Dando ao amor uma nova chance

By LariLuara

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"Quando dois corações se fecham, existe um meio de fazer com que o amor volte a florescer?" Depois de perder... More

SOBRE A HISTÓRIA
Prólogo - Liliane
Capítulo 1 - Ryan
Capítulo 3 - Ryan
Capítulo 4 - Liliane
Capítulo 5 - Ryan
Capítulo 6 - Liliane
Capítulo 7 - Ryan

Capítulo 2 - Liliane

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By LariLuara

ENTRE TURBULÊNCIAS E RECOMEÇOS

And I've been a fool and I've been blind
I can never leave the past behind
I can see no way, I can see no way
I'm always dragging that horse around

Shake It Out – Florence And The Machine

E eu fui ingênua e estive cega
Nunca consigo deixar o passado para trás
Não consigo ver uma saída, não consigo ver uma saída
Estou sempre carregando esse peso nos ombros

___________________

Mesmo que eu esteja deixando o lugar que amaldiçoou a minha vida, a dor e a saudade estão vindo na bagagem. Tentei deixar esses sentimentos no galpão que aluguei para guardar todas as minhas coisas, mas é impossível. Não tem como esquecer.

Como esquecer daquele sorriso encantador e incrivelmente sexy que Gustavo me dava? Aquele sorriso me conquistou assim que coloquei meus olhos nele na época da faculdade.

Ele havia entrado na minha turma no segundo semestre, vindo de uma faculdade do Rio de Janeiro. Diferente da minha, que era extremamente clara, sua pele era de um bronzeado intenso. Tinha a cor de quem passava horas e mais horas surfando nas praias de Copacabana. Algo que ele amava fazer, e sempre pedia para que eu tentasse. Me arrependo de nunca lhe ter dado essa satisfação. De ter tido tanto medo.

Desde o momento em que cruzou a porta com seu perfume amadeirado e sentou– se ao meu lado, me dando um "Oi" extremamente sorridente, não nos largamos mais. Uma amizade surpreendente surgiu e nunca se apagou. Aliás, só crescia a cada dia. Até o momento em que nos apaixonamos, ou melhor, descobrimos que estávamos apaixonados.

Assim que terminamos a faculdade, nos casamos e iríamos iniciar uma família.

"– Vamos ter uma filha, Lil! Uma pequena garotinha" – ele me pegou no colo assim que descobrimos que seria uma menina.

Sua felicidade foi o que tirou minha insegurança de ser mãe. Era sua felicidade que me mostrava a quão sortuda eu era por tê– lo ao meu lado.

Passo a mão pela minha barriga. Me questiono como apenas uma pessoa poderia acabar com a vida de toda uma família. Até da minha filha, que ainda estava sendo gerada em meu ventre.

Começo a chorar compulsivamente ao me lembrar de tudo o que me foi tirado. Faz algumas semanas que eu não choro dessa forma. Sei que não será a última. Estou cruzando o oceano, mas ainda tinha perdido toda minha família. A dor nunca irá embora, assim como meu coração nunca mais será o mesmo. Isso se eu ainda tiver um.

Abro minha bolsa na expectativa de encontrar um lenço de papel. Quando olho para o lado, vejo um jovem em seus vinte e tantos anos, me esticando um lenço de papel.

– Espero que fique bem logo – ele me fala num português bem desajeitado.

– Eu também espero – pego o lenço de suas mãos. – Obrigada.

– Não tem por que agradecer – ele sorri. – Eu sou Kamal, você é?

– Liliane.

– Não sei por que você está chorando, mas tudo vai ficar bem. Peça para que Krishna cuide do seu coração – Kamal diz e o olho com curiosidade e confusão. – Ele é o Deus do amor universal – explica. – Rezo para ele sempre, principalmente agora que estou voltando para Índia, avisar meus pais que não irei casar com quem fui prometido.

– Eles fazem isso ainda? – Questiono, surpresa.

– Algumas famílias ainda são muito tradicionalistas. Eu mesmo era, até que conheci Julia. Vou voltar em breve para o Brasil e me casarei com ela! – Ele abre o celular e logo aparece uma foto de sua amada.

– Espero que tudo se acerte, então. – Falo com sinceridade e o deixo encantado pensando em sua amada.

