Depois que voltei para o quarto, não consegui desligar os pensamentos que tomavam conta de mim.
A princípio estava certa de que era apenas um sonho aleatório, fruto da imaginação ou de alguma coisa que vi e ficou na minha cabeça. Entretanto, o comportamento do Ryan ao me ouvir falar sobre isso... Mudou tudo. Ele simplesmente se transformou, o que me deu a certeza de que tem mais coisas aí e não são apenas invenção minha.
Hoje é o dia de visitas, não tenho tanta certeza se alguém virá, mas acho melhor ficar apresentável. Sinto tanta falta da Julie, queria que viesse me ver. O abraço apertado do Josh também faz falta e... A comida da minha mãe.
Fico me perguntando se estão bem com aquele idiota lá, se aquele imbecil está fazendo alguma coisa com a minha irmã ou até com a minha mãe.
Tomo um banho rápido e faço uma maquiagem discreta. Pensando bem, nem sei por quê trouxe todas essas coisas para cá, afinal nem vou sair daqui, que é... Um reformatório. Mas sempre fui assim, pego o que vejo pela frente e coloco na bolsa.
A Jessica estra no quarto e tento decidir se pergunto ou não à ela sobre a menina. Acabo cedendo para minha curiosidade. Digo:
- Jess...?
- Sim?
- Está aqui a muito tempo?
- Alguns anos por que?
- É que... Você sabe se alguém morreu no lago daqui?
Ela olha para mim com uma expressão curiosa. E responde:
- Onde ouviu falar sobre isso? Ninguém nunca toca no assunto.
- Sei lá...
- Bem, Nicolly Jean foi afogada lá alguns anos atrás. Acho que por um garoto que foi transferido para a prisão.
- Só por esse garoto?
- Até onde todos sabem, Sim.
Ouço meu nome no auto falante, tenho visitas. Me sinto um pouco empolgada, torço para que a minha irmã tenha vindo.
- Jess, vou lá. Te vejo mais tarde no refeitório ok?
- Claro.
Quando chego na sala, minha mãe está sentada ao lado do Josh. Dou um abraço apertado nela, porém ela me solta rápido. Josh me levanta do chão ao me abraçar e me beija logo em seguida. Diz:
- Senti tanto a sua falta.
- Eu também... Você nem imagina.
Sento-me na mesa com eles, conto como estão as coisas e como vai o trabalho na creche. Minha mãe diz poucas palavras, apenas quando era preciso. Pergunto-lhe sobre a Julie e ela me responde:
-Não quis trazê-la, não acho que aqui seja lugar para crianças...
Apenas concordo, esse encontro com minha mãe está mais do que constrangedor. Talvez fosse melhor se não tivesse vindo. O Josh tenta me animar um pouco, conversando sobre assuntos aleatórios. Não tira a mão da minha cintura nem por um minuto. Minha mãe vai embora primeiro e eu curto o meu namorado um pouco mais.
O horário de visitas infelizmente acaba e sou obrigada a me despedir dele... De novo. Essa é a pior parte.
Vou até o refeitório e encontro os meus amigos, não tenho certeza se já posso chamá-los assim, mas é o mais próximo disso que tenho aqui.
Sento com eles e a Jessica me pergunta como foi, respondo de maneira mais resumida possível para cortar o assunto.
- Estranho... Minha mãe não facilita. Mas foi bom ver o Josh, ele parece até mais bonito.
Jessica sorri e Ryan levanta da mesa.
Não vejo para onde ele vai, mas volta pouco tempo depois. Está com a cara fechada. Ele não dirigiu a palavra à mim desde que toquei naquele assunto com ele. Isso me irrita.
- Vamos para o lago hoje? É dia da Lua de sangue, é enorme. - Jessica pergunta.
- Pode ser.
Terminamos de comer e fomos para o quarto quando o toque de recolher tocou. Esperamos dar duas horas da manhã e então eu e a Jessica vamos para o lago. o John e o Ryan já estão lá, uma menina ruiva chega com o Matt logo em seguida.
