Capítulo 16

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 Saímos da sala e ele me leva para o quarto dele, tenho receio no começo, até então nunca pensei que ele poderia me oferecer algum tipo de perigo. Mas isso... claro, foi antes de saber que ele matou alguém.

 Acho que eu mereço uma explicação pelo menos, então concordei. A outra parte, foi porque não sou capaz de ver aquele olhar desesperado. Sento-me na cama e ele se coloca na minha frente, parece estar escolhendo as palavras cautelosamente, por fim, diz:

-April, sei o que deve estar pensando...
Provavelmente me odeia, acho que posso lidar com isso. Mas já que vai me odiar, que pelo menos saiba porquê o faz.
Vou começar do começo...
Quando eu tinha 14 anos, fumei maconha pela primeira vez, e eu passava por uns problemas familiares e quando a fumaça entrou, foi uma sensação tão... Libertadora.
  Comecei a procurar mais e mais, até que já não era mais o suficiente. Parti para a cocaína e minha mãe me expulsou de casa. Voltei lá algumas vezes para roubar coisas e vender para comprar mais.
  Então um cara me encontrou e me chamou para trabalhar com ele, já tinha 16. Ele era dos grandes, o rei e eu... O peão do xadrez. Fazia o contrabando para ele em troca de pequenos saquinhos.
     Certo dia ele me mandou levar uma caixa, não sabia o que tinha dentro, mas eu tinha certeza que era a pior coisa que eu já tinha levado. Tinha gente de todo tipo atrás de mim, então eu escondi isso e está escondido até hoje eu acredito. Mas não sei o que é.
      Fui pego pela polícia e me trouxeram para cá, descobri que a Nicolly era filha desse cara. Ele descobriu que eu estava aqui e me fez uma ligação dizendo que tinha matado minha mãe. Então para me vingar... Eu a matei.
      Ele está atrás de mim até hoje, já tentou me matar várias vezes, mas aqui é seguro demais, mas sei que ele não vai desistir. Como não pode me pegar diretamente, usa as coisas que são importantes para mim, para me atingir.
      Ainda não tenho certeza, mas acho que ele colocou alguém aqui para me pegar... O Samuel, o cara que você estava conversando. Tenho reparado que ele vêm me observando e agora... Tentou se aproximar de você.
     Então já que me odeia agora, e provavelmente vai ficar longe, não vou poder estar com você o tempo todo e cuidar de você. Por favor... Fique longe dele, até eu ter certeza pelo menos. Se for o que estou pensando, ele vai machucar você para me afetar.

- Eu... Eu não odeio você. Quero dizer... Acho errado ter matado a Nicolly para se vingar do pai dela, ela não tinha culpa. Mas consigo imaginar a sua dor.

- Não consegui me perdoar até hoje. Porém, tem uma coisa que ainda não entendo muito bem, quase ninguém fala disso aqui, e desde quando entrou, parecia que suspeitava de mim de alguma forma e só a diretora e eu sabemos disso. Como...  Você soube?

- Não sabia, até hoje. Tenho sonhado com ela. No primeiro sonho dois garotos a afogavam no lago. Nunca tinha visto nenhum dos três, seu rosto não aparecia. Então fui te perguntar e você se transformou daquele jeito... Os pesadelos continuaram, perguntei à Jessica, que me disse que só um garoto estava envolvido e fora preso. Mas os sonhos continuaram, então ontem, a Nicolly me mandou entrar naquela sala, e como todos estavam na quadra, eu fui. E descobri tudo.

- Estranho... Por que sonharia com ela? Você é médium ou coisa assim?

- Médium? Bom, acredito que não. Nunca passei por nada parecido.

Perigosa AfeiçãoWhere stories live. Discover now