Coloco os fones e escolho um dos filmes que estão disponíveis no catálogo do avião. Me distraio o suficiente para que eu perca a noção do tempo. Algumas horas se passam e o jantar é servido. Como em silêncio enquanto assisto ao segundo filme.

Estou quase cochilando quando o avião começa a balançar demais. Entro em desespero. Kamal pega uma espécie de colar com bolas de madeira e começa a rezar para seu Deus, acredito eu.

As aeromoças estão sentadas com cintos afivelados e eu só penso que, talvez, se eu morresse aqui, não seria uma ideia tão ruim. Pode parecer loucura ou até egoísmo. Mas a dor de perder tudo vibra fortemente em meu coração.

Os bagageiros abrem e algumas malas caem. Escuto algumas crianças chorando e alguns adultos também. Eu não sei ao certo como reagir. É assustador, mas talvez uma atitude de Deus para se acertar comigo. E eu, quem sabe, poder ver minha família de novo.

Mas todo esse sentimento evapora quando vejo o rostinho de uma menina que está no colo do seu pai e suas lágrimas rolando com força.

Não, desejar que o avião caia é demais. Existem vidas que não merecem passar por isso. Suspiro magoada ao ver o quão amarga eu me tornei. Sinto pena de mim mesma.

Por quase cinco horas de desespero, temos o saldo de algumas pessoas passando mal, um desmaio e várias crianças chorando.

Quando a turbulência cede, pego os fones de ouvido novamente, já que, por causa da turbulência, até os filmes pararam de passar. Coloco minha música favorita para tocar. A do nosso casamento. Fecho os olhos e tento dormir.

– Mamãe, olha, mamãe! – Uma garotinha de cabelos ondulados e claros e de aproximadamente uns cinco anos corre em minha direção. Ela para na minha frente e me entrega um trevo de quatro folhas. – Eu achei. Finalmente achei, mamãe.

Recuo em um primeiro momento e por instinto seguro minha barriga. Olho sua carinha feliz e me abaixo. E é aí que me reconheço nela. Por algum motivo, talvez pelo brilho dos seus olhos. O mesmo brilho que eu tinha. Sei que ela é minha filha. Mas como? Qualquer chance morreu quatorze meses atrás.

Foi levada junto com a minha alma e qualquer resquício do meu coração.

E não existe chance nenhuma que eu me envolva com alguém. Deus, ou seja lá quem for a pessoa que comanda nossos destinos, destruiu o meu. E eu não darei a chance de permitir que Ele brinque comigo de novo. Eu não permitirei e não darei esse gosto a Ele. E, agora, a única maneira de continuar viva é apenas respirar. Sem chances de me agarrar a oportunidades de ser feliz. Afinal, eu nunca serei. Eu nunca mais amarei alguém de novo, não da mesma forma e com a intensidade que amava o Gu. Não quero morrer sozinha, mas amar... Ah, esse sentimento eu nunca mais sentirei.

Pego a menina no colo e a aperto com força. Beijo sua testa como beijaria minha própria alma.

– É pra você, mamãe – ela coloca o trevo em meu cabelo ondulado e colorido. – É para te dar sorte, mamãe. Muita sorte.

Eu a aperto ainda mais contra meu corpo e olho para o campo florido à minha frente. Um homem vem em minha direção, mas não consigo ver seu rosto. Só seus cabelos ruivos brilhando contra o sol.

– Senhorita Liliane? – escuto alguém lá longe me chamar. Sua voz parece distante, como se viesse do fundo.

Pisco e acordo lentamente. Olho ao redor e vejo uma aeromoça me olhando com olhos arredondados e assustados.

Foi só um sonho, repito mentalmente, como se fosse meu mantra.

– Desculpa. Acabei cochilando – sorrio forçadamente.

– Nós já pousamos e preciso que você desembarque – ela sorri.

Olho pela janela e vejo que já estamos em terra firme. Me levanto bruscamente e caio de volta na poltrona, esquecendo que ainda estava com o cinto.

– Pode ir com calma, senhorita.

"É senhora, senhora Vicente!" Quero gritar. "Ainda tenho o nome do meu marido!"

– Precisa de ajuda? – A aeromoça pergunta.

– Não, estou bem. Obrigada.

