Assim que Luke se afastou, Louisa seguiu-o com o olhar. A figura imponente e os ombros largos faziam com que o corredor parecesse mais estreito que o normal.
Decidiu seguir para a cozinha, enquanto uma voz interior a censurava: Nunca diga a um homem que está se apaixonando por ele logo no primeiro encontro. Ele vai considerá-la uma pessoa extremamente ansiosa.
Após refrescar o rosto na própria pia da cozinha, colocou um bule de água para ferver. Depois de vasculhar o armário, comprovou que realmente havia se esquecido de comprar o pó de café. No final, resolveu preparar um chá com ginseng. Era a única coisa que tinha para oferecer.
Luke surgiu na cozinha dez minutos depois. Estava tão bonito que ela não conseguiu impedir um suspiro. Ofereceu-lhe a xícara com o chá de ginseng e ele o provou sem reclamar. Depois, fixando os olhos nos dela, falou em tom de preocupação:
— Acho que temos um problema — revelou enquanto depositava a sua xícara no balcão da pia.
Louisa sentiu um nó na garganta diante do tom aborrecido que notou na voz dele.
— Que problema? — ela perguntou e de repente lhe ocorreu que estava se envolvendo com um homem sobre o qual não sabia nada a respeito. Será que ele iria lhe contar que tinha esposa e cinco filhos?
— O preservativo estava rompido.
— Oh! — exclamou ela, em parte sentindo-se aliviada.
— Você está tomando pílulas anticoncepcionais?
— Bem... Para dizer a verdade, não estou tomando pílulas. Mas, não se preocupe. Acho que não haverá conseqüências.
— Como tem certeza disso?
Ela não queria falar sobre seus períodos irregulares ou o fato de que recentemente ficara dois meses sem o ciclo. Além disso, poderia quebrar o clima romântico. Por isso, mentiu:
— Meu ciclo deverá vir daqui a uns dois dias. Por isso tenho certeza de que não poderá ocorrer nenhuma gravidez.
— É uma boa notícia — ele se acomodou em uma banqueta junto ao balcão e cruzou as pernas na altura dos tornozelos e tornou a pegar a xícara de chá. — Contudo, gostaria que entrasse em contato comigo se houver algum problema.
— Eu farei isso — Louisa respondeu, incapaz de ignorar o pressentimento infeliz. Por que precisaria entrar em contato com ele se nem estavam namorando?
Luke provou mais um gole do chá e depois declarou:
— Sabe, Louisa, adorei nossa noite juntos. Você é uma mulher bonita, inteligente e muito carinhosa.
Carinhosa?
Será que estava imaginando coisas ou ele estaria apenas sendo gentil com ela?
— Você não é nada do que eu imaginava — Luke prosseguiu. — O que me obriga a fazer-lhe uma confissão muito difícil.
— Confissão? O que quer dizer com isso?
— Você não tem idéia de quem eu sou, não é?
— Claro que tenho — ela respondeu com um sorriso por cima da borda da xícara que acabara de levar aos lábios. — Você é Luke, amigo de Jack e são parceiros no tênis. — "E o meu príncipe encantado", ela gostaria de acrescentar. Mas deveria esperar até que se conhecessem um pouco melhor. Não queria cometer duas idiotices na mesma noite.
Louisa apertou a xícara que mantinha nas mãos e tentou ignorar a frieza que via nos olhos dele. Algo estava errado. Mas o que seria?
No instante em que ele lançou o olhar acinzentado sobre ela, Louisa tinha certeza de que o que ele iria lhe dizer era muito sério.
— Eu sou Luke Devereaux, o novo Lorde Berwick. Você me enquadrou em sua lista dos mais cobiçados solteirões em seu artigo no magazine deste mês.
— Você é... — ela tentou colocar a xícara sobre o balcão, porém o tremor de seus dedos fizeram com que o recipiente virasse e derramasse o líquido sobre o balcão. Ela guardara na gaveta uma foto dele tirada por um paparazzo e não havia prestado muita atenção nela. Porém, agora, podia lembrar-se da semelhança. Ainda assim, não conseguia entender a razão pela qual ele parecia sentir-se culpado de alguma coisa. — Que coincidência!
— Não foi uma simples coincidência.
— Não? — O que exatamente Luke queria dizer com tudo aquilo?
