—já sei, ele não deixou.
Olho pra Dominic, depois me volto pro meu livro, ele entra no meu quarto e fecha a porta atrás de si, não me importo com isso, nunca fui apega a formalidades, apesar de eu não gostar muito da ideia, preciso mesmo conversar com ele, não estou muito bem hoje, estou com cólica, e depois da conversa com papai só estou pior desde de manhã.
—você não parece bem.
Dominic está de jeans e uma camiseta preta, tênis, boné, vestido de uma forma que com certeza encantaria qualquer garota na qual estivesse por perto, mas hoje eu não estou muito afim, acho que não me encanto tanto com a beleza das pessoas também por que os meus pais me ensinaram muito mais sobre o valor interior do que a aparência física.
—Orgulho e Preconceito!
—é da minha mãe, ela tem a anos.
E já é a quinta vez que eu leio, eu amo os livros da minha mãe mas isso não vem ao caso nesse momento, me ergo da minha cama, Dominic olha envolta, meu quarto é bem infantilizado, eu gosto dele assim, paredes brancas, cama com ursinhos e roupas de cama cor de rosa, prateleiras com livros que li desde criança até os dias de hoje, alguns presentes que papai me deu ao trazer de suas viagens pelo mundo com a minha mãe, e outros que meus avós me deram, e tenho um mural na parede com muitas fotos minhas com meus pais e irmãos no decorrer desses quase dezesseis anos com os Carsson, em uma, uma garotinha morena de cor diferente de seu pai branquelo num parque aquático da Disney, em outro uma menina de doze anos agarrada a sua avó materna negra na cozinha desta casa, tem fotos de mamãe comigo em todas as suas gestações, e temos várias fotos de família.
—família grande—Dominic olha pro meu mural com admiração.
—sim—afirmo—mamãe revelou pra mim e muitas delas me deu cópias.
—você adora seus pais não é mesmo?—ele pergunta analisando uma foto em que estou no colo de papai e mamãe grávida dos gêmeos nos abraça, Nando abraçando papai e Antônio nos pés de mamãe.
—eles são tudo o que eu tenho.
Não é triste ser adotiva, apesar de muitas vezes eu ter sofrido muito com isso na minha adolescência, é muito triste saber que algumas pessoas no mundo ou um bocado delas, abandonam suas crianças a sorte e as deixam para morrer de fome num mundo ingrato e cheio de incertezas e maus tratos.
Por isso eu sou muito grata aos meus pais, eu jamais saberei como retribuir ao que eles fizeram pra mim desde que entrei em suas vidas, fui só mais um pequeno número entre milhões abandonados num esgoto na Índia, mas que Deus permitiu ser encontrado e somado a vida de duas pessoas maravilhosas que me receberam de braços abertos em suas vidas, tem vezes que eu até penso que sai de dentro da minha mãe pois nossa conexão é inexplicável e forte, e que o meu pai de fato é o meu pai biológico pois nunca saberei explicar o quão é forte nosso laço familiar.
—você parece deprimida, é por que o seu pai não deixou?
—estou menstruada.
Dominic lentamente e vira o rosto pro meu lado, depois o sangue vai subindo as suas faces, estou de fato impaciente, não esperava que ele fosse entrar assim no meu quarto pra conversar do nada.
—isso foi...
—indelicado? Grosseiro? Não é algo que uma garota deva falar?
Escuto seu silêncio, volto pra cama e me deito de barriga pra baixo, abraço meu Luquinhas, meu velho urso, na verdade o papai deu pra mamãe mas eu peguei pra mim a anos, ela sabe que ele é o meu brinquedo favorito desde que entrei pra família.
—me fala um pouco da sua irmã, como foi que tudo isso aconteceu com ela?
—Lucinda é uma moça muito ingênua e doce, ela não percebeu a maldade no ex-namorado.
—e ele não vai assumir o bebê?
—Lucinda não quer, ele não queria o bebê, logo que ela disse que estava grávida ele mandou ela tirar.
—eles eram namorados?
—não, eles mantiveram um relacionamento em segredo por alguns meses, a família dele é influente e o pai é político, depois ela descobriu que ele tinha uma noiva e foi um rolo.
—tenho tanta raiva desse tipo de cara.
—eu mais que qualquer um sabe, quando você fica brava ninguém te segura Charlotte.
—eu sou indomável!
Ele ri e se senta na minha cama ao meu lado, Dominic também não parece ser muito apego a formalidades, se bem que eu acho que se o meu pai entrar no meu quarto agora, não terá espontaneidade que explique o fato de eu ter deixado o melhor amigo do Aidan entrar aqui sem mais nem menos, papai expulsaria Dominic sem pensar duas vezes da nossa casa, isso se ele não desse um soco de graça em Dominic por ter entrado no meu quarto, papai é desses que adora uma boa briga, se bem que não fujo muito do contexto, dependendo da situação eu vou até as últimas consequências, como por exemplo o que aconteceu no noivado de Henry.
—é jovem, e isso não é sua culpa.
—você fala como se fosse um velho.
—sou um pouco mais velho que você.
—e do que a sua irmã gosta?
—você não desiste de nada não é mesmo?
—Nós Carsson's nunca desistimos.
Ele sorri e fica lindo assim, os olhos azuis em mim, sinto-me constrangida pela primeira vez desde que ele entra no meu quarto, os dentes de Dominic King são retinhos e sua boca vermelha, parece desenhada, é difícil imaginar um homem desses me beijando.
—você parece o meu pai falando.
—o seu pai?—questiono—como ele se chama?
—Noah e a minha mãe Samantha.
—legal.
—posso te ajudar de alguma forma?
—já tomei remédio, daqui a pouco passa.
Dominic faz que sim com a cabeça, me encolho abraçada a minha pelúcia, ele estende a mão e toca os meus cabelos devagar, fecho os olhos tentando relaxar.
—como pode uma pessoa tão pequena e frágil ser tão brava?
—esse é um mistério do universo Dominic.
Ele sorri novamente, desvio o olhar pra Luquinhas.
—tamanho não é documento.
—posso ficar aqui com você?
—aham.
Ele se aconchega e indico os tênis, Dominic tira o par de tênis e se deita ao meu lado, não muito próximo mas acaricia meus cabelos em silêncio, não me incomodo, e sinto-me estranhamente segura ao seu lado, ele se inclina e não me movo, e quando ele me beija não me afasto, ganho outro selinho dele, da boca vermelha que acho linda.
—tudo bem não ser minha acompanhante Charlotte—ele sorri—você não nasceu pra isso mesmo.
—não se preocupe, em breve viajaremos juntos, eu sempre cumpro com a minha palavra.
—sei.
—é bom que sabe mesmo Dominic King.
Ficamos em silêncio, prefiro assim, acho que posso dormir um pouco, não quero pensar nas recusas de papai, aquilo me irritou bastante, mas se conheço mamãe, isso logo, logo irá mudar.
Ao Meu favor é claro.