Katetiras

By MorrissonMazurana

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Uma insistente oferta de emprego, ainda que obscura, faz Pedro viajar até Uruans, no sul catarinense. Ele é r... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29

Capítulo 17

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By MorrissonMazurana

Foi a vez de Amália usar o carro para chegarem até o trabalho, naquela fria manhã de maio, já às portas de junho. No caminho, a moça e Ramon perguntavam sobre o sábado à noite. Os rapazes responderam sem mentir, mas omitindo. Ainda que não houvessem combinado, sabiam as regras daquele jogo: era como se Patrick não tivesse contado nada para a garota na boate, o resto podia ser tudo contado.

Assim que adentraram a casa da colina, puderam ouvir o doutor no laboratório.

– Andem logo, não quero perder tempo! – Ordenou Ernesto, sem nem cumprimentar a equipe.

Cada um tomou uma folha com checklists e orientações para o procedimento. De cara, Pedro sentiu-se incomodado, vez que percebeu o estetoscópio e o esfigmomanômetro prontos, ao lado da maca de Katetiras. Ele vinha treinando há dias e tinha evoluído muito, mas não estava cem por cento, ou seja, a chance de insucesso ainda existia e o assombrava. Pensou em conversar com o chefe, deixar claro que estava inseguro, mas o homem parecia outro, naquela manhã. Desde que haviam chegado, a expressão dele era de irritação, não olhara no rosto dos funcionários uma única vez.

Pedro decidiu encarar o desafio. Poderia dar errado, mas as chances de dar certo eram, de longe, maiores. Tinha de confiar em sua capacidade para aumentar ainda mais as chances de uma PC, logo na primeira tentativa.

– Deite aí, Pedro. E vê se não falha.

O doutor estava mesmo alterado, jamais havia pressionado daquele jeito. Com o ultimato, Pedro desestabilizou. Foi necessário imenso esforço para retomar o processo de relaxamento, controlando a respiração, permitindo-se quase adormecer, mas mantendo a consciência. Logo, estava deitado na maca, e nem os ruídos vindos dos colegas, nem o barulho do gerador e, tampouco, os movimentos do doutor na preparação das ferramentas de monitoramento o atrapalhavam.

– Vamos começar. – Anunciou o chefe. – Pedro, você estará bem em frente ao banco. Ramon e Patrick o levarão para dentro da agência. Os funcionários estarão em uma reunião. Tente captar tudo o que puder, entenda o que estão dizendo, seja observando o movimento dos lábios ou ouvindo quaisquer falas, se conseguir.

O agente captou a missão e, de tão concentrado, não estranhou a demanda. Amália, Ramon e Patrick, todavia, ficaram receosos.

– Patrick, aumente oito posições de frequência do canhão x, uma por segundo. De y, aumente doze posições, na mesma proporção. Ramon, olho nos relógios! Mantenha os ajustes finos estabilizados, enquanto o Patrick leva Pedro para dentro do banco.

Amália, que ficou responsável pelo gerador e pelo ajuste prévio de alguns módulos, observava tudo, incomodada quando o doutor novamente mencionou o banco, como se estivessem pondo um assalto em andamento. Ela pôde ver quando Ernesto pôs a mão no ombro de Pedro e, embora a experiência tenha avançado, começou a chamá-lo, cada vez com mais intensidade, até que o rapaz retornou.

– Terminamos? – Perguntou Pedro.

– Claro que não! Você dormiu, droga! – Esbravejou o chefe, levantando-se do banco ao lado da maca e jogando uma prancheta com papéis no chão.

– Não senhor! Não dormi, não! Eu estive lá no banco! Porque diz que eu dormi?

– Dormiu, sim! Acha que estou fazendo o quê, aqui do seu lado? Cantando canções de ninar?

– Doutor, desta vez eu não dormi! Ou, se dormi, fiz a PC mesmo assim. Tenho certeza de que não foi sonho.

– Pois bem, rapaz! Então, conte o que viu.

– Como se estivesse lá fisicamente: na rua, com carros passando, o carrinho de cachorro-quente próximo... Daí, fui levado para o interior da agência, mas não tinha ninguém lá. Só um vigilante.

– "Não tinha ninguém". Logo hoje, segunda-feira, o dia mais movimentado da semana. Dia da reunião semanal dos funcionários.

– Chefe, a agência estava vazia. Se está duvidando, porque não telefona para lá?

– Desta vez você teve uma boa ideia. – Concordou Ernesto, tomando o fone à mão e discando. – Olá, gostaria de falar com Inês, minha gerente de conta. É Dr. Ernesto quem está falando.

Enquanto falava, o doutor olhava para Pedro com profunda decepção. Logo veio a resposta da telefonista, dizendo que a equipe toda se encontrava em reunião com o gerente.

– Você dormiu! Dormiu a ponto de sonhar! – Finalizou Ernesto, batendo o fone no aparelho e saindo do laboratório.

