Respiro fundo e lavo meu rosto logo em seguida.
Já se passou um mês, desde que tudo aquilo aconteceu, e eu não tive coragem de pisar novamente naquele colégio.
Odeio me sentir fraca e sensível à tudo, como estou me sentindo agora.
Saio do banheiro e caminho até minha cama. Me sento na mesma e engulo em seco.
Pego meu celular, disco o número da Cathy e no segundo toque sou atendida.
Ligação on
- Me solta cacete! - ouço alguém resmungar - Oi Anne.
- Oi. Eu estou te atrapalhando?
- Não, fica tranquila. Como você está?
- Estou bem, e você?
- Estou bem.
- Nossa, faz tanto tempo que nós duas nos falamos. Sua voz está tão diferente!
- Cathy, você sabe se seu pai está precisando de uma secretária, lá na empresa?
- Eu não sei, mas acredito que sim. Minha mãe colocou a Rebeca para correr, já que ela estava dando em cima do meu pai. Confesso que fiquei com um pouco de dó dela. Você está estudando?
- Eu... Eu estou sim - minto - Mas as coisas estão apertando um pouco aqui.
- Entendo. Olha, vem morar aqui. Tenho certeza que meu pai irá ceder a vaga à você. Falarei com ele ainda hoje.
- Está bem. Obrigada Cathy.
- Olha, vou precisar desligar agora, mas depois eu te ligo para te falar o que meu pai me disse. Beijos.
Ligação off
Espero que dê tudo certo, e que o pai dela deixe a vaga para mim. Eu preciso sair dessa cidade, o mais rápido possível.
Eu perdi meus pais aqui, e a única coisa que me prendia à essa cidade, era o Carlos, mas agora...
Agora eu tenho a chance de ser realmente feliz e de tentar esquecer o Carlos.
Me levanto, caminho até meu guarda-roupa e pego um vestido azul claro.
Tiro a roupa que estou vestida e visto o vestido. Solto o meu cabelo, dou uma olhada no espelho e coloco um sorriso no meu rosto.
Saio de casa, e cerca de vinte minutos depois entro no colégio, em passos lentos.
Confesso que quando cheguei em frente ao mesmo, minha vontade era de dar meia volta e ir para a casa, como uma covarde... Mas eu não sou assim.
Jamais corri dos meus problemas, sempre enfrentei tudo por mais difícil que tenha sido.
Vejo algumas pessoas no corredor, e sinto o peso do olhar delas sobre mim, mas eu continuo a caminhar, sem abaixar a minha cabeça.
Bato na porta da sala da diretora Débora, e ouço a mesma mandar que eu entre.
Abro a porta, e a mesma abre um sorriso ao me ver.
- Anne, querida. Eu estava preocupada com você.
Ela se levanta de sua cadeira, caminha até mim, e me abraça.
Ela se senta e eu me sento na frente da mesma.
- Débora, eu vou me mudar de cidade e vim pegar minha transferência.
- Eu fiquei sabendo do que aconteceu e eu realmente sinto muito, mas pense melhor Anne. Sei que tudo isso que aconteceu foi ruim, mas acha mesmo que vale a pena sair daqui? Vale realmente deixar tudo para trás?
Ruim chega a ser um eufemismo em relação à tudo que aconteceu.
- Eu preciso disso. Para falar a verdade, eu não tenho nada a perder. Meus pais estão mortos e eu fui usada e machucada por quem amo e acreditei que me amava. Eu não tenho ninguém aqui, Débora.
- Você tem a mim, menina - diz e pega na minha mão, apertando a mesma logo em seguida - Você sabe que eu te ajudarei em tudo que você precisar, basta me dizer.
- E eu te agradeço muito por isso, mas eu acho que é o melhor pra mim. Eu falei com uma amiga, e ela me chamou para ir morar com ela.
- Está bem, se você quer assim, eu irei te apoiar.
Converso com ela sobre minhas faltas, como farei para pegar minha transferência e o que devo fazer para que eu volte a estudar, sem ter problema algum.
Ouço o sinal bater e estremeço.
- Eu preciso ir. Obrigada por tudo Débora.
Pego os papéis que ela me deu e me levanto.
- Te acompanho - diz se levantando logo em seguida.
Ela caminha até a porta, abre a mesma e eu saio da sala dela, sendo seguida por ela.
Tem muitas pessoas nos corredores, algumas ainda estão saindo de suas salas e posso ouvir algumas risadas baixas.
Abraço a Débora quando chegamos no portão e observo a mesma se afastar de mim.
Olho para o outro lado da rua e vejo uma cena capaz de ferir ainda mais meus sentimentos.
Carlos Hildebrand está beijando a Celeste, e parece apertar a bunda da mesma sem se importar com quem esta vendo essa cena deplorável.
Minhas pernas ficam bambas e meus olhos se enchem d'água. Um nó começa a se formar em minha garganta e eu abaixo minha cabeça. Apresso meus passos e antes de virar a esquina, levanto minha cabeça e algumas malditas lágrimas escorrem pelo meu rosto, sem que eu consiga controlar.
Olho uma última vez para o outro lado da rua e vejo que o Carlos me encara. Limpo minhas lágrimas e coloco um sorriso no rosto.
O Carlos não foi capaz de valorizar meu sorriso e nem o amor que sinto por ele. Ele não merece as minhas lágrimas...