Meu Carma

De Lyvthechaos

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Andrew apaixonou-se por uma humana, o que logo custou-lhe muito caro, já que esse amor é meramente proibido p... Mais

Prólogo
1. Karma Meum
2. Solstício de Inverno
3. Charlotte
4. Olhos Vendados
5. O Castelo
6. Demônios
7. Homens das Sombras
8. Estufa
9. Memórias
10. Sessão Profana
11. Projeção
12. Primos
13. Irmão
14. O Quadro
15. Explicações
16. Crime
17. Diretrizes
18. Ceia
19. Desafio
20. Conversa
21. Resquícios de Memória
22. Abraço
23. Viagem
24. Hotel
26. A Praia
27. Meia-noite
28. Reencontro
29. Confissões
30. Bagunça
31. Caos
32. Futuro
33. Meu
34. Troca
35. Retorno
36. Início
Notas Finais
Capítulo especial: Dia dos Namorados

25. Castas

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De Lyvthechaos

Andrew abria uma caixa comum de suco de laranja. A cama era macia e fofa, juntamente com as almofadas postas ali. Minhas pernas estavam encolhidas sob a cama, minhas mãos escondiam-se dentro das mangas do meu moletom. A janela estava fechada e o aquecedor ligado, mas nem isso parecia que esquentaria-me.

Andrew entregou-me o copo com o suco. Agradeci baixinho em seguida. Encarei os dois cubos de gelo boiando no líquido e divaguei um instante. Talvez a presença dos pequenos cubos de gelo fosse desnecessária. O clima estava frio, realmente frio. Talvez o certo fosse ter pedido uma xícara de café quente. Faz tanto tempo que não tomo um bom café...

— Você gostou do quarto? —  Andrew questionou, atrapalhando-me os pensamentos.

Ergui os olhos para focar no rosto de Andrew. Ele ainda estava em pé, encarando-me, esperando pacientemente por minha resposta. Um copo pendia em seus dedos com um líquido conhecido: uísque.

— Sim — respondi, desconcertada — eu realmente gostei do quarto.

— Bom, escolhi esse quarto devido a vista — ele disse com um sorriso satisfatório nos lábios — e ao clima, claro. O último andar certamente é mais frio.

— Boa escolha. — murmurei levando o copo à boca, tomando finalmente meu primeiro gole do suco.

— Está tudo bem?

— Sim, está. — dei de ombros — o que pretende com isso?

— O quê?

— Você sabe. — tornei a erguer o rosto, sustentando meu olhar no dele — trazer-me para cá. Uma vista linda, um lugar desconhecido por mim, um hotel, um quarto, uma cama. Provavelmente está pretendendo algo, estou certa?

Andrew bebeu o que restava no copo — uma quantia relativamente grande — entornando o líquido em sua garganta, de uma vez só, não deixando mais nada. Ao olhar para mim novamente, passou a costa da mão em sua boca, limpando os resquícios da bebida.

— Fala como se fosse uma paranóica. — ele disse, a voz um pouco alterada — ok, estou mesmo pretendendo algo. Pretendo dissipar a tensão que nos ronda. Não percebe o quão fodido é essa situação toda? Esperei você por anos para que no fim, nos tratarmos como estranhos, sendo que eu sei que você sente uma ligação forte por mim! — largou o copo em uma mesa de centro da pequena saleta, fazendo um barulho alto demais, fazendo-me pensar por um momento que o copo havia partido-se — e sim, temos apenas um quarto e uma cama.

Ele estava agora de costas para mim. Suspirei, levantando-me e colocando o copo de suco ainda cheio sob à mesinha de cabeceira. Caminhei até o outro lado do quarto, calmamente, onde Andrew estava. Pousei minhas mãos em seus ombros, cautelosamente e vagarosamente. Senti a tensão de seus ombros dissipando-se gradativamente até não existirem mais. Sua respiração já estava controlada mais uma vez. Ficamos em silêncio por mais alguns segundos.

— Acho que eu tenho um pouco de medo de dar um passo adiante. — confessei baixinho, sentindo-me um tanto patética por ter dito dessa forma. 

— Então temos que trabalhar nisso. — disse ele, no mesmo tom — juntos.

— É — concordei, deixando descansar a minha testa em suas costas — juntos.

