Já era quase noite quando finalmente Justina retornou,trazia alguns tocos de lenha nos braços e um balde de água. Quando a viu surgir na porta,Oliver se prontificou para ajudá-la,mas ela ergueu um pé para afastá-lo.
-Seu braço ainda não está bom. -Falou suavemente. -Eu posso fazer isso,estou acostumada. -Ela sorriu,mas Oliver insistiu.
-Permita que eu carregue o balde. -Falou o rapaz.
Com uma careta de desaprovação,Justina cedeu. Ela caminhou até o pequeno fogão e depositou os tocos sobre ele,então espanou o vestido e se virou para Oliver.
-Como se sente? -Os olhos escuros da mulher deslizaram pelas roupas dele (que foram do falecido marido) e se afastaram tão rápido quanto as fitaram. Pousou as mãos pequenas na cintura fina.
Oliver assentiu após colocar o balde no chão.
-Muito melhor. -Ele a encarou por um momento,pensando em como continuar a conversa. Mas logo desviou os olhos para o balde no chão,por algum motivo não conseguia encará-la muito tempo. -Eu...na verdade...
Ele viu Justina se virar para os tocos sobre o fogão,talvez tenha feito aquilo para deixá-lo a vontade...ou seria porque ela também,de alguma forma não se sentia a vontade com ele?
-Na verdade eu ia embora há pouco. -Conseguiu dizer Oliver. Ele encontrou os olhos escuros surpresos de Justina. -Mas...fiquei para agradecê-la.
Ela abriu e fechou a boca algumas vezes,os olhos escuros brilhando com algo que Oliver não conseguia dizer o que era; então suspirou e pousou novamente as mãos na cintura,virando o rosto para o fogão ao falar:
-Eu...ham...obrigado por ter me abrigado por algumas horas aqui. -Continuou o rapaz. -E cuidado dos meus ferimentos.
Ela o olhou prensando a boca,a expressão pensativa antes de falar?
-Não acho uma boa ideia você partir por enquanto. -Disse a mulher.
Se não era impressão de Oliver,o rosto dela havia adquirido um tom vermelho. Estava um pouco escuro ali dentro,mas ainda possível ter uma pequena noção do rosto dela.
-Não posso ficar mais,tenho que voltar para casa. -Oliver disse,quase num sussurro. -E...tenho que procurar por Casser.
Ela continuava olhando-o,o que de alguma forma gerou um desconforto em Oliver. Um...desconforto bom.
-Está escuro,você pode ficar por esta noite e descansar. -Disse a mulher. Ela ousou aproximar-se dele e tocar o braço costurado e ele sentiu um choque; um choque agradável. -Veja,dê um pouco mais de tempo para que seu braço fique bom. - Ergueu a vista para ele.
Oliver não soube dizer o que vira e sentira quando ela fizera aquilo,quando seus olhos cravaram-se um no outro e permaneceram assim durante um momento. Ele engoliu seco,nunca havia sentido aquilo. Ele assentiu,isso foi tudo que conseguiu fazer e então ela se afastou para próximo do fogão.
-Pode me ajudar a acender o fogão. -Justina sorriu. -Precisamos de um pouco de luz.
-Claro. Claro.
Ele iria ficar por aquela noite,mas pretendia partir pela manhã. Pensando melhor,não seria nada agradável esbarrar com mais alguma criatura pela mata escura; suspeitava que dessa vez não haveria garotinha alguma para lhe salvar.
Lumi e Amanda estavam agora em frente ao o castelo Pullper. Já havia anoitecido,chegaram um pouco mais tarde ali do que o esperado. Tudo porque haviam se entretido pelas barracas da cidade,era dia de festa e o povo de Tonder estava animado para vender. Amanda se demorara em várias daquelas barracas e Lumi aproveitara para dar uma observada em alguns itens; Ele tinha um irmão mais novo e pensara em levar algo que lhe agradasse. Amanda logo o alcançara em uma barraca,a moça tinha as mãos ocupadas com adornos femininos. Lumi a encarou.
-Qual a necessidade disto? -Ele perguntou a ela,os olhos fixos nos itens nas mãos dela.
Ela seguiu o olhar dele e quando ergueu novamente,fez uma carreta.
-Se pra você não tem necessidade,para mim sim. -Como Lumi não disse nada,ela prosseguiu. -O que você vai comprar?
-Além de fazer bastante perguntas,você é intrometida também,não é? -Lumi questionou.
