Meu Carma

By Lyvthechaos

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Andrew apaixonou-se por uma humana, o que logo custou-lhe muito caro, já que esse amor é meramente proibido p... More

Prólogo
1. Karma Meum
2. Solstício de Inverno
3. Charlotte
4. Olhos Vendados
5. O Castelo
6. Demônios
7. Homens das Sombras
8. Estufa
9. Memórias
10. Sessão Profana
11. Projeção
12. Primos
13. Irmão
14. O Quadro
15. Explicações
16. Crime
17. Diretrizes
18. Ceia
19. Desafio
20. Conversa
21. Resquícios de Memória
22. Abraço
24. Hotel
25. Castas
26. A Praia
27. Meia-noite
28. Reencontro
29. Confissões
30. Bagunça
31. Caos
32. Futuro
33. Meu
34. Troca
35. Retorno
36. Início
Notas Finais
Capítulo especial: Dia dos Namorados

23. Viagem

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By Lyvthechaos

É sempre um saco escolher uma roupa adequada. Eu estava sentindo-me cansada fisicamente e sem dúvida alguma, estava esgotada mentalmente e emocionalmente também, mas eu precisava encontrar-me com Andrew. E faltava pouco menos de 10 minutos para isso acontecer.

Optei por um vestido preto, com alças finas que combinavam perfeitamente com minhas botas sem salto, de cano médio da mesma cor. Soltei os cabelos e passei um pouco de perfume, o qual achei em meio a tralhas espalhadas em um armário no closet do quarto. Estava pronta.

Saí apressada do quarto, passando as mãos por meu cabelo a cada segundo, tentando em vão abaixar os fios que atreviam-se a ficar em pé. O corredor estava vazio e agradeci ao universo intimamente por isso. Não queria esbarrar em Charlie, pois ela encheria-me de perguntas, e no momento, desejava apenas descer as escadas e encontrar Andrew logo, assim poderia voltar o mais depressa possível ao quarto.

O castelo estava imerso no silêncio e no fundo estranhei, já que nem era nove da noite ainda. Olhei em volta e nem sinal de Joseph, Charlotte ou qualquer outro empregado. De qualquer forma, eu não ficaria ali para saber o motivo do sumiço, então continuei minha caminhada em direção à estufa, que já estava a 5 metros de distância.

Mergulhada nos meus pensamentos, comecei então a especular o por quê da minha ida à estufa durante a noite. E por quê eu havia arrumado-me tanto. Será que era algum tipo de encontro?

Afastei qualquer tipo de pensamento que deixaria-me nervosa ao reparar que já estava a apenas 2 metros de distância. Parei por um instante, respirei fundo e arrumei pela milésima vez meu cabelo. Respirei fundo mais uma vez, expirando pela boca e continuei a caminhar, dessa vez um pouco mais lento, como se estivesse despreocupada.

Ao chegar à entrada, com a porta de vidro transparente escancarada, eu ouvi vozes. Duas, para ser mais específica. Uma era de Andrew e outra era totalmente desconhecida por mim. Parei de imediato, pronta para ouvir um pouco da conversa.

— E o que você vai fazer? — indagou a voz desconhecida. Uma voz grossa e baixa.

— Não é da sua conta. — respondeu Andrew ríspido.

— Nós somos irmãos, lembra? — o homem desconhecido riu — de qualquer maneira, já sabia que ficaria calado.

— Como sei que não está mentindo? — indagou Andrew. Eu podia imaginá-lo cruzando os braços no exato momento.

— Eu não mentiria em relação a isso. Você sabe que a última coisa que quero, e aliás, o que todos nós queremos é que haja uma guerra entre os anjos. — o homem suspirou — estou cansado dessas guerras. E uma guerra por um motivo fútil é mais tedioso possível.

— Não é um motivo fútil. — Andrew disse entredentes.

— Sim, é. E você sabe bem disso. Esse é um assunto que envolve apenas você e o clero. O problema é que está deixando ultrapassar isso a partir do momento que trouxe a humana para viver com você aqui.

— Do que está falando? Como sabe que ela está aqui?

— É sério? Consigo sentir o cheiro dela onde estou... e sinto que ela está bem próxima.

Após isso, saí do meu esconderijo, fingindo que acabara de chegar. Tentei ao máximo assumir uma expressão confusa e perdida, apesar de estar exatamente assim no momento.

