Katetiras

By MorrissonMazurana

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Uma insistente oferta de emprego, ainda que obscura, faz Pedro viajar até Uruans, no sul catarinense. Ele é r... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29

Capítulo 4

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By MorrissonMazurana


A abordagem do Dr. Ernesto tinha funcionado, conseguiu despertar a curiosidade nos quatro jovens.

– Sei que parece muita pretensão, mas, o que tenho a lhes mostrar nesta casa mal cuidada, e empoeirada, pode revolucionar o mundo.

A curiosidade de Pedro não durou muito. "Que droga de clichê, quanto papo furado. Eu devia sair agora mesmo", pensou. Ramon interrompeu.

– Com licença, senhor. Foi mencionado algo relacionado ao sono, no e-mail.

Os demais candidatos estranharam, pois não recordavam ter visto nada parecido nas mensagens.

– És bem desconfiado, Sr. Ramon, o que é uma virtude. Por isso tive de adiantar alguma coisa, mas sem estragar a surpresa.

– O senhor faz pesquisa sobre o sono? – Indagou Patrick.

– Mais ou menos. – Respondeu o doutor. – Bem, deixem-me explicar de uma vez, antes que nosso amigo aqui perca a paciência. Sente, Pedro.

Pedro sentou. Dr. Ernesto deu continuidade:

– Talvez não saibam, mas os quatro têm algo em comum.

– Todo mundo é de São Paulo? – Arriscou Amália.

– De fato. – Concordou o doutor. – Mas só isso não faria sentido. Se quisesse ver paulistanos, mais barato seria ir até lá. Lembrem-se de que suas despesas são por minha conta. Será que alguém arrisca outro palpite? Vamos lá, sem medo de errar. – Instigou Ernesto, sem obter resultados. – Vou dar uma dica. Muitos diriam que é um dom.

– Bem – disse Amália – eu tenho algo, mas... não sei.

– Vamos, bela. Não se acanhe. Algo me diz que você vai acertar.

– É que o Ramon falou de sono, penso em algum dom relacionado ao sono.

– Isso, isso! Continue! – Incentivava Ernesto.

– Eu... ninguém leva a sério... quer dizer, eu consigo...

– É pra hoje? – Protestou, impaciente, Ramon.

Amália fitou-o com reprovação.

– Eu posso sair do corpo. – Concluiu a moça, ainda olhando sério para Ramon.

– Puxa, até que enfim! – Comemorou Dr. Ernesto. – É isso mesmo, amigos. Os quatro têm essa incrível capacidade, e é por isso que estão aqui hoje.

– Não sei do que estão falando. – Observou Pedro.

– Permitam-me contar alguns fatos. – Pediu o anfitrião. – Uma garota costuma cochilar durante as aulas. Segundo os pais, ela diz que não dorme, apenas precisa sair um pouco da sala para espairecer; um jovem da quinta série vai parar no gabinete da diretora porque, segundo uma colega, ele acertou a cor da roupa íntima que ela usava e, por isso, alegou que ele a espionou no banheiro; outro garoto conta que, durante a noite, ao ir dormir, vaga pela casa por alguns minutos.

Os quatro ficaram em silêncio, olhando um para o outro, atônitos. Dr. Ernesto continuou:

– Amália, Patrick e Ramon, estas histórias são familiares?

– Como sabe disso? – Perguntou Ramon, seguido de Amália. Patrick nada falou, parecia assustado.

– Darei as explicações que desejarem. Mas, primeiro, deixem eu contar o caso mais notável, antes que o Pedro saia correndo. – Solicitou o doutor, sorrindo para Pedro. – Um garoto de apenas cinco anos sai da casa de uma vizinha, se desloca por uns duzentos metros, entra na própria casa e testemunha o pai tendo um caso com a tia. Ele dá com a língua nos dentes, e os pais vem se separam.