— Eu aceitei o convite para jantar na casa de Jack porque queria conhecê-la. Estava aborrecido com aquele artigo que publicou. Ele me causou muitos problemas nas últimas semanas e... — ele deu uma pausa para respirar e depois prosseguiu:
— Tinha a intenção de dizer-lhe o quanto havia me prejudicado com aquele artigo.
Ela se segurou num canto do balcão para disfarçar os dedos trêmulos:
— Não estou entendendo — o olhar de remorso no brilho dos olhos dele agora estava mais evidente. — Por que não me diz logo o que está pensando?
Ele gesticulou com as mãos no ar.
— Quando fomos apresentados eu imaginei que você soubesse quem eu era na realidade. Depois, quando começamos a flertar... Bem, acho que ficou mais complicado para lhe dizer o que eu tinha em mente.
— Está querendo me contar que tudo o que partilhamos fazia parte de sua "armação"? Queria apenas me fazer de idiota?
Se aquela era a intenção de Luke, ele havia tido pleno sucesso, ela considerou. Louisa se derretera nos braços dele, confessara que estava se apaixonando e até lhe contara sobre o teste de Meg Ryan. Abrira seu coração para um homem que a desprezava. Uma sensação de angústia ameaçou bloquear-lhe a garganta, mas Louisa engoliu a saliva para conter a emoção. Toda a alegria que sentira durante a tarde inteira se desvanecera em segundos.
— Não é bem assim — Luke tentou justificar-se. Depois se ergueu e aproximou-se dela.
Louisa recuou um passo para impedir que ele chegasse mais perto.
— Então como é? — perguntou ela. E sem esperar pela resposta prosseguiu:
— Corrija-me se eu estiver enganada. Pelo que entendi, você despreza o que eu faço e mesmo assim resolveu me seduzir...
— Você está exagerando! — Luke reagiu interrompendo-a. — Eu até havia esquecido sobre o artigo no momento em que chegamos aqui.
— Ah! Muito conveniente para você! Acha que por confessar isso, eu me sentiria melhor?
— Não precisa ser tão sarcástica — ele afirmou, estreitando os olhos. — Acontece que eu tinha o direito de estar zangado. Poderia pelo menos ter tido a gentileza de me contatar e perguntar se eu gostaria de fazer parte de sua lista.
Louisa ficou boquiaberta. Luke não poderia estar falando sério. Será que ainda se julgava no direito de culpá-la pelo que tinha acontecido entre eles?
— Já que pensava dessa maneira, deveria ter revelado quem você era desde o minuto em que fomos apresentados. Mas preferiu me seduzir para poder me humilhar, não foi?
— Não. Eu não tive essa intenção. E também não fui o único a desfrutar da situação. Não ouvi você reclamar quando eu lhe proporcionei o seu primeiro orgasmo.
— Seu convencido arrogante! — ela exclamou, cega de raiva. E sem perceber apanhou a xícara que estava sobre o balcão da pia e jogou na direção dele.
Num gesto de puro reflexo, Luke desviou a cabeça para um lado e a xícara espatifou-se contra a parede azulejada da cozinha.
— Calma — ele pediu, enquanto passava a mão pelos cabelos.
— Saia do meu apartamento! — gritou ela com a voz trêmula. Como ela poderia ter sido tão idiota? — perguntava-se mentalmente.
— Está bem. Não precisa gritar. Se é assim que deseja, sairei imediatamente.
Luke girou nos calcanhares e caminhou na direção da porta de saída do apartamento. Ao passar pelo hall apanhou a jaqueta que ainda estava no chão e depois de sair, bateu a porta com força.
Louisa o havia seguido e feito mais alguns protestos, porém Luke nem mesmo olhara para trás.
Assim que o viu sair e bater a porta, Louisa recostou-se na parede do hall. A mesma parede em que, minutos atrás, Luke Devereaux a aprisionara e a levara ao paraíso por duas vezes seguidas.
Não demorou muito para que as lágrimas de frustração jorrassem abundantes pelo rosto dela. As pernas estavam tão trêmulas que Louisa deslizou o corpo devagar, apoiando-se na parede, até chegar ao piso. Abraçou as pernas e afundou a cabeça entre os joelhos, na tentativa inútil de esconder a própria estupidez.
Como poderia achar que estava apaixonada por alguém com quem passara um único dia? E agora que sabia a fraude que era Luke Devereaux, por que sentia o peito tão vazio como se lhe tivessem arrancado o coração?
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