O Pomar do Passaredo

By AntonioLuizMCCosta

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Novela erótica de fantasia: exilado em Atlântida, um mercador de vinhos acaio explora a misteriosa sensualida... More

Prólogo: Os mercadores de vinho
Capítulo 2: Preliminares
Capítulo 3: Aquecimentos
Capítulo 4: Finalmentes
Capítulo 5: Vamos nos conhecer melhor?
Capítulo 6: As honras da casa
Capítulo 7: Cinzas da esperança
Capítulo 8: Proposta indecente
Capítulo 9: Almoço em família
Capítulo 10: A garota do prazer luminoso
Capítulo 11: Amarras do desejo
Capítulo 12: Troca de papéis
Capítulo 13: O espelho de obsidiana
Capítulo 14: A mestra tantrista
Capítulo 15: Na beira do abismo
Capítulo 16: Pontos de vista
Capítulo 17: O Livro dos Uivos dos Gênios
Capítulo 18: A Asa da Noite e a Asa do Dia
Capítulo 19: O Menino das Vacas
Capítulo 20: A Pérola e o Abricó
Capítulo 21: Tragédia Acaia
Capítulo 22: O feitiço do rega-pimenteira
Capítulo 23: Intimidades

Capítulo 1: Nas portas do Pomar

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By AntonioLuizMCCosta


Tlazin lhe recomendara, para não fazer feio, ir cedo, banhado, sóbrio e principalmente bem descansado. Quanto à última parte, tinha pouca escolha. Até a nota ser descontada, o dindim continuaria curto e qualquer bordel de Atlântida estava para o equivalente na Acaia como o vinho de Acaia para o da Atlântida: dez vezes melhor e dez vezes mais caro.

Para sua frustração, tinha pouca sorte fora deles. Em sua terra, a lábia e a boa figura lhe permitiram convencer mais de uma jovem pudica a burlar pais zelosos e maridos ciumentos até isso lhe trazer graves dissabores. Képhalos ameaçara cortar-lhe o saco, em tom muito sério, caso lhes arruinasse os negócios ao tentar seduzir filhas e esposas da colônia acaia local. Quanto às liberadas e exuberantes atlantes de seios nus, faziam-lhe pouco caso. Para elas, os acaios tinham fama de maus amantes, sua aparência era mais engraçada que sedutora e os galanteios mais eficazes para derreter as acaias as faziam rir.

E como lhe advertiram muitas vezes antes mesmo de embarcar em Olísis, nunca, jamais, nem de brincadeira, por todos os deuses do monte Olimpo e do monte Atlas, cogitasse de forçar uma mulher atlante. Geralmente tinham no ventre o poderoso amuleto pekenan, um cordão ornado com presas de felino cujo contato podia até matar o homem que a tocasse contra a vontade. Se conseguisse contornar essa barreira, nenhuma atlante se envergonharia de denunciar um estupro e a punição usual era a escravidão. Para não correr o risco de fazer alguma tolice ao encher a cara, Phaidros tratava de só beber em bordéis e não saía do ciclo vicioso. Tlazin lhe oferecera, além do mais, uma chance de quebrá-lo.

O endereço era no bairro das Pedrarias, não muito longe do bairro acaio do Purokheion onde se estabelecera, mas cada um dos cinquenta bairros da metrópole era vinte vezes maior que sua Olísis natal. A intrincada rede de ruas, pontes, canais e ilhas não formava um padrão discernível e a cidade, muito plana, oferecia poucas referências visíveis naquela área para além da atordoante variedade de fachadas, estátuas, fontes e jardins. Phaidros fora aconselhado a chegar cedo para receber as devidas explicações, mas foi a pé para economizar a tarifa do gondoleiro e se perdeu mais de uma vez. Felizmente, o povo não lhe negava informações.

Por fim, chegou a um canal afastado das vias principais do bairro e de suas famosas joalherias e casas de cristais mágicos. Caminhando pela calçada entre o canal e as vilas residenciais, encontrou o lugar indicado. Uma vila de estilo comum na Capital, semelhante a um pequeno castelo de quatro blocos e um mirante, construído em pedras brancas, pretas e vermelhas de tamanhos e formatos variados, dispostas em padrões decorativos e encaixadas como um quebra-cabeça para formar paredes, janelas e portas levemente trapezoidais, técnica que as tornava imunes aos frequentes terremotos.