Pedro, então, se juntou aos demais na perplexidade. Dr. Ernesto continuou:

– Podem ficar tranquilos, meus caros. Eu explico como sei disso tudo.

O homem contou que trabalhava como técnico em radiologia no Hospital Público Geral de São Paulo – HPGESP – no início dos anos dois mil, e começou a ouvir histórias...

– ... Sobre pessoas que, supostamente, saíam do corpo no que se chamava projeção de consciência ou experiência fora do corpo, EFC (como vamos falar muito sobre isso, aqui, tratemos apenas como PC). Até então, esse fenômeno jamais havia sido comprovado. O assunto me fascinava, fiz várias pesquisas, aprofundei-me no assunto. Consegui ter acesso a arquivos do hospital e de uma universidade, e descobri a existência de um setor dedicado ao tema, numa parceria entre as duas instituições. Abandonado, é verdade, mas pude aproveitar uma lista de pacientes com potencial. Li caso a caso, até chegar aos nomes de vocês e encontrar o caso mais surpreendente, o do garoto Dinho, o Pedro. Intensifiquei as pesquisas, conversei com psicólogos, mas nada se comprovava. Porque a única evidência que pode ser aceita é a pessoa que experimenta a PC descrever um alvo oculto, ou saber de fatos dos quais não poderia saber sem ter estado presente. Dos quatro do grupo, apenas Amália passou por exames específicos. Participou até de uma experiência, onde deveria adivinhar o objeto atrás de uma porta, mas errou feio.

– Posso ter errado – protestou Amália – mas eu estive dentro do quarto, com certeza.

– Claro que esteve. – Concordou Dr. Ernesto. – Mas queriam uma resposta precisa, por isso frustraram a experiência. Erro deles. Deveriam entender que não somos máquinas. Às vezes não enxergamos as coisas como de fato são. Você pode achar que uma pedra é uma tartaruga e vice-versa, por ter alguns graus de miopia e estar sem o auxílio de lentes. Ou ter alucinações. Numa cidade aqui perto uns garotos andaram bebendo um chá ou "vitamina" de cogumelos e viram desde elefantes amarelos até folhas de grama querendo lhes morder os pés. Dizem que um deles, durante uma semana, fez tranquilas pescarias sentado num degrau da escadaria, em frente à igreja, segurando um caniço de bambu com o anzol sobre o chão de cimento à frente. Tanto a pedra quanto o concreto estão lá, mas foram vistos como tartaruga e açude.

Amália gostou do que ouviu, e lamentou não poder voltar no tempo e dizer as palavras do doutor a todos que dela zombaram.

– Doutor – interpelou Pedro – eu era muito pequeno e, com certeza, tive um sonho. Minha mãe levou tempo até se separar. A tia Andreia sempre me visitava, por isso sonhei com ela. Nunca fiz nada parecido com isso de... como é mesmo... PC.

– Não quero falar dessas lembranças, Pedro. A não ser, é claro, que você queira. – Sugeriu Ernesto, torcendo para que o rapaz consentisse.

– Bem... pode, se não houver nada... sabe...?

– De constrangedor? Não, fique tranquilo quanto a isso. Sua mãe, a Tânia, desconfiava que o Nilton a traía com a irmã dela, Andreia. Você abriu o bico num dia em que a Tânia voltava do plantão no pronto-socorro. Nilton tinha avisado que também trabalharia – era vigilante e disse que precisaria cobrir a ausência de um colega. Na verdade, tratou de conseguir ficar a sós em casa com a cunhada enquanto a coitada da Tânia trabalhava de verdade. E você tinha que ficar com uma vizinha. Enquanto dormia, você saiu e deu um pulinho em casa. De início, Tânia não deu muita importância para a aventura do filho, pois fixou-se na possibilidade de ter sido enganada na noite anterior. Como diz o ditado, mentira tem perna curta, e ela não teve muito trabalho para descobrir a verdade. Mandou Nilton às favas, só esqueceu de voltar a atenção para o intrigante sonho do filho. Só mais tarde, quando os pesadelos do garoto ficariam mais frequentes, ela o levaria para consultar e, depois de um tempo de tratamento, você parou de ter pesadelos.

