Kismet [concluída]

By laur_xxvii

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Tímida e romântica, Camila tem uma queda pela introspectiva Lauren desde o primeiro ano na SOAP, uma escola a... More

I - Kismet
II - Real Friends
III - Oh My God
IV - Everlasting Love
V - Eres Tú
VI - Like Friends
VII - Into It
VIII - Sledgehammer
IX - Reflection
X - Inside Out
XI - Must Be Love
XII - Beautiful
XIII - Write on Me
XIV - Dope
XV - Freedom
XVI - Inside
XVII - Never Be The Same
XVIII - Consequences
XIX - Love Incredible
XX - No Way
XXI - More Than That
XXII - In The Dark
XXIII - Down
XXIV - All Night
XXV - I Have Questions
XXVI - Something's Gotta Give
XXVIII - Scar Tissue
XXIX - A Thousand Years
XXX - Expectations
XXXI - Back To Me
XXXII - 1000 Hands
XXXIII - Kismet - Fim

XXVII - Miss Movin' On

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By laur_xxvii

Um mês se passou. Lauren nunca mais me ligou. Essa ferida aberta, sangrenta - uma ferida que causei a mim mesma - ainda me dilacera. Tenho que me convencer o tempo todo de que tomei a decisão certa, de que terminar com ela foi o certo a se fazer, porque está claro que Lauren finalmente se deu conta da verdade, do que sempre tememos, de que o que existia entre a gente não era amor, e sim conveniência.

Ela seguiu em frente.

Queria poder fazer o mesmo. Estou agarrada ao que resta do meu ser.

À noite, fico deitada na cama, fingindo que o corpo dela está sobre o meu. Fecho os olhos e imagino seus braços me envolvendo, me abraçando forte. Na sala de aula, minha cabeça voa, e me imagino colocando um cadeado na Pont de l'Archevêché, que fica perto da Catedral de Notre-Dame. Os casais escrevem a inicial dos seus nomes em cadeados e os prendem no gradil da ponte como uma declaração de amor. Anseio por esse tipo de relação inquebrável e permanente.

Depois do ano-novo, meu pai e eu fomos de trem a Dartmouth. Eu não queria ir, porque, mesmo se fosse aceita, o que eu faria lá? Mas meu pai queria que eu conhecesse o lugar. Ele ficou empolgado por eu ter tentado uma universidade que ninguém esperava.

O lugar todo está coberto por uma camada espessa e imaculada de neve. Meu pai agendou uma entrevista para mim, e uma mulher muito animada na recepção me mostrou os panfletos com fotos do campus tanto na primavera quanto no outono, o que o fez parecer ainda mais bonito. Ela ficou impressionada com meu histórico escolar e me assegurou de que muitos dos alunos não sabem o que querem cursar quando chegam à universidade. Saí da entrevista esperançosa, entusiasmada e me sentindo viva.

Em algum momento no caminho de volta para casa, no trem, voltei a me desanimar. Dartmouth é um futuro que eu poderia ter, mas que perdi. Não é mais meu. Além disso, meu desejo secreto e terrível se concretizou: uma das universidades me rejeitou, e fui eu quem fiz a escolha. Vou ficar em Paris e cursar a Sorbonne. Talvez, algum dia, eu encontre alguém que me faça esquecer Lauren. Talvez eu me case com esse alguém. Talvez eu more na França para sempre.

Mas algumas coisas mudaram.

O comentário de Shawn sobre "ser um tapa-buraco" voltou para me assombrar. Fui substituída. Durante o tempo que passei na detenção, ele começou a conversar com dois caras do segundo ano, Harry Styles e o melhor amigo de Harry, Louis. Shawn tinha ouvido os dois conversarem sobre túneis e descobriu que eram obcecados pelo assunto, assim como ele. No semestre passado, Shawn comentou alguma coisa sobre os dois, mas eu estava tão preocupada com meus problemas que não percebi que ele estava se tornando amigo deles. Os três se falaram durante as férias de inverno e agora a amizade entre eles é uma realidade.

Eu, Shawn, Harry e Louis estamos sentados juntos no refeitório.

Shawn deve ter se sentido assim quando Lauren se juntou a nós. Harry e Louis não estão me ignorando nem nada, assim como Laur nunca ignorou Shawn, mas os dois não estão em nossa mesa porque gostam de mim, muito embora Harry pareça gostar de mim, o que é bem constrangedor.