A entrada para o pátio interno da vila era enquadrada por um duplo totem de bronze que a identificava como a família Zitció do clã Quar, a Tartaruga, mas não devia entrar por ali e sim na casa à direita da entrada, separada das demais por uma cerca baixa, com uma porta discreta ao canto e sinais de reforma. A família decerto a adaptara para um uso diferente do original. Na parede, uma bandeira com uma árvore carregada de frutas e pássaros, como Tlazin lhe descrevera. Niahmon Quolam, "Pomar do Passaredo", o dlaugor que se reunia nos dias-de-leão, ou seja, a cada primeiro dia da quatorzena senzar. Sobre a porta, a carranca de longas presas da deusa Guindon vedava o lugar a crianças, como já vira em bordéis. Mais horripilante que a Górgona dos acaios, era toda feita de serpentes, não só o cabelo.

Depois de hesitar por um momento, Phaidros atravessou a cortina de cordas pendurada à porta. Encontrou um corredor largo e, sentados à uma mesinha, dois senzares, um homem de cabelo em cuia e uma mulher de franja cheia e arredondada, ao modo do clã Quar.

Ça benvan!– Saudou o homem erguendo a mão, com expressão curiosa.

Zihn van! – Respondeu Phaidros.

– Primeira vez? – Perguntou a mulher, madura e jovial, apoiando o queixo nas mãos trançadas com um sorriso franco. Ele confirmou. – Posso perguntar quem te indicou?

– Sou Phaidros de Olísis. Sã-hin... digo, Tlazin-bã me indicou como substituto. –Apresentou a carta selada e olhou de soslaio para os seios nus. Outro costume atlante com o qual deveria estar acostumado, mas poucas phaiassas os tinham tão volumosos e de aréolas tão grandes.

Ela abriu e conferiu.

– Bem-vindo. Sabes, em linhas gerais, o que faremos aqui?

– Hã... vagamente. Tlazin-bã não entrou em minúcias. – Coçou a cabeça.

– Nem poderia – interveio o homem. – A regra mais importante é: não se fala lá fora do que se faz aqui dentro, nem se fala aqui dentro do que se faz lá fora. Preciso pedir-te para jurar por Gutis não falar do que acontecer aqui a quem não pertencer ao círculo.

Phaidros hesitou antes de atender. Era um juramento muito sério em Atlântida. Gutis era uma divindade severa, encarregada de punir os perjuros com as mais terríveis torturas do Além. Mas seria ridículo chegar a esse ponto e voltar atrás. O senzar então pediu à mulher para orientá-lo enquanto recebia mais um retardatário.

– Bom, sou Sorlau-bã, meu marido é Lontli-bã e somos os mestres de cerimônia do teu dlaugor. – Explicou a mulher, ao conduzi-lo ao fundo do corredor. – Neste vestiário, deixas para trás estatuto, estado civil e tudo o mais, estás livre! Põe num dos nichos roupas, sandálias, anéis, braceletes e esquece teu nome. Aqui, os homens adotam nomes de pássaros e as mulheres nomes de frutas. Teu amigo, por exemplo, é o Cuco. Que ave queres ser?

– Hã... Qual te parece adequada? – Sentou-se num banquinho para desatar as sandálias.

– A escolha é minha? – Deu um sorriso maroto. – Então, serás o Pica-pau, combina com teu topete vermelho. Trata todas as mulheres, exceto eu, como xin, "desejo", e os demais como , "amizade". As mulheres aqui tiram o pekenan, usam apenas um xedli para se proteger de gravidez e doenças. Podes tocá-las socialmente ou de maneira carinhosa sem receio, mas reserva os toques íntimos para aquelas sorteadas a cada jogo.

– Jogo? – Despiu-se, tenso. Sorlau o olhava sem pudor. Outras pessoas entravam, deixavam suas coisas, punham uma tanga e saíam sem prestar atenção neles.

– Faremos vários e a cada um deles, cada homem será sorteado por uma mulher, ou vice-versa. Meu companheiro instrui os homens quando a iniciativa é deles e eu falo quando é a vez das mulheres. Nos intervalos, tratas com quem quiseres e te serves de comes e bebes, mas no jogo, toda a atenção será para a parceira da vez. Não podes recusá-la, nem fugir ao mote. Seja gentil ao mandar e complacente ao obedecer, isso é principal. Tem calma e não te apresses a gozar ou ficarás sem fôlego. E põe isto, no princípio se usa.

Deu-lhe uma tanga multicolorida, do tipo usado pelos atlantes em ocasiões festivas. Pica-pau atrapalhou-se ao vesti-la, por ser bem mais longa que uma tanga acaia. Sem pedir licença, Sorlau a arrumou para ele e o despachou com um sorriso e um tapinha no traseiro.

– Relaxa e anima-te! – Encorajou ela, brincalhona. – O teu pinto está menor que meu mindinho, mas no momento certo, saberá cantar de galo!