Amanda deu de ombros.
-E você é um mal educado,de qualquer forma. -Rebateu a moça.
Lumi se aproximou do balcão da barraca e pediu algo que ele vira lá dentro. Amanda virara o rosto na direção de uma mulher que vendia bolinhos de doce de leite em uma cesta.
-Há quanto tempo não como um daqueles. -Falara a moça sorrindo,os olhos brilhando ao fitar a mulher da cesta de doces.
Lumi olhara dela para a doceira e dera uma breve risada sarcástica,enquanto aguardava lhe trazerem o que quer que fosse que tinha pedido na barraca. Quando Amanda fizera menção de se afastar para ir até a doceira, Lumi a interrogou:
-Não vai gastar seu pouquíssimo dinheiro com aquela doceira,vai? -Ele questionara.
Amanda o olhou,perplexa.
-Por acaso sabe quanto tenho na bolsa?
Ele dera de ombros.
-Tampouco me interessa,mas sei que não é muito.
Ela o ignorara e fora até a mulher comprar dois bolinhos; que na verdade eram bem grandes e não custou-lhe muito. Após mais algum tempo nas barracas da cidade,eles seguiram rumo ao castelo Pullper. No caminho,Amanda oferecera a Lumi um bolinho recheado e ele a olhara desconfiado.
-Aposto que nunca experimentou um desses. -Dissera ela,alegre.
Ele continuou andando e encarando-a com um expressão estranha. A pergunta dele veio após um longo instante de silêncio:
-Como pode ficar feliz?
Amanda o encarou supresa,o sorriso desaparecendo de seu rosto.
-O quê? -Perguntou.
-Como pode se sentir feliz sabendo que breve servirá aos Pullpers? -Lumi perguntou e pegou o bolinho que ela oferecera. Deu uma mordida generosa. -Acha que é fácil?
Outra vez ele estava falando dos Pullpers como se servi-los fosse a pior coisa no mundo,ela engoliu seco e desviou os olhos para o chão; ia acabar tropeçando se não prestasse atenção por onde andava. O chão de pedras vermelhas que levava ao castelo Pullper era bastante escorregadio,Amanda já sentia as pernas doerem muito.
-Nenhum trabalho é fácil. -Respondera a moça e ouviu Lumi soltar uma risadinha de escárnio.
-Um cordeiro indo para o abatedouro. -Comentara,um pouco baixo demais.
Aquilo fizera com que Amanda o questionasse:
-Então porque serve aos Pullpers?
Ele não respondera e Amanda não insistira também. Continuaram seguindo até finalmente chegarem ao castelo Pullper,e já era noite.
-Vamos entrar.
-Espere. -Amanda falou subtamente. Lumi parou e se virou para ela.
-Mudou de ideia? sobre trabalhar aqui? -Ele perguntou com um sorriso sarcástico. - Bom,porque ainda há tempo e...
-Não. -Amanda falou baixinho. Ela encarou as próprias mãos.
Não queria que Lumi adentrasse o lugar,logo ele seria punido. Se tudo funcionava como nas histórias que sua mãe contava para ela antigamente,então Lumi seria cruelmente castigado; e ela não sabia se conseguiria livrá-lo disso. E se o mestre de Lumi o considerasse tão insignificante para descartá-lo daquele mundo? a morte... Pensara durante todo o caminho que chegaria ao castelo e falaria com o mestre dele e então oferecia seus favores,em troca do livramento do homem. Mas agora,parada ali seu coração acelerava cada vez mais. Medo corria em suas veias e ela achava tão mais fácil voltar para casa,para junto de seu pai...
Onde fora se meter quando alertou o rei sobre o ataque dos Pullpers? ela colocara o próprio pescoço na forca e o de Lumi também.
-Que diabos,vamos ficar aqui parados? ande logo. -Ele se virou novamente,mas ela interveio:
-Não. -Não conseguia pronunciar mais nenhuma palavra além daquela.
O homem ergueu a sobrancelha e não precisou dizer nada,porque ela vira a interrogação no rosto dele. A moça engoliu seco.
-Está com medo? -Ayola quis saber.
Ela suspirou.
-Não.
Lumi fez uma careta de impaciência.
-E então o quê?
Ela apertou a boca fina,não conseguia dizer a ele para não entrar no castelo. Queria questioná-lo sobre punições,queria conversar sobre o ocorrido com o rei Casser...mas ela sabia que Lumi cortaria o assunto e a ignoraria. Mordeu a boca apreensiva.
