Eu ainda tinha um sorriso bobo nos lábios quando entrei na minha repartição as palavras de Nicolas falando que me amava ecoavam em minha mente.
-Viu o passarinho verde cantando por aí senhorita Alice?
A voz autoritária de Guilhermo me fez voltar a realidade, eu desfiz meu sorriso tomando uma postura mais profissional ficando reta na minha cadeira.
-Éh assim está melhor! Hoje às dezessete horas está agendado um cliente para você, seja pontual e bastante profissional, hã!
-Está bem Guilhermo.
Respondi me sentindo feliz por ter meu primeiro cliente de verdade, já que Nicolas teve segundas intenções em me escolher para o seu projeto, assim que Guilhermo saiu recebi a visita surpresa do senhor Cadore.
-Boa tarde senhorita Alice.
-Boa tarde senhor, em que posso ajudar?
-Eu vim ver como esta ficando o projeto da casa de Nicolas, esta reforma me interessa muito acredito que já tenha algo pronto.
-Ah! Sim, sente - se por favor, já temos toda a maquete pronta em três D.
Abri a pasta em meu computador o virando para ele e comecei a explicar todo projeto me sentindo muito nervosa, seus olhos brilhavam em um misto de surpresa, aprovação e algo a mais que não consegui decifrar.
-Está perfeito, tenho certeza que Nicolas aprovou.
-Sim, ele aprovou esta manhã, em três ou quatro dias começaremos a obra.
-Okay! Preciso ir!
Ele falava enquanto ia se levantando, depois fez um cumprimento com a cabeça e saiu, eu fiquei ali parada tentando regular minha respiração.
-Alice! O que o senhor
Cadore fazia aqui? Por que você não me chamou?
A voz exagerada de Guilhermo me deu vontade de revirar os olhos. Ah! As vezes ele me irrita tanto. Pensei respirando fundo e respondendo sua pergunta pacientemente.
-O senhor Cadore veio apenas ver o projeto da casa do senhor Salvatore.
-Você tirou a sorte grande em cair no agrado de Nicolas Salvatore! Veja Angelina foi para Tóquio! Aquela sim soube o aproveitar em todos os sentidos!
Ele falava com voz maliciosa, saindo com um risonho irônico, me sentei exasperada revirando meus olhos, era exatamente aquele tipo de comentário que eu queria evitar por estar saindo com meu chefe.
-Mas se você quiser levar este relacionamento adiante sabe que terá que deixar de ser covarde e assumir este romance, até quando Nicolas vai aceitar isso?
Eu me perguntava sentindo certa preocupação, além de estar ainda um pouco irritada por ter visto Angelina dar encima de Nicolas e agora esse comentário de Guilhermo.
-Se eu assumir para todos sobre nós, elas não ficariam se jogando encima dele.
De repente aquela opção me pareceu ser a melhor.
-Ah! O que vou fazer?
Me perguntei em voz baixa levando minhas mãos até meu rosto.
-Falando sozinha?
A voz de Nicolas me chamou a atenção, ele estava parado encostado no batente da porta de braços cruzados me observando.
-Apenas tentando definir algumas decisões para o meu futuro.
Respondi, Nicolas me olhou surpreso se aproximando.
-Eu espero estar dentro de suas decisões para esse futuro.
Falou em voz baixa se sentando na cadeira à minha frente.
-Era exatamente isso que eu estava pensando e tentando definir, mas esse assunto fica para mais tarde.
Respondi com um sorriso, não querendo continuar aquela conversa ali.
-Um jantar?
-Perfeito.
-Passo aqui às dezoito.
-Tudo bem.
Nicolas me deu aquele sorriso torto lindo e saiu, o resto da tarde seguiu tranquilo e eu só lamentei não poder ter ido comprar meu carro, neste momento para minha surpresa Rafael apareceu no batente porta.
- Aí está você!
Sua voz me fez erguer a cabeça, o olhei confusa enquanto ele sorria.
-Rafael? O que você faz aqui?
-Acho que cheguei um pouco sedo, meu horário estava marcado para às dezessete horas.
Falou olhando para seu relógio, naquele momento caía a minha ficha, ele era o tal cliente.
-Sente - se por favor!
Fiz um sinal para ele se sentar na cadeira a minha frente, tomando uma postura totalmente profissional.
-Sim, fui informada que teria um cliente só não sabia que era o senhor, pois bem em que posso ajudar?
Ele se sentou parecendo se divertir com minha nova postura e tom de voz.
-Eu comprei uma propriedade e quero reformar a casa e como a Cadore é a melhor, aqui estou.
Continuou ele com um sorriso nos lábios.
