sei que você é chamada de Chefe das Sete Tribos porque existem sete aldeias diferentes — disse o que sabia e beberiquei o líquido transparente e pegajoso que desceu como uma gosma ardente.

— E o que você sugere?

Me levantei com o apoio de um pedaço de madeira, deixando o copo de lado.

— Convoque os seus representantes e os diga que a garota para quem você deve a sua vida precisa de um exército — me obriguei a andar sem fraquejar até a cortina que servia como porta da tenda, olhei para a mulher uma última vez — Você tem até o anoitecer — dado o aviso, me retirei.

Assim que pisei do lado de fora, meu tronco doeu e eu pisei em falso, e até cairia, se não fosse pelos braços de Aiken.

— Te peguei — ele disse ao me segurar e me colocar nos braços.

— Sempre na hora certa — elogiei o loiro que sorriu.

— Já perdi as contas de quantas você tá me devendo — se referiu às vezes que me ajudou.

Revirei os olhos.

— E eu pensando que estava sendo cavaleiro — debochei.

— Te carregar nos braços não me faz parecer príncipe encantado o suficiente? — brincou e eu soquei o seu peito.

— Só não desço daqui pra chutar a sua bunda porque tô machucada — garanti, fazendo Aiken gargalhar.

— Fiquei preocupado quando acordei e não vi você ou a Olga — confidenciou enquanto entrava na cabana da senhora vidente.

— Fui praticamente arrastada até a tenda de Wakanda, não tinha como ter te avisado e, pra falar a verdade, eu também não vi a Olga quando acordei — contei enquanto ele me colocava sentada na cama em que eu dormi outrora.

Então, quase como se soubesse que estávamos falando dela, Olga entrou na sua cabana logo depois.

— Eu estava falando com eles — respondeu a pergunta que não havíamos feito para ela — A guerra será sangrenta, vocês precisarão de toda proteção possível. E armaduras não serão o suficiente. — comentou como se aquela informação não fosse nada demais — E passei nos curandeiros para pegar algumas ervas que ajudarão na sua cicatrização — me avisou — Irei preparar o almoço.

Então a mulher sumiu por dentro de casa, fazendo Aiken sentar ao meu lado com a testa franzida.

— Ela é sempre assim?

Assenti.

— Ela me disse uma coisa ontem e...— olhei para ele — Eu não sei se tô pronta pra isso, Aiken. É muita coisa, muita responsabilidade. Eu não quero ter todo esse sangue nas minhas mãos. Eu não quero que as pessoas morram por mim.

— Ei, ei, ei, ei, ei! — ele me fez parar de falar e segurou o meu rosto com as mãos, me fazendo suspirar — Ninka, você não tá sozinha nessa. Essa não é só a sua luta e é isso o que você precisa entender. As coisas precisavam mudar há muito tempo e ninguém, nunca, teve a sua coragem e a sua força de vontade pra fazer acontecer. É por isso que as pessoas vão entrar nessa com você, porque você representa o que elas sempre tiveram: fé. Fé de que poderão fazer as coisas melhorarem. Fé de uma cura para uma doença que vem nos matando há décadas. Fé de que pode sim existir uma vida melhor. Se algum sangue escorrer, não vai ser só por você, vai ser pela causa por qual todos nós estamos lutando. Juntos.

Mordi meu lábio, segurando as lágrimas e assenti.

— Obrigada — sussurrei e ele me abraçou.

— Você não tá sozinha — reafirmou para que eu entendesse.

Mas o que Aiken não sabia era que esse era o meu maior medo: se eu não estava sozinha, então eu não seria a única a morrer.

E isso estava acabando comigo.

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Vocês se fingindo de chocados quando eu apareço com desculpas por não ter postado o capítulo no dia que era pra postar KAKAKKAKAKAKAKAK

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Vocês se fingindo de chocados quando eu apareço com desculpas por não ter postado o capítulo no dia que era pra postar KAKAKKAKAKAKAKAK

Aí gente, perdoa. Juro que não faço por mal!

Agora me contem: o que acharam do capítulo? quem vocês acham que vai morrer na invasão à capital? quero apostas, quem acertar eu indico uma música/série diferente.

Ninka Baker e Os RecrutasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora