Kismet [concluída]

By laur_xxvii

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Tímida e romântica, Camila tem uma queda pela introspectiva Lauren desde o primeiro ano na SOAP, uma escola a... More

I - Kismet
II - Real Friends
III - Oh My God
IV - Everlasting Love
V - Eres Tú
VI - Like Friends
VII - Into It
VIII - Sledgehammer
IX - Reflection
X - Inside Out
XI - Must Be Love
XII - Beautiful
XIII - Write on Me
XIV - Dope
XV - Freedom
XVI - Inside
XVII - Never Be The Same
XVIII - Consequences
XIX - Love Incredible
XX - No Way
XXI - More Than That
XXII - In The Dark
XXIV - All Night
XXV - I Have Questions
XXVI - Something's Gotta Give
XXVII - Miss Movin' On
XXVIII - Scar Tissue
XXIX - A Thousand Years
XXX - Expectations
XXXI - Back To Me
XXXII - 1000 Hands
XXXIII - Kismet - Fim

XXIII - Down

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By laur_xxvii

A palidez do inverno deixa a cidade ainda mais cinzenta do que já é. Os anéis olímpicos, brilhantes e coloridos, são a única coisa que se destaca em meio à pasmaceira visual. Estão estampados em todas as superfícies, por todos os lugares, inclusive na lateral dos edifícios. As Olimpíadas de Inverno serão em fevereiro agora, na região de Rhône-Alpes, no sudeste da França, embora haja tantos cartazes espalhados pela cidade que as pessoas jamais saberiam que o jogos não vão acontecer em Paris. São os atletas franceses que estampam os pôsteres, claro, mas alguns dos maiores esportistas dos outros países também receberam destaque.

Shawn e eu saímos da estação de metrô Denfert-Rochereau e passamos por um painel gi-gan-tes-co de uma imponente patinadora americana chamada Calliope Bell.

- Vai torcer por quem? Pelos americanos ou pelos franceses? - pergunto.

As Olimpíadas sempre despertam em mim um misto de sentimentos. Sei que eu deveria ser patriota e torcer pelos atletas de meu país, mas de qual nação estamos falando exatamente? Eu me sinto leal às duas.

Shawn observa o pôster.

- Torço pelo melhor atleta de cada modalidade. Ele não precisa ser necessariamente americano ou francês.

- Então... você torce para o vencedor. Isso não é meio que trapaça?

- Não. Eu torço pela pessoa que aparentemente está se empenhando mais.

É uma resposta estranha, mas ainda assim boa, que, felizmente, consegue me fazer pensar em outra coisa. Entramos em um edifício verde-escuro simples. Não há turistas por aqui hoje. Damos o dinheiro da entrada a um guarda, depois passamos por outro e descemos uma escada em espiral até chegarmos a um túnel extenso. Pisamos em pequenas poças, formadas pela água que pinga lá de cima. Faz um pouco de frio aqui nas catacumbas, mas não chega a incomodar, porque não está ventando.

Shawn aponta para um túnel que foi fechado ao público.

- Eu já falei para você que há quase trezentos mil quilômetros de túneis abandonados em Paris?

Sim. Ele me contou isso. Várias vezes. Shawn tem falado incessantemente sobre túneis desde que voltamos para a escola. No último mês, ele passou do estado de fascinação para completa obsessão. Enquanto eu estava na detenção, Shawn lia tudo o que podia sobre túneis: os do metrô, as pedreiras de calcário, túneis para abastecimento de energia, os do sistema de esgoto, as criptas. Juntas, essas construções formam uma das maiores redes subterrâneas do mundo.

É claro que ele quer fazer o mapa da rede.

É muito estranho que duas das pessoas mais importantes da minha vida estejam interessadas em mapas. Shawn, no sentido mais literal possível. Mas Lauren também. Ao narrar os principais acontecimentos da própria vida, Lauren está desenhando um mapa. Eu me pergunto por quanto tempo farei parte dele. Onde e quando minha história se distancia da dela?

- Existem mapas de túneis, mas nenhum deles é completo. E muitas vezes eles enganam as pessoas de propósito, para mantê-las longe.

Para a infelicidade de Shawn, um autêntico e obsessivo seguidor de regras, explorar os túneis é ilegal, o que não quer dizer que isso tenha impedido as pessoas de se aventurarem pelo subsolo de Paris. Os túneis atraem todo tipo de gente, que são conhecidas como cataphiles - historiadores, grafiteiros, festeiros, exploradores de cavernas, músicos, caçadores de tesouros. Alguns entram nos túneis para recuperar objetos de valor inestimável. Outro grupo criou um cinema subterrâneo. A resistência francesa se escondeu aqui embaixo durante a ocupação nazista, e os nazistas utilizaram exatamente os mesmos túneis para fugir. Não vai demorar muito para que a obsessão de Shawn fale mais alto do que sua necessidade de seguir as regras. Mas, por enquanto, ele visita a parte legal - les Catacombes - dia após dia.

Mais de seis milhões de corpos foram alocados aqui no final do século XVIII, e as intermináveis paredes feitas com os ossos dessas pessoas podem ser visitadas por um valor módico. Alguns dos ossos estão dispostos de maneira simples, formando cruzes ou corações. Outros estão organizados por tamanho ou tipo. Mas a maioria deles foi disposta aleatoriamente, porque devia ser bem mais prático.

