Knight's Selection

Da MyLightNovel

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KNIGHT'S SELECTION História por Haru Kiyatake Ilustrações por Rafael de Souza Revisão por Kyn Distribuição:... Altro

A Assistente e o Cavaleiro
Voltando às Aulas
Fazendo novos amigos (ou pelo menos tentando)
O mundo aos olhos da Rosa
A Caçada
A Ideia
A Chegada
No passado
Continue Correndo
O Novo Integrante
Em Apuros
Cavaleiro vs Nevoeiro
A Fuga
A Rendição
Continuando o Contra-Ataque

O Emissário

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Da MyLightNovel

          — Huuuum... Que estranho. Por alguma razão, parece que ele não quis ativar o seu gene ainda. Será que conseguiu me pressentir, ou agiu assim apenas por capricho próprio?

          Íris escutava aquela voz feminina ecoando na escuridão. A cabeça, apoiada na cama de hospital, se mexia para os lados, tentando desviar do clarão de luz fluorescente no teto.

          Com um salto, ela abriu os olhos e acordou. Estava vestida num avental verde quadriculado e havia um médico e uma enfermeira idosa examinando um paciente na cama do lado.

          — Doutor, a garota acordou! — anunciou a enfermeira, se aproximando. — Calma, querida, calma. Vai ficar tudo bem agora.

          — O que houve com a minha casa? Onde está a minha mãe?

          O rosto da enfermeira se desmanchou. Um tanto calado, o médico se aproximou dela, segurando uma prancheta.

          — Sua mãe está viva, Íris. Mas, infelizmente, ela se encontra num estado grave de embolia pulmonar e, em decorrência disso, teve um AVC durante o incêndio na sua residência. Não corre risco de vida, mas sinto dizer que ela está em coma.

          — N-Não! Não pode ser! Ela estava ótima ainda hoje, só estava com a mesma tosse de sempre. Não, não, isso não... A nossa casa... Eu não posso acreditar nisso tudo...

          Ela não queria ter de se lamentar, mas deitou-se, abraçou o travesseiro e voltou a chorar. A enfermeira, comovida, alisava-lhe o cabelo.

          — Sinto muito, querida, fizemos tudo o que podíamos. Mas não fique triste, veja: seus amigos deixaram algumas flores e uma carta para você.

          Ela se virou de lado e viu a bandeja de metal com as rosas. Eram, sem dúvida, suas flores favoritas, pois sua boneca favorita era chamada de Rose. Mas nem mesmo isso a animou. No cartão, estava escrito:

          Melhoras à nossa grande amiga Íris. Assinado, Natto e sua irmãzinha.

          Mas a palavra irmãzinha estava riscada. No lado, Ártemis havia escrito seu nome. Típico.

          Embora se sentisse confortada pelos amigos e pensasse ser estranho ter uma relação tão forte com pessoas que mal conhecia, aquilo foi o suficiente para fazê-la estancar os prantos.

          — Eles ficaram aqui por bastante tempo — disse a enfermeira, indo examinar outro paciente. — Você tem amigos maravilhosos. Me chame se precisar de algo, querida, e fique à vontade para caminhar. Tudo não passou de um susto e você já está ótima. Logo, provavelmente a polícia virá perguntar algumas coisas. Acho que nem eles sabem como você conseguiu sair.

          Aquilo pouca interessava Íris. Se havia um sentimento agora, preso em seu peito, maior do que a impotência ou a tristeza, era a raiva. A injustiça crescia conforme as vozes dos colegas, ou mesmo a da própria mãe, voltavam violentas como uma avalanche.

          Que patética. Menina feia e horrorosa.

          Não presta pra nada e não tem ninguém, nem nunca vai ter.

          Viti-chan, Viti-chan, Viti-chan, abre essa porta pra gente te examinar.

          O que ela está fazendo aqui? Será que não sabe que aqui não é lugar pra gente como ela?