Não consigo deixar de pensar que Shawn está se afastando de mim de propósito. E não só porque se cansou de ficar na minha cola, mas também porque Lauren fez a mesma coisa quando estava no terceiro ano e os amigos dela estavam se formando. Ela se afastou dos amigos. Shawn sempre vai ser meu melhor amigo, sempre, mas as coisas mudaram. Pela primeira vez em todaa minha vida, Shawn deixou de ser a pessoa mais importante para mim. É difícil admitir isso. E deve ter sido difícil para Shawn também.

Mesmo assim... ele segue em frente, progredindo. O que só deixou ainda mais claro que era por minha causa que não tínhamos outros amigos. O problema não era com Shawn. Eu era o peso. Quando me ausentei, Shawn encontrou outras pessoas, mas eu continuo sozinha. Como as pessoas fazem amizade? Como é que isso acontece?

Não consigo parar de pensar no risco. Eu me arrisquei quando fui à Kismet e me arrisquei mais uma vez quando liguei para o celular de Brian. Nenhuma das duas tentativas deu certo. Levo o mês de janeiro inteiro para criar coragem e me arriscar de novo. Embora Lauren não seja mais uma opção, ainda preciso bater de frente com alguns problemas - a falta de amigos e de coragem no dia a dia.

Acontece em uma noite no refeitório. Há uma pausa na conversa entre Shawn e os amigos, o que é raro, e eu falo antes que perca a coragem.

- Angoulême é nesse fim de semana agora. Estão a fim de ir comigo?

Angoulême é uma cidade que fica a três horas de Paris de trem, mas também é o nome de um dos maiores eventos de quadrinhos da Europa. Pôsteres com um gato preto e branco, mascote do festival, estão espalhados por todos os lugares que não estão ocupados pelos cartazes dos Jogos Olímpicos de Inverno. O mascote é um símbolo de tudo o que perdi. Se Lauren ainda estivesse aqui - e se nós ainda estivéssemos juntas -, tiraríamos o dia para viajar até lá, sem pensar duas vezes. Preciso provar para mim mesma que posso ir sem ela. Já vi Harry e Louis lendo HQs, então com certeza eles vão gostar da ideia.

- Achei que você tivesse parado com essa de sair da cidade sem permissão - comenta Shawn.

- É só uma tarde. O colégio nunca vai saber - explico.

Harry se ajeita na cadeira; parece animado. Ele é alto e enérgico, parece que foi ligado na tomada. Sempre fala meio sussurrando, mas sempre com entusiasmo.

- Parece legal. Vamos, gente! Acho que devemos ir, sim.

Louis abre seu sorriso de orelha a orelha.

- Estou aqui me perguntando por que você quer tanto ir.

- É porque ele quer transar com você, Camila - afirma Sahwn.

- Shawn!

Fico estarrecida.

- É, Shawn - concorda Louis, revirando os olhos. - Eu sei.

- Ah.

Shawn murcha na cadeira. Os três podem até ser amigos, mas ainda não sacaram o ritmo um do outro. Mas logo depois, ele recupera o ânimo, porque ainda tem uma informação preciosa nas mãos:

- Não vai rolar. Ela ainda está ligada na Lauren.

- Shawn! Eu estou sentada aqui, se você não percebeu!

Olho para Harry sem graça, tentando de alguma forma me desculpar, mas ele está olhando fixamente para a bandeja de comida. Dá para notar o quanto está envergonhado.

É um saco quando estamos a fim de alguém. Não sei se é pior para quem está a fim de uma pessoa ou se para a pessoa em questão. Considerando os anos que passei apaixonada por Laur sem ser correspondida, com certeza é muito pior para quem está a fim.

Pobre Harry. Pobre de mim.

- De qualquer forma, não faz diferença - afirma Louis.

Ele fala com um tom de autoridade que contrasta com seu cabelo desgrenhado e com topete.

- Sábado é o único dia em que o Liam pode nos levar ao subterrâneo.

- Quem é Liam? - pergunto.

Shawn corta uma batata assada com o garfo.

- Nosso primeiro contato. Foi Louis quem o encontrou. Ele trabalha no museu de esgotos.

- Existe um museu de esgotos?

Olhando pelo lado positivo, pelo menos ainda há coisas sobre Paris que preciso aprender, considerando que ainda vou ficar por aqui por mais um tempo. Se Shawn continuar interessado nessas coisas, imagino que um dia vou estar me rastejando pelos túneis também. Não me parece tão ruim assim. Um lugar sujo e apertado. Mas seria uma aventura. Eu acho.

- Sim, claro - responde Shawn, como se todas as cidades tivessem museus de esgotos. - Por que não vem com a gente visitá-lo nesse fim de semana?