Respiro profundamente e tiro o cinto. Levanto, abro o bagageiro e tiro a mala de mão e uma mochila. Olho para a aeromoça e ela está com um sorriso enorme na cara. Por que alguém teria motivos para sorrir desse jeito? Não faz sentido algum. Ficamos presas nesse voo por quinze horas, sendo cinco delas com turbulência.

Coloco a mochila nas costas e olho para ela de novo. Ela continua mostrando seus dentes brancos. Pare de sorrir, desejo. Já vi que seus dentes são brancos e retos. Dou um sorriso amarelo e vou em direção à porta do avião.

– Senhorita, é só descer as escadas e seguir a linha até a área de desembarque. Suas malas vão chegar no terminal quatro. – Me informa uma outra aeromoça sorridente que estava na porta do avião.

Agradeço, desço as escadas e sigo as orientações. Ainda tenho que pegar minhas malas e seguir para a área de imigração.

Depois de esperar trinta minutos, descubro que minha segunda mala foi extraviada. Mal cheguei e as coisas já estão dando errado.

Por sorte, segui os conselhos Tally, que me pediu para trazer na mala de mão tudo o que eu mais preciso e dividir nas outras todo o restante.

Agora, aguardo na fila para passar pela imigração. Sou a próxima e é nesse momento que meu coração para. Vejo um rapaz de uns vinte anos sendo retirado da sala por dois policiais. Escuto ele gritando em uma língua que acredito ser grego, mas não sei ao certo.

O guichê onde ele estava me chama. E eu congelo por alguns segundos antes de pegar minha mala e ir. Imperceptível para quem me vê, mas, para mim, devo ter ficado parada por séculos.

Sorrio ao chegar no guichê e sou recebida com um olhar sério. Cadê a hospitalidade das aeromoças quando precisamos dela? Meu sorriso murcha na hora. Pego a pasta com todos os documentos necessários e entrego para a mulher atrás do balcão.

– O que você veio fazer aqui? – ela me questiona com as sobrancelhas erguidas e voz grossa.

Fico branca e penso na resposta que eu deveria dar e na que o rapaz deve ter dado. O que respondo? Surto e falo o que realmente aconteceu.

– Bom, meus pais, marido e filho foram assassinados há quatorze meses. Perdi tudo e agora só busco a chance de recomeçar. – murmuro de cabeça baixa e algumas lágrimas escapam.

Levanto os olhos em direção à mal-humorada atendente e vejo que ela tem um coração. Uma lágrima escapa por seus olhos, sua mão está na boca e seu rosto, em choque.

– Minha jovem. Sinto muito – ela pega minha mão pela janela.

– Obrigada.

Ela abre a gaveta que tem abaixo da mesa e coloca algo em minha mão. Fico surpresa ao ver que é um pingente. Um trevo de quatro folhas selado por uma resina.

– Espero que ele te traga sorte, senhora Liliane – ela sorri. Um sorriso verdadeiro.

Aperto o pingente em minha mão e o levo ao coração. Sorte. Talvez seja disso que eu esteja realmente precisando. Relembro do sonho e me agarro à essa ideia.

– Seja bem-vinda à Irlanda! – Ela me entrega meus documentos e o passaporte, devidamente carimbado.

– Muito obrigada – sorrio de volta.

Vou em direção à área de saída.

É agora que tudo começa.

Quem sabe agora eu tenha meu final feliz.

Quem sabe agora eu possa viver.

Olho para a porta e ela se abre automaticamente.

Eu tenho, mesmo que apenas um pouco, esperança.

Tudo agora será novo. Novas oportunidade e recomeços.

**************************

Olá meus amores, Liliane vai ter um percurso bem complicado pela frente, né? Esse capítulo foi um pouco mais longo, gostaram?

Deixe aí nos comentários o que esperam desse romance, prometo não ser boazinha com vocês. Vou ficar feliz em acompanhar as reações.

Não se esqueçam de ler com a playlist ein, link aqui nos comentários. Mas está no meu perfil no spotify, é só pesquisar: Dando ao amor uma nova chance, que já aparece todas as músicas na playlist que montei <3

Beijos amores e amoras. Deixo vocês com o vídeo da música de abertura desse capítulo. <3

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