— Com licença. — eu disse, passando a mão pelo vestido, como se estivesse tirando uma sujeira imaginária — não vi que estava com mais alguém aqui. Me desculpe.

Olhei para os meus sapatos, torcendo que minha encenação passasse por despercebida.

— Ora, então é você a famosa Katherine? — indagou o homem abrindo os braços, com um sorriso carregando deboche estampando seu rosto.

— Amy. — corrigiu Andrew, ainda impassível. — O nome dela é Amy.

— Claro. — o homem revirou os olhos — chamo-me Asher aliás.

— Prazer. — consegui dizer, esboçando um sorriso tímido ao aproximar-me, erguendo minha mão na direção de Asher para cumprimentá-lo.

— Asher estava de saída. — disse Andrew, ficando entre Asher e eu, impedindo que encostassemos nossas mãos.

— Não, eu não estava. — replicou Asher, mandando um olhar mortal a Andrew — Não seja tão inconveniente, irmão. — sorriu e passou os dedos pelo o cabelo relativamente grande, antes de prosseguir — e então, está gostando do submundo? Já visitou alguma de nossas boates?

— Ainda não tive oportunidade. — respondi meio sem jeito. Ninguém havia falado-me de boates. De repente, senti-me tentada a conhecer alguma.

— Então Andrew está mantendo-a em cárcere privado? — Asher riu mais uma vez e percebi o quão lembrava Noah, exceto pelo o cabelo um tanto grande e jogado para trás — que estranho. Quando Lilith estava por perto, sempre a levava para esses lugares.

— Amy não vai conhecer as boates — retrucou Andrew, a voz baixa e um tanto arrastada.

— Bom — eu disse, balançando-me para frente e para trás em meus calcanhares — você não manda em mim de qualquer maneira. — virei o rosto para olhar Asher mais uma vez — adoraria conhecer uma dessas boates.

— Ótimo! — exclamou Asher — garanto que vai ser divertido. Quando estiver pronta para ir, qualquer noite que seja, peça para algum motorista de Andrew deixá-la em meu castelo. Ou, se quiser, vá ao quarto círculo, onde trabalho. Passo a maior parte do tempo lá.

— Claro. — consegui dizer.

— Ok — Asher virou o corpo para olhar Andrew. Deslizou as mãos para dentro de seus bolsos e voltou a fitar-me — acho que vou indo. Sinto que atrapalhei um encontro ou algo assim. — voltou a olhar Andrew, deixando um sorriso cínico ocupar seus lábios por um momento — nos vemos em breve, Amy.

E caminhando preguiçosamente em direção à entrada, Asher saiu, deixando eu e Andrew sozinhos em silêncio.

***

Desde que eu chegara, ainda não havia percebido o quanto a estufa havia mudado desde minha última visita. Estava tudo completamente diferente, começando pelas flores, espalhadas por todos os lugares. Vasos e mais vasos surgiam pela mesa longa posta bem ao centro da estufa, ou por prateleiras especialmente postas ali para as flores e plantas.

Estava tudo tão perfeito.

— A noite já começou mau. — resmungou Andrew.

Olhei para onde ele estava: próximo a mesa, com a cabeça baixa e os olhos fechados; aos mãos estavam em punhos, apoiadas na mesa; seus braços estavam tensos, mostrando claramente suas veias saltadas.

— Asher é simpático. — admiti.

Andrew riu, mesmo não havendo humor.

— Claro que ele é. — abriu os olhos e virou o rosto, encontrando os meus. Senti o sarcasmo em suas palavras, mas tentei ao máximo ignorar.

Suspirei.

— Preciso ser sincera. — olhei para um canteiro repleto de orquídeas — ouvi parte da sua conversa com Asher. Desculpe.

Dei um pulo e segurei um grito ao ver um vaso sendo arremessado próximo aos meus pés. Sei que a intenção de Andrew não era de acertar-me, contudo assustou-me de qualquer jeito.

— E o que exatamente você ouviu? — indagou Andrew, a voz aparentando estar mais grossa o possível.

— Não muito. — respondi, a voz saindo trêmula demais — apenas algumas palavras desconectas. Não vou pressioná-lo para que explique-me algo. 

— Tudo bem. — Andrew suspirou — se quero começar de novo, vou dizer a você, mas não hoje. Não agora. — respirou fundo mais uma vez, expirando pela boca em seguida — a chamei aqui para... argh.