Pedro e os demais ouviam com atenção Dr. Ernesto que, de completo estranho, passou a ser como se fosse alguém próximo, amigo das famílias. Sabia detalhes de algo vivido há coisa de quinze anos.

– Mas que tipo de trabalho quer fazer com a gente, aqui? – Quis saber Ramon.

– E quanto vai nos pagar? – Ousou Patrick.

– Acho que já deu para perceber que pretendo pesquisar sobre essa habilidade de projeção de consciência. Na verdade, minha pesquisa já é bem adiantada e, por isso, tenho que tomar algumas precauções. – Foi falando o senhor, enquanto abria a pasta de elásticos.

– Tenho um contrato para cada um de vocês. Nele está previsto o compromisso de manter sob o mais absoluto sigilo tudo o que virem aqui. Não estabeleço uma jornada rígida de trabalho, mas, às vezes, vou precisar que me auxiliem em horários inconvenientes, como de madrugada, fins de semana e feriados (podem deixar que não haverá exploração). Inicialmente trabalharemos à noite, a partir das oito é um bom horário. E o mais importante: uma vez assinado este contrato, vocês farão parte da equipe de trabalho do Dr. Ernesto Barra Teles Libretto, a quem deverão lealdade por tudo o que testemunharão nestas dependências. Perguntas?

Pedro insistiu:

– Vou ser sincero, não tenho essa habilidade, doutor.

– Tem sim, só precisa desenferrujar. – Incentivou Ernesto. – Aproveitando a deixa, e os demais, como estão?

– Dou minhas voltas quando quero – respondeu Ramon. – Mas não tem lá muita graça, diminuí bastante.

– Eu saio quando quero. – Disse com segurança Amália. – Posso fazer agora mesmo...

– Deixemos para o trabalho, senhorita. – Pediu Ernesto, animado. – E você, Patrick?

– Sim... sim, eu posso... tranquilo. – Respondeu o rapaz, com certa insegurança.

Ernesto ia tomar a palavra novamente, mas Patrick ergueu a mão:

– E quanto vai nos pagar? – Reiterou.

– Ah, claro (cabeça a minha!). Dez salários mínimos...

"Divididos por quatro dá dois salários e meio para cada um. É hora de dizer tchau", pensou Pedro, deixando transparecer.

– ...Para cada um – completou Dr. Ernesto.

– Para cada um? – Repetiu, incrédulo, Ramon.

– Meu, isso dá... caracas! – Falou Patrick, igualmente surpreso.

Amália foi a única a manter a compostura.

– É bem interessante. Mas durante quanto tempo? E quanto aos direitos trabalhistas?

– (Adoro gente desconfiada) Garantido por alguns meses. Eu diria pelo menos um ano, com carteira assinada. E, como prova de minhas melhores intenções, pago o primeiro mês adiantado. O que me dizem?

O quarteto ficou em silêncio, olhando para o contrato.

– Leiam com calma. Eu já volto. – Disse o doutor, saindo da sala de reuniões.

– E aí? – Provocou Amália, quase sussurrando. – O que vocês acham? Será que dá para confiar?

– Complicado – falou Pedro – porque eu teria que telefonar lá para o trabalho avisando que não voltarei mais. E teria que ir à São Paulo assinar a rescisão.

– Meu, se liga. – Falou Patrick. – Não ouviu, não? São dez salários! E o custo de vida, e a distância de casa até o trabalho. Meu, são dez salários! Nunca pensei que ganharia tanto na vida. Só vou ligar lá no restaurante e deu pra bola, já que não assinaram minha carteira de trabalho até hoje.

