O coração de Carol gelava a medida que Ana Pullper caminhava na direção deles; as roupas de couro negro da mulher misturava-se a escuridão da caverna e o cabelo quase branco de Ana era um contraste. O olhar da mulher estava sobre Tom quando ela falou:
-Ora ora,não é mais nenhuma supresa para vocês...-Ela se deteve ao olhar para Luid no chão.
Os olhos de Ana deslizaram sobre o rapaz até se fixarem na coxa ferida,Carol não soube dizer o que fez a expressão da mulher se tornar tão sombria; o sorriso de escárnio desapareceu tão fácil quanto viera. Para outra pessoa,talvez tivesse passado despercebido quando Ana engoliu seco,mas não para Carol. Ana olhou de Luid para Tom e, para a coxa ferida do rapaz novamente; Antes de falar:
-O que...mas que porcaria houve aqui? -Ela estendeu a mão enluvada na direção de Luid,mas o olhar gélido e letal estava sobre Tom. Carol se encolheu e olhou para Luid,o rapaz tinha a expressão fechada de sempre; os olhos estavam tão cravados na mulher diante dele que Carol achou que pudessem ser capazes de destruir Ana ali mesmo.
-Porque você não nos deixa em paz? -Luid atirou. -Não temos nada que seja de seu interesse.
Mas antes que ela pudese responder,Tom agarrou-a pelo cotovelo e começou a arrastá-la para longe dali. Carol não entendeu aquele gesto que pareceu tão..íntimo. A mulher de cabelo branco lançou um olhar furioso para Tom e puxou o braço com agressividade.
-Não ouse me tocar dessa maneira. -Advertiu Ana. Ela caminhou para fora seguida por Tom,mas não antes de atirar um último olhar na direção de Luid.
Os dois sumiram lá fora e Carol se levantou imediatamente,incapaz de ficar permanecer ali sem saber o que estava acontecendo.
-Onde vai? -Perguntou Luid atônito.
Arabelle estava ao lado do irmão,com as mãozinhas estendidas na direção do fogo.
-Já volto. -Carol se afastou em direção a caverna,ignorando os protestos e advertências de Luid.
A jovem se encostou mais para o canto da caverna a fim de ouvir o que Tom e Ana discutiam tanto do lado fora e o que ouviu,fez seu coração acelerar:
-Suma daqui de vez,pare de atormentar nossas vidas. -Alertou Tom. -Fique longe dos meus filhos.
O silêncio que seguiu lá fora quase machucava os ouvidos de Carol,ela temeu por Tom. Olhou para Luid,que parecia prestes a se levantar e fez um gesto para que ele permanecesse ali,ela pressionou um pouco mais o rosto contra a parede fria da caverna e ouviu:
-São meus também. -Era Ana falando. Uma vulnerabilidade descomunal na voz.
Carol sentiu o sangue abandonar seu rosto com aquela revelação,ela tinha que ter ouvido errado. A voz de Ana tinha falhado ao pronunciar aquelas palavras,Carol sentiu. A jovem engoliu seco e tentou não deixar transparecer alguma emoção que preocupasse Luid.
-Cale essa sua boca,você nos deixou! -Era Tom agora,falando entre dentes.
Carol começava a encaixar as peças do quebra-cabeça,aquela mulher era a mãe de Luid? mas como seria possível,se era tão jovem? Ela piscou e pressionou um pouco mais o ouvido contra a parede:
-Ana. -Uma outra voz feminina. Advertindo.
Então Ana não viera sozinha. Carol ouviu Tom ofegar e soube que Ana estava fazendo algo ruim,ela não se conteve e avançou para fora.
-Não! -Disparou. -Deixe-o em paz,por favor. Nós não temos nada que queira aqui,e eu...sou apenas uma mundana.