- Com certeza você fez a escolha certa, aqui é a empresa mais completa do mercado.
-Sim, o senhor Salvatore me ressaltou isso hoje pela manhã, eu só não esperava encontrar você aqui, na verdade pensei que nunca mais fosse te ver novamente e olha que passei a semana inteira voltando na marina, bom Alice eu queria me desculpar por ter sido intrometido naquela noite...
Eu sabia onde ele queria chegar e eu não estava afim de ouvir.
-Pois está me vendo agora e eu já até havia esquecido aquela noite, você não tem por que se desculpar! Agora senhor Cazarim podemos continuar a falar sobre a sua reforma?
Ele deu um sorriso divertido e continuou.
-Bom a propriedade está em ótimas condições e pretendo manter toda a sua estrutura física, quero apenas redefinir seu designer e me informei que você é a melhor nesta área.
Eu o olhei sem saber o que falar por um momento.
- Nesse momento estou envolvida em um projeto, mas posso te indicar para outro ótimo profissional, nesta empresa todos são muito competentes e ainda mais experientes que eu.
Falei firme ainda mantendo meu tom de voz profissional.
-Eu quero você!
Ele falou também com voz firme me olhando nos olhos, neste momento uma figura conhecida me chamou a atenção, gelei ao ver Nicolas parado no batente da porta nos olhando, ele tinha a mandíbula trincada, punhos cerrados e feições indecifráveis, Cazarim olhou na mesma direção que eu, e um brilho estranho lampejou em seus olhos.
-Quero dizer quero você para esta reforma.
Completou ele rapidamente a sua frase, eu o olhei sem saber o que falar.
-Senhor Cazarim vou repetir o que te falei esta manhã, a senhorita Alice já está envolvida em um projeto neste momento.
Ele falava com voz contida ao se aproximar, porém era nítida a sua irritação.
-Bom, não tem problema! Eu espero a senhorita Alice terminar esse projeto, amanhã mando as plantas da casa.
Respondeu decidido já se levantando e antes de sair continuou.
-Ah, você está me devendo um jantar, podemos marcar para depois que você olhar as plantas?
Eu olhei dele para Nicolas que já estava ao meu lado, o senti ficar ainda mais tenso naquela hora.
-Creio que o senhor deixou seus dados na recepção, eu entro em contato.
Tentei dar o meu melhor tom de voz profissional ao falar, ele sorriu satisfeito olhando novamente de mim para Nicolas.
-Fico no aguardo! Senhor Salvatore, senhorita Alice tenham uma ótima noite!
Assim que ele saiu Nicolas deu um soco na parede me fazendo sobressaltar.
-Esse cara está começando a me irritar!
Falou entre dentes me olhando ainda irritado.
-Nicolas...
Tentei o acalmar, mas ele me interrompeu.
-Eu queria entender porque você está devendo um jantar para ele! Você disse que mal o conhecia!
Disparou ele em voz baixa .
-Nicolas aqui não é o momento.
Respondi olhando em volta, ele respirou fundo me olhando exasperado enquanto passava a mão por seu cabelo.
-Vem, vou te levar para casa!
Falou por fim, eu o olhei por um momento me sentindo decepcionada. O que havia acontecido com nosso jantar? Pensei desviando meus olhos e pegando as minhas coisas, seguimos um bom caminho em silêncio e ele ainda parecia irritado.
-Nicolas, quando esbarrei em Rafael na marina começamos a conversar e aceitei seu convite para jantar ali mesmo.
Falei após respirar fundo não suportando mais aquele silêncio, Nicolas apertou suas mãos no volante e ouvi um silvo baixa sair por entre seus lábios.
-Foi um convite sem malícia e eu queria apenas distrair minha mente, mas acabei o deixando plantado na porta do restaurante quando me irritei com suas perguntas.
-E por que você precisava distrair sua mente após caminhar pela marina? E o que eu ainda não entendo é por que você estava chorando quando esbarrou nele!
O olhei surpresa ao constatar que eles andaram falando sobre mim naquela manhã.
-Nicolas eu... Eu pesquisei sobre o acidente entre você e sua família.
Nicolas não me olhava mais eu percebi que ele empalideceu assim que terminei de falar.
-Me desculpe, eu queria saber mais sobre você...
Me calei sentindo um nó na garganta, alguns minutos depois ele respirou fundo e senti que seu corpo tenso ia relaxando aos poucos.
-Não precisa se desculpar, esta história é de domínio público.
Ele falou sem emoção na voz, neste momento já estacionavamos na frente do condomínio Cadore, nos despedimos de forma estranha e uma enorme vontade de chorar me dominou assim que Nicolas partiu.
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