– Tenho carteira assinada, mas o trabalho é uma bosta. – Ponderou Ramon. – E dez salários... e sem concorrência entre a gente. Cara, acho que não dá para perder uma oportunidade dessas.

– Mas a gente nem sabe ao certo o que vai fazer. – Salientou Amália.

– E daí? Logo vamos saber. – Ponderava Ramon. – Ele ainda não chegou neste detalhe. Vamos pedir que adiante o assunto e "bora" assinar este contrato antes que outros o façam. Se não agradar, pt saudações. E, quando falo "se não agradar", é tipo "ser cobaia do Dr. Frankenstein". De resto, topo até injeção na baga do olho.

Os quatro, então, leram o não muito extenso documento, que tratava, em suma, do sigilo já mencionado pelo doutor. Puderam verificar que o teor era o mesmo para os quatro contratos. Sem obstáculos, portanto. A decisão dependia apenas de se saber qual seria o trabalho.

Ao retornar, Ernesto começou explicando que seriam assistentes...

– ...Me ajudarão a manter isso tudo organizado, farão a manutenção (não se preocupem, ensinarei tudo). Talvez precise que alguém vá no centro fazer compras, pagamentos, enfim... Mas o melhor vem agora. Vamos até o piso superior.

Os jovens acompanharam doutor Ernesto por uma escada até uma porta, que ele abriu. Parecia uma grande oficina eletrônica, com equipamentos esquisitos fechados em carcaças de alumínio e arrebites, e muitos botões, redondos, quadrados, como os usados em aparelhos de som dos anos oitenta. Também havia muitos fios coloridos ligando umas máquinas às outras, todas faltando uma tampa na parte de trás. O que mais se destacava, porém, era uma espécie de maca, debaixo de um equipamento que mais lembrava um aparelho de raio-x, com uma peça cilíndrica grande suspensa logo acima da cabeceira. Simultaneamente os quatro lembraram da menção de Ramon ao monstro do Moderno Prometeu. Era o "não agradar", ou seja, deveriam dar meia volta e correr o quanto pudessem. Mas era, também, algo bem curioso. O que fazia aquele velho com tantos apetrechos eletrônicos, naquele lugar afastado e oferecendo dez salários para guris desconhecidos?

– É só até onde posso ir sem sua assinatura nos contratos. Daqui para frente, é confidencial. – Declarou Ernesto, sacando uma esferográfica do bolso do paletó, aguardando que alguém a tomasse. Houve silêncio, ninguém se prontificou. Mas, desta vez, Ernesto não insistiu. Estava claro, com tal gesto, que era o momento decisivo. O silêncio, todavia, insistia em permanecer.

– Foda-se! – Disse Ramon, pegando a caneta da mão do doutor e assinando o contrato em seguida.

– Assim é que se fala, rapaz! – Comemorou Ernesto. Os demais riram, porque o doutor parecia estar se referindo ao "foda-se", em vez de à decisão positiva de Ramon. Com isso a tensão se dissipou, e os quatro assinaram os contratos e os entregaram ao doutor Ernesto.

– Amanhã vocês terão algumas coisas a resolver antes de virem para cá, à noite. – Disse Ernesto, agora como chefe. – Primeiro, terão de registrar suas assinaturas no cartório, para validar estes contratos. Segundo, indicarei um prédio com apartamentos disponíveis para aluguel. E, terceiro, preciso que tenham seus próprios carros. Na saída sul, indo para Urussanga, tem a garagem de um conhecido meu, Marcinho Automóveis. Digam que eu o indiquei e sairão dirigindo, em condições bem módicas. – Orientou o doutor. E continuou:

– Sugiro que comecem a resolver estas questõeshoje mesmo, pois o trabalho só começa amanhã à noite. Vou chamar um táxi paraos levar de volta. – Concluiu, fazendo a ligação em seguida. Depois,parabenizou cada um dos novos membros da equipe e os acompanhou até o pátio deareão, onde o táxi os apanhou.    

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