Dias Vermelhos

Av erikasbat

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Em 1933, o mundo estava como o conhecemos hoje: politicamente dividido, flagelado por guerras e recuperando-s... Mer

Nota Introdutória
Epígrafe
Capítulo 1 - Na estação de Leningrado
Capítulo 2 - Pavel
Capítulo 3 - O outro Camarada Ióssif
Capítulo 4 - Jantar com os Solinin
Capítulo 5 - Jazz e Fumaça
Capítulo 6 - A caminho de Moscou
Capítulo 7 - Os Compatriotas
Capítulo 8 - Novos Recrutas
Capítulo 9 - A Escola Leninista Internacional
Capítulo 10 - Como mandar o antigo regime pelos ares
Capítulo 11 - Epístolas não passarão!
Capítulo 12 - Sempre cabe mais um na linha de montagem
Capítulo 13 - A canção da cripta
Capítulo 14 - Siglas Soviéticas
Capítulo 15 - O Dia da Revolução
Capítulo 16 - A festa do Komsomol
Capítulo 17 - Crítica e autocrítica
Capítulo 18 - O Mea Culpa
Capítulo 19 - O atrasado
Capítulo 20 - Ano Novo na Kommunalka
Capítulo 21 - Dedo no gatilho
Capítulo 22 - Favorecimento
Capítulo 23 - Sessão Plenária
Capítulo 24 - O artista
Capítulo 25 - Departamento de Fiscalização
Capítulo 26 - O Trio de Estilo Musical Indefinido
Capítulo 27 - Eliminatórias
Capítulo 28 - Noites Brancas
Capítulo 29 - Sobre Códigos e Café
Capítulo 30 - O Couro Cabeludo
Capítulo 31 - Leningrado versus Moscou
Capítulo 32 - Boatos
Capítulo 33 - Olhos Negros
Capítulo 34 - O padre providencial
Capítulo 35 - Efêmero Idílio
Capítulo 36 - A Longo Prazo
Capítulo 37 - A Curto Prazo
Capítulo 38 - O Nosso Vojd
Capítulo 39 - E agora, Maria?
Capítulo 40 - Foi no mês de dezembro
Interlúdio
Capítulo 41 - O Falso Casal
Capítulo 42 - Naturalização
Capítulo 43 - No Transatlântico
Capítulo 44 - Chapéu Azul
Capítulo 45 - Os Gruber
Capítulo 46 - Galinhas Verdes Fritos
Capítulo 47 - Tropa de Elite
Capítulo 48 - A Aliança Nacional Libertadora
Capítulo 49 - Tarde Explosiva
Capítulo 50 - Novas Nordestinas
Capítulo 51 - Provisório Permanente
Capítulo 52 - Remanejamento
Capítulo 53 - Camaradas ao Norte
Capítulo 54 - Viagem ao Centro da Caatinga
Capítulo 55 - Audiência Real
Capítulo 56 - Les Commères Miserables
Capítulo 57 - Em Cima das Palmeiras
Capítulo 58 - O Santo Revolucionário
Capítulo 59 - Pé-de-Valsa
Capítulo 60 - A Caravana
Capítulo 61 - O Manifesto do Caos
Capítulo 62 - O Império Contra-ataca
Capítulo 63 - Tudo que é sólido desmancha no ar
Capítulo 64 - Um Bando de Ícaros
Capítulo 65 - Deslize
Capítulo 66 - Intervenção Militar
Capítulo 67 - Nada elementar
Capítulo 68 - Tribunal do Caráter
Capítulo 69 - A Noiva de Frankenstein
Capítulo 70 - Nossa bandeira jamais será azul
Capítulo 71 - Entre beijos e tapas
Capítulo 73 - Riscando o fósforo
Capítulo 74 - O poder da caneta
Capítulo 75 - A ratoeira
Capítulo 76 - O baluarte ribeirinho
Capítulo 77 - Reestruturação
Capítulo 78 - Um bom motivo
Capítulo 79 - Fartura e fortuna
Capítulo 80 - Dor
Interlúdio II
Referências
Apêndice - Nomes Russos
Ceci n'est pas un CAPÍTULO
Aniversário de "Dias Vermelhos" + 10 curiosidades

Capítulo 72 - Ninguém passará

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Av erikasbat

— O sindicato decidiu nessa madrugada.

Quatro usou essa frase para conter o dilúvio de perguntas que despejamos sobre ele após o bombástico anúncio da greve. Ela respondia apenas uma dentre zilhares de indagações, mas já era um começo.

— Disseram que o Ministério do Trabalho está embaçando, e se a gente não fizer pressão, talvez nem saia aumento esse ano.

— Os preços ninguém esquece de aumentar, né — deixei escapar, lembrando-me indignada da minha última ida à quitanda.

— Pois é. E é naquele esquema, ainda: eles sobem agora, na expectativa do aumento de salário, e sobem de novo quando aumentar pra valer.

— É sempre assim — Astrakhanov concordou, voltando à mesa e tomando o último gole da sua caneca. — Se o trabalhador não vai à luta, mais cedo ou mais tarde acaba morrendo de fome. Certo, Camarada — ele acrescentou para Quarto, limpando a boca com as costas da mão. — Vou só pegar o paletó e já partimos.

Ele desapareceu na porta para dentro de casa, e eu convidei Quatro para entrar e tomar uma xícara de café enquanto aguardava. Pensando em liberar-me logo para confeccionar cartazes e prestar outros auxílios ao movimento paredista, comecei a limpar os destroços da refeição matinal. No meio da atividade, porém, uma preocupação me assaltou, e eu larguei os pires e talheres, saindo no encalço do meu falso marido.

Encontrei-o já voltando para a cozinha, e estendi os braços para detê-lo no meio do corredor.

— Escuta... Você vai para o piquete mesmo? E como vai justificar para a chefia? Você nem recebe pelas mesmas regras que os operários.

— Estava pensando nisso agora mesmo — ele disse, coçando o queixo escanhoado. — Se a gente tivesse certeza que essa greve vai emendar com o levante... mas ele só está previsto para daqui a dois meses... duvido que ela dure até lá.

— Exatamente. Se você entrar de cabeça na greve, capaz de te botarem na rua, e ficamos sem justificativa para morar aqui. Essa justificativa é único motivo de você trabalhar lá, para começo de conversa.

— Eu poderia... procurar um emprego na Central, se a Great Western me demitir...

— Duvido que contratem um dirigente que participou de greve — descartei. — A Western não te contratou por seu currículo invejável e habilidades notáveis com trens, né? Não sei se na Central também temos algum contato com influência o bastante.

Astrakhanov suspirou, pateando o chão um pouco.

— Mas que saco ter que ficar entre aqueles almofadinhas britânicos na hora da ação — ele se queixou. — Deviam ter me feito alemão e mandado para o setor de reparação dos trilhos ou coisa parecida.

Roí as unhas um momento, buscando uma solução.

— Faz o seguinte. Segure as pontas enquanto eu peço orientação do QG. De repente é mais interessante para a causa nesse momento que você trabalhe na penetração do movimento entre o operariado. Se for o caso, podem nos arranjar outra colocação.

— Certo.

— Aproveita e descobre entre os patrões o que pretendem fazer para enfrentar a greve.

— Você me pedindo para fazer jogo duplo? — ele riu, com um sorriso de canto. Avermelhei.

— Não tem nada de jogo duplo aí. Você estará trabalhando para o proletariado. Que é o seu dever em muitos níveis — sibilei friamente. Astrakhanov soltou um risinho irônico.

— Tudo bem, é uma boa solução. Vou deixar Quatro de sobreaviso, para que os trabalhadores não desconfiem de mim.

Combinamos mais uma ou duas providências para o dia e Astrakhanov partiu. Decidindo que a louça podia esperar, rascunhei um telegrama criptografado e me apressei para o correio. Já na rua, notei a movimentação anormal em torno da agência. Um fluxo de pessoas, composto principalmente de homens atarefados, entrava e saía da lojinha normalmente vazia. Só o balconista magro e grisalho permanecia em sua placidez usual.

— Para o Norte não vai — ele gritou, num aviso para mim e para as outras duas pessoas que entraram junto.

— Por que não? — questionei, dirigindo-me ao balcão.

— Não soube, Dona Anita? Alguém cortou sete fios da rede no caminho para Macaíba. Também quebraram uns postes e uns isoladores, estragaram mais de dois quilômetros de linha — informou o funcionário. — Tem um pessoal lá tentando consertar, mas não se sabe quando é que vamos voltar a operar para aquele lado.

— Tem alguma coisa a ver com essa greve que acabou de eclodir? — perguntou outro dos clientes recém-chegados, com voz de locutor de rádio, repercutindo uma indagação que também me viera à mente. Cortar fio de telégrafo era típico trabalho diversionista, bem podia ter sido obra de algum dos nossos.

— É o que se diz à boca pequena... Mas a versão oficial é de que tudo está calmo e sob controle lá na Western. Mesmo que já tenham aparecido aqui uns dois assistentes esbaforidos com telegramas para a sede de Recife.

— A linha para Recife está funcionando, então? — perguntei.

— Perfeitamente. E para a capital também. É para o primo ou para a tia o telegrama de hoje, Dona Anita? — questionou o telegrafista, ajeitando os óculos e apanhando o meu bilhete para batê-lo, quando chegou minha vez na fila.

— Um para cada — falei, indicando no papel qual mensagem devia ser transmitida ao Rio, e qual aos vizinhos nordestinos.

— Grandes notícias na família, pelo jeito?

— Na verdade, grandes palpites — eu falei, já modelando uma desculpa para as modestas linhas de números que compunham os bilhetes, encimadas por enunciados irrelevantes. — Tive um sonho mirabolante, não dá para desperdiçar essas coisas.

— Estou pra ver família para jogar mais na loteria que a sua! — ele não conseguiu conter a exclamação. Eu ri amarelo, dispensando com um aceno os balbucios apologéticos do homem de meia-idade.

— Se sobra uma graninha no fim do mês, não custa investir para conseguir mais, né. Como dizem, dinheiro gera dinheiro.

Seu Gerônimo, o telegrafista, me olhou por cima dos óculos, e senti que ele ia redarguir, mas desistiu no meio do caminho e comentou apenas "Que bom que está sobrando, Dona Anita", terminando o trabalho em silêncio e me restituindo o rascunho e o troco.

Deixei a repartição com um nó na garganta e um pouco incomodada por ter saído da conversa com fama de burguesa esnobe, mas não tinha tempo para consertar a impressão. Ao lado do correio havia uma papelaria — isso sim é senso de oportunidade — onde comprei materiais para confeccionar cartazes, rumando direto para a casa de Quatro e Zefinha.

Eu, Zefinha, sua irmã e mais duas ou três mulheres trabalhamos parte da manhã e a tarde, preparando materiais para os grevistas. A vizinha ficou olhando os meninos, depois que eles voltaram da escola, para nos dar mais liberdade. Na hora do almoço, Zefinha foi levar comida para o esposo e para os colegas do sindicato, e voltou dizendo que estava tudo tranquilo na estação, paralizado, mas sem confrontos por enquanto. Outra esposa foi levar parte do material no meio da tarde e, lá pelas cinco e meia, eu rumei para a estação com o resto do que tínhamos feito, e alguns panos e outras coisas que eles usariam para acampar no trabalho durante a noite.

Como eu era a "esposa" de um funcionário graduado, não podia ser vista no meio da bagunça. Então parei na rua, a alguns metros da estação, e tossi e pigarreei até atrair a atenção de alguns ferroviários que estavam mais próximos. Um deles tocou no braço de Quatro e me apontou, e em seguida os dois vieram ao meu encontro.

— Quais são as novas?

— Por enquanto nada de mais. Cantamos uns refrões de hora em hora, por uns dez minutos seguidos, só para não deixar que eles se esqueçam que e porque estamos aqui.

— E que não vamos sair até que atendam nossas exigências — adicionou o colega de Quatro, recebendo das minhas mãos os lençóis.

— E como está o clima entre os patrões? Vocês acham que têm chance?

— Pelo que o Stuart nos contou mais cedo, eles de início achavam que resolveriam tudo com um punhado de policiais, mas conforme foram chegando notícias das paralizações nos outros estados, viram que não estamos para brincadeira.

— Que estados a greve já alcançou? — exclamei, empolgando-me com a notícia.

— Aqui, Pernambuco, Alagoas e a Paraíba.

— Excelente.

Eu e Quatro trocamos um olhar entendido. Uma greve de tamanha abrangência era o ambiente para já ir articulando as ligações entre os estados. Depois, quando viesse o grande dia, saberíamos quem se dedicava mais à luta, com quem poderíamos contar. Além disso, o movimento estava unindo os trabalhadores em torno de seus interesses comuns, relegando a segundo plano picuinhas regionais que atrapalhavam essa comunhão de objetivos e esforços. Era a consciência de classe se formando diante dos nossos olhos.

Deixei meu olhar se perder ao longe, mirando o glorioso futuro da Revolução, mas eles acabaram vendo foi um contingente considerável de soldados que se aproximava do único trem parado na plataforma naquela hora. A sucessão de imagens me provocou um horrível arrepio premonitório.

— Vocês falaram em meia dúzia de policiais — eu disse, apontando os militares, — mas isso aí não é meia dúzia, não.

Quatro e o colega olharam por sobre o ombro.

— Ah, é o 22º Batalhão de Caçadores — respondeu Quatro. — Vieram para fazer a segurança das eleições, lembra? Mas já estão voltando para a Paraíba. Nem implicamos com o fura-greve que vai levar eles. Quanto mais cedo estiverem longe daqui, melhor.

— O Stuart está no escritório? — perguntei, observando o embarque, que a iluminação elétrica da plataforma destacava na escuridão pós-crepuscular das seis da tarde.

— Sim. A última vez que eu o vi foi lá pelas quatro. Já era para ele estar indo pra casa a essa hora, mas não sei como é que a superintendência organizou os capatazes, se vão liberar durante a greve ou o quê...

— Eu vou dar uma passadinha lá para falar com ele — informei, ultrapassando-os em direção à plataforma. — Fiquem aí um pouquinho antes de voltar pra junto do pessoal — pedi, e eles anuíram.

Adentrei a plataforma quando o trem de partida para Nova Cruz dava seu apito final. Ainda recebi uns olhares dos soldados que estavam terminando de embarcar, dos que patrulhavam a estação, e até dos operários, alguns dos quais, meus conhecidos, me cumprimentaram. Não que eu fosse de parar o trânsito. É que parece existir uma propriedade estranha em todo agrupamento masculino que, quando uma mulher sozinha passa, vira todas as cabeças na direção dela.

Se eles soubessem quanto desconforto isso causa.

Mesmo eu estando acostumada a circular em ambientes predominantemente masculinos, como a ELI ou o próprio Partido, foi um alívio chegar às dependências do escritório na extremidade leste da estação. Ali, a população era mais mista. Havia uma recepcionista mulher e algumas secretárias entre os ingleses e brasileiros dos setores especializado e administrativo. Algumas eram bem jeitosinhas. De se admirar que Astrakhanov não tivesse arrastado a asa para elas.

Que eu soubesse, pelo menos.

— Boa tarde, o Sr. John Stuart está? — perguntei à recepcionista, que estava ajeitando a mesa para ir embora.

Antes que ela pudesse me responder, uma cabeça pálida espiou brevemente pela porta atrás dela.

John, I think it's your wife — eu ouvi, lá dentro.

Astrakhanov não demorou a sair pela mesma porta.

— Oi — ele veio na minha direção e me cumprimentou com um beijo no rosto, aproveitando para sussurrar "conversar lá fora" antes de voltar à posição normal. — Que bom que você apareceu. Já estava quase ligando para um vizinho, para pedir que te avisassem que vou passar a noite aqui.

— Ah é? — eu respondi, fazendo um muxoxo queixoso.

— Sim, querida. Sou um homem requisitado — ele brincou, com um sorriso.

— Será que eles não te liberam nem por uns minutinhos para me contar como foi o seu dia? — eu perguntei, num dengo totalmente destoante da minha personalidade, e me virei para a recepcionista com ar esperançoso.

Ela encolheu os ombros, mas depois fez um sinal com as costas da mão, mandando-nos sair que ela segurava as pontas ali. Eu e Astrakhanov voltamos para a estação de braços dados, mas o tom afetuoso abandonou o diálogo tão logo cruzamos o limiar.

— Relatório do primeiro dia — pedi.

Enquanto marchávamos lentamente pela estação esvaziada após a partida do trem, Astrakhanov me narrou em murmúrios encobertos pelo eco dos meus saltos batendo no concreto as mesmas coisas que Quatro já tinha relatado, acrescentando, porém, um detalhe relevante:

— ...de início a ideia era mandá-los de volta para a Paraíba, mas o patrão pediu informalmente que aguardassem um pouco, para o caso de os ânimos se inflamarem.

— Ué, então para que as tropas embarcaram? Foram dar uma voltinha?

— Vão acampar em Nova Cruz — Astrakhanov esclareceu. — Acho que nem eles sabem. O patrão falou direto com o comandante.

— Hm.

Condensei naquele ruído minha familiaridade com aquele tipo de autoritarismo e os comentários de reprovação que nem valia a pena verbalizar. Astrakhanov prosseguiu.

— Pois é. Essa disposição de coisas me preocupa um pouco, porque estou vendo que eles não estão a fim de conceder nada, apesar da abrangência espacial do movimento. O pessoal está trabalhando com afinco para convencer todos os colegas a aderirem à greve, inclusive pedindo o apoio dos das outras linhas férreas, mas é complicado. Cada um tem sua própria realidade financeira, suas influências, opiniões, seus medos. Seria mais fácil se houvesse uma chance de vitória mais evidente. Muita gente espera o time estar ganhando para entrar no jogo.

— E é por isso que você vai ficar aqui hoje? — questionei.

— Sim. Eles queriam que alguém do escritório ficasse, para vigiar. Contra depredação e esse tipo de coisa, sabe. Apesar de o pessoal estar calmo, eles têm um medo de vidraça quebrada que vou te contar. Então me ofereci. Posso conversar com os homens, passar um pouco da base teórica e técnica que lhes falta. E como falta! — ele exclamou, com um riso nervoso. — Até eu sei mais. Se eu dissesse para os meus colegas... lá na minha Pátria... que ia dar palestra sobre organização trabalhista e sindical, me chamariam de mentiroso e ririam da minha cara. Definitivamente não é minha especialidade.

— Sim, a carência teórica aqui é abismal... serão necessárias décadas para superá-la. Mas está certo, cada um ajuda na medida das suas capacidades. Existe algo que possamos fazer lá fora?

— Na verdade, sim — Astrakhanov respondeu. — Seria crucial conseguir o apoio da população nesse momento. Reconfortar as famílias, que sempre que tem greve ficam com medo de perder o ganha-pão... mas não só elas, seria bom conquistar para o nosso lado um jornalista, alguém influente, a opinião pública. Daria mais confiança aos rapazes, e os patrões se sentiriam pressionados.

— Vou ver o que consigo fazer — prometi.

Demos alguns passos em silêncio. Meu olhar cruzou com o de um guarda civil escorado em uma das vigas que sustentavam o telhado da plataforma, e que já nos observava havia algum tempo. Incomodada, empurrei Astrakhanov para o outro lado, afastando nosso percurso dos ouvidos daquele cidadão. Pessoas passavam por nós ocasionalmente no sentido contrário, dirigindo-se do setor administrativo para casa.

— Aqui já tem polícia demais — sussurrei, incomodada. — Não vai prestar se ainda deixarem a paraibana à distância de um assovio. Precisávamos despachá-los para casa.

— Isso é claro. Mas como? — Astrakhanov respondeu, grave.

Calei-me por um momento, ponderando.

— Lembra daquela ocorrência mais ou menos na metade do mês passado, quando surgiu um defeito nos trilhos da estrada para Ceará-Mirim e os integralistas fizeram um escândalo berrando que era uma armadilha nossa para eles?

— O caso do homem que seguiu o trem correndo desde a estação para avisar do problema?

— Esse mesmo.

— Lembro. O que tem ele?

— O homem nada. Apenas lembrei dos trilhos estragados. Já que a gente leva a fama até do que não faz, talvez fosse o caso de fechar o caminho para Nova Cruz, para que o batalhão não possa retornar para cá.

— É uma ideia — Astrakhanov coçou o queixo, pensativo. — Vou repassar para o pessoal.

Ele lançou um olhar para o grupo de grevistas do outro lado da estação, que acabara de se erguer para seus cinco minutos de refrões periódicos, fazendo os militares e policiais enrijecerem em seus postos. Astrakhanov olhou, então, para o relógio.

— Acho melhor você ir para casa. Acabaram de sair os últimos colegas — ele disse, apontando para a edificação a leste, de onde dois homens estavam se ausentando — e eu tenho que tomar conta do escritório.

— Certo. Até amanhã.

Apertei o braço dele em despedida e dei alguns, mas ele me reteve pelo pulso.

— Quer que eu peça para esperarem um pouco enquanto te levo em casa? — perguntou, com um olhar preocupado.

— Não precisa, são só algumas quadras.

— Se cuida — ele pediu, então, em voz baixa e profunda. — Reviste a casa e se tranque bem. Sério, lembra qual é o meu trabalho. Se acontece alguma coisa com você na minha ausência, vai ser muito difícil eu me explicar — acrescentou, um segundo depois.

— Fica tranquilo, vai dar tudo certo — tornei, com um sorriso, desprendendo o pulso da mão dele. Joguei-lhe um boa noite por sobre o ombro, e saí da estação, com a mente divagando sobre raposas tomando conta de galinheiros.

Apesar do que prometera a Astrakhanov, eu não rumei direto para casa. Greve é um negócio meio imprevisível, principalmente quanto à sua duração, então não havia tempo a perder, se queríamos assegurar a vitória nesta.

A questão do apoio popular não me saía da cabeça, e eu vinha revolvendo possíveis soluções no plano de fundo da mente desde que o problema me fora apresentado. Na metade do caminho para minha residência, uma dessas soluções me pareceu factível, e fiz um desvio para a Cidade Alta.

Enquanto eu elaborava mentalmente a estratégia que me ocorrera, meus pés me levaram sozinhos à casa do Secretário do Atheneu, onde c0stumávamos realizar reuniões clandestinas do Partido. Ele pertencia a uma família de comerciantes de Mossoró razoavelmente bem-sucedida e influente, e por isso seria o Camarada certo para me ajudar a obter determinada autorização.

De todos nós, João Baptista Galvão era o que morava melhor, numa mansarda de dois andares em cuja porta de madeira maciça eu logo me vi bater. A família Galvão era grande: alguns de seus irmãos habitavam com ele, além da mulher e dos dois filhos pequenos. Mas todos fechavam os olhos para as extravagâncias políticas de João e fingiam não notar os fantasmas vermelhos que rondavam sua sala de estar periodicamente. Tomavam tanto conhecimento da nossa presença quanto as pessoas que passavam nas ruas além dos blackouts das janelas. O que não significava que eles não soubessem quem éramos.

— Joãozinho não está, ainda não voltou da viagem de negócios — ouvi da esposa dele, que atendeu a porta. Havia uma nota de desagrado na voz dela, não sei se por seu marido estar sendo procurado de novo pelos comunistas, ou por os vermelhos terem mandado uma emissária mulher.

— Ah, é — exclamei, recordando-me que ele fazia parte da delegação que fora ao Rio a chamado da liderança central.

Contrariada, de imediato me pus a pensar em um substituto, ali mesmo na calçada. Lago, o diretor do presídio, também fora para a capital. Paiva estava na cidade, mas pedir que um guarda civil me ajudasse nessa empreitada seria desperdiçar um olheiro importante e dificilmente aumentaria minhas chances de sucesso. Quem, então? Será possível que não tínhamos nas nossas fileiras mais nenhum funcionário público ou figurão social?

— Quer deixar recado? — perguntou a esposa de Galvão, por desencargo de consciência, já com a mão na maçaneta e com a porta meio fechada.

Despertei.

— Não precisa, eu... — eu dizia, quando uma mão pousou no meu ombro, sobressaltando-me.

— Com licença... Ah, Sra. Stuart! Como vai a senhora? E o marido? A que devemos a honra da visita? — o recém-chegado, que pelo jeito voltava do trabalho, interrompeu sua entrada distraída na residência ao me reconhecer.

Era um dos quatro irmãos de João Baptista, Joaquim de Fontes Galvão. Suas feições se assemelhavam às do irmão, inclusive a cabeça redonda e achatada, mas era um pouco mais baixo e mais magro que ele.

— Estamos bem. Vim procurar o digno secretário do colégio por uma causa importante. Mas infelizmente ele não poderá ajudar.

— E eu, será que não posso? O que quer que seja, não pode ser mais difícil e exaustivo que um conselho de classe — brincou, com uma risada meio histérica, tirando do bolso um lencinho e enxugando com ele a testa. Evidentemente, ele acabava de retornar de um evento desses. Meus olhos bateram na pasta que ele carregava, enquanto eu ouvia sua pilheria, e fui iluminada por uma ideia.

Joaquim, apesar de não ser um dos nossos, era simpatizante, e um democrata. Fora presidente do núcleo municipal da ANL no curto período de sua existência. Após o encerramento das atividades da associação, Joaquim trouxera para Natal a Frente Popular pela Liberdade, fundada em São Paulo por Miguel Costa no último Dia da Independência. A organização era mais moderada em seus objetivos e discursos do que a ANL — assim como Miguel Costa era bem mais moderado do que Prestes — mas gostava de defender direitos e de fazer oposição aos getulistas. Certamente não recusariam apoio aos grevistas, não é?

— Na verdade, talvez possa — eu disse, lentamente, adaptando meus planos na cabeça. Olhei em volta. — Mas é um assunto que aqui...

— Claro, claro. Passemos ao gabinete — Joaquim convidou, com um gesto amplo em direção a porta, e eu o segui e à sua cunhada para dentro da residência dos Galvão.

Às sete e meia da manhã seguinte, eu batia naquela porta outra vez. A madeira mudara de tom com a luz do dia, que também expunha pontos roídos por cupim e os descascados da fachada azul clara, mas, de modo geral, a casa ainda exalava respeitabilidade.

Segundos depois, um rangido, e Joaquim Galvão apareceu no limiar. Trazia na mão um envelope pardo fechado. Notei que ele usava um terno diferente, mais novo que o de ontem ao voltar do trabalho, e sua expressão era de extrema solenidade.

— Tudo bem no caminho até aqui, companheira? — ele me perguntou, após um cumprimento.

Depois das tratativas do dia anterior, eu fora promovida de "senhora" a "companheira". "Camarada" já era um pouco radical demais para o professor, mas ele estava se esforçando.

— Sim, sem incidentes.

— Muito me alivia saber.

No dia anterior ele se oferecera para me buscar, pois àquela hora da manhã, as ruas ainda estariam vazias demais para oferecer segurança a uma mulher sozinha. Mas como "Stuart" não estava em casa, e as vizinhas sim, ser vista saindo logo cedo com um homem desconhecido pareceu-me um risco maior do que o que o percurso oferecia, até porque eu era treinada em defesa pessoal. E, além disso, a residência dos Galvão ficava no caminho do nosso destino: a chefatura de polícia.

— Vamos indo, então, para não lhe reter tanto, que eu sei que o cam... senh... companheiro tem trabalho daqui a pouco. Pode deixar que na parte de organização eu dou um jeito.

— Não, nem se preocupe com isso. Hoje não vou à escola; mandei um substituto com tarefas. Não gosto de faltar a meu dever laboral, mas em casos como esse, podemos abrir uma exceção. Afinal de contas, todos nós trabalhadores somos irmãos, e devemos auxiliar uns aos outros. Quem recua ante o chamado dos oprimidos não é digno do título de homem! — Joaquim discorreu, emocionado, traçando voltas no ar com a mão do envelope. — A História cobrará a dívida daquele que se omite.

"Homem, você tá prontinho para ser comunista", pensei. "Só falta assumir". Mas fiquei quieta, porque não estava ali para pressionar ninguém. Joaquim Galvão aderiu ao silêncio, cortesia com a que presenteamos um ao outro pelo resto do curto caminho, e que era essencial para colocarmos os pensamentos no lugar àquela hora da manhã. Devia existir uma lei obrigando as pessoas a reduzirem a comunicação matinal ao mínimo indispensável até estarem plenamente acordadas.