          Doutora Vitiligo, comedora de bosta, sempre foi e sempre vai ser.

          Nojenta, fica longe de mim com essas manchas...

          Todos os pontapés no corredor, as vezes que a faziam beber água da privada, os momentos em que lhe jogavam comida da merenda na hora do almoço — comedora de bosta, sempre foi e sempre vai ser a Viti-chan —, quando grudavam chicletes em seu cabelo e, por isso, ela havia o cortado daquele jeito desde que era criança, as vezes em que tinha não só que se sentir um estorvo por conta das lesões cutâneas da doença, como também por causa da cinta da mamãe...

          E, por último, o vazio, que não queria acreditar que sentia, explodindo dentro do coração. Por causa dele, ela tinha de escapar para o mundo dos sonhos, mergulhar num mar ilusório onde havia finais felizes quando bem entendesse. Ninguém sabia o quanto ela mesma tinha vergonha de precisar escapar de modo tão covarde.

          Quando se sentiu sozinha de novo, presa num labirinto, voltou ao mundo real que a puxou de volta ao trazer a imagem dos colegas de classe incinerando seu lar.

          Ninguém me deixa em paz, nem mesmo na minha própria casa.

          Uma visão repentina a tirou do estado de transe: a silhueta de uma pessoa estacada na porta do quarto. O médico e a enfermeira ainda conversavam com o paciente na cama ao lado e não viram aquele ser estranho surgir. A figura usava um longo capuz verde e não deixava rosto ou partes do corpo aparecerem.

          Íris se levantou, descalça, pisando o chão gelado. Sem atrair atenção, abriu a porta lentamente e viu um corredor de hospital vazio. No fundo, apoiada numa janela aberta que revelava apenas a escuridão noturna, a figura parecia observá-la. Temerosa de se aproximar mais, ouviu a encapuzada dizer com a voz autoritária camuflada por um dispositivo eletrônico:

          — Não tenha medo, eu não vou machucá-la. Muito pelo contrário. Estou aqui para te fazer uma proposta.

          — P-Proposta? — perguntou Íris, esfregando os olhos, tentando descobrir se tudo não passava de uma ilusão. — Q-Quem é você?

          — Minha identidade não importa, meus atos vão falar por si próprios. Só preciso ouvir uma simples resposta sua: o quão disposta você está de causar o mesmo sofrimento a todos aqueles que já te pisotearam nessa vida?

          Íris não hesitou, mesmo surpresa.

          — Muito disposta — respondeu, fechando os punhos.

          — Então, está na hora de alguém dar o poder que lhe é garantido por lei. Se o Cavaleiro se recusa, então eu vou obrigá-lo.

          Um mini tubo de ensaio tilintou e deslizou pelo chão até os pés de Íris. Ela o pegou, viu que era um recipiente com sangue. Na etiqueta estava inscrito: "Elemento TN – células do primeiro portador".

          — E o que eu vou fazer com isso?

          — Confie em mim, amiga. Tocando esse sangue, você se tornará uma Arma viva e, finalmente, poderá se vingar daqueles que tanto a machucaram. E lembre-se de uma coisa: não podemos nos livrar do sofrimento. É como uma lei física. O sofrimento que deixa a vida de alguém sempre vai em direção a outra pessoa. Nosso dever é equalizá-lo, assim, evitando a maior das injustiças. O bem e o mal são apenas barreiras. E, agora, nós vamos nos livrar delas.

          A porta de trás se abriu naquele instante com um leve rangido. Quando Íris se virou, viu o rosto gentil da enfermeira emergir numa fresta.

          — Está tudo bem, querida?

          — Está sim — respondeu ela. — Só estava tomando um ar para me aliviar.

          E, de fato, ela se sentia muito aliviada.