Era um grande salão de festas, com almofadas e esteiras espalhadas pelo chão de mosaico, tapeçarias decorativas pelas paredes, flores, arcas e bancos pelos cantos e faixas de seda colorida penduradas das traves do teto. Tinha pé-direito duplo e na parte alta, janelas arejavam e iluminavam, exceto de um dos lados, no qual a metade superior da parede era substituída por uma cortina de cordas. Dali se fazia ouvir música de alaúde, flautas e tambores. Músicos tocavam por trás, sem verem os convidados nem serem vistos por eles.

Ao fundo, duas mesas compridas, uma com pães, frutas e tigelas de molhos e cozidos com aroma de pimenta e especiarias e outra de talhas de água e jarros de bebidas fermentadas. Juntou-se aos convivas que ali beliscavam. Metade eram senzares, phaiakes e phaiassas de cabelos negros e lisos, olhos rasgados e corpos de bronze escuro. Outros pertenciam à gente de cor de ébano e cabelo crespo que os atlantes chamavam tlavatlis e os acaios mauroi. Havia ainda pessoas de cabelos negros e pele relativamente clara, nunca tanto quanto a dele.

Alguns recém-chegados à maioridade, outros perto da meia-idade, alguns magros, outros carnudos, mas todos de aparência saudável e exercitada. Corpos perfeitos, exceto por uma moça com um braço atrofiado, provável sequela de uma paralisia infantil. Os vaidosos atlantes valorizavam a forma física tanto quanto os acaios. Nesse particular, Pica-pau estava à altura de comparações e sabia que o seu pau também não faria feio se conseguisse relaxar.

Para ajudá-lo, serviu-se de um bom copo. Vinho tinto atlante, razoavelmente bebível,mas avaliado por seu paladar experiente em quatro ânforas por um ás. O problema é o excesso de fartura, pensou. Com uma terra tão vasta, fértil e bem irrigada, mais vale produzir barato em quantidade e não pensar demasiado em qualidade. O segredo da perfeição do vinho acaio estava nas quintas pequenas e na terra seca e agreste, onde o camponês e seus filhos tinham de trabalhar de sol a sol para regar e adubar cada videira e proteger cada cacho.

Um contato suave no ombro lhe interrompeu a filosofia. Virou-se e abriu um sorriso. A primeira atlante a tocá-lo em meses sem ser por razões profissionais era uma phaiassa jovem e bonita. Corpo de pantera, nariz delicado, olhos brilhantes, boca carnuda e covinhas.

Ça! – Uma saudação informal e íntima.Bem-vindo, sou Tâmara. Como te chamas?

Enquanto segurava um copo de cerâmica com a direita, ajeitou com a esquerda as finas tranças amarradas com cordões e peninhas vermelhas, típicas das mulheres Fun, ou seja, Fênix. O clã estava no próprio ser, não se deixava no vestiário.

– He... Ah, Pica-pau.

–Gostei! És acaio?

– Sim. Por quê?

– Fiquei curiosa – Tomou um gole de sua bebida leitosa, sem tirar os olhos dele. – Nunca tivemos um acaio aqui. Eu nunca tive, Pica-pau-xin.

Ficou arrepiado e o seu passarinho se espichou no ninho. Decidiu ser mais atrevido.

– Gostarias de experimentar, Tâmara-xin? – Acariciou-a na cintura, onde se pendurava o cordão desdentado do xedli e ela sorriu.

– Para isso estamos aqui, por experiências novas, não é? Para nós, é embaraçoso sermos vistas com bárbaros. Mas aqui é o lugar de perder a vergonha para conferir se são mesmo tão toscos quanto dizem e se algum tanto de brutalidade pode ser divertido.

Pica-pau ficou desconcertado. Na dúvida sobre se deveria desmentir a fama dos bárbaros ou confirmá-la, mudou de assunto.

– Adoro essas covinhas! Dá-me vontade de morder-te!

– Que bom! E eu tenho uma queda para o exótico. – Acariciou-lhe os cachos ruivos.

Abraçou-a e beijou-a num repente que a fez derrubar o copo, mas ela não protestou e enroscou a língua na sua. O sabor refrescante de vinho de arroz lhe ferveu o sangue nas veias, os braços eram tão macios quanto os imaginara. Ignorou os três fortes toques de gongo.

Até que Sorlau segurou seu ombro, decidida.

– Vamos, é hora de começar. Nada vos impede de marcar um encontro a sós para outro dia, mas agora precisais juntar-vos ao grupo.

Pica-pau quase a xingou, mas suspirou e obedeceu. Haveria outra oportunidade.

– Era bem isso que eu queria dizer com rudeza divertida. – Sussurrou Tâmara ao largá-lo.

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