Penso no escoamento, na lama e na escuridão. E depois penso no trem, no campo aberto e numa cidade pacata cheia de quadrinhos.

É. Vou deixar para fazer amigos um outro dia.

À noite, encontro uma carta esperando por mim. Encaro a caixinha do correio, com medo de pegar o envelope. Quero que seja dela. Quero muito que essa carta seja dela.

Meu braço treme enquanto o enfio lá no fundo e puxo o envelope. Não foi Lauren quem enviou a carta.

O golpe é mais duro do que nunca. Não estou nem perto de esquecer Lauren. Nem um centímetro, nem um milímetro sequer. As pessoas dizem que a única coisa que cura dor de amor é o tempo. Mas quanto tempo isso vai levar?

Vejo o endereço do remetente e sinto como se uma corrente elétrica percorresse meu corpo de novo. Rasgo o envelope, ali mesmo no corredor, e puxo a carta. Minha cabeça gira.Leio a primeira frase mais de uma vez, mas as palavras não mudam. Volto a sentir um aperto no peito, mas dessa vez é diferente.

Em nome do corpo docente e de seus funcionários, temos o prazer de informar que você foi admitida na Universidade de Dartmouth.

[...]

As ruas de Angoulême estão repletas de bexigas vermelhas e lotadas de leitores entusiasmados. Mas a empolgação deles não é capaz de fazer a chuva parar. Por que sempre chove quando viajo? Dessa vez, não espero para comprar um guarda-chuva. Não sei onde foi parar o último que comprei em Barcelona. Deve ter ficado com Lauren. Ou talvez a gente o tenha deixado no parque. Guarda-chuvas são tão pequenos, tristes e fáceis de esquecer.

Caminho pela cidade, pelo local onde o festival acontece e pelo museu de quadrinhos. Aqui, esses eventos não são tão badalados como nos Estados Unidos - e quase ninguém se fantasia -, mas as pessoas estão bem mais animadas do que o habitual. Tento me contagiar com o entusiasmo deles e isso vez ou outra funciona. Como quando eu descubro por acaso o trabalho de uma nova cartunista (pelo menos para mim), que escreve sobre sua vida dividida entre a China e os Estados Unidos. Só depois de comprar dois livros dela é que percebo o quanto Lauren gostaria de lê-los também. E o fato de não poder dividir isso com ela me deixa mal novamente.

Para piorar, me deparo com um display enorme apenas com títulos do Joann Sfar. Para piorar ainda mais, percebo que Joann Sfar está em carne e osso no evento. Minha vontade é pedir que ele autografe um livro para Lauren, mas fico na minha. Eu me sinto egoísta fazendo isso, então volto atrás, e me convenço de que pelo menos terei algo autografado por Joann Sfar. Nada personalizado. Se algum dia eu encontrar Lauren de novo, posso dar o livro autografado de presente. No entanto, assim que Sfar pergunta para quem é o livro, deixo escapar "Para Lauren, por favor", e, antes que eu corrija meu erro, o nome do minha ex-namorada - pelo menos consigo pronunciar essa palavra agora - já foi escrito à tinta na folha de rosto, ao lado da ilustração de uma rosa.

De volta a Paris, olhando os cartazes dos Jogos Olímpicos espalhados pela cidade, fico em dúvida quanto a ir ou não a Chambéry no mês que vem. Mas só de pensar em mais um trem lotado, mais uma cidade abarrotada de gente, mais um hotel superlotado... Ugh. Não.

Esta é minha reação a tudo nos últimos dias: Ugh. Não.

A cidade está mais fria do que nunca. Alguns dias depois do Angoulême, passo em uma lanchonete no Quartier Latin para me aquecer no calor das frites. Nos Estados Unidos chamamos de french fries, mas na verdade deveríamos chamar de belgian fries, porque foi lá que esse prato surgiu.

AimeuDeus. Não é à toa que não tenho amigos.

O lugar está vazio. Eu me sento no fundo, com o segundo volume da autobiografia da sino-americana que comprei na feira de quadrinhos. Não consegui parar de ler desde então. Boa parte da história é bem familiar, de uma forma deprimente e satisfatória.

A porta se abre com um tinido, e mais um cliente entra na lanchonete.

Ariana parece tão surpresa ao me ver quanto eu ao vê-la. Ela acena, sem graça, e eu aceno de volta. Ela também pediu uma porção de batatas fritas, e fico aliviada por não ter que decidir coisa alguma. É ela quem vai ter que resolver se vai embora ou se vai se sentar comigo. O restaurante é muito pequeno e nós não somos meras conhecidas para ela se sentar sozinha.

