Capítulo 17

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    Nunca havia parado para pensar em uma explicação lógica para esses sonhos. Sempre achei muito estranho o fato de estar sonhando com uma garota morta que conversa nitidamente comigo, mas não me preocupei muito em achar uma resposta para isso.  Agora que o Ryan mencionou a mediunidade como uma possibilidade, acabei ficando curiosa.

     Decido ir novamente até a biblioteca pesquisar sobre isso, seleciono alguns livros espíritas como por exemplo: O livro dos médiuns, Allan Kardec. Acabo começando por ele.

Allan afirma que todos os seres humanos já nascem com uma determinada pré-disposição para a vidência e mediunidade, ou seja, todos podem desenvolver essas habilidades. Segundo o mesmo: "Podem dividir-se os médiuns em duas grandes categorias:

Médiuns de efeitos físicos, os que têm o poder de provocar efeitos materiais, ou manifestações ostensivas.
Médiuns de efeitos intelectuais, os que são mais aptos a receber e a transmitir comunicações inteligentes."

Ele ainda explica todos os tipos de médiuns, os sensitivos, os audientes, os videntes, entre outros. Para ser sincera, ainda não sei muito bem em qual me encaixo. Uma voz me tira da leitura em que estou super concentrada e acaba me assustando. Olho para a garota que está parada na minha frente e digo:

- Desculpa, o que disse?

- Perguntei se você era espírita.

- Ah... não... Por que?

- Tirando o fato que está cheio de livros espíritas na sua mesa? - Ela ri.

- Ah... é que estou pesquisando umas coisas... Por um acaso você é?

- Nascida e criada por pais espíritas. Qual a sua dúvida? - Ela sorri novamente e ocupa a cadeira do meu lado.

- Bom, você acha que é possível um...espírito se comunicar por sonhos?

- Na verdade não, não acho. Tenho certeza.

- Mesmo quando você nunca tenha ouvido falar dele e do nada ele começa a aparecer para você em seus sonhos?

- Que tal você me contar exatamente o que está acontecendo? Talvez eu possa ajudar...

- Tudo bem, só não ache que estou louca. Bom, logo quando entrei aqui, comecei a sonhar com uma garota, diariamente. Tínhamos diálogos bem nítidos, é como se quisesse me mostrar algo. Na verdade, acabei descobrindo muitas coisas através dela. Mas eu nunca tinha visto ou ouvido falar sobre essa garota, até que pesquisei e descobri que ela havia sido assassinada. 

- Aqui?

- Sim...

- Bom, espíritos podem ficar presos em lugares e objetos, alguns em busca de vingança, outros apenas por não conseguirem alcançar a luz. No caso, essa garota foi assassinada, uma morte trágica também pode prender o espírito. Como você não a conhecia, talvez esteja correndo algum tipo de perigo e ela esteja tentando te alertar, talvez precise da sua ajuda em algo. Não posso afirmar com certeza, as possibilidades são diversas.

- Na verdade, acho que ela queria que eu descobrisse a verdade sobre o assassinato dela, digamos que tinha coisas ocultas...

- Ok, então ela tinha coisas inacabadas aqui. 

- Certo, mas... Por que eu?

- Olha, se essa foi a sua primeira experiência mediúnica, digamos que você esteja desenvolvendo suas habilidades. Todo mundo as tem, entretanto, passa despercebida na grande maioria das vezes. Quando você as desenvolve, passa a ter consciência sobre. Você passou por algum acontecimento que tenha mexido com você?

- Meu pai faleceu há dois anos... as coisas estão bem difíceis desde então...

- Seu psicológico está abalado, isso pode ter fragilizado o véu que separa o mundo espiritual do carnal. Portanto agora você consegue ter acesso aos dois, pode ser uma das causas dos sonhos também.

- Eu tenho que ir agora, está na hora da aula. Mas muito obrigada mesmo pela ajuda....

-  Ana. - Ela sorriu. - Você é?

- April. Bom, obrigada Ana.

- Estou sempre por aqui durante as tardes, precisando novamente, é só falar.

Sorrio para ela e vou para a aula de biologia. Preciso encontrar o Ryan e conversar com ele sobre isso. A aula parece demorar uma eternidade, principalmente porque estou lutando para manter a minha concentração. Minha mente insiste em oscilar entre genética e espíritos.

Por fim o sinal toca e vou para o pátio em sua procura, encontro-o conversando com um grupo de garotos que tenho quase certeza que era o mesmo que o acompanhava no meu primeiro dia, quando ele veio me expulsar da mesa. Eles começam a fazer comentários infantis quando me aproximo e os ignoro, já Ryan lança um olhar hostil para eles que saem em seguida.

- Acho que entendi mais ou menos o porquê dos sonhos.

- Estou ouvindo...

Reviro os olhos e continuo:

- Estava lendo alguns livros espíritas e uma menina se sentou na minha mesa. Ela me esclareceu tudo...

Contei para ele tudo o que Ana havia me dito, ele disse que eu não precisava ter me dado o trabalho porque ele já havia me dito que os sonhos só aconteceram porque eu era médium. O ego elevado do Ryan sempre me surpreendia. Era bem irritante as vezes, pra ser sincera.

- Quer comer alguma coisa? - Ele me perguntou.

- Quero sim, nem me lembro a última vez que comi de verdade nessa confusão toda.







Perigosa AfeiçãoWhere stories live. Discover now