Contrato de Destino

By KassColim

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[LIVRO 1] Este é o primeiro livro da Série Vórtex. [Romance/Fantasia] Um contrato foi selado pelos... More

S I N O P S E
Palavras da Autora
G L O S S Á R I O
P R Ó L O G O
C A P Í T U L O 1
C A P Í T U L O 2
C A P Í T U L O 3
C A P Í T U L O 4
C A P Í T U L O 5
C A P Í T U L O 6
C A P Í T U L O 7
C A P Í T U L O 8
C A P Í T U L O 9
C A P Í T U L O 10
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N O T A D A A U T O R A

C A P Í T U L O 32

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By KassColim

Tão perto, mas tão longe 

          O nome dele sendo pronunciado pela voz de Eleonora me trouxera de volta da minha inércia. O sangue passara a fluir disparado em minhas veias, tentando amenizar a deficiência de ar que me assolava. A saliva me arranhou a garganta, e gotículas de suor emergiram em minha nuca.

          Seus olhos estavam em mim, especificamente fixos nos itens que eu segurava nas mãos. Rapidamente os joguei de volta dentro da caixa, me esforçando para não demonstrar mais confusão e vergonha do que já estavam explícitos na minha face. Rubor e nervosismo expeliam freneticamente por todos os meus poros.

          Eu tinha que parar de tremer. Tentei respirar, só respirar.

          Mas como eu conseguiria respirar com ele me olhando daquele jeito? Desviei minha atenção para as outras pessoas presentes, o que não ajudou muito porque as que não sorriam tolamente, estavam quase babando. Definitivamente, não. Nenhuma delas parecia suficientemente interessante ao ponto de prender meu olhar. Mas que raiva!

          Era irreal o quanto aquele ser parecia ficar cada vez mais lindo. Independentemente do que estivesse vestindo, a sua presença imperiosa sempre estava lá, intrínseca ao seu semblante autoritário e a segurança que ele refletia em seus movimentos quase mínimos.

          Naquele dia, seus cabelos estavam completamente desalinhados, tão selvagens quanto a sua calça rasgada e as grosseiras botas masculinas. Seus ombros pareciam mais largos e os seus braços mais fortes através da camiseta. Eu nunca o havia visto de camiseta. A pele branquinha de seus bíceps contrastava com o preto do tecido, e essa imagem me pareceu quase hipnotizante, misturada a ideia de que aquele ser insensível e primitivo pudesse ter algo tão macio e agradável de se tocar.

          Droga! Lá estava eu novamente pensando coisas que não faziam sentido.

          ― Vim acertar algumas coisas com Vincent ― respondeu ele sem desviar sua atenção de mim. ― Onde ele está?

          ― Ele ainda não voltou do golfe, mas advinha só ― disse Mad se aproximando dele. ― É o chá de lingerie da sua noiva, e você chegou na hora certa! Estamos abrindo os presentes e acredito que eles muito te interessam, por que não se junta a nós? ― indagou abrindo um sorriso sugestivo.

          De modo involuntário, comecei a balançar minha cabeça negativamente, e só percebi o que fazia, porque Anton havia arqueado uma sobrancelha, e me olhava como uma águia pronta para uma feroz arremetida contra sua caça indefesa. Fora a pior coisa que eu poderia ter feito. O instiguei a fazer aquilo, só porque era o que eu não queria que ele fizesse.

          Ele se deixou guiar pela Mad até mim, e sem pedir licença, se sentou ao meu lado na mesma poltrona solitária que visivelmente não cabia nós dois. Até mesmo porque qualquer lugar parecia pequeno demais quando estávamos perto um do outro.

          ― Você não cabe aqui, por que não se senta em outro lugar? ― sussurrei sem nem mesmo olhá-lo.

          Anton fez questão de se esparramar ainda mais, me deixando acuada entre o braço do móvel e o seu quadril.

          ― Oi para você também, fada. ― Ele se aproximou do meu ouvido, trazendo aquele perfume que sempre me deixava à beira de uma combustão. Céus, eu tinha de parar aqueles arrepios traidores. ― Estou confortável aqui. Talvez se você não tivesse a bunda tão grande, também ficaria.

          Eu não tinha a bunda grande! Nesse segundo, me virei para encará-lo e, minha nossa, estávamos perto, perto demais um do outro. A minha respiração falhou junto com o meu coração. Ele voltou as costas para a poltrona e, levando o braço para trás de mim, o apoiou no encosto todo cheio de si.