Não dá para dizer que a brisa matinal ajudou a nos acordar, porque naquele dia não havia nenhuma. O sol resolvera começar o seu turno cedinho e com toda a disposição. E o chefe de polícia, um baixinho orelhudo de sobrancelhas ralas e entradas amplas fritando em um terno cinza-chumbo, não parecia nem um pouco contente com esse adiantamento solar. Quando entramos em seu gabinete, após sermos devidamente anunciados, sua cara de poucos amigos era visível da porta, e podemos dizer que não melhorou muito ao reconhecer Galvão: policiais e membros da extinta ANL costumavam se repelir como água e óleo.

Assim que ele abriu o envelope e leu nosso requerimento, então, sua expressão facial desintegrou-se de todo. O mínimo de simpatia exigível de um funcionário público — que já não era muito — saiu voando pela janela escancarada do gabinetezinho 3m x 3m de alvenaria mal rebocada.

— Podemos vir buscar a autorização na hora do almoço, digníssimo delegado — Galvão tentou negociar, ao pressentir a derrocada. Quem sabe sem ver as nossas caras, o homem conseguisse abstrair a sua discricionariedade, auferida da Lei Monstro, e analisasse o pedido no espírito democrático da Constituição.

Hunf, até parece.

— Não há necessidade, digníssimo mestre — respondeu o delegado, com uma suavidade de cobra prestes a dar o bote. — A questão se me afigura clara, e, em prol da eficiência burocrática, o melhor é já lhe redigir a resposta. Não quero surrupiar mais do seu tempo, que devia estar sendo usado lecionando...

A indireta foi completada com uns resmungos indistintos contra professores comunistas que pervertiam as criancinhas. Acho que Joaquim Galvão não ouviu, pois sua expressão facial solene e tranquila não se alterou. Ou talvez já estivesse acostumado.

O delegado pegou uma caneta tinteiro e um papel ofício limpo. Mal tinha mergulhado a caneta no potinho de tinta, porém, quando o telefone na mesa dele tocou, e ele largou os utensílios de escrita para atendê-lo.

— Alô. Sim, é o próprio. Hm. Hm. Mas o que quer que eu faça, tem que sobrar algum efetivo para o resto da cidade, ora bolas?! — o homem despejou contra seu interlocutor. Então, reparando que ainda estávamos ali, afastou o telefone da enorme orelha e cobriu o bocal. — Aguardem na recepção, se fazem o favor, que já mando um oficial lhes levar a ordem.

Eu e Joaquim deixamos o gabinete.

— Tenho um mau pressentimento — confessou-me meu companheiro de solicitação.

— Pressentimento? — eu soltei um breve riso amargo. — Eu tenho uma má certeza.

— Nós demos azar — Galvão lamentou. — Se fosse nos tempos de Café Filho, talvez saísse alguma coisa. O homem tinha seus defeitos, mas dava para negociar; por causa do passado sindicalista, ficava feio para ele negar certas coisas. Afinal de contas, ele gosta de ficar bem aos olhos do povo. Mas esse aí, homem do novo governador... — ele sacudiu a cabeça. — É do tipo homem-touro, sabe, que odeia a cor vermelha e vê comunismo até em... sei lá, na bola da bandeira do Japão.

Eu ri, um tanto constrangida. Pior que se o delegado visse comunismo em mim, não estaria errado. Por isso que era bom ter alguém de consciência limpa do lado.

— Imagino o que os japoneses pensariam de algo assim — respondi, um momento depois.

— Provavelmente ficariam bem surpresos, e até ofendidos, porque...

— O senhor é o senhor Galvão? — nossa conversa foi interrompida por um homem de uniforme pardo da Guarda Civil, que se aproximou com um documento na mão. — O doutor Chefe de Polícia mandou lhe entregar isso — ele falou, quando Joaquim confirmou sua identidade.

— Doutor? — eu repeti, notando o desprezo com que a palavra fora pronunciada pelo guarda, que não parecia muito contente, de modo geral. Talvez fosse o calor.

— É. Ele é adevogado e gosta de ficar lembrando — resmungou o homem. — Ai, porque já foi promotor no Seridó, e delegado em não sei mais onde, cunhado de sei lá mais quem... Arre. E ele disse que, se fizerem escândalo, é pra eu trancar vocês no xilindró — avisou, ao notar Joaquim, que estava lendo o requerimento, avermelhar perigosamente.

— Pois diga a ele que... — Joaquim rosnou, entre dentes — ...muito grato — balbuciou, contendo-se, e, com um aceno brusco de cabeça para o guarda, saiu tempestuosamente da delegacia, puxando-me pelo pulso.

— Filho duma égua disgramado, projeto de cramunhão! — resmungava pelo caminho.

