— Oi, idiota — Sora bateu na lateral da minha cabeça. — Vai ficar até que hora olhando pela janela? Temos que encontrar as outras.
— Sim, sim — concordei —, estava apenas pensando. Podemos ir.
Depois das muitas conversas feitas no dia anterior, combinamos de dos encontrar no telhado para conversarmos, e quando chegamos Misaki e Emi já estavam lá.
— Vocês saíram correndo da sala por acaso? Como chegam aqui tão rápido? — Sora perguntou.
— Na verdade, a Emi chegou primeiro, eu não consigo subir as escadas tão rápido. — Misaki respondeu resgatando o seu próprio fôlego.
— Não esperaria menos — respondi - Aki deve estar-
— [Nome]!
Uma voz gritou as minhas costas me fazendo pular de susto, quase me fazendo cair para trás quando pulou na minha lateral me abraçando fortemente pelo pescoço. Tudo que via em minha frente eram os cabelos avermelhados, de alguém que eu conhecia muito bem.
— Keiko! — a chamei e afastei segurando seus ombros — O que você ta fazendo aqui? Achei que tivesse ido para Itachiyama!
Kei era uma das jogadoras regulares no meu antigo time, o do fundamental, a garota era alta e tinha o cabelo avermelhado sempre amarrado num rabo de cavalo desalinhado e um sorriso no rosto.
— No meio de todas aquelas metidas? Não, obrigada. Você me disse que viria para cá, então resolvi te seguir — ela sorriu e se virou para as garotas atrás de mim — Amigas novas? Olá, sou Keiko Kamata, estudei com a [Nome] no fundamental éramos do mesmo time
As garotas se apresentaram e Kei logo estava conversando com elas como se as conhecesse a anos.
— Keiko, já que está aqui, vai entrar no time de vôlei?
— Lógico! Embora não tenha visto nada de um time ainda — respondeu com o indicador no queixo como se estivesse pensando.
— Longa história, depois eu te conto — falei, e as garotas riram.
— Keiko-san que posição você joga? — Emi perguntou.
— Eu sou meio de rede — ela levantou as mãos como se fosse bloquear ali no telhado mesmo.
— Só falta uma pessoa — falei animada.
— Então pode considerar um time completo — virei minha cabeça para encontrar a dona da voz. Aki.
— Hey! — nos cumprimentou levantando a mão no alto — Encontrei a outra ponta, essa é Hana Ozaki. Não tem muita experiência com vôlei, mas fez boxe por muito tempo. — Hana tinha a pele bonita num tom de bronze, era esbelta tinha ombros largos e braços definidos.
— E aí — deu um breve aceno de cabeça — Realmente não sou muito fã de vôlei, só que tenho meus próprios motivos para começar a jogar.
Olhei em volta, num círculo desalinhado estavam aquelas que viriam a ser um time, as preparações agora estavam completas.
— Precisamos encontrar o Hibiki-sensei — disse de repente.
— O professor de história? Por quê? — Emi perguntou.
— Ele é o conselheiro — expliquei — Vou falar com o técnico também.
— Nós temos um técnico? — Keiko perguntou.
Não era uma boa ideia falar muito sobre isso...
— Negociações em andamento — limpei a garganta enquanto me afastava —, vamos voltar a nos encontrar depois das aulas. Sora explique para Kei e Hana a história completa, por favor!
Sem se importar muito com a minha saia, corri na direção da sala dos professores como se minha vida dependesse disso, e talvez realmente dependesse. Mas após virar um certo corredor acabei batendo de frente com uma pessoa.
— Desculpa — pedi depois de segurar na própria pessoa para não cair.
O uniforme estava preso entre meus dedos e quando levantei os olhos vi ser um dos meninos do time de vôlei, eu me lembrava dele, o escandaloso com cabelo bicolor. É o primo de Aki não é?
Ele estava até com as orelhas vermelhas, olhando diretamente para meus olhos, só então percebi ainda estar o segurando. Senti meu próprio rosto corar e o soltei pedindo desculpa novamente e voltar ao meu caminho original até a sala dos professores, sem ter coragem de olhar para trás.
— Hibiki-sensei — o chamei quando cheguei até a sala.
Na repartição reservada ao mais velho ele parecia estar revisando algumas anotações, ele me indicou para entrar com a mão e sorriu.
— Parece animada [Sobrenome]-san, pelo sorriso imagino que com boas notícias.
— Consegui — disse por fim — tenho um time, tenho seis pessoas.
Ele ficou espantado a princípio e ajeitou o óculos depois de piscar algumas vezes — Foi mais rápido do que imaginei! E sobre a sua indicação de treinador, já falei com Daniel e ele foi aprovado pelo reitor.
— Me espere na sala três depois das aulas — concluiu e tirou um pequeno bilhete —, essa é a liberação do quarto ginásio. Espero que entenda que com essa confiança também recebe muitas responsabilidades.
O reitor não iria fazer tantas mudanças por um capricho de aluno à toa.
— Sei que sim — falei olhando para o bilhete e em seguido para ele.
— Posso ver nos seus olhos que sim, peça ao seu irmão que venha também.
— Farei isso — falei e puxei o celular assim que voltei ao corredor.
— Fala pirralha.
— Consegui um time, preciso de você na escola quando as aulas terminarem, ginásio quatro.
— Sério? Mas [Nome]...
— Te vejo em algumas horas. Não se atrase. — desliguei, Dan com certeza estava dirigindo belas palavras para o celular. No meu caminho de volta vi as garotas andando juntas pelo corredor. Sora e Keiko eram as mais altas seguidas de Aki e Hana elas deviam estar na casa dos um e setenta na questão de altura. Por último vinha a Misaki e a Emi com as estaturas mais baixas. Certamente vendo o grupo junto tinha certa imponência.