          A pele branca do seu bíceps voltou a me assombrar, mas desta vez, um brilho prata me chamara a atenção. Havia algo metálico cravejado em sua carne. O que era aquilo? Era grande demais para ser um piercing ou algo do tipo, e parecia estar preso tão profundamente. Não deu tempo de reparar muito, logo seus dedos puxaram o tecido da camiseta, escondendo-o por completo.

          Emergindo das minhas distrações, me recordei das suas palavras. Por um momento até pensei em me levantar para sentar em outro lugar, mas estava disposta a não me deixar levar por suas provocações. Eu me manteria tão impassível quanto ele.

          Dignidade, Liz. Tudo o que você menos precisa agora, é se descontrolar.

          ― A minha bunda não é da sua conta. E fique sabendo que eu ficaria mais confortável, se não tivesse um ser tão inconveniente quanto você ao meu lado! ― murmurei em um tom baixo.

          ― Hey, vocês dois aí ― gritou Madeleine. ― Será que dá para esperar a lua de mel? Podemos continuar?

          Acredito que a minha cor migrou do vermelho para o roxo. Um buraco no chão cairia bem naquele momento. Algumas gargalhadas, alguns pigarros e aquela irritante presença ao meu lado. Agora mais do que nunca era preciso acabar com aquela brincadeira, resolvi me concentrar. Outra caixa me fora entregue, desta vez, uma cor-de-rosa, onde havia um lindo conjunto de lingerie de renda pink, acompanhado de cinta liga e meia-calça branca.

          ― O sutiã é pequeno demais para os seus seios ― sussurrou ele novamente.

          ― Cala a boca, você não sabe de nada!

          ― Não só sei, como vi. ― Era absurdamente inacreditável o poder que ele tinha de me tirar o juízo com tão poucas palavras. Eu já estava a um suspiro de explodir, e ver aquele divertimento em seus olhos, não estava ajudando. ― Tamanho quarenta e seis, auréolas rosadas, mamilos pequenos. E você possui uma pintinha no seio esquerdo.

          Meus lábios se entreabriram. O barulho devia estar grande, e a minha desordem mental mais ainda, porque eu não devia ter ouvido aquilo direito. Aquele ser não existia, não era possível. Pela primeira vez, eu não sabia o que dizer, fiquei ali parada igual a uma boba, perplexa. Nossos olhares perdidos um no outro, a frieza que havia no dele, fora dando lugar a uma desconhecida inquietação.

          ― Interessante... ― falou ele virando a cabeça levemente para o lado, como se estivesse calculando algo. ― Encontrei um meio de fazê-la manter essa boquinha atrevida fechada. ― Sua atenção desceu para os meus lábios, ainda entreabertos. ― Ou quase.

          Seus olhos voltaram para os meus, desta vez, mais álgidos e impiedosos. Como eles podiam me revelar tanto, e ao mesmo tempo, nada?

          Fiquei em alerta quando ouvi um tilintar metálico. Olhei para o lado, e lá estava a algema na mão dele. Me perguntei quando fora que ele a pegou sem que eu percebesse. De um jeito desesperado, a tomei dele e joguei de volta na caixa, antes de fechá-la e abandoná-la no chão ao lado das outras.

          ― Pretende usá-las com o namorado, ou com o Nicolae? ― indagou ele, baixo e desafiador.

          Tive vontade de dar um tapa na cara dele, e me segurei muito para não fazer isso. Respirei fundo contando até dez. Precisava respirar, manter a calma, e não me deixar levar pelo seu jogo sujo. Eu iria entrar na brincadeira, mas sem perder a razão ou parecer uma descontrolada.

          ― Está com ciúmes, Anton? ― Abri um sorrisinho de lado.

          Ele elevou uma sobrancelha sutilmente.

          ― Quanta presunção, fada. Além da falta de modos e respeito, a sua visão sobre as coisas é, de fato, constrangedora. Realmente acredita que me importo com você?

          ― Se importa ou não, é irrelevante pra mim. Mas posso dizer que, para quem afirmou que cada um viveria a sua vida independente do outro, você anda se preocupando muito com o meu corpo, ou com as minhas relações com outros homens. ― Eu bem sabia que não existia preocupação ou interesse da parte dele, tudo o que o Anton fazia era apenas uma forma de me provocar e testar os meus limites. No entanto, eu não poderia perder a oportunidade de inverter os fatos para provocá-lo também.

          Pensei em ter visto o início de um sorriso, mas fora só a intensidade do brilho em seus olhos que aumentou.

          ― Isso tudo é inocência, ou estupidez?

