Luid não sabia porque Ana Pullper havia decidido ajudá-lo a desviar-se dos guardas do rei naquele dia. Mas a mulher o alertara sobre a localização precisa dos mesmos e instruíra um caminho de desvio para que não cruzassem com eles. Certamente ela tinha algum interesse na jovem que estava com ele,o que o intrigava era que a mulher ainda não havia feito comentário algum sobre aquilo. Ana apenas o guiara pelo caminho oposto aos que os guardas do rei estavam e o deixara ali na margem do rio com Carol,simplesmente desaparecera.
Ele se sentia exausto. Os músculos de seus braços doíam mais que o normal e suas pernas começavam a fraquejar devido ao esforço que fizera carregando Carol e ás vezes a irmã na travessia do pântano. O rapaz colocou Carol cuidadosamente no chão da margem do rio e soltou a respiração pesarosa,olhou para a irmã e se sentou. Seus olhos azuis-esverdeados encaravam a pequena garota com preocupação,ele apontou para o rio cristalino que dava no Vale dos bois.
-Beba um pouco de água. -Falou ofegante. -Não está com sede?
-Não. -Respondeu Arabelle. -Você está?
Luid desviou o olhar para onde as águas sumiam,os cotovelos apoiados nos joelhos. Por quê Ana os ajudara sem pedir absolutamente nada em troca? Ele viu Arabelle encher um cantil de água e trazer até ele,que agradecido aceitou.
Carol ainda estava fraca e desacordada no chão,a palidez de sua pele o assombrava. Ela estava doente? era doente? os cabelos escuros da moça grudavam-lhe nas têmporas,não fazia calor e ela nem sequer havia andado tanto,mas estava suando. Luid bebeu um longo gole da água que a irmã havia lhe dado e correu os olhos atentos por todos os lados,desconfiados. Esperava que seu pai pudesse ter se livrado daquele soldado real e estivesse a caminho de onde estavam,precisavam se mandar para o vale antes da noite cair de verdade.
Ele começaçava a se levantar para despertar Carol,quando uma mulher de cabelos verde-água claríssimos apareceu diante deles. Arabelle correu para trás do irmão,que se colocou em posição de ataque rapidamente; a mão no cabo da espada. Uma sereia. Ele sabia e sentia o cheiro forte de água salgada e peixe,os anos de treinamento na caçada em terra e em águas lhe permitiam isso. A expressão da moça era tranquila e seus olhos de cor idêntica ao cabelo brilhavam, mas logo a atenção deles se voltaram para a jovem estendida ao chão. Luid desembanhou a espada.
-O que você quer? -Questionou,adiantando-se para frente de Carol.
-Devia saber que é perigoso um rapaz bonito andar sozinho pela beira do rio. -Rebateu a moça.
A beleza dela doía aos olhos,Luid sabia que sereias eram extremamente lindas. Ao menos quando desejavam ser vistas assim,seu pai dizia que nem todas possuíam uma aparência agradável. Ele estava praticamente sozinho e seria um problema se aquela sereia resolvesse cantar como nas antigas lendas e o arrastar para o mar,mas por incrível que parecesse,a moça não parecia estar inclinada a isso.
-Fique longe de nós -Avisou o rapaz.
-Eu estava apenas me divertindo nas águas da superfície quando ouvi vocês chegarem. -Ela olhou outra vez para a jovem desacordada ao chão.
Luid deu um passo á frente,no mesmo instante em que notou que Carol parecia começar a despertar devagar.
-O que você quer? -Perguntou o rapaz,na tentativa de desviar a atenção da mulher-peixe.
-Quem é ela? -Questionou a jovem,indicando Carol com o queixo.
Luid ergueu um pouco mais a espada.
-Isso não é da sua conta. -Rebateu o rapaz.
A sereia o olhou com mais atenção e ele viu algo como as ondas se agitarem no olhar dela,mas não cedeu.
-Sinto cheiro de...-Ela encarou outra vez Carol no chão e então Luid. Seus olhos claros pareciam buscar respostas. -Quem é ela? ela não é deste mundo,mas ao mesmo tempo parece pertencê-lo. Quem é? -A sereia deu um passo á frente,ameaçadoramente.
