Capítulo 28

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Luke engoliu a saliva para tentar afastar a impaciência e o lampejo de culpa que o assombrava. Por que Louisa insis­tia em tocar naquele assunto justamente agora? Tudo esta­va indo tão bem desde a manhã no lago. Ela provara ser a melhor companheira que ele jamais imaginara em outras mulheres.

A maneira irreverente e a inteligência de Louisa faziam dela uma poderosa oponente em qualquer assunto sobre o qual discutissem. E sua presença de espírito o fazia rir como não acontecia desde que era criança. E o sexo entre eles era inacreditável. O mais perfeito que ele já experimentara.

Devereaux era um amante exigente e Louisa também não deixava por menos. Talvez por isso ele não se cansava de estar com ela. Muito ao contrário. Contudo, Luke não queria se apegar demais a ela ou ao bebê. Ele sabia o que significava ser dependente do amor de outras pessoas e jurou a si mesmo nunca mais se colocar em uma condição dessas novamente.

— Relaxe, Louisa. É claro que não tenho nenhum pro­blema com o bebê. — Afinal, ele lhe havia proposto um casamento, o que mais ela queria? — Só não acho que eu seria muito bom nessas coisas corriqueiras do dia a dia. Mas tenho certeza de que você se sairá muito bem sem a minha participação.

— Sem a sua participação?

O espanto nas feições de Louisa fizeram-no sentir-se tão covarde que Luke esforçou-se para não voltar atrás e pedir desculpas. Porém, o relacionamento entre eles havia chega­do ao limite, além do qual Luke não pretendia ultrapassar. Só não conseguia entender por que sentia um vazio tão in­tenso. Precisava afastar aquele sentimento e trazer de volta a máscara de invulnerabilidade que sempre o protegera. Pre­cisa resolver isso agora, antes que ficasse mais complicado.

— Tenho certeza de que você será uma ótima mãe e não precisará de mim, aqui em Havensmere — Luke afirmou, embora as palavras fossem muito mais difíceis de dizer do que ele esperava.

Louisa o observou em silêncio. Será que Devereaux preten­dia mesmo fazer o que estava dizendo? Teria mesmo certeza de que não desejava participar da vida de seu filho?

Ele ficara tão pálido e distante que Louisa mal o reco­nhecia.

Onde estava o homem que a tratara com tanta ternura e a fizera sorrir o tempo todo? O homem que fizera amor com ela de modo tão avassalador? E que gastara uma fortuna para fazer de Havensmere um lar?

Onde é que estava o homem que ela amava e assumira que se importava com o bebê?

— E claro que precisarei de você aqui! Como pode pensar diferente? Você me pediu em casamento, Luke! Por que faria isso se não pretendia tomar parte na vida de nosso fi­lho? E se eu aceitar sua proposta de casamento seria para termos uma vida juntos. Como poderia aceitar que ignoras­se o nosso bebê?

— Eu posso entender o seu ponto de vista, mas morar­mos juntos por muito tempo acabará por não dar certo — ele acariciou o dorso de uma mão de Louisa e prosseguiu: — É claro que virei visitá-la. E planejo comprar uma casa mais apropriada para você e o bebê. Contudo, se permane­cermos juntos as coisas ficarão muito confusas. Principal­mente depois que o bebê nascer.

— As coisas ficarão confusas? — Louisa afastou a mão que ele acariciava e cruzou os braços frente ao peito. — Não estou entendendo... Por acaso está me propondo para ser sua amante?

— Como poderia ser minha amante se estou propondo casamento a você?

— E por que quer se casar se não pretende viver comigo e com o nosso filho? — Louisa sentiu os olhos começarem a se inundar de lágrimas.

— Por favor, Louisa. Não comece a chorar. Sabe muito bem a razão de eu lhe ter proposto o casamento. Não quero que meu filho seja ilegítimo.

Ela impediu um soluço e cobriu a boca com dois dedos, mão direita. Sentia-se uma completa idiota. Estava claro e Devereaux não a amava. E pior do que isso — ele tam­bém não amava o filho que ela esperava.

Louisa ajustou o lençol no corpo e forçou-se a levantar. A dor que sentia dentro do peito era maior do que poderia suportar.

— Preciso ir para minha casa — ela revelou e começou a caminhar na direção do banheiro.

Ela havia dado apenas alguns passos, quando Luke a se­gurou pelos ombros e obrigou-a a girar o corpo na direção dele.

— Qual é o problema, Louisa?

— Não me toque!

— Está bem — ele recolheu as mãos e deixou os braços alongados junto ao próprio corpo. — Só quero que me diga por que está tão zangada. Você sabe que essa é a melhor solução para nós.

Ela secou as últimas lágrimas do rosto e ergueu o quei­xo. Não permitiria que ele notasse a sua amargura. Afinal, o amor-próprio era a única coisa que lhe restara. Contudo, ainda havia uma questão que a intrigava:

— Só quero que me responda uma coisa, Luke. Por que dormiu comigo?

Ele deu de ombros.

— Você sabe exatamente a razão.

— Não. Eu não sei. Diga você. É porque me desejava ou era uma maneira de me coagir a aceitar a farsa desse casamento?

— Não sei do que está falando. Pretendo realizar um casamento perfeitamente legal. — E mo vendo-a para junto dele, sussurrou:

— E pretendo exercer os meus direitos conjugais para que não haja nenhuma dúvida.

Louisa libertou-se dos braços dele e protestou:

— Ainda assim seria uma farsa. De que outra maneira poderia ser considerado um casamento sem amor e sem um futuro juntos?

— O que o amor tem a ver com isso? Acho que estamos falando sobre uma gravidez não planejada e duas pessoas que se sentem sexualmente atraídas. Não estou esperando ser retribuído com amor e acho que você também não.

Louisa esfregou as palmas das mãos para afastar o frio que sentia. De repente todos os seus sonhos e esperanças se reduziram a pó.

— Infelizmente, acho que você está errado. Eu esperava por amor. — Mais lágrimas umedeceram-lhe os olhos mas, dessa vez, ela não se importou em escondê-las. — Para você tudo não passou de um jogo, não foi? Quaisquer que fossem os meios, só lhe importava vencer.

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Sempre AmorWhere stories live. Discover now