          ― O que você acha? ― Em um baixíssimo nível de juízo e consciência, juntei toda a minha coragem e me tremendo toda, aproximei meus lábios do seu ouvido. Aquela essência quente se acentuou quase me fazendo fraquejar no último segundo. ― Respondendo a sua primeira pergunta, talvez eu use aquelas algemas com o Nicolae, ou com qualquer outro dos seus irmãos. Vai ser difícil escolher ali, são todos maravilhosos.

          ― Querem saber, desisto! ― gritou Madeleine. ― Por que não vão para o quarto logo? ― Algumas risadas ressonaram, e Eleonora a repreendeu.

          Me afastei dele atordoada, quase não acreditando no tamanho do absurdo que eu havia acabado de falar. Eu não só tinha entrado no jogo sujo dele, como também tinha me rebaixado da pior maneira. Céus, o que eu tinha feito?

           Anton continuou imperturbável. Meu coração se encolheu ao imaginar que era justamente esse tipo de mulher que ele pensava que eu era, por isso não ficara nem um pouco surpreso. Sua expressão estoica não mudaria caso tivesse ficado, mas seus olhos revelariam sua arrogância natural, e ao invés disso, demonstraram a mais profunda aversão.

          Passei a não me sentir só envergonhada, mas também, muito mal.

          Ele se levantou e, sem falar nada, saiu dali, me restando somente os olhares interessados das convidadas. Tive de buscar no fundo da minha alma algum apoio para sorrir e fingir que nada estava acontecendo. A abertura dos presentes continuou de modo automático, pelo menos para mim, até não restar mais nenhum deles. Ao final, algumas pessoas se aproximaram para se despedir, e outras ainda se dispersaram em alguns grupos de conversas, só então pude retirar parcialmente a máscara de quem estava se divertindo.

          ― Senhor, o que é aquilo tudo? ― Mel se sentou ao meu lado. ― Olha isso, ainda estou tremendo ― disse levantando a mão trêmula e eu continuava sem entender sobre o que ela falava. ― Que homem é aquele, Li? Por que não me disse que estava noiva do cara da revista? Ele é mais selvagem pessoalmente.

          Soltei uma risada, só ela mesmo para me fazer rir naquele momento. Mel realmente parecia abalada, e embora eu soubesse que seria difícil ela não se impressionar frente a algum homem bonito, fiquei feliz em saber que não era só a mim que aquele maldito fazia tremer.

          ― Você mal acreditou na história do contrato, imagina se eu contasse que se tratava do cara da revista?

          Ela soltou uma gargalhada.

          ― É, você tem razão.

          O celular dela começou a tocar, fazendo-a se afastar para atendê-lo. Voltei a ficar sozinha, mas não por muito tempo, logo Madeleine apareceu tomando o lugar da Mel. Era o momento certo para agradecê-la, porque independente da vergonha que passei, eu sabia reconhecer a dedicação que ela tivera ao organizar tudo aquilo. Mad havia me mostrado o quanto seu coração era sincero e generoso.

          ― Obrigada, Mad. ― Ela deu um largo sorriso, e então me puxou para um abraço. ― Ficou tudo perfeito.

          ― Não poderia ser diferente. Você merece, darling.

          Abri um sorriso, mas não tão grande quanto eu gostaria para demonstrar a minha gratidão. Seus dedos suaves tocaram a minha face, e desceram sutilmente até o meu queixo enquanto seus olhos pareciam ler nas entrelinhas. Tive a impressão de que ela havia notado parte do que eu estava sentindo. Será que estava tão visível assim?

          ― Apreensiva com o casamento? ― perguntou.

          ― Um pouco. ― Me recostei na poltrona, meus olhos à deriva do anel cintilante em meu dedo.

          ― Não fique, casar é formidável. Pode ser assustador no início, mas depois fica fácil e prazeroso ― assegurou ela com uma notável exaltação.

         Desejei ter um décimo daquela certeza.

          ― Eleonora me disse que você se casou cinco vezes. ― Desviei minha atenção para ela. ― Como conseguiu?

          Por alguns segundos seu olhar ficou distante, como se estivesse se perdendo em recordações. Ao se voltar para mim, ela sorriu.

          ― Amor.

          Amor... uma palavra tão simples, mas de significado tão profundo e que respondia tantas coisas.

          ― É... com amor deve ser tudo mais fácil mesmo ― analisei tristemente.

          Mad entrelaçou seus dedos aos meus.

          ― Darling, ninguém acorda amando. Leva todo um tempo para ele florescer. Entendo que tudo isso é muito recente na sua vida, mas se é amor que você procura, permita que ele entre no seu coração. Só deixe as coisas acontecerem. ― Era fácil falar. Me surpreendia ela, conhecendo o Anton, me aconselhando isso. Seria impossível deixar as coisas acontecerem com ele. Não que eu quisesse, é claro. Nunca daríamos certo, de qualquer forma. ― O Anton pode ser um pouco surtado, mas ele nem sempre foi completamente assim. Eu sei que de alguma forma, ele também tem suas inquietações quanto a este casamento. Ele nunca teve sorte com eles.