-Fique longe! -Advertiu Luid.
Arabelle estava a um passo atrás do irmão,o rostinho amendrontado. Carol parecia não dar mais sinal de vida. A sereia riu com escárnio.
-Se eu quiser,acabo com você num abrir e fechar de olhos. -Alertou a moça. -Mas no entanto,estou apenas fazendo uma pergunta e lhe dando a chance de salvar seu pescoço...rapaz bonito.
Luid endureceu o maxilar,não se deixaria levar por palavras calculadas de sereias mentirosas. Porque era isso que elas eram,todas elas: mentirosas. Irritada,a sereia ergueu uma das mãos delicadas e Luid viu as nuvens trazerem mais rapidamente a noite. Nuvens cinzas cobriram o desenho artístico do pôr-do-sol e olhar no rosto daquela mulher de cabelos esverdeados...ah,era aterrorizante!
Carol ouviu a conversa de Luid com aquela mulher sereia,mas preferiu se manter quieta durante algum tempo; Sabia que estava sendo uma covarde,mas em quê ela poderia ser últil a ele? Ela se moveu devagar em meio áquela confusão no céu escuro,ventava muito. Carol se levantou vagarosamente e sentou-se,seus cabelos escuros esvoaçando atrás de si e encarou a causadora daquele caos. Mas algo mudou naquele instante e sereia recuou quase imperceptivelmente,mas Carol notou.
Os olhos delas estavam travados,como se não pudessem desviar-se. Então a sereia recuou um pouco mais,antes de cessar a tempestade que começava a se iniciar. Ela engoliu seco com os olhos esverdeados ainda sobre Carol. Esta,permanecia no chão; inexpressiva.
-Como...não pode...isto não pode ser possível. -Sussurrou a sereia.
Luid olhava da mulher para sua companheira sobre o chão,a espada ainda empunhada. Sem dizer mais nada,a sereia correu de volta para o mar e mergulhou. Carol e Luid tiveram um último vislumbre de sua cauda,antes do desaparecimento da mesma nas águas.
Oliver caiu pesadamente com o traseiro no chão de terra quando seu cavalo ergueu as patas dianteiras,assustado com a criatura ali presente. Ele se arrastou com dor,recuando para longe daquele ser horrendo. A criatura se movia como um humano,mas não havia nada de humano em suas ações quando ela rasgou o peito do cavalo de Oliver e arrancou o coração. Sangue constratava com a cor acinzentada da mão da criatura,o animal de Oliver caiu sem vida ao chão. A criatura voltou os olhos amarelos na direção de Oliver,seu rosto gosmento girando em todas as direções. Foi então que algo ocorreu a Oliver,a criatura era guiada pelo que ouvia. Se ele fosse cuidadoso o suficiente,poderia apunhalá-la facilmente. Então,enquanto a criatura se distraía com o cavalo dele,Oliver se levantou cuidadosamente e colocou a mão no punho da espada em sua cintura. Teria de ser cuidadoso o bastante se não quisesse ter o pescoço arrancado do lugar,ele estudou o ambiente.
O chão onde caíra havia sofrido uma pequena erosão e estava seco,mas a maior parte dele estava coberto por folhas secas. Se esmagasse alguma alto demais,seria um homem morto. Ele apertou a boca,a ideia era contornar a criatura e atacá-la por trás,mas o medo já começava a consumí-lo. Nunca havia visto de perto um ser daqueles,seu treinamento não incluíra monstros. De fato,ele tinha vantagem,pois a criatura tinha o aspecto físico parecido com o humano. Oliver moveu os pés com delicadeza enquanto o ser horrendo se deliciava com seu cavalo,e então não levou muito tempo para se posicionar atrás da criatura; mas exato momento em que Oliver desembanhou a espada e a ergueu para decepar a cabeça da criatura,ele pisou em falso e o barulho alertou o monstro,fazendo com que ele se virasse na direção de Oliver; as garras riscando o ar a procura de seu corpo.
