A Colina Vermelha

By clairo92

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❝ Ambos sabíamos os rumos que deveríamos tomar antes de tudo começar, a dor em mim, não me afetou tanto como... More

PRÓLOGO
1. DECLÍNIO
3. TROCA DE OLHARES
4. ROMEU
5. CONFLITOS
6. CONTRASTE
7. DECODIFICAR
8. DESPERTAR

2. UTOPIA

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By clairo92

Eu havia pensando em milhares de formas diferentes. Formas diferentes de como eu enfim executaria o teste, nestas formas eu conseguia o papel principal feminino - Julieta Capuleto - e não acabaria de cara no chão.
Quando isso aconteceu foi tão rápido. Meus pés desequilibrando logo cai, a posição delicada que eu tentei executar e que por ironia já havia feito a tantas vezes que tinha se tornado hábito, era um passo tão suave. Tão sereno.
A adrenalina subiu a cabeça e voltei a vida real, pus as mãos na madeira firme arranhada e senti mechas das franjas de meu cabelo cobrirem os dois lados de meu rosto, a música parou pouco depois de eu cair o pianista interrompeu a melodia e o som da sala foi preenchido por um coro conjunto de preocupação. Fiquei caída com as pernas uma em cima da outra meu tornozelo doía, eu devo ter torcido ele.

Sua burra. Burra. Pensei comigo mesma, ficando brava por um segundo, sentindo o calor do momento subir a meu rosto e ele ficando vermelho.

- Senhorita? - Eu ouvi uma voz afetada dizer de longe, eu havia esquecido de prestar atenção no que os outros falavam, meu rosto ainda estava abaixado. Encarando o chão.

- Alguém deveria ver como ela tá. - Ouvi outra voz, não tive coragem de erguer o olhar, estava derrotada. - tão diminuída como um inseto.

Senti um aperto quente de contato em meus ombros, e desceu pelo meu braço esquerdo esticado como suporte no chão e me levantando para cima com certa delicadeza, quando tentei ficar em pé com a ajuda de alguém - que ainda não levantei os olhos para olhar - deixei meu tornozelo erguido no ar.

- Ela pode ter torcido o pé. - Era um voz feminina, ao meu lado.
Ergui o olhar, uma mulher me segurava e as outras garotas na sala se juntaram perante nós duas, de frente a mesa dos jurados.
- Você está bem? Ou cortou a língua na queda. - Foi uma pergunta retórica, encaminhada pela mulher velha que eu entreguei os papéis.

Encarei ela, as palavras recusaram a sair; meu estômago ficou frio. O homem sentado no meio na mesa, abanou a mão no ar. Exasperado ele disse:
- Ajudem ela a ir ao vestiário, vamos dar uma pausa.
- Que ultrajante... - Ouvi por final a mesma mulher dizer com sotaque londrino.

Mais braços me seguraram, os dançarinos que se uniram a me ajudar me levaram com cuidado, eu mancando em um pé só, mordi o lábio antes de dizer:
- Agradecida, eu posso...

Parei de falar quando vi ele, agora eu tinha novamente a atenção dele seus olhos claros como um dia ensolarado me olhando, os braços cruzados mas a expressão em seu rosto era de uma curiosidade cautelosa, fui levada até o vestiário me sentei com ajuda nos bancos sem encosto de madeira como os das escolas nos vestiários e muitas das pessoas se dispensaram dali, ficando um grupo cada vez menor de pessoas.

A garota que me segurou agora ajoelhada no chão retirando o laço de minha sapatilha ela tirou pedaço da meia e da faixa. Pude perceber que ela tinha sardas espalhadas no rosto, seu rosto era robusto e quadrado.
- Obrigada, eu não suporto pensar sobre isso.
- Tudo bem. - Ela respondeu tirando a faixa, olhei o vestiário; só restavam algumas pessoas que logo foram expulsas quando um homem de terno e elegante entrou na sala abanando com os braços as pessoas da sala.

Ele pôs as mãos na cintura e avaliou por cima do ombro da garota meu pé, ele fez uma expressão de empatia e ostentou as rugas da idade nos olhos e testa, após isso ele saiu da sala olhando para baixo mas logo ergueu o olhar.
- Foi tão ruim assim? - Perguntei.
- Não tá muito ruim, foi só uma torcida. Uma compressa e gelo pode resolver.
- Eu falo da apresentação.
- Oh. - Ela exclamou ainda olhando para baixo, e deixando com um movimento a sapatilha no chão e me encarou ao proferir. - Isso é incomum, não posso mentir não é sempre que isso acontece.
- Sempre? Você está aqui a quanto tempo? - Eu disse engasgada, recuperando a realidade.
- Dois anos, fui chamada para essa apresentação.

Eu quis perguntar mais coisas mas ela se pôs de pé, apoiando a mão no joelho e me olhou.
- O que eu faço agora? - Perguntei.
- Vá para casa, toma um banho quente, faz um chá... Sei lá. Eles vão dar a resposta.
- Eu não posso, sabe? Eu me arrisquei muito para esse teste. - Eu disse, olhando para ela e com as mãos nos assentos. - Algo me tirou o chão, eu não sei... Eu faço isso a tanto tempo que eu não costumo errar.

