Kismet [concluída]

Par laur_xxvii

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Tímida e romântica, Camila tem uma queda pela introspectiva Lauren desde o primeiro ano na SOAP, uma escola a... Plus

I - Kismet
II - Real Friends
III - Oh My God
IV - Everlasting Love
V - Eres Tú
VI - Like Friends
VII - Into It
VIII - Sledgehammer
IX - Reflection
X - Inside Out
XII - Beautiful
XIII - Write on Me
XIV - Dope
XV - Freedom
XVI - Inside
XVII - Never Be The Same
XVIII - Consequences
XIX - Love Incredible
XX - No Way
XXI - More Than That
XXII - In The Dark
XXIII - Down
XXIV - All Night
XXV - I Have Questions
XXVI - Something's Gotta Give
XXVII - Miss Movin' On
XXVIII - Scar Tissue
XXIX - A Thousand Years
XXX - Expectations
XXXI - Back To Me
XXXII - 1000 Hands
XXXIII - Kismet - Fim

XI - Must Be Love

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Par laur_xxvii

Antes que eu diga qualquer coisa, o celular dela toca. Lauren ergue a cabeça para ver quem é e, depois, pragueja baixinho.

- Tenho que atender, senão ela não vai parar de ligar. - Ela atende. - Oi, mãe.

- Sim. Está tudo bem. - Pausa. - Estou fazendo o dever de casa. - Pausa. - Não. - Pausa. - Não, não estou. - Pausa. - Sim. Eu sei.

Lauren revira os olhos enquanto arremessa o caderno na cama, um sinal de que nosso clima já era e de que sou bem-vinda a continuar olhando seus desenhos.

- Não. Eu sei.

A conversa entre as duas continua assim por mais ou menos uns cinco minutos, até que Lauren dá um corte na mãe.

- Então, mãe, vai ter uma simulação de incêndio agora. Preciso desligar, tchau.

Ela joga o telefone na mesa e enterra o rosto nas mãos. Dou um tempo para ela se recuperar e pergunto:

- Simulação de incêndio?

Lauren ergue a cabeça.

- Geralmente arranjo desculpas melhores.

Ela estica a perna e bate o pé no meu.

- É difícil pensar com você sentada aí.

Bato meu pé no dela de volta.

- Posso estar errada... mas você não se dá muito bem com seus pais, não é?

- Não. Não mesmo.

Com que frequência será que eles conversam? Falo com meus pais mais ou menos uma vez por semana, mas nossas ligações sempre duram pelo menos uma hora.

- É por isso que você veio para cá? Para a França? Confesso que sempre achei meio estranho um senador mandar a filha estudar fora do país.

- Paris não foi exatamente a primeira escolha deles - conta Lauren, com uma expressão de estranheza no rosto, como se estivesse surpresa ao ouvir as próprias palavras.

- Como assim?

- Eu... nunca contei isso para ninguém.

Franzo a testa.

Lauren fica olhando para baixo, massageando a palma da mão direita com o polegar esquerdo.

- Meus amigos sabem que não me dou muito bem com meus pais, então... eles meio que deduziram que fui mandado para cá porque sou uma garota difícil. Essas coisas. E eu nunca disse que a história não era bem assim. Acho que eu queria que eles acreditassem nisso porque... é menos vergonhoso do que a verdade.

Lauren me encara.

- Eu escolhi isso. Ficar trancafiada aqui é culpa minha - confessa ela.

Arregalo os olhos.

- Quando meus pais começaram a procurar colégios particulares em Nova York e em Washington, conversei com eles e os convenci de que me mandar para o exterior seria a melhor coisa para a minha educação. Eu era imatura, idiota, e Paris parecia romântica, com arte por todos os cantos e toda essa besteira, mas, quando cheguei aqui, percebi que... é só uma cidade, entende? E, sim, é uma cidade bonita, cheia de opções culturais e tudo mais que dizem por aí. Mas, sei lá. Eu sempre sinto como se estivesse matando tempo aqui até minha vida começar de verdade.