* * *

          Quando chegamos e vimos a cama do hospital vazia, rapidamente saímos para procurar Íris. Para nossa surpresa, ela não tinha ido para casa. De acordo com a detetive Ray, ontem, um dos vizinhos viu um grupo de arruaceiros invadindo a casa dela, sendo muito possível que fossem os valentões que estavam incomodando na escola. Quer dizer, isso era bem óbvio, né? As marcas das pichações ainda ficaram incrustradas nas paredes da casa, mesmo em meio às manchas negras de queimadura.

          Como eles puderam fazer algo assim? Aliás, o que ganhariam com isso? Tá na cara que eles não esperavam algo dessa proporção, e chegava até dar pena do quanto eles estavam ferrados.

          Natto e eu tínhamos ido conversar com a enfermeira. Ela disse que Íris estava muito bem — até porque fugiu —, e, antes de desaparecer, havia ido visitar a mãe no andar de cima.

          Em outras palavras, ela ainda não sabia das novas notícias.

          — Tenho um mal pressentimento sobre isso — falei ao chefe quando saímos na rua em frente ao hospital.

          — Eu também, baixinha. Estou preocupado com ela.

          — Já olhou seu celular e viu se temos mensagens novas da Ray?

          — Bem, é que eu não sei mexer direito nessa coisa. Toma, vê se você consegue.

          Quem diria que o Cavaleiro pudesse ser tão caseiro a ponto de não entender um smartphone. Tudo bem, eu também nunca tinha tido um antes da Ray nos presentear, mas, pelo menos, eu não me atrapalhava com o tal do touch screen.

          — Vamos ver aqui... Parece que alguém viu uma garota com a descrição dela andando pelo Centro Comercial. Essa é a nossa deixa, chefe.

          — Boa, Ártemis! Como é bom ter você por perto.

          — Sim, sim, não precisa dizer que sou perfeita, linda e maravilhosa. Eu já sei de tudo isso, querido.

          Quando fomos em direção ao nosso Opala corroído, ouvimos um chamado.

          Uma mulher de cabelos loiros amarrados usando um par de óculos de fundo de garrafa apareceu para nos incomodar. Estava vestindo uma jaqueta de linho preta e uma saia com linhas brancas estampadas. Esse look não me era estranho... Por alguma razão, eu pensei tê-la visto em algum lugar do colégio. Aquele olhar determinado (e esquizofrênico também), a pele pálida, o jeito veloz de falar e, principalmente, a cicatriz curta em cima do olho esquerdo.

          Não havia dúvidas. Aquela era a mulher do jornal das seis. E eu odiava o jornal das seis.

          — Com licença, sou Irina Konstantin, jornalista em busca de informações sobre a garota com vitiligo que teve a residência incendiada ontem. Vocês dois são amigos dela, não são? O que têm a dizer sobre a suspeita de bullying sobre a menina Íris? Acham mesmo que foram seus colegas, estudantes do Colégio Santo Augusto, o maior e mais caro da cidade, que fizeram isso?

          De repente, um cameraman surgiu correndo de uma van parada na esquina. Mas... que merda estava acontecendo? Como diabos essa mulher sabia que nós conhecíamos a Íris? Embora eu tivesse ficado com uma cara de idiota, e o chefe boquiaberto, implorando para engolir uma mosca, ele resolveu ser o primeiro de nós a passar vergonha em rede nacional. Sinceramente, uma coisa dessas despencar sobre nós era pedir pra que descobrissem nosso segredinho.

          — Pois eu tenho algo a dizer a todos aqueles que fizeram mal a Íris. — Natto apontou para a câmera, nervoso, como se fosse normal agir daquele jeito. — Cedo ou tarde, vocês terão de prestar as contas.

          — Isso é uma ameaça? — perguntou a repórter, levantando uma sobrancelha. Chefe, o que você tá fazendo?

          — N-Não... Eu só quis dizer que quem cometeu o crime deve pedir perdão e jurar não fazer nada parecido nunca mais. Só isso. Pessoas se machucaram feio, então não é justo que essa impunidade continue.