Os garotos ficaram atordoados, apenas trocavam olhares de interrogação. Pedro sentia-se injustiçado, ofegava. Retirou o celular do bolso, apontou a câmera para os painéis de Katetiras e passou a fotografar.

– Meu, o que você está fazendo? Ficou louco? – Disse Ramon. Amália, nas pontas dos pés, foi até a porta entreaberta, conferir se o chefe retornava. Patrick não movia um músculo.

– Foda-se o doutor! Eu sei o que fiz e o que vi. Desta vez, eu não dormi! – Exclamou um Pedro determinado, com a voz firme como as mãos que fotografavam.

– O doutor ficou bem irritado! Até parecia que estava brigando comigo! – Disse Patrick. – Pedro, por que você não assumiu que tirou um cochilo? Digo, não que você tenha mesmo dormido, era só para o chefe não ficar tão zangado.

– De que adianta treinar e fazer tudo certo – protestava Pedro, concluindo as fotografias – se a gente não é valorizado? Tô de saco cheio, não tem dinheiro que compense.

– Pedro, Dinho, fique calmo. Esfrie a cabeça para não fazer besteira. – Pedia Amália. Ramon concordava com os colegas.

Naquele momento, doutor Ernesto voltou ao laboratório.

– Desliguem tudo e deem uma ordem aqui no recinto. Pedro, a casa precisa de uma boa varrida. Depois, passe um pano com água...

O rapaz saiu do laboratório sem esconder a revolta. O chefe ainda o chamou, mas não foi correspondido. Os demais, com a devida cautela, revelaram o que Pedro estava sentindo e alertaram da possibilidade de ele retornar para São Paulo.

– Pois que vá! – Respondeu Ernesto. – Isso que dá querer ajudar pirralhos. – Concluiu, sem se importar com o resto da equipe, que dispensou sem cobrar o serviço pedido há pouco.

O trio encontrou Pedro caminhando apressado na estrada de chão batido. Amália parou o carro, mas o rapaz relutou.

– É muito chão, Dinho. Deixa de ser chato e entra aí. – Pediu a moça, no que foi atendida.

Rodaram sem dizer uma só palavra até chegarem à zona urbana. Pedro quebrou o silêncio, indignado com o chefe.

– Eu não dormi, nem sonhei.

Ramon e Amália, aos poucos, foram tomando o partido de Patrick, convencidos de que o amigo havia, sim, cochilado. Pedro ficou ainda mais indignado ao ver que o grupo estava contra.

– Se acham isso, vamos passar lá no banco, então. E veremos de uma vez por todas quem está dizendo a verdade. – Desafiou Pedro.

Amália conduziu o veículo até o estabelecimento. Mal se aproximaram e já era possível concluir que estava aberto, por conta das pessoas entrando e saindo. Estacionaram próximo, desceram do veículo e foram até lá. Pedro conversou com o guarda, o qual afirmou que a agência tinha acabado de abrir.

– Estão vendo só? Acabou de abrir, então não tinha ninguém antes. – Concluiu Pedro.

– Os funcionários já estavam aqui. Eles chegam antes da abertura da agência. Ainda mais hoje, que tem a reunião semanal. – explicou o vigia. – Vocês queriam falar com algum deles?

Pedro ficou sem ação, os outros nada falaram. O jovem agradeceu ao vigia e saiu, seguido pelos demais. Agora, ele não mais demonstrava revolta, e sim frustração, pois o chefe estava certo. Houve silêncio até já estarem perto de casa.

– Meu, tudo foi tão claro quanto das outras vezes! – Falava, inconformado. – Como é possível ter sido um sonho? A diferença é gritante.

– E agora, o que você vai fazer? – Perguntou Amália.

A resposta só veio quando chegaram no prédio.

– Bem, acabo de ser derrotado pelos fatos. Lancei o desafio e me dei mal. Para mim não foi sonho, mas tudo prova o contrário: o monitoramento do doutor, a agência em funcionamento, a ausência do carrinho de cachorro quente, o vigia...

– O que tem o vigia? – Quis saber Patrick.

– Não era o mesmo que vi na PC. Esse aí é grandão, o que vi na PC era magro de cabeça raspada. Aliás, acho que nem posso chamar de PC, né.

O grupo ficou em frente ao Zaneraro, em silêncio por alguns instantes. Ninguém arriscou palavras de conforto a Pedro, temendo um efeito inverso.

– Bem, acho que é isso. – Disse Pedro. – Ficaria muito grato se vocês pudessem dar um jeito nas minhas coisas. Não vou levar nada comigo, nem o carro.

Os três se olharam, queriam ajudar no pedido, mas, ao mesmo tempo, desejando que o amigo ficasse.

– Vou subir e comprar as passagens. E, como ninguém se manifestou: Patrick, fica com as chaves?

Patrick respondeu que sim, com a voz baixa etriste. Pedro agradeceu e subiu as escadarias.    

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