Andrew saiu de onde estava, dirigindo-se para o fundo da estufa. Continuei com meus olhos focados em meus sapatos, tentando conter os nervos que remexiam-se a toda hora embaixo de minha pele. Estava prestes a gritar, isso era certeza.

Andrew voltou em segundos, carregando com as duas mãos de forma cuidadosa um bolo, em uma bandeja de prata. Repousou o bolo em um minúsculo espaço vago na mesa, ao lado de um vaso de samambaia. Sorri ao ver o que estava escrito com glacê de forma detalhada sobre a cobertura de chocolate: feliz aniversário Amy.

Nem acreditava que ainda era dia 26. Parecia haver passado tanto tempo desde a despedida de Beth...

— É, sou péssimo com essas coisas. — disse Andrew, um tanto amuado. Vi uma espátula em sua mão direita, pronto para finalmente cortar um pedaço do bolo tão benfeito.

Ele cortou um pedaço relativamente grande do bolo, servindo-o em um pequeno prato de porcelana, entregando-me em seguida. Olhei atentamente o pedaço completamente feito de chocolate. Sem dúvida alguma era meu sabor favorito.

Agradeci baixinho. Acho que eu sempre dei valor a atos e momentos pequenos, mas que carregavam um significado enorme para mim. Exatamente como aquele momento. Em meio ao caos que encontrava-me, lá estava Andrew, servindo-me um pedaço de bolo no dia do meu aniversário.

Não era exatamente perfeito, mas era o que eu tinha no momento. A verdade era que ainda desejava estar com Margot, Lucy, minha mãe e... Beth.

Não chore não chore não chore não não agora.

— Sei que era para ter as palmas — disse Andrew, encostando-se na mesa mais uma vez — e aquela música irritante de parabéns, mas estamos apenas os dois aqui. Sinto muito.

— E Charlotte? Onde está?

— Concedi que saísse com Joseph. Algum encontro ou algo assim.

Quase engasguei com um pedaço do bolo.

— Espera, o quê?! — eu disse, meio exasperada — ela saiu com o Joseph? Meu Deus.

— Por quê a surpresa?

— Bom, ela não me contou nada sobre isso antes.

Andrew revirou os olhos.

— Converse com ela quando voltarem... aliás. — mudou o peso de uma perna para outra — bem, nem sei como dizer isto. — mexeu os dedos no ar, por um instante.

— Diga logo — dei uma garfada no bolo — odeio suspense.

Andrew pigarreou antes de finalmente falar:

— Nós vamos viajar.

— Isso é um convite ou uma intimação?

— Um presente.

Suspirei.

— Andrew, não estou com cabeça para fazer uma viagem.

— Eu sei. — ele disse dando um passo à frente — eu sei. É só que... Vai ser uma forma de escape dessa confusão. Tanto para você quanto para mim. Estamos precisando de um tempo — levantou os braços para dar ênfase — tempo disso tudo.

Larguei o garfo sobre o prato e olhei nos olhos de Andrew novamente, apreensiva em relação ao "convite." Talvez ele estivesse certo. Talvez precisássemos mesmo viajar.

— Tudo bem, tudo bem. — dei mais uma garfada no bolo — vamos viajar.

***

Dia 28 chegou logo. Minha mala já estava pronta, mas eu precisava arrumar-me antes. Até agora, Andrew não disse para onde é essa misteriosa viagem, mas sei que de qualquer forma, deve estar frio fora dos muros do castelo.

Optei por uma calça jeans e um blusão. Deixei os cabelos soltos e desci as escadas. No salão, Andrew já estava a minha espera, juntamente com Charlotte.

— Bem... — comecei, mesmo não sabendo bem o que dizer. Queria soar despreocupada, dizer que logo estaria de volta, mas nem isso parecia querer sair da minha boca.

Charlotte abraçou-me de repente. Um tanto assustada com sua ação abrupta, enrolei meus braços a sua volta, apertando-a mais contra mim. Era recofortante e vi-me desejando simplesmente não sair dali.

— Nos vemos outro dia. — ela disse, afastando-se em seguida.

Talvez se eu dissesse apenas essa frase desde o início teria sido mais fácil.

Aproximei-me de Andrew que fumava calmamente, enquanto observava a lareira apagada do outro lado do salão.