          ― Como assim nunca teve sorte com eles? Ele já foi casado? ― Era a dúvida que não abandonava meus pensamentos desde a manhã daquele dia.

           ― Eu não deveria estar falando sobre isso. ― Mad suspirou fundo e balançou a cabeça como se estivesse arrependida. ― Anton sempre proibiu esse assunto, e eu estou bem ferrada agora só por tê-lo mencionado.

          Existia alguma coisa ali, e eu iria descobrir.

          ― Mad, sou a futura esposa dele, não acha que tenho o direito de saber essas coisas?

          Seu olhar se encheu de receio, ela engoliu com dificuldade e então se ajeitou na poltrona de modo que ficamos bem próximas.

          ― Ele já foi casado duas vezes.

          Mad falou tão baixo que quase não consegui ouvir. Quase, mas ouvi. A ideia já estava formada em minha mente, e passei um bom tempo digerindo-a. Era quase impossível acreditar que alguém o suportava ao ponto de querer se casar com ele, e ainda havia uma parte dessa história que muito me interessava. O fim das esposas dele.

          ― Duas? Faz muito tempo isso? O que aconteceu com as esposas dele? ― inquiri mal conseguindo disfarçar minha ansiedade.

           Mad soltou um risinho apreensivo olhando para os lados, já que não consegui diminuir minha voz assim como ela.

          ― Sim, duas, mas ele ainda era humano, e muito novo ― sussurrou.

          ― Ele nunca se casou depois de ter sido transformado? ― Desta vez indaguei baixo para ameninar seu desconforto e fazê-la falar mais.

          ― Não, mas teve a Samantha. ― Madeleine se calou de repente, Mel já estava próxima.

          ― Vim me despedir, o Benji acabou de chegar pra me buscar.

          Me levantei para abraçá-la com a cabeça fervilhando diante de todas aquelas informações que acabara de receber. No mais, eu sabia que pelo jeito da Mad, aquela conversa já estava mais que encerrada. Esperei as duas se despedirem para em seguida acompanhar Mel até a porta.

          Depois de cumprimentar o Benji e dar um último abraço nela, fiquei assistindo o carro deles se afastarem, sem nenhum ânimo de voltar para a tenda. Eu precisava de alguns segundos sozinha, por isso, ao voltar para a casa, resolvi passar no lavabo que ficava praticamente ao lado do escritório.

           Com a sensação de um assunto mal resolvido, repassei a conversa com a Mad em minha mente. Queria muito saber sobre a tal Samantha, ou o que havia acontecido com as outras esposas dele. Como será que elas eram? Ele as tratava bem? Pensar nessas coisas estava me deixando estranhamente tensa. Aquele vampiro era um mistério ambulante que eu nunca seria capaz de desvendar.

           Lavei as mãos e após ajeitar o meu macacão pela segunda vez, dei mais uma arrumada no cabelo antes de me virar para sair. Ao abrir a porta fui tomada pela visão dele parado com os braços cruzados fechando toda a estreita passagem daquele cômodo.

           Não tive tempo de falar ou de pensar. Anton deu um passo à frente, outro e depois outro, me fazendo recuar instintivamente. A porta bateu atrás dele, e eu senti a pia contra a minha bunda. Não havia mais para onde correr, e ele continuava a se aproximar, com aquelas íris encobertas por algo muito soturno.

          Estávamos mais uma vez, próximos demais.

          ― O... o... que é isso? ― Engasguei-me entremeio a falta de ar. ― Está me seguindo agora?

          Anton chegou bem perto, nossos corpos quase se encostavam. Me olhando de cima, seus lábios se moveram e um som gutural deixou sua garganta ressoando breves ecos, fazendo a minha carne tremer e um calafrio assomar em meu peito.

          ― Respondendo a sua pergunta. No início cheguei a pensar que as suas atitudes infantis era apenas inocência, mas agora vejo que é pura estupidez.

          ― Quem você...

          ― Shhh... ― me interrompeu colocando brevemente o dedo sobre os meus lábios. ― Pessoas estúpidas não duram muito tempo ao meu lado. Portanto, pense bem antes de falar ou fazer qualquer coisa. Isso inclui sair por aí igual a uma vadia no cio querendo dar para pessoas próximas a mim.