- Algo?
- Sim.
- Problemas em casa? - Ela disse abrindo um sorriso meigo.
- Não. - Confessei em voz rouca, pois havia mais pessoas ali logo ela viu para onde eu olhava e assentiu.
- A propósito, sou Debbie.
- Savie, prefiro meu nome assim também; apelidos. - Eu abri um sorriso e então fomos interrompidos por um homem que falou algo com Debbie e ela foi até o salão de testes abrindo a porta e vi a brecha de apresentação ali, deixando escapar o som melódico do piano.

O homem olhou para mim.
- Senhorita Hawley, gostaria que me acompanhasse, consegue andar? - Ele perguntou e eu neguei com a cabeça, ele me ajudou e eu me apertei em seus braços firmes.

Quando saímos pela porta, os olhares em mim foram quase nulos pois as bailarinas ali estavam novamente com a graça de um pássaro elas repetiam passos na barra encostadas na parede longe da atração da próxima pessoa, passamos despercebidos e olhei para trás procurando rostos que meu cérebro lembrava, procurei e não encontrei quem eu queria mas os olhos críticos da mulher que avaliava fez com que ferisse meu peito.
- Desculpe perguntar... - Eu disse mancando, e ele passou a mão em minha cintura me ajudando, tão profissional como um guarda real. - Mas quem gostaria de me ver?

- O Diretor da Academia, o Senhor Culbert. - Ele disse. - Digamos que ele ficou intrigado com a apresentação.

Meu estômago se revirou, senti uma pontada fria no estômago não podia ficar pior do que já estava, não podia piorar tudo. Quando passávamos pelos corredores, ele me ajudou subir as escadas de um piso tão requintado que eu não conhecia, tudo ali era tão elegante e sofisticado. Passamos pelo um corredor no segundo andar, de lá pude ver que dava abertura para o salão principal, em uma estreita abertura para o decorrer de portas fechadas no lado direito aonde as vidraças brilhavam a luz solar, e do outro o imenso e opressor palco principal aonde iria acontecer o espetáculo - que eu tanto sonhei e agora eu poderia estar jogando fora o início de minha carreira por uma droga de torção no tornozelo - e ele me levou até uma porta, quando o mesmo esticou a mão livre ( pois a outra me segurava no antebraço entrelaçado como apoio ) para tocar a maçaneta de vidro entalhado ela se abriu, sua mão parada no ar sem tocar a maçaneta que se virou e a porta se abriu. Era ele, o rosto jovem me olhou rápido e abaixou o olhar com pressa passando por nós, se espremeu entre o espaço de mim e a parede eu me afastei e ele passou sem olhar, com rapidez.
Olhamos para dentro.
O homem me levou para dentro da sala, e lá o Sr. Culbert que estava assentado elegante na mesa de mogno de escritório olhou para nós com a mão na cintura.
- Obrigado Carter, pode deixar a Senhorita Hawley na poltrona.

Ele me ajudou a sentar na poltrona, agradeci apenas com os lábios se abrindo com leveza para dizer um "obrigado".

- Bom, devo dizer que você me prendeu a atenção quando houve o acidente. - Ele disse com tamanha delicadeza e eufemismo. - A apresentação estava pacata, assim como de todas as outras garotas que iriam ser dispensadas e "bailarinas de fundo".

Ele se serviu de uma bebida ao contornar a sala, meu olhar seguiu ele para onde ele ia, e então ele prosseguiu.

- O espetáculo precisa de dançarinas assim, que não se destacam. Mas você é uma ave incomum não é? - Ele se virou para mim esperando que eu respondesse.

- Ah Senhor Culbert. - Dei uma pausa para formular uma frase decente, engasgada e em tom baixo disse. - Eu sinto muito que causei essa impressão eu...

Fui interrompida, ele agora não pareceu muito educado de fazer isso.
- Me chame de Lucius, somos bem íntimos devido ao fato de que...

Interrompi ele, touché.
- Com licença, Senhor... Lucius. - Dei uma pausa rápida. - Minhas chances de entrar para o papel são péssimas, eu posso...

Interrompida; novamente.

- Senhorita Hawley, à cinco minutos atrás o Senhor Hendeston de fato implorou para que o conselho lhe dasse outra oportunidade e com isso deliberar sobre o papel, estranho é pensar porque ele, com bastante... Influência, essa é a palavra. Se desse o trabalho de vir até minha sala e dizer isso, tem alguma ideia de como isso possa ser explicado?

Ele disse, com o tom educado - agora ao menos - e formal como quem falaria com a realeza, era de sufocar. Pisquei os olhos, perplexa.

- Hendeston? Nunca ouvi falar desse sobrenome ele. - A verdade veio a tona, me lembrei de ver o mesmo sujeito na sala de testes saindo dessa sala, fiz as contas rápidas e fiquei boquiaberta.