          — E você acha que a justiça prevalecerá, num país onde as leis são consideradas fracas e os menores de idade infratores sempre escapam ilesos? Acha que seria possível alguém como a sua amiga, ou um familiar, tentar justiça com as próprias mãos, já que estamos falando da perda de um imóvel inteiro?

          — Claro que não. Tudo ficará dentro da lei para que ninguém mais se machuque. Isso eu posso garantir!

          — Pode mesmo, é? Você fala com muita convicção.

          — S-Sim...

          — Agora, só mais uma perguntinha rápida. — Ela nos deu um sorriso bem malicioso. Ah, meu deus, deixe a gente ir de uma vez, sua chata de galocha. — O que acha sobre o Vigilante Mascarado e sua parceira? Talvez seja ele quem vai garantir justiça para nós num futuro próximo, já que nossa legislação está cada vez mais enfraquecida. Qual é a sua opinião? Acha mesmo que os rumores estão certos de que ele é apenas um adolescente?

          — Adolescente, não. Vinte anos... Aaaaai! — Chefe, cala essa boca, senão, na próxima, não vai ser só um pisão. — Eu acho que ele deve ter vinte anos ou algo do tipo, foi isso que eu quis dizer, não posso falar com certeza por causa das imagens reveladas. E eles são, hã... com certeza uma esperança para nós nesse mundo caótico e desunido, onde prevalece a solidão.

          — Sei... — Irina, agora, ergueu as sobrancelhas de modo irônico. Aquela mulher sabia de alguma coisa. — Só pra terminarmos, uma última pergunta. Vou ser bem direta: por que vocês dois estão vestidos exatamente como os vigilantes? — Natto e eu arregalamos os olhos. Ah, qual é? Só porque tem duas pessoas de sobretudo branco andando juntas quer dizer que, automaticamente, elas são aquelas que você imagina ser? As imagens do banco eram todas borradas, não tinha como ninguém ter visto nosso uniforme, a não ser que... — Certamente, vocês dois são grandes fãs dos vigilantes, não são?

          — Ah, claro! — gritou o chefe, e dava pra ver que ele estava aliviado. — O Cavaleiro Mascarado e a Garota Elétrica são tão incríveis que nós já até estamos fazendo cosplay dos dois.

          Irina entreolhou o cameraman, depois, sorriu como se tivesse descoberto algo e fechou os olhos. Sua face franzida, a mesma que aparecia nas tragédias diárias do jornal, pareciam ser de alguma lunática que não se importava nem um pouco com o que estava fazendo, querendo só aquele furo de reportagem impossível que lhe traria toda a fama do mundo. Ô mulherzinha antipática.

          — Obrigada pela entrevista. Esperamos que a garota Íris obtenha justiça e que os culpados sejam logo responsabilizados. Irina Konstantin, falando diretamente do Hospital de Portoleste.

          Eu e o chefe saímos em direção ao centro, enquanto aquela repórter enxerida ficava nos encarando. Algo não me cheirava bem naquela mulher, mas isso pouco importava agora. Nós precisávamos ir atrás da nossa Arma antes que algo de ruim acontecesse a ela ou a qualquer outra pessoa. E, nesse quesito, ainda havia algo que me deixava muito intrigada.

          — Chefe. Afinal, por que você não quis ativar o gene dela ontem à noite?

          — Ora, essa é fácil — respondeu Natto, sorrindo. — A Íris precisa decidir. Não quero que ela acabe se tornando alguém que não é, mesmo que um dia tenha desejado isso. Esse nosso poder simplesmente muda tudo, Ártemis.

* * *

          Nem Ártemis, nem o Cavaleiro ouviram, mas, ao longe, perto da fachada do hospital, era possível escutar uma risada baixa, curta e sombria.

          — Te peguei...! Vamos ver como você vai reagir agora, Elemento TN.

~

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