— O que houve? — perguntei, finalmente conseguindo frear com os saltos no calçamento a caminhada furiosa do colega. Joaquim me soltou e eu cambaleei. Recuperando um pouco o sangue-frio, ele me estendeu a folha amarelada anexada por um clipe ao nosso requerimento. Li:

Atendendo à situação atual e que a sociedade "Frente Popular pela Liberdade" faz propaganda de ideias comunistas, com excitação das mesmas à prática de violências, indeferido. Cientifique-se.

— Dito e feito — exclamou Joaquim.

— Bem, não dá para dizer que não era previsível — bufei. — Só queria saber o que eu vou fazer agora.

Desnorteada, já cogitava a possibilidade de seduzir um jornalista do A República para o nosso lado, quando ouvi a voz da Galvão, ainda irritada:

— Como assim, o que vamos fazer? Vamos fazer o comício. Não decepcionaremos nossos honrados fabros!

Fabros? Uma coisa que eu tinha aprendido nos meus seis meses de convívio intenso com os nordestinos é que não havia povo para gostar tanto de falar bonito quanto eles. Mas eu nem sempre alcançava semanticamente sua amplitude lexical.

— A manifestação democrática não será obstada pela arbitrariedade de alguns senhores que se acreditam donos do poder! — decidiu o nordestino, novamente girando a mão no ar, e eu juro que se já tivéssemos um caixote ou estrado por ali, ele teria subido no ato.

Bem, se o moderado estava assim disposto, quem era eu para me opor?

Trabalhamos pelo resto do dia. Corri de um ponto a outro da cidade, procurando Praxedes, Leonila, o dono da padaria Palmeiras, esposas de ferroviários, e quem mais se dispusesse a apoiar esse comício em cima do laço. A intenção era agitar e conscientizar as massas, chamar sua atenção para a luta de classes, tanto por meio do próprio comício, explicando as pautas dos ferroviários — e outras questões políticas de relevância no momento — para o pessoal que passasse por nós, quanto virando notícia nos jornais regionais. Astrakhanov tinha razão ao dizer que, se os grevistas dos quatro estados pudessem ler uma notinha sobre o nosso apoio, certamente se sentiriam encorajados.

A noite, rasgada por botões esparsos de lampiões, já vestira a cidade. Nos agrupávamos numa das ruas paralelas ao Grande Ponto. Estávamos em mais ou menos quarenta pessoas, e outras vinham chegando. Não muitas, mas como ainda faltavam cinco para as sete, nós as aguardávamos. Alguns já gritavam as palavras de ordem, embora Joaquim pedisse discrição, para não reduzirmos o impacto do coro coletivo marcado para dali a pouco.

Meu estômago roncava periodicamente: fazia doze horas que eu não botava nada na boca, a não ser um bolinho que Dona Rita me ofereceu quando passei na padaria. Mas eu o acalmava dizendo que comeríamos à farta ao findarem os eventos do dia.

Quando, ao longe, o sino da igreja bateu uma única vez, só para indicar as horas, a meio caminho entre os nove toques do Ângelus e os nove das Almas, nos pusemos em marcha.

Num passo sincronizado que chegava a ser bonito, caminhamos até virar a esquina.

Ah não.

Uma massa compacta de cavaleiros se agrupava em pleno Grande Ponto. Quase imóveis, como a sombra de um monturo irregular barrando o caminho. Ouviam-se uns ruídos indistintos vindo de lá — o bufar e patear ocasional dos equinos, resmungos ou murmúrios, estes também provenientes dos transeuntes que se indagavam a razão para aquele policiamento.

Para nós, a razão era bem óbvia. O chefe de polícia sabia jogar xadrez. Antecipara-se ao nosso inconformismo.

— E agora? — foi a vez de Joaquim perguntar, postado à minha direita, na fila da frente.

— Vamos enfrentá-los! — exclamou Leonila, empolgada, à minha esquerda.

Joaquim olhou por sobre o ombro.

— Sem condições. A maioria de quem está aqui são donas de casa.

— E daí? É o pão dos filhos dela mesmo que vai faltar se eles não ganharem aumento — argumentou Leonila. — Ou o que, você acha que mulheres não conseguem lutar, é isso? Diz pra ele, Anita!

— Sra. Stuart, eu realmente não acho prudente...

— Diz pra ele, Anita. Só dá o comando que a gente vai. Já estou até vendo um fraquinho daqui que dá pra derrubar logo de saída.

Aquela ilustração do anjo e do diabinho em cima dos ombros de uma pessoa nunca me pareceu tão viva, mesmo que eu só estivesse ouvindo a discussão deles indistintamente. Meus olhos não se desviavam na sombra maciça, e eu suava frio, não por medo de um eventual combate, mas por sentir o peso das possíveis consequências da minha decisão.

Respirando fundo, dei um passo à frente.

Fortsett å les

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