— Então? — Sora perguntou.
— Depois das aulas devemos nos encontrar na classe três — falei balançando o papel no alto —, parece que temos um ginásio!
— Parece ótimo! — Aki juntou as mãos e se virou para Hana — É a nossa classe, vamos ficar esperando vocês por lá mesmo.
Concordamos e nos despedimos — Kei qual classe você está?
— Classe 1 — respondeu com desânimo — sozinha, abandonada pelas amigas que tanto ama.
— Dramática como sempre — a empurrei na direção de sua sala —, vai logo Kecchan.
Ela se afastou reclamando do apelido e segui com Sora para a classe 5 — Parece que as coias estão se ajeitando.
— Por incrível que pareca, tenho a sensação que vai dar certo — Sora se jogou na própria carteira e sorriu sarcástica — apesar de ser você aquela por trás de tudo.
— Você me anima demais Sora — reclamei enquanto ela ria da minha cara.
As aulas se arrastaram pelo fim da tarde, para o meu desespero, mal podia esperar para me juntar ao resto das garotas e descobrir o que o professor guardava para nós. Fomos as primeiras a chegar na sala depois do sinal, Sora atrás de mim. Reclamando sobre a minha demasiada animação.
Emi e Misaki foram as últimas.
— Vejamos — Hibiki-sensei olhou para nós com cuidado —, parece que junto um bom time. Estou com a chave do 4° ginásio, três cópias. Uma deve ficar comigo, outra com o treinador e a terceira com a capitã.
Ele ergueu uma chave meio enferrujada — Mas antes disso, ser capitão não é apenas um título. É uma missão, é preciso aprender e entender pessoas para ser um bom líder. Como Alexandre o grande, quem era respeitado até por seus inimigos.
As garotas olharam na minha direção.
— Você disse que eu era vice-capitã — Sora apontou —, assuma seu posto agora.
Hibiki-sensei me entregou a chave — Assim como Aristóteles instruiu seu discípulo a governar com ethos, logos e pathos, eu digo a você [Nome]-san. Lidere com caráter, lógica e compaixão.
O homem estendeu a chave para mim.
— Contamos com você capitã — Keiko que estava ao meu lado bateu com o ombro no meu.
Ergui a mão para a chave a apertando em minha mão — Vou dar o meu melhor.
Ele indicou para sair da sala em direção ao ginásio — Imagino que Daniel já esteja nos esperando.
— Daniel? — Keiko disse parando de andar — Dan?
Isso não é bom.
— Aquele Dan?! — o grito de espanto veio acompanhado de uma expressão de terror, buscando em meu rosto alguma negação.
— Não tinha outra escolha.
— Vamos morrer — ela levantou as mãos até os cabelos —, definitivamente vamos morrer.
Revirei os olhos, sempre tão era exagerada, não demorou chegamos no ginásio e Dan estava nos esperando pacientemente sentado nos degraus.
— E aí, bando de rebeldes — ele cumprimentou — Sou o Dan e vou ser o treinador de vocês. Já joguei em alguns times profissionais, sou formado em fisioterapia e o melhor treinador que vocês vão conseguir.
— E o pior — Keiko rebateu chamando enfim sua atenção.
— Oh, não sabia que você estava aqui, Kechan — uma veia saltou na testa dela pelo apelido. Depois que... Bem, quando as coisas não deram certas no fundamental, Dan me ajudou a treinar e Keiko se juntava com certa frequência a esses dias.
— Sei que essas duas jogam — eles apontou para Kei e eu — e restante de vocês tem alguma experiência?
— Joguei no fundamental também — disse a Aki levantando a mão.
— Era do clube de basquete — disse a Sora.
— Fiz boxe — Hana completou.
Emi e Misaki apenas ficaram em silêncio.
Dan prendeu a careta e olhou para mim antes de se voltar para as outras duas.
— Não é realmente um problema. Claro que não dá para virar um mestre da noite para o dia, mas treinar com diligência ajuda, temos algum tempo para isso. Mas também vai depender de vocês.
Hibiki-sensei abriu a porta e então nós quase caímos para trás, estava completamente imundo. Por fora o ginásio não parecia novo, tinha uma pintura descascada, manchas e a porta rangeu bastante até que abrisse por completo. Só que no lado de dentro, esse sim, estava um horror.
— Nossa, realmente tem uma quadra aí dentro? — Sora questionou espiando.
— Bem, o ginásio não é usado a algum tempo, então acho que deve ser normal a sujeira — disse o Hibiki-sensei com a mão no pescoço envergonhado.
— Sujeira? Isso parece que não vê a luz do sol a 100 anos — Aki rebateu.
Dan tossiu — Está aí a primeira tarefa como um time, deixar o ginásio em ordem. Boa sorte, preciso ir até à diretoria resolver algumas coisas, certo Hibiki-sensei?
— Ah, claro.
— Voltamos em algumas horas até mais — ele acenou, saindo e sem olhar para trás.
As meninas olharam para mim — Qual é não tinha como saber que estava desse jeito — suspirei — Mas vai ser um bom aquecimento.
— Precisamos achar umas coisas de limpeza e trocar os uniformes primeiro — disse Sora.
— Vamos checar a sala do clube então. — Aki concluiu.
— Isso!
Tive sorte em conseguir pessoas para me ajudar, e mesmo com seus próprios motivos um time não funciona sem antes ter pelo menos uma base nascida de mútua confiança. Ser amigas, antes de sermos o clube de vôlei feminino, mesmo que sem mim elas já conversavam entre si.
Olhei para as garotas que se afastaram e o recém-ganho ginásio. Não impedindo nascer no meu rosto um sorriso.
Independente do que acontecer, sei que estamos no caminho certo.
Revisada Janeiro/2023