Capítulo 25

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— Berwick era o meu pai — Luke declarou e depois provou um gole do café, antes de prosseguir. — E foi por essa razão que eu herdei o título e esse lugar — ele repou­sou a xícara na mesa do terraço.

Uma brisa suave desalinhava os cabelos de Louisa e es­palhava no ar a doce fragrância das flores.

— Ah... — Louisa apenas murmurou. Não sabia o que dizer. A simplicidade com que ele se revelava a comovia. Ela não esperava realmente que ele revelasse algo tão pessoal. Agora ela podia entender por que ele ficara tão zangado com o artigo dela no Magazine. Luke era filho ilegítimo e não queria que ninguém soubesse disso. Ela só não entendia a razão de ele considerar o fato como um verdadeiro estigma.

— Bem, é claro que eu não fiquei muito feliz quando descobri a verdade — ele confessou amargo.

— E é claro que deve ter levado um choque quando sou­be do testamento e tudo o mais... Mas este lugar é tão incrí­vel! Você deveria ficar feliz por ele ter deixado a herança e o título. Essa não é uma maneira de demonstrar que ele o reconheceu como filho? — Ela deu uma pausa ao notar que as feições dele se enrijeceram. De alguma forma o havia ofendido. — Desculpe-me, eu não queria dizer que...

— Não é preciso se desculpar — Luke murmurou, porém, as feições permaneceram severas. — Eu não queria Havensmere ou o título. Só aceitei pelo fato de achar que depois de restaurado seria um ótimo investimento — Luke falava tão cautelosamente que parecia estar tentando mais convencer a si próprio do que a Louisa. — E também não descobri que Berwick era meu pai por ocasião do testamen­to. Eu soube disso quando minha mãe morreu.

— E quantos anos você tinha?

— Sete.

Uma onda de compaixão provocou lágrimas nos olhos de Louisa. Ela procurou pela mão dele e a apertou.

— Sinto saber disso, Luke. Eu sei como é horrível per­der alguém que se ama muito, principalmente nessa idade. — Quem diria, ela pensou, que eles tinham em comum uma perda dolorosa no passado. Contudo, ela percebeu que Luke não parecia triste. Demonstrava indiferença.

— Como sabe disso?

— Perdi minha mãe quando eu estava na adolescência.

— Deve ter sido difícil... — ele aproximou as mãos do rosto dela e afastou algumas lágrimas com os próprios polegares. — Mas não deve se comover comigo. Eu era mais novo e por isso não me lembro muito bem de como ela era.

Louisa ficou espantada com as palavras dele. Será que o fato de não se lembrar de como era a mãe, tornava a perda menos dolorosa?

— Como descobriu que Berwick era seu pai? — ela per­guntou, começando a entender a razão de ele querer livrar seu filho do estado de ilegitimidade.

Luke podia perceber a compaixão nos olhos dela e não queria que isso acontecesse. Precisava encerrar essa con­versa. Já revelara segredos demais.

— Minha mãe deixou um testamento no qual declarava que tinha um filho de Berwick. E ele ordenava um teste de DNA no qual a paternidade fora confirmada.

— E ele não reclamou a sua guarda? Luke deu de ombros.

— Ele me trouxe para a Inglaterra e pagou por um bom internato. Eu concordei — ela não precisava saber que ele odiava o lugar. Os corredores frios e a comida insuportável. Os intermináveis dias chuvosos. O escárnio dos colegas por saberem que era um bastardo. Os olhares de piedade nos olhos do diretor e da esposa, quando Luke permanecia na escola, mesmo durante as férias, porque ninguém vinha buscá-lo. O desespero. A solidão. Mas ele sobreviveu a tudo isso. E triunfou na vida. E o mais estranho era que talvez a rejeição de Berwick até o tenha ajudado. Por isso é que ele se tornara um homem autossuficiente que não pre­cisava de ninguém. E ele gostava de ser da maneira como era. — A educação que recebi foi ótima — ele prosseguiu — e tudo acabou dando certo.

— Mas quem cuidava de você, Luke? Do suporte emocional?

Não houve nenhum suporte emocional, ele sentiu vontade de dizer. Mas isso significava se aprofundar demais e ele já revelara o suficiente.

— Já respondi às suas perguntas — Luke disfarçou e, beijando-lhe o dorso de uma das mãos, comentou:

— Agora é sua vez de revelar alguma coisa sobre a sua vida.

— Está bem. O que quer saber?

— Por que razão tem tanto problema em aceitar a figura de uma autoridade masculina?

— Quer dizer como você?

— Apenas responda à questão — ele quis saber enquanto brincava com os dedos das mãos dela e adorava vê-la irritada. Ele realmente a achava linda quando estava zangada.

— Para começar, não considero isso como um problema.

— Ainda não respondeu a minha pergunta — ele insis­tiu, sabendo que ela não morderia a isca tão facilmente.

—Bem, acho que não constitua nenhum segredo. Meu pai é um daqueles italianos tradicionais. Eu o amo muito, mas não suporto como sempre se achou no direito de inter­ferir nos meus assuntos e dizer o que eu devo ou não fazer, apenas porque é homem e é meu pai. Após a morte de mi­nha mãe, nosso relacionamento não foi dos melhores. Ago­ra, porém, acho que superamos as nossas diferenças.

— Acho que agora entendo porque usa um adesivo de feminista sobre a testa.

— Que adesivo? — ela perguntou e tentou recolher as mãos que ele ainda mantinha entre as dele. — Solte-me! Eu me recuso a ficar de mãos dadas com um chauvinista!

— E quem disse que tem escolha? — ele prendeu as mãos dela atrás das costas e as imobilizou pelos pulsos.

— O que está fazendo? — ela gritou, sentindo-se ultra­jada e excitada ao mesmo tempo.

Ele a calou com um beijo.

Louisa tentou resistir. Mas assim que percebeu que ela fraquejava e seus corpos se ajustavam de maneira perfeita, Luke abandonou o beijo e, libertando-a, recuou um passo. Tinha que cumprir sua pala­vra para vencer aquele round. E era o que pretendia fazer. Por isso forçou-se a libertá-la com um sorriso insinuante.

— É melhor você ir para a cama, Louisa. Precisa descan­sar. Pretendo mantê-la muito ocupada amanhã.

Em vez do olhar de desafio que ele esperava, ela cur­vou os lábios num sorriso e os olhos refletiam um brilho misterioso.

— Acho melhor fazer o mesmo, Devereaux. Não quero que perca o fôlego rápido demais.

Ele deveria ter adivinhado que ela não deixaria por menos.

Luke sorriu logo depois que ela saiu e o deixou sozinho no terraço. A adrenalina jorrando a mil, só de pensar no que aconteceria no dia seguinte.

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Sempre AmorWhere stories live. Discover now