          A minha visão se escureceu momentaneamente, e eu fui tomada por um ataque súbito de fúria. Levantei minha mão com tudo para dar um tapa na cara dele, mas antes que eu pudesse  tocá-lo, meu pulso fora segurado em um rápido movimento.

          ― Tsc, tsc... Resposta errada, fada. ― Sombras avermelhadas lhe cobriram as íris, e através dos seus lábios entreabertos, vi seus caninos descerem.

           Eu estava tão enfurecida que não senti medo, somente raiva, muita raiva. Era como se todos aqueles sentimentos ruins e todas as frustrações que haviam se acumulado durante aqueles quase dois meses, tivessem transbordado em uma ira irreprimível. O reconhecido formigamento despontou em meu centro, e se espalhou pelo meu corpo deixando um rastro de uma ardência cortante. Eu podia sentir vivamente a minha pele se abrindo e dando forma às minhas inscrições enquanto descerrava a minha luz.

           Anton desviou os olhos dos meus para a minha mão que projetava o brilho negro. Em seguida, eles correram pelo meu braço, ombro e pescoço até se fixarem no único lugar que não deveria. Entre os meus seios. Aos poucos ele foi soltando o meu pulso, observando num estado quase hipnótico, a minha inscrição com o nome dele. Vi seus lábios se fecharem duramente, e os seus olhos voltarem ao singular azul ártico.

           Sua reação me acalmou de um jeito perturbador.

          ― O que significa isso? ― indagou ele indicando com o queixo a minha inscrição.

          ― Não pense você que isso está aqui por que eu quero ― murmurei massageando o meu pulso. Eu ainda podia sentir a pressão dos seus dedos nele.

          ― Não foi isso que perguntei.

          Inspirei fundo, o que claramente foi um erro. O cheiro dele veio com tudo para mim, me provocando uma rápida vertigem seguida de uma forte vontade de chorar. Era pedir muito que as coisas ficassem bem? Vendo-o ali, na minha frente, tão excêntrico e tão atraente, tinha tudo para ser uma pessoa legal e receptiva, mas era aquela intensa confusão sombria e imprevisível que tinha o poder de me exasperar como nenhum outro.

          ― Eu... eu não sei direito. Avigayil disse que as minhas inscrições revelam o meu destino.

          Anton deu um passo para trás, mantendo uma distância segura entre nós, mas ainda me observava em silêncio. Sustentar aquele olhar era muito para mim naquele momento, um ponto no chão parecia mais seguro. Passei minhas mãos pelos meus braços como que para diminuir o ardor da minha pele, e então abracei o meu corpo.

          ― Anton... ― Elevei meu olhar. Ele tinha retomando seu hábil controle e voltado à sua cruel indiferença. ― Eu não quero brigar. Nós poderíamos tentar conversar, e nos dar bem.

          ― Não quero conversar, fada. ― Ele deu um passo à frente se aproximando de novo. ― Sabe o que estou com vontade de fazer agora? ― perguntou num tom baixo, sedutor. Foi inevitável, meus olhos se abriram um pouco além do normal antes de pairarem sobre a sua boca perfeita.

          Passando os braços pelas laterais do meu corpo, ele apoiou as mãos na pia se curvando parcialmente para frente mantendo nossos olhos no mesmo nível. Quase encostávamos um no outro, e novamente experimentei do calor da sua respiração em mim, calma, compassada.

          ― A minha única vontade agora, é rastejar os meus dedos até o seu pescoço, e pressioná-los nele até você morrer.

          Um balde de gelo em minha cabeça não teria me causado mais choque. Que ele me queria morta, eu já suspeitava, mas ouvir isso claramente, era constatar que ele não tinha jeito, e que jamais nos daríamos bem. Eu deveria mesmo esperar pelo meu fim.

          ― Isso vai fazer você se sentir menos covarde? Talvez, só cumprir com a sua promessa não seja o suficiente diante do estrago que você causou à minha espécie. ― Se eu ia morrer, não ia morrer calada.

          Ele se afastou devagar sem perder nosso contato visual, nosso desafio, e o meu único meio de tentar entender aquele ser.

          ― Você realmente não é esperta ― satirizou ele, enfiando as mãos nos bolsos da calça. ― Acha mesmo que essa conversinha de bravos e covardes funciona comigo? Se eu me importasse com cada infeliz que me chamou de covarde antes da morte, eu passaria o resto da minha eternidade escondido. Mas convenhamos, o medo é uma conduta vergonhosa, e quando ele entra em cena, eleva o nível de estupidez. Novamente voltamos ao início. Não seja estúpida, fada.

          Eu ainda processava suas palavras, quando ele simplesmente se virou e saiu.





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