Carol percebeu que Ana estava sufocando Tom com apenas uma das mãos erguidas,a mulher disparou-lhe um olhar furioso e repleto de mágoa e então voltou-o para Tom. Carol havia dito aquilo porque sabia que Ana e sua companheira não tinham conhecimento que ela havia escutado a conversa e com toda certeza,não queriam que Carol ficasse por dentro de seus assuntos. Ana baixou a mão com uma raiva contida e com um movimento da companheira,as duas desapareceram nas sombras.
Tom esfregou a mão na garganta,a expressão impassível. Devagar,Carol se afastou; não iria fazer perguntas e não queria se intrometer mais nos assuntos de Tom do que já havia feito,quando a jovem adentrou a caverna novamente,Luid já estava quase de pé. Ela se apressou:
-Não,não se levante. -Pediu a jovem.
Mas o rapaz só voltou a se sentar após ver o pai de volta;
-Partiremos cedo,então...vamos terminar com o ensopado e descansar. -Falou Tom.
Carol não o ouviu dizer uma palavra sequer durante a refeição. Carol achou prudente não fazer nenhum comentário sobre o ocorrido também,e ela não contaria nada a Luid sobre o que ouvira; sobre aquela mulher fria ser sua mãe,ela teve pena dele e de Arabelle. Porque Tom escondia aquela situação dos filhos? Carol pensou que ele deveria ter um bom motivo.
Clair não conseguia dormir,revirava-se na cama a fim de uma melhor posição para adormercer e nada. Fazia algum tempo que o jantar havia terminado e todos tinham se retirado para suas acomodações a fim de descansar do dia longo,Jerusa prepara um quarto para o rei Casser ficar; e este dissera que ficaria bem e que as acomodações estavam ótimas para ele,mas Clair sabia que dentro daquela mente cheia de autocontrole haviam muitas,muitas maquinações. Ele ainda não havia perguntado absolutamente nada sobre seu comandante,Oliver; tampouco feito mais algum comentário sobre o ataque ao castelo. Clair se perguntava sobre o que o rei estaria pensando agora,porque dormindo ela sabia que ele não estava.
Ele não podia continuar ali,não podia. Simplesmente. Então quando se certificou de todos estavam dormindo e a mansão estava quieta,Casser se levantou e pegou a túnica prateada que havia ganhado de presente de boas vindas de Jerusa. "Combina com vossa majestade" Ela dissera e Casser aceitara de bom grado. Ele a vestiu e após pegar a espada que também havia ganho da mulher,abriu com cuidado a porta de seu aposento e saiu silenciosamente pelo corredor iluminado apenas pelas janelas enormes. Ele tinha memorizado bem os corredores e saídas ao chegar ali.
Não queria sair sem dar o mínimo de satisfação á Jerusa,que fora tão generosa com ele e muito a Clair,mas esta última entenderia-o. Ele tinha certeza. Parte de seu treinamento no castelo incluíra saber ser frio em alguns momentos,deixar de pensar com o coração; e ele há muito deixara de ouvir seu coração. Casser foi direto para os estábulos da mansão e celou o cavalo que julgou melhor,olhou uma última vez para a mansão e engoliu seco. Clair entenderia. Quando subiu no animal e tirou o Medalhão do bolso da calça para colocar no da túnica,a única coisa que tinha certeza era de que tomaria seu castelo de volta e faria Lumi e seu mestre pagarem por tê-lo rebaixado á vergonha. O Medalhão. Ele havia encontrado entre as coisas de sua mãe antes de sair de casa e desde então sempre o carregava consigo,ele se lembrava perfeitamente das palavras dela quando ele tinha apenas 11 anos: "Jamais conte a alguém sobre esse medalhão,Casser. Ele foi presente de minha avó para minha mãe e dela para mim,possui um poder raro de rejuvenescimento; Eu o estou dando a você,mas guarde-o bem e use-o com sabedoria quando achar que deve." Mas agora sua mãe já não fazia parte daquele mundo e ele estava prestes a entregar o medalhão em mãos desconhecidas,sabia do valor sentimental...mas não lhe restara escolhas.
Então ele engoliu seco trotou para bem longe dali,para uma terra gélida e desonrosa.