Os pratos da balança do poder finalmente tinham pesado em favor dela. Tratava-se de uma noite de sexta-feira anterior a um feriado e por isso o posto de gasolina estava abarrotado de pessoas que pretendiam abastecer os veículos para aproveitar a folga e fazer uma pequena viagem.
Muitos desciam do carro e se dirigiam ao bar de conveniência ou aos toaletes, enquanto aguardavam pela vez. E qualquer um deles poderia notar o "estado" em que Luke se encontrava, se por acaso ela se distanciasse dele.
Apesar de Louisa também sentir a libido desperta, adorou o fato da natureza pesar contra o lado masculino naquelas circunstâncias e tornar a situação embaraçosa para ele. Ela não podia desperdiçar o momento e aproveitar para exercer uma pequena vingança: moveu os quadris contra o volume proeminente para provocá-lo ainda mais e o ouviu praguejar. Então, com a mão que estava livre, agarrou o colarinho da camisa que ele usava e o forçou a inclinar a cabeça.
— Que diabos está fazendo? — Luke protestou.
Ela acariciou o pescoço másculo com o polegar e saboreou o doce gosto da vitória.
— Estou mostrando quem é que manda agora, garotão! — ela espicaçou.
Contudo, ao notar o brilho de desafio nos olhos dele, percebeu que cometera um grande erro. Tentou libertar-se, mas ele a puxou mais próximo ainda e se introduziu entre as coxas femininas. Inclinou a cabeça e beliscou com os dentes a curvatura do pescoço delicado até ouvi-la gemer.
— Não faça isso, Luke. Há pessoas nos olhando — as mãos estavam trêmulas enquanto ela tentava afastá-lo. O calor que sentia abaixo do ventre era tão intenso que Louisa teve receio de desmaiar. Não estava mais a fim de brincadeiras. Devia ter adivinhado que ele não jogava limpo. Tentou se libertar mais uma vez e ele a segurou mais firme. Depois sussurrou num ouvido dela:
— Você começou isso e quando chegarmos a Havensmere pretendo finalizar. E até lá espero que faça o que eu digo ou vamos ficar abraçados neste mesmo lugar pelo resto da noite.
— Não quero ir para Havensmere. Já lhe disse isso. E não acredito que teremos que ficar a noite inteira aqui por causa da sua excitação. É fisicamente impossível que perdure por tantas horas.
Ele se afastou um pouco para que ela desse uma espiada e revelou:
— Fiquei assim por quase uma semana depois que fizemos amor naquela noite. Por isso, posso lhe garantir que é fisicamente possível.
Ignorando a reação erótica que aquelas palavras provocaram, Louisa ficou orgulhosa de saber que o excitava daquela maneira.
— Vou libertar o seu pulso para que possa me enlaçar com os dois braços — ele a abraçou também e, antes de caminhar, assegurou-se de que a situação estava plenamente disfarçada. — E não tente nenhuma gracinha ou prometo que se arrependerá depois.
A maneira como caminhavam era tão ridícula que Louisa não conseguiu conter o riso.
— Pode rir o quanto quiser — Luke falou com severidade. Depois os lábios se curvaram em um sorriso divertido. — Garanto que não achará tanta graça quando estivermos na cama esta noite em Havensmere.
— Já avisei que não vou com você para Havensmere. Mudei de idéia e quero voltar para Londres.
Ele ergueu as sobrancelhas. Porém parecia mais curioso do que aborrecido.
— Louisa, querida. Nós já discutimos a esse respeito, lembra-se? Se vamos perder tempo decidindo as mesmas coisas que já foram decididas, deixaremos de resolver o que é mais importante — depois ele lançou um sorriso tão sensual, que Louisa sentiu o coração quase parar. — O bebê nascerá em menos de seis meses. Não há muito tempo a perder.
Ela ficou em silêncio. Ainda estava encantada com aquele sorriso sensual e ao mesmo tempo pueril. O charme que Luke possuía era uma das qualidades que a fizeram cair de amores por ele. E num súbito insight ela descobriu o que mais a cativou naquela noite. Não tinha sido os belos olhos acinzentados ou as maneiras refinadas.
Nem mesmo sua habilidade como amante perfeito. O que mais a atraíra fora o magnetismo que ele possuía e a facilidade com que a fazia rir. A lembrança de como ela se apaixonara tão rapidamente por ele a forçou a conter a emoção que sentia naquele instante. Dirigiu o olhar para o sombreado no tórax poderoso, os pelos escuros que podiam ser notados sob o tecido fino da camisa, e tentou analisar a situação usando bom-senso.
Era surpreendente como ela havia esquecido os detalhes que a atraíram no homem que conhecera naquela noite. Talvez porque ele não existisse na realidade. Luke ainda podia ser divertido e charmoso no instante em que desejasse e era óbvio que a atração sexual deles estava mais potente do que nunca. Contudo, agora ela podia perceber claramente que tinham pouca coisa em comum. Exceto o bebê. E ela não deveria perder de vista o que acabara de descobrir.
Luke ergueu-lhe o queixo com a ponta de um dedo e forçou Louisa a encará-lo.