Matando tempo. Não acho que estou incluída nisso, mas, ainda assim, palavras machucam. Tento não levar para o lado pessoal.

- E onde você gostaria de estar agora? Nova York? Washington?

- Não, não. De jeito nenhum. Ano que vem vou para Vermont.

Arqueio uma sobrancelha, curiosa.

- Vermont? E o que tem lá?

- O Centro de Estudos de Desenhos Animados.

Lauren se ajeita na cadeira para me explicar.

- É o único nesta área... o foco lá é exclusivamente a arte sequencial. E tem uma equipe incrível, todos os melhores cartunistas dão aula lá.

- Cartunistas? Tipo o cara que desenha Calvin e Haroldo?

- Não, não. Qualquer pessoa que faça arte sequencial é um cartunista. Quadrinhos de super-heróis, graphic novels e graphics de não ficção também. Esse termo não se aplica somente às pessoas que desenham tirinhas.

- Ah... - Ok, agora me sinto uma tapada. - E a escola é grande?

- Não. É metade da SOAP. - Ela pega um lápis e o balança entre dois dedos. - E você? O que vai fazer da vida?

Fico em choque. Simples assim.

- Eu... eu não sei.

Ela para de balançar o lápis. Eu deveria imaginar que essa pergunta viria, mas fui pega de surpresa. É humilhante me deparar comigo mesma assim, lutando contra as lágrimas.

- Vou tentar tanto a Sorbonne quanto a Columbia, mas não sei para qual das duas quero entrar. Não sei qual tem mais a ver comigo.

Lauren se senta ao meu lado na cama.

- Ei. Tudo bem. Você ainda tem bastante tempo para decidir.

- Não, não tenho. E quer saber qual é a pior parte? Eu meio que torço para que uma delas me rejeite, porque assim não vou ter que escolher.

Lauren ergue as sobrancelhas e fica em silêncio por um bom tempo, refletindo sobre alguma coisa.

- Eu vi os gráficos na sala da diretora. - Lauren escolhe as palavras com cuidado. - Você é a melhor aluna da sala. As duas faculdades vão aceitar você.

Então ela sabe. Cutuco o esmalte preto da unha. Vou arrancando aos poucos, pedacinho por pedacinho.

- O que você quer estudar?

O frio na barriga aumenta ainda mais.

- Nada.

- Nada?

- Quer dizer... não sei. Não sei o que quero fazer, nem quem quero ser, nem onde quero morar. Parece que todo mundo já está com o futuro planejado, menos eu.

- Você sabe que isso não é verdade - diz Lauren, apreensiva.

- Talvez em outras escolas não seja mesmo, mas na nossa...? Você já tem planos.

- Bom. De qual cidade você gosta mais?

Puxo minha bússola.

- Nas duas eu me sentiria em casa. Quando eu era criança, minha família passava o verão aqui e o resto do ano lá. Agora é o contrário. Tenho dupla cidadania, sou fluente nas duas línguas e me sinto confortável tanto em Paris quanto em Nova York.

- Confortável - repete ela, e seu tom denuncia que há algo a mais em seu tom de voz.

- O que foi? - pergunto.

- É que... você não sente vontade de tentar algo novo? E aquelas histórias de aventura que lotam as prateleiras do seu quarto?

Não sei. Não sei. Gosto de ler histórias de aventura, claro, mas gosto de fazer isso no conforto e na segurança de meu quarto. Mas, afinal, o que é uma casa além de uma cama quentinha e aconchegante? Onde é minha casa?

Lauren percebe que estou ficando irritada e confusa, então tenta aliviar a tensão.

- Sabe para onde eu acho que você deveria ir? Dartmouth.

- Aham. Nem sei onde fica isso.

- É em New Hampshire, pertinho de Vermont. E sabe o Centro de Estudos de Desenhos

Animados? É por ali também, olha só. Ouvi falar que Dartmouth tem um programa incrível em Nada. É o melhor programa do mundo em Nada. É isso o que dizem por aí.