Quando eu era criança, achava as catacumbas assustadoras. Quando cresci, passei a achá-las fascinantes. Hoje em dia elas quase não me amedrontam mais. Fico sentada em uma cadeira dobrável reservada para os seguranças do local enquanto Shawn espreita tudo ao redor.

Parece apropriado estar aqui. O lugar é tranquilo, mas inegavelmente sombrio, muito parecido com meu estado de espírito no momento. Desde que voltei para a escola, e sem a detenção para tomar todo o meu tempo, tenho me empenhado ao máximo para fazer os deveres de casa e estudado como uma louca para as provas. Não tenho mais lido por diversão. As tarefas escolares têm sido a melhor coisa para me distrair do silêncio forçado entre mim e Lauren.

Como meus pais viviam antes das mensagens de texto? E da internet? Estou acostumada a saber das coisas, e não saber de absolutamente nada está me enlouquecendo. Lauren e eu estamos nos correspondendo por cartas, mas elas levam muito tempo para chegar, tanto que muitas vezes Lauren não está mais no endereço para o qual a enviei. A família dela tem viajado sem parar entre Nova York e Washington.

Acho que ela está na capital agora. Pelo menos foi para lá que mandei um presente de

Chanucá ateu, uma caixa com as comidas francesas favoritas dela. Se ao menos eu pudesse falar com Lauren, tenho certeza de que me sentiria melhor. Carrego suas cartas na bolsa e uso a caneca que ela me deu o dia inteiro, para tomar água. Além disso, pendurei seus desenhos ao lado da minha cama - o da bússola, que ela fez na primeira semana de aula, e o da Sagrada Família, da árvore coberta por pombas, que ela me deu depois de ter sido expulsa. Mesmo com tudo isso, ainda a sinto muito longe.

E, quanto mais tempo passamos separados, mais o final de Aluna do Internato me atormenta. O tempo que passamos juntas se resumiu a um esboço de oito páginas. A diretora da escola acha que fui uma mera distração para Lauren, o que significa que ela pensa que levei a relação mais a sério do que ela. Mas isso não é verdade. Ela também levou a sério.

Será que ainda leva?

Lauren não me deu motivo algum para duvidar disso, mas quanto mais tempo passamos separadas, mais claro vejo que nossa relação ainda é muito instável. A solidão dela - quanto tempo ela vai levar para perceber que namorar comigo era mais fácil do que ficar sozinha? Fui conveniente. Uma distração.

Lauren é romântica. Ela gosta de se apaixonar e anseia por um amor que preencha o vazio deixado pela ausência dos pais. Talvez tudo tenha acontecido tão rápido entre a gente não porque somos perfeitas uma para a outra, mas sobretudo porque fomos levada pela intensidade do momento - Lauren por causa dessa busca insaciável e eu por já gostar dela antes. Será que esses três anos de espera comprometeram minha percepção da realidade? Será que a conheço tão bem assim? Desde a última vez que a vi pessoalmente, tenho me deparado com várias versões de Lauren que eu nem sabia que existiam.

E ela ainda não decidiu se vai terminar ou não o ensino médio. E se Dartmouth me aceitar, eu me mudar para a Nova Inglaterra e ela não for para lá? O que vou fazer sem ela? Não tenho nada planejado, nada que não a envolva. Na verdade, os planos de Lauren são tão frágeis quanto uma parede de ossos.

O período de provas começa, e eu espero de verdade que todas essas dúvidas só estejam me atormentando porque faz tempo que não a vejo. Reencontrá-la vai fazer com que tudo se ajeite. Na noite anterior ao meu último dia de aula, sou surpreendida por uma ligação do número de telefone da sra. Jauregui.

Atendo, rezando para que seja Lauren. E é. Mas logo depois sou tomada por uma preocupação que me deixa à beira de um ataque de nervos:

- Você vai passar as férias na capital.

Lauren ri.

- Não. Estou ligando para dar uma boa notícia. Pelo menos dessa vez. Queria convidar você para uma festa de Natal no Met. É estilo black tie. Gente famosa e influente. Provavelmente vai ser horrível, mas meus pais pediram para eu convidar você, então acho que é um bom sinal.

Sim, é um bom sinal.

Ela continua:

- E você vai ter que usar um desses vestidos chiques de festa, e eu vou poder exibi-la para todo mundo. Como minha namorada - enfatiza. - Desde que você queira que o mundo inteiro saiba da sua existência...

- Sim! Sim, por favor.

Ela ri de novo.

- Então está combinado.

A mãe dela pede o celular de volta e nós nos despedimos. Saio do quarto e vou para o corredor esticar um pouco as pernas. Meu coração finalmente está mais leve agora, depois de tantas semanas de angústia. Lauren estava rindo, de bom humor. Vamos nos encontrar, ir a um evento público juntas. Os pais dela querem me conhecer.

Fico em choque. Os pais dela querem me conhecer.

Não. Pensamento positivo. Isso é um bom sinal. De verdade. Olho minha caixa do correio. Há dois envelopes no fundo, um mais espesso e outro mais fino. Pego os dois, entusiasmada depois dessa injeção de ânimo, mas percebo que não foi Lauren quem enviou nenhum dos dois.

Um é da Sorbonne e o outro, da Columbia.

Um é uma carta de aceitação e o outro, de rejeição.

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