Capítulo 8: Proposta indecente

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– Precisamos de aliados, porra! – Enfureceu-se Képhalos, ao atirar uma taça à parede e perdigotos ao sócio. – Podemos tornar-nos a maior adega da Capital, mas precisas colaborar! Que te custa casares-te com a filha de Arkhippos de Ankhíalos? Não és Phaidros, o garanhão de Olísis? Érika não tem uma cona, como qualquer mulher? Não fossem meus filhos, eu te devolvia a irmã e casava eu mesmo com ela! Nada te impede de continuar a visitar os bordéis, ou mesmo as hetairas, agora podes pagá-las. Apenas esquece a tal tantrista, apurei quanto vale no mercado o serviço que nos prestou e mandei pagar-lhe os trezentos ases. Não lhe devemos mais nada! As zombarias por andares com ela já respingam sobre mim e Arkhippos ficará furioso se tu lhe desdenhares a filha por causa dessa bruxa aleijada!

Encolerizado, Phaidros mandou o cunhado à merda com Arkhippos e todos os vinhos da Acaia. Bateu a porta e pisou duro na direção do pôr-do-sol, para o bairro dos Prazeres, na direção do Glicínia Suspensa. Chegou à entrada movimentada, olhou de relance a placa de oricalco, a carranca da deusa e seguiu caminho. A duas quadras dali, morava a bruxa aleijada, a feiticeira tantrista Thana Satlana, a Malagueta-xin. Era um apartamento parecido com o seu, sobre uma loja, nesse caso de amuletos, talismãs e acessórios sexuais. A vendedora já o conhecia e lhe fez um aceno. Ele a cumprimentou antes de subir a escada e bater à porta.

– Pica-pau-xin! – Exclamou ela, ao atender. – Que bom, não te esperava tão cedo! Mas o que houve? Estás zangado?

– Desculpe, Malagueta-xin. Tive uma séria desavença com Képhalos. É verdade que ele pagou-te trezentos ases?

– Ah, é isso? Ele enviou-me hoje, sem aviso, um escravo com o saco de ouro e um recibo para pôr meu selo. Não lhe pedi nada, mas se ele quer recompensar-me, esse dinheiro faz-me muito jeito...

– Não é bem isso. Deixa-me explicar o que se passa. – Sentou-se na rede na qual ela gostava de balançar, segurou-lhe a mão e relatou-lhe a áspera altercação com o sócio. Apenas omitiu a expressão "bruxa aleijada". Não conseguiria repeti-la sem sufocar de ódio.

– Que pretendes? – Perguntou ela.

– Romper a sociedade e mandá-lo se arranjar como bem entender. Ele nem precisa me pagar a metade do valor atual, basta-me ter de volta meu investimento inicial, o produto da venda da minha terra. Foram duzentas e dez minas acaias, equivalem a quinhentos e quatro ases.

– Pensa bem, não te afobes e negocia. Nada me faria mais feliz do que te ver livre, mas não quero que te arrependas e tua parte deve valer pelo menos dez vezes isso.

– Frente a ti, essa adega não vale uma cagada de mosca. Se for preciso, eu a entrego de graça.

Ela abriu mais os grandes olhos brilhantes e lhe deu um beijo.

– Gostei de ouvir. Mas acalma-te, vamos relaxar. Aceitas meu vinho de arroz caseiro?

– Claro! – Enquanto ela o buscava, Pica-pau passou os olhos pela sala. Não havia móveis além da rede, esteiras, almofadas e prateleiras nas quais se misturavam livros de magia e de histórias mágicas, potes de ervas e de doces, bonequinhos de cerâmica e brinquedos daqueles reservados para adultos dos mais ousados.

– Toma. Eu ia fazer-te uma proposta, mas agora penso em duas. A primeira é bem simples. Tuim-xin deixa o Pomar no mês que vem. Queres a vaga? Tenho certeza de que todas as frutas comemorarão. Basta pagar cinco ases por ano.

– Podeis contar comigo! Que mais?

– A outra é bem indecente.

– De ti, não esperaria outra coisa.

