Hoje, ao ser tratado com aquela frieza por ela, percebi que ela está realmente chateada comigo e o pior de tudo é que não faço a menor idéia do motivo.
Devo admitir que sou um babaca de vez em quando, mais o que eu fiz de errado além de tentar ajudar?
Como já era de se esperar, meu pai mal olha na minha cara depois daquele incidente e isso têm me irritado ao extremo.
—Percebeu que a Anne estava tensa e parecia preocupada hoje de manhã? - Ruan pergunta após um resmungo meu.
Evito olhar para ele por saber de sua real intenção ao fazer essa pergunta.
— Sim, eu percebi. - respondo, sem dar importância.
Volto a me concentrar no jogo e xingo ao ser derrotado por ele.
— E você sabe o por quê?
— Por que diabos eu saberia? - pergunto encarando-o e ele da de ombros.
— Ela não parecia estar muito contente com você - murmura e grita quando Nádia se joga em cima dele. —Sai de cima de mim sua gorda.
— Não sou gorda, sou gostosa. - diz e se senta do meu lado.
— Nisso tenho que concordar.
Fuzilo o mesmo com o olhar e em seguida, desvio minha atenção para minha irmã, que parece estar animadíssima.
— O que você quer?
— Vim lhe chamar para irmos buscar sua filha. Estou morrendo de saudades dela.
Ruan nos olha, confuso e eu sorrio um tanto convencido.
— Desde quando você têm sobrinha, Nádia? - pergunta e olha para mim - E desde quando você é pai!?
— Ele se auto-convidou a ser o pai da Rosalie.
— E a Anne aceitou?
— Por incrível que pareça, sim.
Encosto minha cabeça no sofá e sorrio ao me lembrar da menininha. Ela é extremamente fofa, encantadora.
— Não é como que ela tivesse muita escolha - Nádia murmurou, o que chama minha atenção.
— Ela não deve está na creche ou sei lá onde? - Ruan pergunta logo após se levantar.
— Já são sete e dez, ela já deve estar em casa.
— Vou ligar para Anne então. Me passa o número dela - peço olhando para minha irmã, que sorri.
— Se ela não permitir sua visita, leva flores para ela. É um truque infalível.
Sorrio com o conselho dele e pego meu celular logo em seguida, pronto para ouvir sua voz mais uma vez.
Me escoro na bancada da cozinha com um copo de água em mãos enquanto Sam e Rosalie estão na sala vendo Dora. Quando falo que ele está fazendo tudo que ela quer, não estou brincando.
Meu celular toca e vejo que é um número desconhecido. Atendo e praguejo ao ouvir a voz dele.
Ligação on
— Oi, sou eu, o Carlos... Eu queria sair com a Rosalie e a Nádia, tem como?
— Não.
— Por...
Ligação off
— Quem era? - Sam pergunta ao entrar na cozinha com a Rosalie no colo.
— O querido Carlos. Você pode banhar ela pra mim, enquanto eu termino aqui?
— Claro. Vamos banhar suginha.
Sam da um beijo no pescoço dela, que gargalha. Desvio minha atenção para meu celular novamente e suspiro, tendo plena noção de que agi como uma criança ao desligar na cara dele.
Faço a calda de chocolate para colocar no bolo e quando termino, vou para sala, onde encontro o Sam todo molhado enquanto Rosalie brinca com um urso em cima do sofá, sob supervisão do tio.
— Fica com ela, vou trocar de roupa e já venho.
Me sento ao seu lado e ela logo nota o celular em minha mão, o que faz com que ela tente pegá-lo instintivamente.
Ouço a campainha tocar, coloco Rosalie no chão e ao abrir a porta, vejo Carlos Nádia e Ruan.
— O que você quer? - pergunto encarando o Carlos, que sorri e me estende um buquê de rosas vermelhas.
— Comprei para você, espero que goste.
Pego o buquê e coloco o mesmo em cima do sofá, voltando a olhar para ele olho em seguida.
— Você ainda não me respondeu, o que você quer aqui?
— Sair com minha filha. - diz, calmamente.
— Mais é claro que não - respondo fechando a porta logo em seguida.
— Quem estava tocando a campainha? - Sam pergunta caminhando em minha direção.
— Foi engano.
— Não foi engano nada! Para de fazer isso e me deixa entrar e falar com minha filha - Carlos fala do outro lado da porta, parecendo irritado.
— Ela não é sua filha! - respondo irritada e antes que eu consiga detê-lo, Sam abre a porta e o encara.
— Qual parte do fica longe delas, você não entendeu? Será que os dois murros não foram o suficiente?
— Não se mete, quero falar com a Anne e não com você.
Me viro, caminho até Rosalie e a pego no colo, entregando-a ao Sam.
— Filha, vai lá pra cozinha com seu tio. A mamãe já vai.
Espero eles se afastarem e encaro a Carlos, que arqueia sua sobrancelha.
— Ruan, vamos indo. Eles precisam conversar.
— Eu serei clara e direta, Carlos. Não quero você perto dela, até porque você não é o pai dela. Eu não vou permitir que você prometa o mundo à minha filha, que você crie esperanças e depois suma da vida dela. Ela não merece e não vai sofrer como eu sofri.