Cheguei a casa por volta das duas da tarde, a falta de respostas tinha-me deixado, novamente, irritada com aquele moreno. Era diferente desta vez, o grau da minha irritação era menor. Talvez porque sempre que pensava nele, recordava a respiração dele contra o meu pescoço, quente e suave, deixava-me totalmente arrepiada e dava por mim a pensar no que seria colocar as mãos à volta do seu pescoço ou mesmo deixar deslizar os fios de cabelo dele por entre os meus dedos. Tentava quase espancar-me mentalmente cada vez que essas imagens assolavam a minha cabeça.
Kylie estava a trabalhar e como era sábado, agradeci o facto de estar sozinha. Atirei-me para a cama e fechei os olhos sabia que um banho ia saber mesmo bem mas os meus músculos tinham tirado férias e recusavam-se a qualquer movimento.
O meu telemóvel deu o alerta de mensagem e apeteceu-me atira-lo janela fora, mas decididamente não tinha força para isso. Peguei no pequeno animal tecnológico e abri as mensagens.
“Devias perguntar-lhe o porquê de ter o revólver. Ou falhou-te essa parte?”
Levantei-me rapidamente e li a mensagem novamente e novamente. Era impossível ele ter uma arma, eu tirei-lhe a camisola, na manhã seguinte eu tinha tratado das costas e pernas, era impossível! Quem raio era esta pessoa?! Porque sabia tudo o que acontecia?!
Estava assustada, agora já o estava. O facto de estar a ser vigiada assustava-me.
Voltei a deitar-me por cima dos cobertores e fixei um ponto invisível no teto. Queria dormir mas os meus olhos deslizavam do ponto para a janela e porta. Fazia-me lembrar quando eu era pequena e o meu pai, o traste do meu pai biológico, contava-me histórias do tipo ter um monstro de baixo da cama que me iria levar para um sitio horrível se não adormecesse… a piada era que ele era o verdadeiro monstro.
Talvez agora a realidade fosse outra.
* * * * *
“Arya” chamaram. “A”
Acordei sobressaltada e completamente perdida. O rosto de Kylie apareceu á minha frente assustando-me. Senti-me ofegante e estava toda transpirada.
“Estás bem?” Perguntou sentando-se junto de mim.
“Sim…” Esfreguei a cara.
“Estavas inquieta, desculpa ter-te acordado.”
“Tudo bem, ainda tenho de tomar banho” Respondi a sorrir.
Ela levantou-se e foi-se sentar na sua cama à frente da minha. Até para dormir ela se arranjava, cabelo solto, cremes faciais, uma venda ou lá o que era por causa das olheiras, unhas recentemente pintadas e um bonito pijama a condizer.
“Sabes que me podes contar tudo, certo?” Perguntou de repente.
“Claro Ky! Porque raio estás a perguntar isso?”
“Pareces diferente. A cidade mudou-te”
“Continuo a mesma Kylie apenas com mais trabalho.”
Ela sorriu e deitou-se. Levantei-me pesadamente até à casa de banho, sentia as minhas pernas a tremer a cada passo, ao menos tinha feito exercício ao arrastar aquele rapaz. Tirei a roupa suja e entrei no banho. A água quente soube como a melhor coisa do mundo, sentei-me e deixei – a correr pelas minhas costas observando os vestígios do sangue de Zayn a correrem pelo ralo.
Quando sai do banho vesti o pijama e fiquei a ver-me ao espelho. Parecia 3 anos mais velha com umas olheiras pesadas para um rosto de 20.
Coloquei a mão à maçaneta e rodei. Franzi o sobreolho quando a porta não se abriu. Empurrei e voltei a insistir. Eu não tinha trancado a porta, a chave estava por fora.
“Kylie!” chamei mas não obtive qualquer resposta.”Ky!!” Bati com a mão na porta. “Merda Ky!”
Mandei um encontrão na porta com o ombro mas esta nem um centímetro de mexeu. Baixei-me a nível da fechadura e tentei ver alguma coisa mas a chave não deixava passar a luz.
“Kylie!” Gritei.
De repente a chave saiu e ouvi-a telintar no chão. Algo passou à frente da porta, alguém…
“Ky?” sussurrei.
A porta de fora fechou-se e eu entrei em pânico.