***

A cama agora parecia pequena demais para nós dois. Estávamos ambos deitados sob os lençóis brancos e nem um pouco quentes, os rostos voltados ao teto do quarto, encarando o lustre pequeno porém sofisticado.

Conversávamos e no cômodo inteiro, podia-se ouvir apenas minha voz e suas risadas. Contava a ele um pouco da minha vidinha monótona antes de conhecê-lo nessa vida. Ele ouvia tudo atentamente, interrompendo apenas para indagar sobre fatos os quais sentia-se confuso, já que nunca fui boa em contar histórias às outras pessoas.

Eu não tinha muito o que contar. Sempre tive uma vida considerada normal. Sem aventuras extraordinárias ou viagens ao exterior. Apenas nasci e cresci na velha e cinzenta Londres, viajando de carro em raras vezes para conhecer condados e cidades próximas. E era isso.

— Agora me conte sobre a sua vida. — eu disse, virando o corpo para olhá-lo. Andrew permaneceu olhando para o lustre.

— Não há nada de interessante.

Bufei.

— Fala sério. — sabia que de certa forma estava pisando em solo perigoso, mas o clima estava descontraído e de forma alguma a tensão de antes poderia voltar. E eu queria saber mais sobre ele.

— Amy, você sabe exatamente o que aconteceu.

— Não quero dizer o que aconteceu quando nos apaixonamos há um século atrás. Quero saber como era a sua vida quando ainda era um anjo.

— Não sei se devo contar.

— Por que? Vai precisar me matar depois?

Vi um vislumbre de um sorriso em seus lábios.

— Não é isso. — respondeu — é uma história longa. Está preparada?

— Nasci preparada.

— Ok — suspirou antes de prosseguir, como se estivesse escolhendo quais palavras deveriam ser usadas — no céu, somos separados por castas ou simplesmente cargos. Os que nasciam sem especificamente pertencerem a uma casta, deveriam seguir com algum cargo. Os cargos são vários: anjos mensageiros, anjos da guarda, etc,. A minha era as dos mensageiros. A diferença gritante nisso tudo era que, eu pertencia a uma casta.
"Há muito tempo, houve uma certa casta capaz de relacionar-se com os humanos. Os anjos desta casta apaixonaram-se pelas mortais. O líder deles, Samyaza, desceu à Terra com todos eles. Eram exatamente 200 e todos fizeram um juramento de permanecerem juntos. Mas eu não desci.
"Claro que além de Samyaza, eles tiveram outros chefes. E os anjos que estavam com eles ensinaram aos mortais os segredos antes pertencidos apenas aos céus."

— Acho que sei do que está falando — eu disse, divagando — lembro de ter lido isso em algum livro na biblioteca. O Livro de Enoch, talvez?

Andrew assentiu, ainda sem virar o rosto para me olhar.

— Um livro complexo, não?

— Eu estava curiosa — suspirei — se lembro-me bem, um deles ensinou a fabricação de facas, espadas, espelhos...

— Sim — interrompeu-me — este se chama Azazyel. Além disso, ele ensinou também a arte da pintura, a de — fez aspas com os dedos no ar — "pintar as sobrancelhas" e, o uso das pedras preciosas.

— E o outro... — suspirei mais uma vez, tentando encontrar o nome tão difícil de ser lembrado — chamava-se Amazarak, certo? — Andrew assentiu e então prossegui — ele ensinou os sortilégios, os encantamentos e as propriedades das raízes.

— Exatamente. — Andrew sorriu — já que sabe de tudo, acho que não preciso contar todas essas coisas.

— Não! Por favor, continue. Não lembro-me de muita coisa, afinal.