— Por que mudou de idéia quanto a Havensmere?
— Sabe muito bem a razão. Se ficarmos sozinhos não haverá como evitar que haja sexo entre nós. Quase já aconteceu e nem estávamos sozinhos...
— Estou feliz que tenha admitido. Mas não encaro isso como um problema.
— É porque sua vida não foi virada de pernas para o ar de um momento para o outro.
— Claro que foi! Caso não tenha percebido, eu não planejava me tornar pai. Pelo menos, não dessa maneira.
Louisa repousou a mão num braço dele e disse com um sorriso:
— Por favor, não vamos brigar outra vez. Já tive conflitos demais para um só dia — ela sabia que poderia estar soando como uma atitude egoísta, porém estava tão sobrecarregada de emoções que subitamente sentiu-se exausta. Algumas lágrimas lhe umedeceram os olhos.
— Ei! Não chore! Não é tão ruim assim — Luke procurou acalmá-la e com o polegar acariciou-lhe o lábio inferior, enquanto repousava um beijo gentil na testa miúda.
As lágrimas agora rolavam pelo rosto.
— Quero ir para a minha casa e começar a planejar minha vida. Há muita coisa que preciso fazer — declarou ela, enquanto abafava um soluço. Sabia que estava sendo egoísta e com elevado instinto de auto-piedade, mas não conseguia impedir as lágrimas abundantes que jorravam como água. O peito parecia tão apertado que ela mal conseguia respirar.
Luke apanhou um lenço do bolso e o ofereceu.
— Não se preocupe. Resolveremos isso.
Louisa enxugou as lágrimas e sentiu o perfume dele impregnado no tecido de algodão do lenço branco. O mesmo aroma que ela sentira quando ele lhe enxugara as lágrimas no momento em que ela vira a imagem do bebê na tela da ultrassonografia.
Embora Louisa soubesse que o conforto que ele lhe oferecia seria temporário, isso a ajudou a se recuperar.
— Está melhor? — ele perguntou, inclinando a cabeça para olhar nos olhos dela.
A preocupação que ele demonstrava quase a fez chorar novamente.
— Já estou bem. Desculpe-me. Devem ser os hormônios da gravidez — ela respondeu e baixou os olhos para o lenço branco que agora estava encharcado e com manchas escuras do rimei dela. Provavelmente estaria parecida com um urso panda, pensou. Porém, estava cansada demais para se preocupar com a aparência. — Acho que seu lenço está arruinado.
— Não faz mal. Tenho outros — ele respondeu com um sorriso.
Finalmente eles chegaram até o carro. Luke abriu a porta e a ajudou a entrar. Louisa aguardou até que ele se acomodasse atrás do volante para falar:
— Sei que lhe ocasionei muitos problemas hoje mas, se pudesse me deixar na primeira estação de trem, eu seria eternamente grata. Poderá me dar o número de seu telefone e eu entrarei em contato daqui a algumas semanas para... — ela deu uma pausa. Para o quê, exatamente?
Acompanhá-la nas aulas de pré-parto, escolher o nome do bebê, ou o que mais? "Por Deus!", será que ele gostaria de se envolver daquela maneira? E até onde ela queria que Luke se envolvesse? Ela deu um suspiro e cerrou os punhos sobre o colo. Sentia-se como se estivesse escalando o monte Everest sem o equipamento adequado. Não sabia nem mesmo por onde começar. — Bem, você sabe. Assuntos sobre o bebê. — Finalmente ela completou, sentindo-se como uma tola.
Ele a estudou em silêncio.
Louisa torcia para que ele não fizesse outra cena. Ela realmente não agüentava mais ter que enfrentar outra discussão.
Luke apenas balançou a cabeça.
Ela soltou o ar que estava segurando há muito tempo. O alívio foi imenso. Se ele a pressionasse novamente ela o enfrentaria e seria muito pior. Além disso, Louisa precisava de tempo para lidar consigo mesma antes de encontrar uma maneira de como agir com Luke Devereaux. Mas de uma coisa estava certa. Deixar que ele tomasse as decisões no lugar dela não era uma opção.
Ele estendeu o braço e apanhou o paletó que deixara no banco traseiro. Depois o ofereceu.
— Se quiser pode dobrar o paletó e usá-lo como travesseiro. Parece cansada. Aproveite para tirar um cochilo até chegarmos.
Ela beliscou o lábio inferior, sentindo-se hesitante.
— Qual é o problema?
— Não posso usar esse paletó como um travesseiro. É um dos modelos mais recentes do Armani. Seria praticamente um sacrilégio!
— Prometo que não contarei para o Armani se você também não contar — ele gracejou com uma piscadela.
Louisa sorriu e tentou ignorar o frio na espinha ao ver o brilho encantador nos olhos acinzentados. Só não podia evitar o perfume que sentiu ao acomodar a cabeça no paletó azul-marinho. Era de uma colônia cítrica e exclusiva. Exatamente como o dono. Atraente e perigoso, ela pensou, antes de mergulhar em um sono profundo provocado pelo extremo cansaço.
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