Capítulo 3

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Arrumo uma bolsa com algumas coisas que irei precisar, não faço ideia de quanto tempo vou ficar. Ainda não acredito que isso está realmente acontecendo, daqui a 10 horas irei para um lugar onde não conheço ninguém e na verdade nem quero conhecer. Um pouco de medo me invade. Termino de arrumar e vou tomar um banho quente.

Em meio as gotas quentes que saem do chuveiro, constantes gotas saem dos meus olhos, não estou preparada para isso... Tudo está acontecendo tão rápido. Mal posso engolir que minha mãe está fazendo isso comigo. Odeio o Allan.

Desligo o chuveiro e me enrolo no roupão. Caminho lentamente até meu quarto, aproveitando cada segundo do pouco tempo que me resta aqui. Pego um pijama no guarda-roupa e deito na cama. Rolo por horas até finalmente dormir.

Às sete horas da manhã, minha mãe abre as cortinas e eu acordo. Minha cabeça está latejando e piora quando lembro o que me espera nessa maravilhosa quarta-feira.

Troco de roupa e desço com minha bolsa. Allan está sentado na mesa e não disfarça o olhar de triunfo. Julie vem correndo em minha direção e a pego no colo. Minha mãe evita contato visual comigo.

Sento na mesa onde está arrumado o café da manhã, como um pouco, não sei se vou ver uma comida do tipo tão cedo. Julie não desgruda de mim, seus olhos estão inchados, imagino que minha mãe já tenha dado a notícia.

Beijo seus cabelos loiros ondulados, que cheira a chiclete. Ela me abraça e eu digo junto a seu ouvido em um sussurro que a faz encolher.

- Eu te amo pequena. Cuida-se tá?

Ela assente e me aperta. Respondendo em seguida:

- Eu também te amo!

Minha mãe pega as chaves do carro e eu me levanto, pego a mala e a sigo . Josh está parado na frente da minha casa, corre até mim e me abraça.

- Eu sinto muito. Ele diz. - Eu te amo, muito! Vou sentir saudades, vou te ligar toda sexta. Tenta... Se manter viva. Ele ri.

Sinto-me um pouco menos tensa que cinco minutos atrás, ele faz tudo parecer tão mais fácil. O aperto e afundo meu rosto em seu peito e Josh acaricia meus cabelos.

- Eu te amo...  Espera-me tá?

- Claro, não vou a lugar nenhum.

Eu o beijo e vou para o carro logo em seguida. Não dizemos nada durante o trajeto, minha mãe me leva até um lugar com muros brancos e cercas elétricas.

Desço do carro e uma mulher com um vestido branco impecavelmente bem passado e sapatos altos tão brancos quanto seus dentes, além do cabelo amarrado em um coque muito bem feito, me espera no portão. Mas nem ela nem o lugar parecem bem receptivos.

Minha mãe me dá um abraço aconchegante e apertado, porém rápido. Ela parece triste, arrasada até. Talvez mais do que eu.

Sigo a mulher assim que minha mãe vai embora. Ela me leva à um quarto com paredes cinzas e duas camas de solteiro. Uma incrivelmente arrumada e a outra com lençóis jogados na cama.

A cômoda do lado esquerdo do quarto está repleta de fotos e roupas pulando das gavetas. Alguns sapatos jogados no chão. Minha colega de quarto não parece ser nem um pouco organizada.

Sento na minha cama e começo a desfazer a minha mala, enfiando as roupas passadas nas gavetas da minha pequena cômoda.

Assim que termino saio andando pelo lugar, para tentar conhecer meu novo "lar".

Todas as mesas do pátio estão ocupadas, com exceção de uma. Fico momentaneamente aliviada e sento nela, passando os olhos pelo lugar. As pessoas daqui são bem estranhas, possuem um olhar... Perigoso, digamos.

Alguns minutos depois vejo cinco garotos caminhando na minha direção. O garoto que está na frente, me olha com a cara fechada, ele é alto e forte, tatuagens cobrem seu braço esquerdo e parte do direito. Está usando uma touca preta. Ele é relativamente bonito, ignorando seus olhos intimidantes. Os demais garotos parecem se divertir com a situação.

Pelo pouco tempo que estou aqui já consigo identificar os grupos. Os maconheiros, as depressivas e os valentões. O último no caso é o grupinho que está vindo na minha direção.

Até ficaria com medo, mas por sorte acho que sobrevivo alguns dias aqui. Sou faixa marrom no kickboxing e sei alguns golpes de jiu jitsu. Só espero não precisar usar nada disso.

O menino de touca para na minha frente com os braços cruzados. Olha-me com sarcasmo e diz:

- Vaza!

Olho para ele como uma ironia maior ainda, mas não respondo, o ignoro e olho para minhas unhas descascadas. Ele parece mais irritado agora e diz:

- Não me ouviu? Sai da minha mesa agora!

- Não tem seu nome aqui! Não vou sair.

Seus amigos começam a vaiar ou algo parecido a isso. Não é que sou encrenqueira ou coisa do tipo, mas odeio ordens. Sei que é meu primeiro dia aqui e isso que estou fazendo é bem idiota e pode influenciar em todo o meu tempo aqui, mas meu orgulho fala mais alto.

O garoto tira uma caneta esferográfica e escreve "Ryan Scott" na mesa. Olha para mim e diz:

- Agora tem. Você é nova aqui, não vou considerar o que aconteceu hoje. Mas lembre-se de que você não me quer como inimigo. Não tenho tempo para infantilidade.

Ele saiu com os amigos. Sinto vontade de pegar o banco em que estou sentada e tacar na cabeça desse idiota prepotente. Assim que ele some do meu campo de visão saio da mesa "dele" e me dirijo a uma sombra de árvore, onde abro o meu livro e começo a ler.

Perigosa AfeiçãoWhere stories live. Discover now