Sorrio, finalmente. Sei que ela está brincando, mas fico feliz em saber que ela não se importaria se eu morasse por lá. Ou que, pelo menos, ela gosta de mim o suficiente para fazer uma brincadeira dessas.

- Então... me mostre o que você faz aqui o dia inteiro - digo, indicando a escrivaninha com a cabeça.

Lauren se surpreende e, animada, faz um tour comigo pelo seu local de trabalho: dezenas e dezenas de pincéis, canetas, lápis, tinta nanquim, tintas a óleo, aquarelas, canetas para desenho, borrachas, fotografias de referência, um secador de cabelo para agilizar a secagem das pinturas, bloquinhos de anotações sem pauta e de diferentes tamanhos (ela fala que o papel deles é "semiprecioso") e uma caixa enorme onde ela guarda os papéis de melhor qualidade.

Assim como eu, Lauren tem uma prateleira estreita, mas abarrotada de cadernos de desenho, livros de arte, obras de referência e, ao que parece, todas as graphic novels autobiográficas (ou graphic memoir) que existem - Jeffrey Brown, Craig Thompson, Alison Bechdel, James Kochalka, Lucy Knisley e outros tantos que nunca vi antes.

Não vi nenhum livro relacionado à escola.

Debaixo da cama, dá para ver a alça da mochila da para fora, então deduzo que o resto deve estar enfiado ali também. E, sobre a cômoda - onde, no meu quarto, coloquei mais um móvel de roupas -, Lauren pôs um enorme arquivo de metal. A "graphic memoir" está dividida em três gavetas, todas etiquetadas: ADI PRIMEIRO ANO, ADI SEGUNDO ANO e ADI TERCEIRO ANO.

- Você não tem uma para o último ano? - pergunto.

- Ainda não.

Lauren bate o dedo na têmpora.

- Ainda estou terminando os desenhos do último verão.

Ela me mostra em que está trabalhando: esboços feitos com lápis azul, retratos dela mesmo entediada em Washington, tentando bloquear a voz do pai, que no dia estava gravando uma propaganda eleitoral atacando Terry Robb, seu adversário nas próximas eleições.

- É mais fácil começar assim, porque evita que eu cometa erros maiores depois.

- E o que os seus pais acham disso? De você escrever sobre assuntos de família tão pessoais?

Lauren dá de ombros.

- Eles não sabem que escrevo sobre a nossa vida.

Eu me pergunto se isso é verdade.

- E o que significa ADI?

- Aluna do Internato. É o título.

Olho para a primeira gaveta, a do terceiro ano, e depois para ela. Lauren assente. Eu abro e vejo uma pilha espessa de papéis com ilustrações coloridas. Na primeira folha, há um desenho dos amigos dela, todos abraçados, com chapéus de formatura e um sorriso no rosto. Lauren está de pé, separado deles, em tamanho menor e distante. Levanto a folha devagar e com cuidado para espiar a próxima. É uma página dividida em vários quadrinhos na qual Lauren está passeando por uma cidade que com certeza é Veneza, na Itália.

Reconheço a Lauren que aparece nos quadrinhos. É a mesma que eu costumava ver nos desenhos na porta dela, usando fantasias idiotas. É um retrato preciso - embora exagerado - de quem ela realmente é. O nariz é mais saliente e o corpo, mais magro. Mas ela continua bonita. Parece triste, irritada, e ao mesmo tempo terna e amável.

Ajeito a pilha de papéis dentro da gaveta e a fecho. Os desenhos dela são algo muito pessoal. Sinto como se não tivesse o direito de olhá-los. Pelo menos não ainda.

- Espero poder ler um dia.

Sei que ela me deixaria ler tudo, se quisesse, mas parece aliviada por eu ter escolhido não fazer isso agora.

- Você vai - diz ela.