— Ok — respirou fundo — Amers ensinou como anular os sortilégios. Barkayal ensinou a observar as estrelas. Akibeel ensinou os signos. Taminel ensinou a astronomia e Asaradel ensinou os movimentos da lua. Lembrando que todas essas coisas eram segredos pertencidos apenas a nós, anjos. Após terem os segredos revelados desta maneira, o pecado propagou-se sobre a Terra. Houve muita lamentação e os mortais pediram ajuda aos céus.
"Então fui um dos anjos convocados em meio aos arcanjos para prendê-los. Matamos todos os nephilins. Todos os anjos desta casta continuam presos no submundo, apenas esperando por suas sentenças definitivas. Como eu não havia descido com os "traidores", permaneci no céu, mas fui rebaixado à um mísero anjo mensageiro. E eu nunca entendi como nunca subi de cargo ou simplesmente, mudaram minha casta, mesmo eu sabendo que isso não seria possível. A verdade é que em guerras menores que ocorriam no submundo, euquem sempre liderava, ao lado de Gabriel, claro. Gabriel é um dos líderes do clero. Sentia-me um fraco por continuar sendo um anjo mensageiro quando eu conhecia muito bem a minha essência. Foi quando aproximei-me mais de Logan e eu pensei que tínhamos um vínculo forte e verdadeiro, até eu contar que eu estava apaixonado por você.
"Foi ele que convenceu-me à descer e encontrá-la. Mas essa parte da história você já sabe. Tenho minhas teorias de que o clero rebaixou-me a anjo mensageiro para que eu não cometesse o erro dos meus irmãos, mas foi inevitável da mesma forma. Quer dizer, não estou dizendo que conhecê-la foi um erro, foi só..."

— Eu entendi, Andrew. — interrompi, sorrindo — então é isso? Apenas a sua casta pode relacionar-se com os humanos?

— Isso. Apenas eu na verdade, já que sou o único da casta que não está preso.

— E Noah? Ou Logan?

— Noah foi um querubim — explicou — uma casta importante. Não tanto quanto os arcanjos. A verdade é que quando os anjos caem, podem relacionar-se com os humanos normalmente assim como eu posso, já que suas verdadeiras essências estão totalmente corrompidas. Não passam de simples anjos caídos. Já Logan — estalou a língua — ele não consegue realmente apaixonar-se ou ter relações... você sabe, relações carnais com um humano. Logan pode trocar beijos com um mortal, mas ele não consegue sentir afeto ou amor.

— E a sua essência? — indaguei — está corrompida?

— Não totalmente — respondeu, fez uma careta enquanto remexia o braço debaixo da própria cabeça — ainda sou anjo. Pelo menos, sou metade anjo. Metade anjo e a outra metade demônio. Complicado até mesmo para mim. Meus irmãos, Gabriel e Miguel, chegaram à conclusão que ainda havia bondade em mim. Por isso, quando fui lançado ao submundo, tive minhas asas substituídas por um par mais apropriadas: as negras. Os anjos caídos, quando tornam-se totalmente demônios, como Asher, não tem asas. A maior parte de nossa essência vêm delas. Elas representam a nossa pureza. Minhas asas negras, no entanto, representam o oposto.

— Interessante — murmurei — há algo mais para contar?

— Acho que sim. — passou os dedos por seu piercing no lábio inferior antes de prosseguir — eu ainda permaneço anjo pelo simples fato que tenho a opção de pedir perdão a qualquer momento. Se eu pedir perdão diretamente aos meus irmãos do clero e renunciar o que sinto por você, eu volto a ser o que era.

Senti um calafrio percorrer minha espinha. Andrew virou o corpo apoiando a cabeça em seu braço. Seus olhos azuis brilhavam.

— Mas por que você...

— Eu sei bem o que quero, Amy — interrompeu-me — e o que eu realmente quero está aqui comigo. Só basta saber se você também quer o mesmo.

— É algum tipo de pedido? — arqueei uma das sobrancelhas — por acaso vai aparecer alguém na varanda segurando uma faixa com palavras bonitas impressas?

— Não. Desculpe, a impressora estava quebrada. — sorriu — e desculpe decepcioná-la, mas não há pedido algum.

— Você não é nem um pouco romântico.

— Estou tentando não ser. Ainda lembro-me perfeitamente das regras. Aliás, acho que vou precisar de um outro quarto para ficar. Qual era mesmo a regra número quatro? — semicerrou os olhos, como se estivesse falando de um acontecimento distante — sem compartilhamento da mesma cama, certo?

— Não! — exclamei, sentindo o desespero invadir cada nervo do meu corpo — não precisa mudar de quarto por uma regra boba, não é?

— Regra boba? — arqueou as sobrancelhas — quando estabeleceu as regras, estava bastante convicta.

— As regras valem apenas no castelo e pelo que eu saiba, estamos em um hotel na Flórida. Bem longe de Londres ou submundo. Eu acho.

— Então está dizendo que...

— Sim — interrompi, aproximando mais meu corpo do dele — é uma diretriz.

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