Lucius riu. Ele preencheu a sala e depois abafou com a mão nos lábios para tapar a tosse que veio conjunta da risada descontraída.

- É claro, é uma pena o que aconteceu. - ele prosseguiu em tom sério, limpando a garganta. - Iremos entrar em contato.
- Contato? - disse embasbacada.

Como isso podia estar acontecendo? Ele tinha certa demência de não ter visto que eu estatelei no chão em sua frente - e na frente de todos - fiquei sem palavras para prosseguir, eu pensava mais do que falava.

- Sim, claro. - Ele disse de forma cordial, indiferente.
- O que devo fazer agora?
Eu sussurrei mais para mim do que para ele, mas respondeu assim mesmo.
- Vá para casa Senhorita Hawley. - Ele engoliu a bebida e fechou os olhos fazendo marcas no canto do olho e alisou com a mão livre após por o copo na mesa ao lado da onde estava sentada acima dela, com as pernas esticadas em posição de sossego. - Você é memorável.

Memorável, sei. Eu pensei de forma irônica e quase revirei os olhos se não tivesse segurado a emoção por um triz.

******

O restante do dia passou corrido, o Senhor Culbert pediu um táxi e eu aceitei de bom grado evitando o máximo de esforço público, não iria aceitar cair na calçada porquê estava com o pé torcido.
Beber chá uma ova.
Me sentei na cadeira branca desbotada da mesa da cozinha e apoiei meu pé - agora com uma compressa fria em cima do tornozelo - e tentei focar no final do livro de Shakespeare, Romeu e Julieta. Clichê. Mas necessário para a apresentação, mas não parava de pensar e tive tantos pensamentos que depois de um tempo não consegui mais ler o livro, deixei ele de lado e recostei minhas omoplatas na superfície dura e implacável da cadeira.

Porque ele se deu ao trabalho de ajudar você. A voz de Lucius ecoou.

Tentei achar uma solução cabível, agora ao menos eu sabia o nome dele, Hendeston. O sobrenome na verdade.
Repensei no fim catastrófico que tive e quando pensei nisso meu pé latejou e eu fiz uma careta de dor em resposta.
Depois disso vi que minha irmã havia me ligado três vezes, outra careta dolorosa. Liguei para ela e então esperei chamar um pouco até que enfim ela atender o telefone, a voz parecia contente e brava ao mesmo tempo; que paradoxo.
- Ah, eu disse que estava ocupada essa manhã. - Comecei.

E ela me mandou uma enxurrada de perguntas e eu respondi todas evitando falar do assunto de meu teste até que ela perguntou:
- E como foi o teste?
- Bom.
- Bom? - Ela não pareceu convicta.
- Eles disseram que eu sou memorável e me disse que entraria em contato.

Ela demorou um tempo, digerindo essa questão.

- Savie... Você sabe que pode me contar tudo né? Eu posso te ajudar se estiver precisando de dinheiro. Eu e Jim temos uma boa poupança, mas estamos tentando poupar por causa que ele quer um bebê, dá para acreditar? - E ela tagarelou sobre a vida sem graça dela, dei murmúrios falsos de exasperação nos momentos certos e perguntava sobre para que ela continuasse falando.

- Lori? - Eu perguntei tentando manter o som da voz normal. - Sabe aquela manta velha azul?

Ela deu uma pausa, quando eu perguntei tendo pensamentos nostálgicos.

- A do papai? - Ela disse. - Está em uma caixa que mandei pro seu apartamento, acho que está escrito Roupas. Mas porque perguntou isso assim, do nada?
- Não, nada. Obrigada.

Desliguei o telefone e o larguei emcima da mesa.

Comecei a me levantar da cadeira e meu pé acima da cadeira derrubou as compresas no chão, eu disse uma dúzia de palavrões tão baixos como murmúrios e deixei a perna no ar, apoiando meu peso em uma perna só e evitando pisar com meu pé torcido. E liguei o interruptor da sala que dava para a porta principal e desbotada casa, a sala era vazia com uma pequena mesa de canto velha, e umas meia dúzia de caixas que Lori organizou para mim de meu antigo quarto no alojamento e que ela tirou alguns móveis antigos de nossa antiga casa e mandou, achei a caixa escrito roupas e me sentei no chão, ao lado da caixa de papelão grande. Puxei a silver tape, que levou metade de partículas de papelão junto. Abri a caixa e tirei montes de roupas bem dobradas, suéteres, calças de moleton, pijamas e outras coisas. Por fim, achei a peça indispensável e quase apagada de uma manta velha e desbotada de lã, feita a mão. Abracei o tecido, ainda sentada na superfície dura do piso de madeira velha, e enfiei o nariz pela brecha confortável do tecido.

Caída em pedaços destroçados no chão, fixei em pensamentos positivos; eles iriam entrar em contatos e quando meus pensamentos se tornaram brandos, eu sonhei naquela noite. Repassando tudo que aconteceu e pensando confusa sobre ele. Adormeci no chão, abraçada a manta.

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