Ariana está hesitante. Receosa. Mesmo assim, vem falar comigo.

- Está congelando lá fora - comenta.

É estranho perceber como fico grata pela companhia dela.

- Está mesmo. Queria que começasse a nevar logo.

- Eu também. Não faz sentido todo esse frio sem a neve.

Um momento de silêncio perturbador, daqueles que sempre vêm depois de meia dúzia de palavras sobre o tempo e que são preenchidos por tudo que não se diz. Tento encontrar algum outro assunto neutro para dar continuidade à conversa, quando ela me pergunta:

- Como está a Lauren?

O sangue se esvai de meu rosto. Ariana não percebe nada, continua comendo suas batatas.

- Eu fiquei muito triste por você quando ela teve que sair do colégio.

Esse momento inesperado de compaixão me comove.

- Eu... eu não sei como ela está. Acho que deve estar bem. Nós terminamos há um mês.

- Terminaram?

Ela ergue a cabeça, chocada.

- Mas vocês dois eram perfeitas juntas.

Sinto o chão afundar.

- Você acha?

- Claro. E você sempre foi apaixonada por ela. Deve ter sido incrível quando vocês finalmente começaram a namorar.

O alívio que sinto por ser compreendida - verdadeiramente - é imenso. O vazio dentro de mim se transforma em uma torrente de emoções.

- Foi incrível. Maravilhoso. Foi... a melhor coisa que já me aconteceu.

Ariana inclina o corpo para a frente, e seus longos brincos dourados balançam.

- Mas o que aconteceu?

- Eu gostava dela. Amava. Mas não acredito que ela me amasse do mesmo jeito.

Os ombros dela despencam.

- Ela terminou com você.

- Não. Eu terminei com ela.

Ela faz uma expressão de tristeza.

- Ah. Putz.

- É... eu sei.

Ela parece confusa.

- Não entendo. Vocês duas eram tão grudadas. Eu via a maneira como ela olhava para você. Lauren nunca olhou para o Zayn daquele jeito.

Meu coração para.

- E co.... como eles eram? Como casal, digo.

Ela dá de ombros, e os brincos longos balançam de novo.

- Sei lá. Viviam brigando. Acho que os dois eram mais parecidos do que imaginavam, os dois teimosos e intransigentes. Meio que deram certo juntos por isso, mas o relacionamento deles jamais duraria muito. Não havia um equilíbrio.

Meu relacionamento com Lauren tinha equilíbrio. Não tinha?

Ariana faz uma careta e continua:

- Não que ele tenha me contado alguma coisa. Nunca. Mas, por estar de fora, a impressão que eu tinha era a de que alguém com a personalidade deles precisa de uma pessoa mais branda. Como você.

Não sei bem se gostei dessa palavra. Branda.

Ariana percebe minha expressão de dúvida e balança a cabeça, tentando se explicar:

- Não, não é branda de fraca. O que eu quis dizer é que... eles precisam de alguém que lhes dê espaço para desabrochar. Alguém que não tente mudar o que eles são. Que os apoie, mesmo quando fazem coisas idiotas, mas que esteja sempre pronto para trazê-los de volta à direção certa quando precisarem.

- E... você acha que essa pessoa sou eu?

- Está falando sério? Você é a pessoa mais paciente e tolerante que conheço.

Algo estranho está acontecendo. Algo dentro de mim, bem lá no fundo, sabe que Ariana está dizendo a verdade. Eu sou paciente e tolerante. Só não sou assim comigo mesma.

Ariana desvia o olhar, e olha para baixo, e sei que ela está pensando em Shawn e em como ela me pressionou por meses. E em como eu quis ser amiga dos dois, e ela me forçou a escolher apenas um. Vejo que ela está envergonhada por suas atitudes do passado.

Ariana pigarreia, tentando voltar ao presente.

- E por que acha que a Lauren não amava você?

- Eu me sentia meio que uma... distração. Ela não estava feliz aqui, entende?

- O celular é uma distração. A internet é uma distração. Mas o jeito como ela olhava para você? Não era de quem estava só se distraindo. Lauren ficava hipnotizad\ quando olhava para você.

Tenho a sensação de que Ariana só está sendo tão legal comigo porque quer tentar consertar a burrada que fez sem ter que dizer que está arrependida. Isso me parece um ato de covardia. Mas, por outro lado, ela parece acreditar no que está dizendo. É, ao mesmo tempo, meu maior medo e minha maior esperança. Será que, depois de todas as dúvidas e questionamentos, finalmente tenho certeza de que Lauren realmente me amou tanto quanto eu a amei? Há alguma possibilidade de ela ter visto em mim algo que eu mesma não consigo enxergar?

