- Eu não posso, não posso - falo, sentindo o peso do olhar de todos sobre mim.
- Você é capaz, confio em você.
As palavras do tio Roberto parecem sussurros e sinto uma angústia crescer dentro de mim.
- Tenho certeza que cuidará muito bem da escola. Recebi muitos elogios dirigidos a você, senhorita - encaro Edgar, que tem um sorriso no rosto.
- Concordo com eles. Você tem sido melhor que muitos aqui - Caius diz.
Não posso voltar para aquele lugar, não posso...
- Providenciaremos um lugar para você morar, se é isso que lhe preocupa - diz Edgar - E será muito bem vinda.
- Olha, eu sei que é uma ótima oportunidade e fico extremamente feliz em saber que confiam tanto em mim, mas eu não posso. Tenho...
Uma batida na porta faz com que eu pare de falar. Vivian, uma senhora que trabalha comigo abre um pouco a porta e pede para falar comigo. Peço licença e saio da sala de reuniões.
- Querida, a dona Bianca me ligou...
- O que ela queria? É alguma coisa com minha filha? O que houve?
- Ela me pediu para falar pra você ir para a creche o mais rápido possível.
Agradeço e observo a mesma se afastar de mim.
Por favor meu Deus, que não seja nada grave com minha pequena.
Sinto algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto e neste momento, Matt saí da sala e caminha até mim.
- Ei, está tudo bem? O que houve, Anne?
- A minha filha - murmuro e corro para a minha sala. Pego a chave do meu carro, minha bolsa e saio da mesma.
Matt me encara, claramente confuso.
- Preciso ir.
- Irei com você. Você não está em condições de dirigir.
Saímos da empresa e caminhamos até o estacionamento. O mesmo abre a porta do seu carro pra mim e eu entro no mesmo. Fecho a porta e espero ele entrar no carro. Minhas mãos estão trêmulas.
- Vai mais rápido - peço e ele revira os olhos.
Minutos depois, que mais pareceram uma eternidade, chegamos na creche e nem espero que ele estacione o carro direto, para eu sair.
Entro correndo na creche e vejo tia Bianca, mas ela não está com minha filha.
- Cadê ela? Onde está a minha filha?
- Se acalme, querida. Ela está dormindo.
- Mãe, o que houve?
- Eu estava em casa e recebi um telefonema. Não sei quem era, só dizia que era para falar pra você ficar esperta. Que você logo iria receber um presente. Então vim correndo pra cá ver se estava tudo bem com a Rosalie. Quando cheguei me avisaram que ela estava no quarto e quando eu ia me aproximando vi um vulto. Peguei a Rosalie e me certifiquei se estava tudo bem com ela. Chamei os seguranças e por ela estar acordada, a fiz dormir novamente e pedi para um segurança ficar com ela. Liguei para a sua sala mas você não atendeu então liguei para Vivian.
- Quero ver minha filha.
- Vamos.
Fomos até o quarto e vejo que Rosalie está acordando. O segurança saiu e sentei-me ao lado da minha filha.
- Mamãe está aqui e nada vai te acontecer, eu prometo.
Um tempo depois, Matt nos leva para casa e vai embora. Tia Bianca foi com ele, deixando claro que logo viria novamente.
Dou um banho nela e logo ela dorme. Levo a mesma para o quarto e a coloco no berço. Saio do quarto, sentindo um aperto dentro de mim.
O que eu fiz? Por que querem machucar a única pessoa que tenho na vida? Será que tudo que passei ja não é o suficiente? Essas perguntas tomam conta da minha mente.
Ouço baterem na porta e quando abro não tem ninguém, apenas um urso de pelúcia com um ziper jogado no chão. Pego o mesmo e abro o ziper. Vejo um papel, que parece ter algo escrito e começo a ler.
Não tenho nada contra sua filha. Com quem tenho que acabar é com você. Há cinco anos atrás não consegui, graças a seus pais. Agora, tudo mudou. Ou é você ou é ela...
Vejo que também há um pen drive, então pego o mesmo e o conecto na tv. Começa a aparecer fotos minhas, de quando eu estava com meus pais e sozinha. Do dia da aposta e de quando embarquei. A última foi uma de quando eu estava na creche.
Pego o urso com o papel e o pen drive e jogo no lixo. Volto para o quarto e fico perto da minha filha. Penso em tudo isso e tomo a minha decisão, se é certa ou errada não sei, mas parece a melhor coisa a se fazer, pelo menos por agora...