— E então. — eu disse, observando Charlotte afastar-se em silêncio — como vai ser?

— Ok... — deu uma tragada antes de continuar — Nós vamos sair daqui com a moto e antes de nos teletransportar-mos para onde quero, vamos ir à sua casa. Jacob disse que quer nos ver. Talvez queira saber se você está mesmo bem.

— Por que simplesmente não nos teletransporta daqui do submundo mesmo?

— É complicado. — suspirou.

— Quero saber.

— Depois. — jogou o cigarro ainda aceso no chão, porém quando olhei para baixo em busca de ver o que restara do mísero irritante cigarro, ele não estava mais lá. É oficial: odeio quando Andrew faz aparecer ou sumir as coisas do nada.

Olhei em volta, esperando ansiosamente ainda ver Charlotte ali, mas decepcionei-me. O salão estava vazio, exceto por mim, Andrew e minha mala, parados sob o piso frio e bem encerado, como se fizéssemos parte da decoração.

Andrew virou o corpo e caminhou em direção às portas de carvalho, que abriram-se após um movimento breve com a mão vindo dele. Segurei fortemente a alça da mala em minha mão e o segui, xingando-me por ter enchido-a com tanta roupa. Estava pesada e não sabia se passaria das portas com ela.

Quando saímos, um jipe preto esperava-nos, estacionado e com as portas abertas.

— Pensei que íamos de moto. — eu disse, dessa vez tentando carregar a mala com as duas mãos.

— Havia esquecido-me da sua mala. O jipe vai ser melhor. — virou o corpo novamente e aproximou-se, pegando a mala de minha mão, jogando-a no banco de trás em seguida. — Pronta?

Não.

— Claro!

***

Saímos do submundo saindo por aquela cratera, aberta em algum lugar de Londres. Afivelei o cinto e olhei para a rua, pela janela com o vidro abaixado e percebi que ninguém — ninguém mesmo — havia notado que um jipe surgiu do chão em uma cratera que sumiu em segundos.

— Vantagens de ser um demônio. — comentou Andrew, parecendo adivinhar meus pensamentos.

Olhei para a rua mais uma vez.

— Pensei que iríamos para a minha casa antes. — eu disse.

— E nós vamos.

— Então por que estamos na Electric Avenue?

— Erro de percurso. — murmurou esticando o braço para ligar o GPS próximo ao volante.

— Não sabe onde fica minha casa?

— Talvez eu saiba. — respondeu — mas quero certificar-me que chegaremos mesmo lá. Nunca fui à sua casa dirigindo.

— Que estranho.

— O quê?

— Não sei. — admiti — achei que conhecesse Londres tão bem.

— Eu conhecia. — ele disse, dando a partida quando o sinal ficou verde — na época em que o único transporte eram carruagens.

Murmurei um breve "ah", ficando em silêncio em seguida.

— Após 1960 — ele disse passado alguns segundos — resolvi que seria melhor — fez aspas com os dedos no ar, largando o volante rapidamente — "residir" nos Estados Unidos. Imaginei que na sua próxima vinda, você nasceria lá. Não sei — suspirou — algum tipo de lógica confusa, talvez? Sabe, nos conhecemos na Inglaterra. Depois você estava nos Estados Unidos e depois, Inglaterra de novo. Então eu me mudei para lá e morei em Seattle por longos anos. Alternava sempre entre Seattle e Los Angeles. Esperando por você.

Pensei em falar sobre Logan. Dizer sobre a escola que ele supostamente havia incediado nos Estados Unidos, entretanto, decidi que não tocar no nome dele seria uma decisão adequada.

— Isso explica o seu sotaque? — perguntei, tentando afastar os questionamentos em relação à Logan.

— Sotaque? — Andrew bufou — eu não tenho sotaque.

— Tem sim. E não é de todo ruim. — confessei. E não era mesmo.

— Ok. — ele disse, como se para encerrar o assunto.

— E para onde vamos afinal? Aposto que tem ligação com Seattle ou algo assim.

— Eu não vou dizer.

— Estou certa?

— Pare de ser irritante.

Calei a boca e virei o rosto, encarando a rua lá fora. Olhei com o canto dos olhos brevemente para Andrew e vi um sorriso surgir. Deixei que um sorriso também ocupasse meu rosto enquanto eu especulava sobre a viagem.

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