Será que sou digna de ser amada pela pessoa que amo?

Meu coração está acelerado.

- De qualquer modo... - digo, na defensiva, como se estivesse tentando arranjar uma desculpa para ter feito o que fiz, e acho que estou tentando mesmo. - Ela precisa começar a agir. Na última vez em que conversamos, Lauren ainda não sabia o que fazer em relação à escola. Falta só um semestre para ela terminar o ensino médio, e ela simplesmente fica enrolando para decidir. Não vai poder ir para a faculdade na Nova Inglaterra sem um diploma. Então, basicamente é isso. Ela não vai para lugar nenhum.

Ariana parece confusa.

- Nova Inglaterra?

Conto para ela sobre a faculdade que Lauren quer cursar e acabo contando todo o resto também.

- Pensei que estivesse me acostumando à ideia de ir para a Sorbonne, mas sei lá.

Quando eu estava com a Lauren, a ideia de ir para um lugar diferente me deixou animada. Pesquisei bastante, e a Dartmouth me pareceu bem legal, entende? Diferente. E, quando fui para lá há algumas semanas, foi até melhor do que eu pensava. Mas quando terminamos, Dartmouth voltou a ser o lugar dela de novo...

- Achei que tivesse me dito que ela não ia para lugar nenhum.

- Bom, eu não tenho muita certeza...

- E daí? Vai você para Dartmouth.

- Sim, mas e se ela pensar que estou indo para lá por causa dela?

- Você está?

- Não, mas...

- Então, vai para Dartmouth.

Arqueio as sobrancelhas, e Ariana me encara como se eu fosse uma imbecil.

- Não estou entendendo qual é o problema. Você conseguiu ser aceita na faculdade que queria. Então, vai - insiste ela.

Caraca. Ela está certa. Será que é tão simples assim?

Ariana cruza os braços, toda convencida. Ela sabe que me venceu com seu argumento.

- Lembro que você dizia que queria ser advogada. Continua querendo? Porque você é muito boa de retórica - comento.

Ela sorri.

- E quais outros problemas posso ajudá-la a resolver?

- Hum... Não sei. Minha irmã? Pode me ajudar a dar um jeito nela?

- Sofia, imagino?

- Ela é um horror.

Pego une frite e como.

- Um dia desses ela apareceu no meu quarto do nada sem ser convidada, é claro, e começou a revirar todas as minhas coisas. Pedi para ela parar, e ela jogou no chão uma pilha de livros que estava em cima da minha escrivaninha.

- Talvez ela só queira saber mais de você. Talvez ela não faça isso por mal.

Balanço a cabeça, discordando.

- Sofia nunca dá ponto sem nó. Ela fez isso para me irritar, e funcionou. Como sempre funciona.

Ariana levanta uma sobrancelha.

- Não sei. Tenho a impressão de que você trata sua irmã como uma criança, e ela reage da mesma forma, como uma criança.

Estou surpresa com a teoria de Ariana. Ou indignada.

Ela ergue as mãos para me acalmar.

- Tenho três irmãs mais velhas. E elas poderiam muito bem ser três mães. Tenho me esforçado bastante para não fazer isso como Liam.

Seguro meu pingente com uma das mãos.

- Tipo... o quê?

- Alguma vez você já convidou a Sofia para ir ao seu quarto? Aliás, alguma vez já a convidou para ir a algum lugar?

Há um momento longo e profundo de silêncio. Ariana desvendou o mistério.

- E a Sabrina? Alguma vez vocês saíram juntas, só as duas?

- Ela mora do outro lado do Atlântico. - Minha resposta sai mais ríspida do que o pretendido.

- Mas vocês se encontram, não? Nos feriados?

Penso em Sam em meu quarto no Dia de Ação de Graças. E depois, no Natal. É como se Ariana tivesse tirado a venda de meus olhos. É verdade. Sofia vem tentando me dizer isso há anos. Trato Sam como uma amiga, e Sofia, como uma criança.

Eu a trato como se ela fosse minha filha.

Sofia não é mais uma criança. Fui condescendente e nunca a vi nem a tratei de igual para igual. Ela precisa ver em mim uma confidente. Uma amiga. E então, uma luz inesperada se acende dentro de mim: mais do que nunca preciso dela.

- Você deveria pensar em fazer duas faculdades. Direito e psicologia - digo.

Ariana sorri, feliz por ter sido compreendida. Exatamente como eu.

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