O John abre uma garrafa de cerveja e eu aceito um copo. Ryan está sentado do meu lado, mas me ignora. Jessica senta entre as pernas de John. A menina senta no colo de Ryan e começa a beijar o pescoço dele. Arrependo imediatamente de ter vindo, ficar segurando vela essa noite vai ser o fim. Levanto e abro uma lata de cerveja para mim.
Ouço o Ryan expulsando a menina de cima dele e quando olho de novo ela já está praticamente engolindo o Matt. Que garota é essa? Meu Deus...
Levanto e vou em direção a uma pedra longe de todos esses hormônios. A lua começa a aparecer atrás do lago, é realmente muito bonito. Ouço passos quebrando galhos secos, me viro e vejo o Ryan se aproximando.
Ele senta do meu lado, mas não diz nenhuma palavra. Apenas fica lá. Acabo comentando:
- Vai ficar me ignorando?
- Não estou te ignorando, você não é tão importante assim.
- Ah... Tudo bem então, eu estava muito bem sozinha aqui.
- Pode fingir que não estou aqui, só quero evitar aquela cena do inferno ali.
- Isso tudo é por causa da pergunta que te fiz?
Ele não me responde e eu continuo:
- Se não tem nada a ver com isso, por que se alterou tanto? A Jessica disse que foi um garoto... Que já foi preso.
- Por que você tem que ser tão invasiva?
-Eu... só... Achei estranho.
- Deixa isso pra lá garota.
- Tá...
- Matou a saudade do seu namoradinho?
- Não quero entrar nesse assunto.
- Por que não? Não gosta de falar dele?
- Não com você.
- E por que não?
- Me deixa Ryan.
- Você está me enlouquecendo garota...
Olho para ele, sem entender o que ele quer dizer. Acho que ele percebe, porque continua:
- Desde que você entrou aqui, sinto uma incrível vontade de estar perto. Você... É tão autentica... Foi a única a me enfrentar aqui dentro. Depois de você, ficar com qualquer uma delas perdeu o sentido. Descobri que são todas iguais... Mas você... É diferente.
Sinto minha garganta fechar, o lago começa a rodar um pouco, eu estou entendendo certo? O Ryan... Meu Deus.
- Sinto tanta vontade de te tocar, mas... Você está com ele.
Não sei o que responder, também não consigo desviar o olhar. Sinto minha respiração pesar. Ryan se aproxima de mim e passa o polegar na minha bochecha, em seguida ergue meu queixo para encará-lo. Tento afastá-lo... Mas meu corpo não responde ao que o meu cérebro ordena.
- Acontece com você também não é? Você não consegue controlar... Está ofegante. - Ryan se aproxima cada vez mais.
- Ryan... Por favor... Eu..eu não posso.
- Mas quer... Não quer?
- Ryan, não posso fazer isso com ele...
- Você o ama?
- Eu... Ele sempre cuidou de mim.
-Não foi a minha pergunta... Você o ama?
- Acho que não tanto quanto ele...
Ryan suspirou e encostou a testa na minha, mordeu o lábio inferior... Sempre fazia isso quando estava pensando. Eu o observava, sabia que precisava sair dali, mas não conseguia.
Ele deslizou o polegar pelo meu lábio e se aproximou mais. Sua mão afundou nos meus cabelos até a nuca e eu arrepiei ao seu toque. Seus lábios úmidos encostaram na minha testa e desceram pelo meu pescoço. Senti sua língua quente tocar minha pele sensível da orelha e um gemido baixo escapa da minha boca. Ele me encara sua respiração ofegante em sintonia com a minha. Então, ele encosta sua boca na minha.
O beijo a princípio é calmo e suave, sua boca e delicada e tem gosto de menta. Nesse momento esqueço do que estou fazendo e das consequências que terei que enfrentar. Mas sou interrompida do meu "transe" quando ouço a Jessica me chamar e me afasto instantaneamente dele.