O rapaz xingou mentalmente e se manteve imóvel,a espada ainda erguida. A criatura havia se colocado em posição atenta de ataque e seus olhos amarelos corriam por todos os lados,como se pudessem realmente enxergar. Lumi fora tolo,Oliver pensou - por colocar uma criatura cega entre seus homens,será que todas as criaturas eram cegas? Ele mordeu o lábio,estava muito ciente do quão próximos ele e aquele ser de outro mundo estavam. Ele observou as garras do ser horrendo,poderiam arrancar sua cabeça facilmente. Oliver precisava ter calma,sabia disso. Ele esperou até que a criatura se virasse novamente na direção do cavalo sem vida e com um movimento ligeiro,decepou-a. Respirou aliviado ao ver a cabeça gosmenta rolar pelo chão e lamentou por seu cavalo. Embanhou novamente a espada e olhou ao redor em busca de mais alguém do exercito de Lumi,mas parecia não haver mais ninguém. Ele ajoelhou próximo de seu animal e deu tapinhas no pescoço dele,a respiração de Oliver estava ofegante.
-Você me serviu bem,amigo. -Então se levantou.
Precisava seguir,mas para onde? Certamente não havia mais como atrasar Lumi e seus homens e ele não achava que poderia ir tão longe sem seu cavalo. Ele foi arrancado de seus pensamentos quando ouviu um grito estranho e não era humano. Mais delas. Mais crituras. Elas haviam sido enviadas para explorar todos os cantos em busca do rei e matariam qualquer um que não tivesse cheiro semelhante ao dos homens de Lumi. Não pensava que poderia sobreviver,mas ele correu. Correu o máximo que pôde entre as árvores,até sentir suas pernas reclamarem de dor.
Casser precisava pensar em uma forma de sair daquela prisão. Não sabia como exatamente ele havia ido parar naquele lugar frio e petrificado,mas pediria explicações a Oliver mais tarde. Agora,ele andava impaciente de um lado para o outro do quarto. Já havia forçado a mente diversas vezes para abrir aquela maldita porta e nada acontecera. A última coisa de que se lembrava era de estar com Diana em seus aposentos,fazendo um a refeição leve antes da batalha. Diana. Ela estivera tão estranha durante aquele momento...
Algo começava a martelar na mente de Casser. Ele apagara completamente após beber a água que a criada trouxera...a água. Diana o havia dado algum tipo de sonífero,é claro. Ele se sentou com aquele pensamento,o queixo apoiado em uma das mãos. Se lembrou da expressão estranha de Diana ao vê-lo provar a comida,de culpa. Ela o havia feito desmaiar e Casser só conseguia sentir uma raiva fervorosa crescer dentro dele. Mas aquilo não partira dela,era óbvio que não. Diana fizera aquilo a pedido de Oliver. E onde ele estava agora,droga!?
Casser se levantou e inutilmente socou a porta.
-Me deixem sair,merda! -Berrou. Mas ninguém atendeu.
Sua raiva era tanta,que ele sentiu seu sangue começar a ferver. Fazia muito tempo que não sentia aquilo,então ele recuou olhando para as próprias mãos. Sentiu o formigamento antigo em suas veias deslizarem para seus braços e quase explodirem em suas mãos. Ele sabia o que era aquilo...fogo. Casser recuou mais um pouco ainda olhando para as mãos,ele se assustou e maravilhou-se quando conseguiu ver as chamas sob as palmas de suas mãos outra vez. Lágrimas queimavam seus olhos acinzentados,ele quase não acreditava no que estava vendo. Seria mesmo possível que suas chamas tivessem retornado para ele? depois do que acontecera com seus pais? com ele? Seus poderes foram tirados pela Rainha do Fogo e ela prometeu nunca mais devolvê-lo. Mas ali estava as chamas sob suas palmas,não podia ser apenas miragem. Ele precisava testar.
Mas teria de tomar o máximo de cuidado,ninguém mais poderia ter conhecimento se seus dons tivessem mesmo retornado a ele. Então ele caminhou até um canto do quarto e sigilosamente ergueu as mãos como fazia quando era adolescente,e então viu o fogo antigo brilhar diante de seus olhos. Ele fechou as mãos em punho e cessou aquilo rapidamente. Com um sorriso perverso,Casser ergueu a cabeça. Faria a Rainha libertá-lo,ou ela sofreria muito se recusasse.