Capítulo 20: A Pérola e o Abricó

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– Que achou? – Perguntou Gargi.

– Gostei, esse Kini era dos meus, gostei de viver a história dele. Interessante o pekenan existir nela e não no conto da mocinha senzar.

– De fato foram os tlavatlis que o inventaram. Mais tarde, os senzares o adotaram e aperfeiçoaram.

– Achas que no demais a história é verídica?

– As minúcias provavelmente vêm do folclore e da imaginação do bardo, mas o escravo que virou imperador é um conto tradicional e estudos do Instituto, se não me engano do teu amigo Kasmin, comprovaram a veracidade de muitas lendas tlavatlis antes julgadas fantasiosas. Não sei sobre essa em especial. A Sessi deve saber, mas não vamos interromper, ela está se divertindo com aqueles amigos... Deixa lá, nós lhe perguntaremos outro dia.

– Como a conheceste?

– Ela me pediu aulas. Apaixonou-se por Kasmin e queria aprender técnicas especiais para agradá-lo. Ela não tinha muita experiência, sabia que a primeira esposa havia sido prostituta do Glicínia Suspensa e não queria perder na comparação. Garota rica, mas muito simpática, não é?

– E como! Hum, Bayguar não está por aqui.

– Deve ter ido aos bastidores encorajar a neta, ela é a última a se apresentar.

No retorno, os mestres de cerimônia apresentaram com especial orgulho a primeira colocada de sua turma, aprendiz de mestre Sã-ci. Como das outras vezes, ela foi elevada por um alçapão. Era bem miúda, usava meias e sandálias e vestia-se com uma túnica longa de algodão com estampas de flores vermelhas, presa por uma faixa roxa. Segurava algo parecido com um alaúde, mas de tipo diferente daquele usado pela primeira aprendiz.

– Que menina linda! – Exclamou Gargi.

Pequenina e de traços mais delicados que os de Caqui ou Mimi, parecia uma bonequinha, mas a Phaidros a beleza dela não chamou tanto a atenção quanto a sua timidez. De onde estava, podia ver claramente como ela corava e tremia ao surgir sobre o palco. Ficou com receio de ela não conseguir se apresentar. Em vez de cruzar as pernas descontraidamente, como os colegas, ela se pôs de joelhos, fechou os olhos e pareceu fazer um exercício de respiração e concentração antes de falar.

Quando abriu os olhos, parecia outra pessoa, segura e confiante.

– O nome da humilde aprendiz é Maav Tjurmyen. "Maav" significa "gato" e Tjurmyen, "rosto de pérola", na língua desta cidade.

Deveria se chamar "voz sublime", pensou Phaidros. Com uma só frase, a menina mugal lhe conquistara os ouvidos e comovera o coração.

– A camponesa nasceu do outro lado do mundo, na ilha de Zjoey. Seu povo mugal rebelou-se contra os senhores agartis e foi vencido, mas seu avô escapou ao massacre e trouxe a neta a esta cidade, onde os bardos atlantes a fascinaram e generosamente aceitaram lhe ensinar sua arte. Ela mal começou o caminho, mas espera ter aprendido o suficiente para não decepcionar os honrados ouvintes. Este conto, "A Pérola e o Abricó", é a história verdadeira da origem do clã Laam, ou seja, "sossego" na língua de Atlântida, ao qual pertence sua querida madrinha...

Dessa vez, Phaidros nem percebeu o tanger do instrumento. A música da sua voz bastara para encantá-lo e fazê-lo viver um passado distante e uma terra exótica na pele de uma camponesinha.

Há muitos e muitos ciclos atrás, numa aldeia de Zjoey chamada Maolem, vivia uma menina chamada Wen, "jardim", Tysshey, "gesto delicado". Trabalhava com os pais e o irmão menor nas fainas da casa e da lavoura de boa vontade e quase não lhes dava motivo para censurá-la, exceto um: ela resistia a se casar, embora não lhe faltassem pretendentes. Bonita e cheia de energia, todos os rapazes de Maolem tinham feito seus pais pedirem-na como esposa aos pais dela, mesmo se estes não podiam oferecer um bom dote. Eles não queriam forçá-la, mas começavam a se preocupar. Na aldeia, todas as moças mais velhas do que ela e muitas das mais novas já estavam casadas.

O Pomar do PassaredoWhere stories live. Discover now