Passamos o resto do dia em um confortável silêncio - Lauren na companhia de seus esboços, e eu estudando. Quando o sol começa a se pôr, ela acende a luminária da mesa e procura algo para comer. A geladeira dela está abarrotada de produtos industrializados.

- Ahá! - Lauren puxa alguma coisa detrás do suco de laranja.

Coloco a tampa no meu marca-texto.

- Você sabe que tem um refeitório na escola, não sabe?

- E você sabe que eu vi sua chaleira elétrica, não sabe? Aquela que é contra as regras da escola, lembra?

- Como se você não tivesse uma.

- Tenho duas - afirma, com um sorriso. - E um fogão elétrico portátil.

- No refeitório servem comida. Comida fresca. Feita por chefs de verdade, olha só! Se não ficasse fechada para o jantar aos domingos, eu provaria isso para você agora mesmo.

Lauren me oferece um pote de plástico.

- Crème brûlée?

Dou uma risada.

- Por favor, não estrague a minha sobremesa favorita.

- Sério?

Ela para, depois de retirar metade da tampa de alumínio.

- É a minha favorita também.

Meu coração bate um pouco mais forte, feliz por essa pequena descoberta, como se ela fosse mais uma evidência a nosso favor. Mas não falo nada. Apenas suspiro.

- Crème brûlée de lavanda. Crème brûlée de gengibre. Crème brûlée de café.

- Uma vez já comi um com essência de alecrim. Maravilhoso.

Aperto o edredom dela com as mãos.

- Ai, que sonho...

Lauren engole a sobremesa em duas mordidas, depois joga a embalagem vazia na lata de lixo e se põe de pé em um pulo.

- Vou levar você lá agora. Vamos, vamos!

Sorrio.

- Desculpa. Domingo à noite é dia de pizza.

Ela murcha.

- Droga.

- Vem com a gente.

Lauren se joga na cama, ao meu lado.

- Isso é bem estranho, na verdade. Meus amigos e eu costumávamos comer pizza no domingo à noite também.

- Eu sei. Eu sempre via vocês no restaurante.

- Sério? No Pizza Pellino?

Faço que sim com a cabeça. Não era coincidência.

- Ei. - Lauren parece incomodada. - Sobre o Shawn. E a sua cama.

Ela se ajeita na cama duas vezes para mostrar de onde tirou o assunto.

- É, ele dorme nela.

Percebi aonde Lauren queria chegar, mas dei a resposta errada. Ela tenta agir como se não visse o menor problema nisso, mas faz uma cara parecida com a que eu devo ter feito ao perceber que estava cercada por desenhos do ex-namorado dela.

- Dormimos na mesma cama a vida inteira. Não tem nada a ver com sexo, juro.

- Não é bem assim que eu reagiria se dormisse do seu lado.

Mas, antes de me entusiasmar com essa reação perfeita, uma pergunta ainda mais cabeluda brota na cabeça dela.

- Alguma vez você já acordou e viu... você sabe. De manhã?

- Se quer que eu responda, tem que fazer a pergunta completa.

- Ah, não vou falar.

Faço uma pausa.

- Tá bom. Sim.

Lauren fica sem reação

- Mas não é por minha causa ou algo assim, eca! E não é como se dormíssemos pelados. Bom, somos amigos desde sempre, então, sim, já vimos algumas coisas, mas...

- Ele já viu você pelada? - dispara ela, mas percebe a cara que faço e se arrepende. - Desculpa. Isso não é da minha conta.

Estou abrindo a boca para dizer que sim, Shawn já me viu pelada, quando me dou conta de algo surpreendente e novo. A situação mudou. Ou talvez esteja prestes a mudar.

- Não - respondo. - E é da sua conta, sim. Se você quiser que seja.

- Eu quero.

Engulo em seco.

- Eu também.

Lauren arqueia as sobrancelhas.

- Isso significa que... que você quer ser minha namorada?

Minha pergunta soa imatura e veemente demais. Mas Lauren não hesita.

- Sim - afirma. - Quero.

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