–Obrigada. Indecente poderia ser meu segundo nome. Mas ouve, terminei meu aprendizado há um ano, mas nenhuma tantrista está completa e consegue progredir além de aonde cheguei sem um virtuoso. Se estás mesmo disposto a deixar a sociedade e quiseres considerar...

– O que significa ser um virtuoso? – Perguntou.

– Uma tantrista como eu prepara sua magia com sexo, de preferência com um virtuoso apegado à sua regente e disposto a tudo aprender e tudo fazer com ela. Não precisa ter poderes especiais, bastam amor, desejo e devoção. Algumas tantristas preferem virtuosas e para certas magias elas funcionam melhor, mas eu me dou melhor com uma vara de condão de bom tamanho e em boa forma.

– Então me considero apto para o cargo, se já não estou nele.

– Calma, Pica-pau-xin, ainda não sabes do feitiço a metade. Feita a sério, a tarefa te tomará uma manhã, uma tarde, uma noite ou mais a cada sessão, depende do tipo de magia. O caso do incêndio me fez muito conhecida, tenho mais pedidos do que posso atender. Precisarias te alimentar e exercitar bem para manter a saúde e na prática exigiria uma dedicação integral, pois seria difícil para ti ter outra ocupação ou outra companheira. Algumas colegas têm mais de um virtuoso, mas um só, bem preparado e concentrado, é melhor.

– Hum... já me deixaste teso, pega. – Puxou-lhe a mão para o lugar apropriado. – De todo modo, fartei-me de lidar com vinhos e além de ter os requisitos básicos, posso te ajudar a negociar com clientes, tenho muita prática e gosto disso.

– Percebo. Mas deixa-me continuar, há coisas desagradáveis. Às vezes, será preciso fazer-te passar por experiências mais assustadoras do que um sacrifício simulado a Toran. E mais cedo ou mais tarde, lidaremos com forças malignas muito perigosas. Se quiseres filhos, precisaremos da ajuda de outra mulher, pois no meu útero se passam coisas esquisitas. É como o caldeirão de uma bruxa tradicional e como diz o ditado, não prepares sopa onde a alquimista faz elixires. Outra coisa... peço perdão por não te dizer mais cedo, mas antes tarde do que nunca: quando entras em mim, leio teus pensamentos. Não terás segredos para mim e não posso te conferir uma reciprocidade total, apenas tentar ser tão franca quanto possível.

– Não tenho nada a esconder nesses momentos, até por não conseguir pensar em outra coisa. Quanto ao mais, se tu tens de enfrentar tais coisas, quero estar ao teu lado e espero ser capaz de ajudá-la – começou a acariciá-la pelos seios, como ela gostava.

– Hum... Pelo lado positivo, o virtuoso é coautor de todas as magias e tem direito à metade dos ganhos, por norma da nossa Guilda. Talvez não seja tão lucrativo quando uma grande adega de vinhos importados, mas basta para uma vida confortável... e uma aposentadoria tranquila, se chegarmos lá. Há uma cerimônia na Guilda para oficializar a relação de virtuoso e regente que lembra um casamento, mas não o é de verdade e não é considerado como tal pelo Pomar, de modo que poderemos frequentá-lo juntos. Terás outros dias de folga para encontrares outras mulheres ou te distraíres sem mim como preferires e podes desistir quando quiseres, é claro. Ou mudar de regente. Às vezes trocamos virtuosos entre nós, se eles concordam, por alguns serem mais adequados a certas magias que outros. Terás oportunidades para experimentar com outras. Ah sim, isto é importante: eu não só quero te dar os maiores prazeres e te fazer feliz, como tenho necessidade absoluta disso. O poder das magias tântricas depende do gozo do virtuoso tanto quanto da regente.

– Se depender do meu prazer, serás a tantrista mais poderosa de Atlântida.

– Fala a verdade, minha proposta não te dá muito mais medo que a do teu cunhado? – Perguntou ela, quando deram pausa a um beijo fervente para se despirem.

– Claro que dá. Mas é um medo infinitamente melhor.

O Pomar do PassaredoWhere stories live. Discover now