-Eu...
-Você vai entrar ou não? -impacientou-se o homem. -Não tenho a vida toda.
Ela deveria entrar,tinha que tentar salvar a pele dele. Faria o que fosse possível,apesar de não gostar de imaginar o que o mestre dos Pullpers pudesse pedir. Não importava,já estava ali. Então com um suspiro,Amanda seguiu na direção de Ayola; e este se virou com uma careta em direção ao castelo.
Haviam parado para passar a noite em uma parte da mata,onde por sorte encontraram uma caverna. Carol estava sentada ao lado de Luid lá dentro,enquanto Tom cortava alguns tocos para fazer uma fogueira ali dentro,Arabelle o ajudava trazendo os tocos para dentro e colocando-os diante de Carol e Luid. A jovem havia se oferecido para ajudar Tom,mas este rejeitara,pedindo que ela ficasse ao lado do filho.
Talvez as ervas que Tom conseguira tivessem mesmo um efeito poderoso,pois o veneno do caranguejo ainda não fizera com que Luid tivesse alucinações fortes. Ele se esforçara para caminhar até ali apoiado no ombro do pai após fecharem a ferida em sua coxa,mas quando chegara na caverna simplesmente desabara e caíra profundamente no sono. Carol torceu o lábio ao olhar para ele,sentia pena do rapaz. Continuava se culpando pelo que acontecera com ele,afinal,eles a estavam ajudando. O rapaz começava a abrir os olhos devagar,quando a viu,soltou uma breve riso cansada.
-Há quanto tempo estou dormindo? -Perguntou.
Ela engoliu em seco e balançou a cabeça negativamente.
-Há algum tempo desde que chegamos,não sei exatamente. -Respondeu a jovem. -Talvez há meia hora.
Ele desviou o olhar,havia suor em sua têmpora.
-Você está com calor? -A moça perguntou e Luid a olhou exausto.
-Um pouco. -Ele virou o rosto na direção da entrada da caverna,onde seu pai e sua irmãzinha quebravam tocos. -Mas a brisa fria da noite já está melhorando isso.
Carol se mexeu desconfortável.
-Está séria. -Luid comentou. -O que foi? geralmente o carrancudo sou eu. -Ele tentou sorrir um pouco.
Carol lançou-lhe um olhar divertido,mas não sorriu muito. Abraçou o próprio corpo,já começava a fazer frio ali e ela pedia mentalmente que Tom acendesse logo a fogueira. Luid se sentou com esforço.
-Está com frio,não é? -Perguntou o rapaz,parecia preocupado. -Vou pegar um agasalho para...
-Não. -Carol interrompeu. -Já já seu pai vai acender a fogueira e vamos nos aquecer.
Ele a encarou inexpressivo por um momento e então virou o rosto na direção do pai,Tom já entrava com os tocos maiores nos braços. Depositou-os no chão e fez sinal para que Arabelle fizesse o mesmo com os dela.
-Agora vamos nos esquentar e amanhã partiremos. -Tom olhou para Luid. -Estará melhor amanhã.
Luid assentiu. Carol olhou para ele preocupada.
-Acho que você precisa comer alguma coisa,para ficar melhor. -Comentou a moça.
-Vamos assar um peixe. -Tom disse.
-Um ensopado seria bom para ele. -A jovem falou.
Tom assentiu enquanto acendia a fogueira.
-Sim. Por isso é bom ter mulheres conosco. -Ele comentou divertido e olhou para Luid. -O que seria de nós sem elas?
Luid torceu a boca e baixou os olhos assentindo,sério. Por um breve momento,ele pareceu desconfortável para Carol,um leve rubor tomava conta das bochechas dele. Ou seria efeito do veneno também? suspeitava que não. Mas...
-Ouviram isso? -Tom perguntou,aguçando os ouvidos.
Luid moveu o braço em direção ás suas armas na mochila,mas Tom já estava se levantando com a espada.
-Shhh -Silêncio. Pediu ele enquanto avançava cuidadosamente até a entrada da caverna.
Luid olhou para Carol,os olhos frios como gelo.
-Carol, -Pediu baixinho. -Me passe meu arco.
Receosa,ela obedeceu. Não levou muito tempo para que soubessem o autor do barulho,os passos pesados propositais já se aproximavam, e na entrada da caverna: Ana Pullper.